The Last Game escrita por nanny


Capítulo 1
Anyway The Wind Blows


Notas iniciais do capítulo

Músicas: Bohemian Rhapsody e Love of My Life, Queen.



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Sherlock respirava com dificuldade. Aquele era definitivamente o pior momento de sua vida. Moriarty estava prestes à mover sua última peça e ganhar o jogo de uma vez por todas. Dessa vez sem fios soltos como há três anos atrás. Sherlock não tinha escolhas. Passara as últimas vinte e quatro horas com Mycroft, pensando em qualquer forma de fugir daquele jogo doentio e violento. Não havia outra alternativa. Pegou o telefone e procurou o contato de Molly

"Não demore. Nosso lugar. SH"

Is this the real life?

Is this just fantasy?

Caught in a landslide

No escape from reality

A altura do penhasco deixava tudo mais complicado. O ar queimava os pulmões de Sherlock naquela noite fria. Ouvia a risada de Moriarty bem atrás de si, apesar de saber que ele estaria provavelmente longe dali. Sentiu-se derrotado. A única coisa que valia à pena era pensar em John. John seria feliz depois de tudo aquilo. A felicidade de John era o que importava naquele momento, Sherlock se agarrou à esse pensamento e conseguiu dar um pequeno sorriso de esperança.

A pequena Watson... Ele precisava salvá-la, mesmo que aquilo custasse... Tudo. Seu telefone tocou — ainda em suas mãos — e Sherlock atendeu com pressa; já sabia quem estaria do outro lado da linha.

— Nossa querida Molly está chegando. Seja um cavalheiro, Sherly. — Jim deu uma gargalhada sinistra. — Sinto muito por isso, meu doce. Sei que você preferia ter...

— Morrido naquele dia. — Sherlock finalizou a frase de Moriarty, ouvindo outra gargalhada do outro lado da linha.

— Fique tranquilo, meu pequeno fantoche. — Jim sussurrou. — Johnny será feliz. Eu prometo. Você logo, logo esquecerá os acontecimentos dessa noite... Mas agora preciso ir. O jogo vai começar e preciso me acomodar em meu camarote. Seja breve, Sherl.

E desligou. Ele estava por ali em algum lugar. Ia assistir ao fim do jogo de camarote. Sherlock olhou em volta. Apenas árvores, escuridão e a água à metros de distância do penhasco. Não conseguia ver muita coisa — e mesmo se conseguisse, nada o ajudaria. Desistiu. Sentiu suas pernas cederem a caiu de joelhos no chão. Não queria que aquilo estivesse acontecendo. Nunca.

Open your eyes

Look up to the skies and see

Abriu os olhos e olhou para o céu. Suas lembranças se misturaram com o momento real. Com a dor que sentia naquela noite fria. De repente era calor, Molly tinha os braços ao redor de seu pescoço e os dois tomavam sol em cima do penhasco. Ela tinha aqueles óculos horríveis em forma de coração e sorria para ele o tempo todo. Finalmente haviam assumido seu relacionamento, Molly nunca estivera tão radiante.

Ela o beijava o tempo inteiro e não se cansava de aproveitar o momento de distração e poucas roupas de verão. Os dois riam e conversavam sobre qualquer coisa. Sherlock não se lembrava muito bem de nenhuma palavra. Lembrava-se dos óculos em forma de coração... Do sorriso radiante... Do biquíni vermelho... De Molly abraçando-se à ele para enfrentarem a queda do penhasco. Ela havia pedido e insistido tanto.

"Eu vou pular com você, Molly Hooper." E então pularam. Não se arrependeu por um só momento. Era refrescante, era perigoso e trazia bastante adrenalina para seu corpo normalmente entediado. E Molly ali, segurando-o com força, com medo de algo dar errado... Por Deus, era possível existir alguma sensação melhor que aquela?

I'm just a poor boy

I need no sympathy

Because I'm easy come, easy go

A little high, little low

Anyway the wind blows

Doesn't really matters to me...

Agora não tinha mais certeza. A lembrança da felicidade daquele verão... Dos invernos ao lado de Molly... Dos dias em Baker Street... Nada conseguia aquecer seu coração naquele momento. Tudo o que passava pela cabeça do detetive era a derrota iminente. Não havia escapatória.

Sentiu seu coração ainda mais apertado quando ouviu a chegada de um táxi pelo caminho da estrada. Logo depois vieram os passos apressados e a silhueta minúscula de Molly Hooper apareceu entre as árvores. "Eu não posso fazer isso." Sherlock se levantou e abriu os olhos, sorrindo sinceramente com a sensação que a presença de Molly o causava — dane-se se era a última vez, sentiria-se feliz ao lado de Molly.

Ela correu para os braços do detetive com um sorriso enorme no rosto. Nada importava naquele momento. Tudo o que ele queria era abraçá-la, protegê-la e sentir o cheiro de Molly se impregnar em seu próprio corpo por alguns minutos. Os últimos minutos.

— Você sabe que adoro... — Molly se afastou, olhando-o nos olhos apesar do escuro. — Está tudo bem com você, meu amor?

— Eu... — Gaguejou. Merda. Nunca saberia mentir para Molly. — Eu estou bem.

— Você mente muito mal, Sherlock Holmes. — Molly sorriu. — Mas nunca precisou mentir para mim! Me diga, o que aconteceu? Moriarty deu alguma notícia depois das últimas mortes?

Um soco atingiu o estômago do detetive. Já não era horrível viver aquele momento? Por que Molly tinha que lembrá-lo de que não havia conseguido salvar nenhuma das últimas vítimas de Moriarty? John estava louco de ódio. Não confiava mais em seu melhor amigo... Mas não sabia que tudo o que havia feito era para salvar John, Mary e a pequena Watson.

Como poderia contá-lo, de qualquer forma? A vida de todas aquelas pessoas que Sherlock desperdiçou, no fim não eram um desperdício. Ou deixava-as ir, ou Mary e John pagariam com suas vidas... Mas um dos termos de Moriarty era: não deixe-os saber. John e Mary não podiam saber que suas vidas estavam em perigo... E agora aquele bastardo simplesmente estava em todo lugar e... Havia finalmente encontrado a fraqueza de Sherlock. A Watson grávida. Ele nunca deixaria nada acontecer à Mary. Daria sua própria vida se fosse preciso. Ou faria pior... Ele faria pior.

— Olhe para mim, Molly Hooper. — Segurou-a pelo queixo. — Ouça o que vou dizer com muita atenção...

Molly encarou-o com toda devoção possível. Estava com medo, é claro. Mas aquele era Sherlock Holmes. Era seu noivo... Não hesitaria em ir atrás dele independente da hora ou do lugar. Não no meio de um ataque de Moriarty. Desde que aquele maldito terrorista voltara da morte, Molly estivera ao lado de Sherlock à cada pequeno segundo.

Ela sabia que ele não havia impedido aquelas mortes por algum motivo. Molly o conhecia. Odiava a atitude de John de julgá-lo por tudo aquilo. Ele provavelmente estava tentando fazer o mais inteligente; Sherlock nunca faria algo por puro egoísmo — ou por simplesmente não se importar. Ele não faria. Aquele não era o Sherlock Holmes que Molly enxergava. Agora encarava os olhos heterocrômicos que tento amava e via Sherlock derrubar uma ou duas lágrimas. Não conseguia entender. O que nesse mundo faria-o chorar?

— Eu amo você, Molly. — Ele soluçou enquanto se afastava. — Eu amo você. Amo você tanto... Eu só preciso que saiba disso antes... Molly, eu amo você.

Era a primeira vez que ouvia aquelas palavras da boca de Sherlock. Sua expressão se tornou assustada e seus olhos se encheram de pequenas lágrimas... Mas o cérebro de Molly fez questão de não deixá-la se sentir bem. Sherlock estava se afastando na direção do penhasco. "Eu só preciso que saiba disso antes..." Sherlock nunca diria aquelas coisas se não tivesse um motivo.

— Sherlock! — Ela gritou, puxando-o para perto. — Seja lá o que pretende fazer... Meu amor, não faça. Nós podemos vencer aquele bastardo.

Ouviu a gargalhada de James Moriarty soar em seus ouvidos. Era só fruto de sua imaginação, mas aquilo estava enlouquecendo-o.

— De qualquer forma o vento ainda sopra. — Sussurrou contra os cabelos de Molly, abraçando-a forte. — Você é minha vida, Molly.

Antes que Molly pudesse responder algo ou até mesmo pensar em algo, sentiu uma dor intensa atingi-la. Levou alguns segundos para sentir a dor apertando-a ainda mais de dentro para fora. Sherlock segurava seu corpo com força e soluçava mais do que o normal... Havia levado um tiro. Um tiro de... Sherlock.

Sentia seu interior arder. Sentia a dificuldade para respirar. Sentia a dor da traição. Sentia seu corpo falhar... Mas seu cérebro ainda funcionava. Sua racionalidade nunca deixaria de confiar em Sherlock Holmes. Não era uma traição. Era necessário. Era a pior coisa que ele fizera em sua vida — Molly via dor em seus olhos. Sherlock estava tão despedaçado quanto ela.

Molly reuniu suas últimas forças — sentindo sangue em sua boca e seu corpo sem condições de se manter em pé — olhou-o com todo o amor que sentia em seu corpo e sussurrou "eu o amo, Sr. Holmes" antes de fechar seus olhos para sempre.

Seu mundo havia sido destruído. Nada mais importava. Sua vida tinha acabado de começar, e já tinha jogado tudo fora... Como poderia se recuperar daquilo? Segurava o corpo de Molly em seus braços, já sem sinais de vida. Segurou o pulso da pessoa que mais amou em sua vida. Ela estava morta.

Too late, my time has come

Sends shivers down my spine

Body's aching all the time

Goodbye everybody, I've got to go

Gotta leave you all behind and face the truth

— Seu idiota! — Molly batia com sua bolsa de mão na cabeça do detetive de joelhos.

— Mas Molly... — Ele não estava entendendo muito bem o sentido daquilo. — O que eu fiz de errado?

Um jantar caro. Um restaurante bonito. Aquela caixinha de veludo estúpida. O anel de noivado. Champagne. Se ajoelhar e fazer o pedido... Foram ordens diretas de John. Ele não sabia o que havia feito de errado.

— Você... — Molly soluçou.

Prestando atenção na legista pela primeira vez depois do pedido, reparou que sua maquiagem estava manchada por lágrimas. Molly estava chorando? Oh meu Deus! John devia tê-lo avisado que tudo poderia dar errado daquela forma! Molly estava chorando aos soluços!

— Seu grande bastardo! — Molly deu um pulo da cadeira e se jogou nos braços do detetive. — Você disse que precisava de mim para analisar um cadáver... Eu queria estar bem vestida e psicologicamente preparada para isso, mas aqui estou eu, em um restaurante cinco estrelas de jaleco! Seu grande idiota!

— Era para ser uma surpresa. — Sherlock tentou se explicar. — Eu precisava te surpreender e se eu dissesse que ia te levar para jantar em um restaurante super caro como esse, você imaginaria o motivo, então...

— Eu aceito, claro que aceito. — Molly calou-o com muitos beijos ao mesmo tempo. — Eu nunca esperaria isso, Sherlock. Eu nunca imaginaria que isso...

— Então pare de chorar. — Disse ainda muito sério, passando seus dedos longos nas bochechas de Molly e secando suas lágrimas. — Eu acabei de te pedir em casamento, mulher. Fique feliz.

— Eu o amo, Sr. Holmes. — Era o sorriso mais lindo que ele já havia visto em sua vida.

You will remember

When this is blown over

And everything's all by the way

When I grow older

I will be there at your side

To remind you how I still love you

I still love you

— Você é o amor da minha vida, Molly. — Sorriu, colocando o anel delicado no dedo da Hooper. — Agora vamos, Sra. Hudson está nos esperando com um banquete enorme e todos os nossos ami... Ok. Isso também era uma surpresa. Então finja que eu nunca disse isso.

Molly se levantou e deu o braço para seu noivo. Sorriram tanto ao sair do restaurante que chamaram a atenção de todos. Sherlock não se lembrava de um momento mais feliz do que aquele... E agora... Ele tinha o corpo de Molly sem vida em seus braços.

Bring it back, bring it back

Don't take it away from me

Because you don't know

What it means to me

Segurou o corpo da pessoa que mais amava no mundo contra o seu enquanto sentia as lágrimas rolarem pelo seu rosto, queimando seus olhos e fazendo-o sentir uma dor que até então era desconhecida. Perdê-la significava o fim de toda sua felicidade. Não haveria trabalho que o salvasse. Não haveriam amigos o suficiente para alegrá-lo novamente. Nada o faria sorrir novamente depois de vê-la morrer em seus braços.

Ouvia com mais clareza a gargalhada de James Moriarty em seus ombros. Dessa vez ele ria como um demônio, observando a dor e o desespero de Sherlock ali... Na escuridão da noite, com o pequeno corpo imóvel de sua legista, soluçando e chorando impiedosamente, sem se preocupar com sua platéia ou sua imagem. Estava sofrendo. Sofrendo de verdade pela primeira vez. Havia tirado a vida da pessoa que mais importava para ele. Seu coração já não se sentia obrigado à bater — para estar ao lado dela — como antes. Ele se sentia totalmente inútil e sem propósito naquele momento.

Oh, baby! Can't do this to me, baby!

Just gotta get out

Just gotta get right outta here

Não aguentava mais aquilo. Seu corpo já vacilava contra o corpo de Molly. Não aguentava mais sofrer com aquele sentimento. Precisava fugir. Precisava sair dali. Sherlock se virou, pegando Molly no colo. Olhou em direção ao penhasco. Deu o primeiro passo e então ouviu a risada de James de novo. Mas dessa vez ele não estava dentro da sua cabeça.

— Bom trabalho, Sherlock Holmes. — Ele bateu algumas palmas. — Johnny Boy e a doce Hooper adorariam seu ato de heroísmo e lealdade! Se a doce Hooper estivesse viva, ao menos...

Ficou em silêncio. Obviamente esperava uma resposta do detetive. Queria vê-lo perder o controle. Gritar, atirar, tentar jogá-lo do penhasco e matá-lo... Era daquilo que James gostava, afinal. Da adrenalina de ver o detetive perder o controle. Mas Sherlock continuou sem olhá-lo. Encarou aquela situação como criação de sua cabeça. Moriarty no fim era seu demônio. Daquele tipo que sempre vira em desenhos animados e que sempre quis ter o seu.

Enfim, ele tinha. Sua risada em seu ombro e suas palavras de provocação já não faziam mais efeito como deveriam fazer. Sherlock Holmes estava anestesiado pela dor. A dor de perder sua amada. A dor de tê-la matado. De senti-la morrer em seus braços. Apenas deu outro passo em direção ao penhasco.

Nothing really matters

Anyone can see

Nothing really matters

Nothing really matters to me

— Sherlock! — Moriarty gritou desesperado.

Vira o que vinha à seguir e não queria que aquilo acontecesse. Perder Sherlock Holmes tiraria toda a graça de sua brincadeira... Aquilo não era justo! Tinha esforçado-se tanto para vê-lo sofrer e então...

— Você é minha vida. — Sussurrou e beijou a testa fria da legista morta em seus braços. — E eu vou pular com você, Molly Hooper.

Segurou-a da melhor forma que pôde e deu seu último passo. Sentiu seu corpo caindo com a mesma velocidade... O corpo de Molly contra o seu... Sua mente misturando as lembranças de novo. Os olhos de Molly grudados aos seus e os gritos que ela soltou antes de atingirem a água gelada.

Dessa vez a água estava ainda mais gelada. Sherlock entrelaçou seus dedos nos dedos de Molly e deixou-se afundar junto com ela. Não se importava. Sentia seu pulmão arder; ele pedia por ar. Sherlock não lutaria, apenas ficaria ali, fazendo companhia à sua amada. Assim seria o seu fim.

Anyway the wind blows...


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Notas finais do capítulo

Yay!