Quando o Amor Acontece escrita por Benihime


Capítulo 8
Mikaela e Elena




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Mikaela

Ela observou a outra garota dormindo. Depois de ter completado a primeira transformação, realmente precisava.

O sol estava direto em seu rosto, mas isso não parecia incomodá-la, tão cansada estava. Ela se moveu apenas um pouco, fazendo com que seus pés descalços entrassem no riacho. Mikaela quase riu ao vê-la estremecer devido ao frio. De repente, seu celular tocou. Conferiu rapidamente o número antes de atender.

— Wolfgang.

— Mikaela. — Ele cumprimentou. — Onde vocês estão?

— Na beira de algum riacho. Não sei ao certo onde. Eu só segui sua filha ontem à noite.

— Obrigada por isso. Eu mesmo teria feito, mas ...

— É, eu sei. Precisava explicar à mãe dela.

— É. Assim que ela acordar, traga-a para casa, ok? Luce está preocupada.

— Pode deixar.

Nesse exato momento, Elena abriu os olhos, que estavam muito avermelhados. Mikaela estremeceu só de lembrar como ela devia estar se sentindo. Lembrava-se bem de como ela própria se sentira na sua primeira.

— Aliás, ela acabou de acordar.

Olhou para Elena, que parecia confusa. Afastou o telefone e apontou para o aparelho, sinalizando com os lábios as palavras "seu pai". A morena assentiu para indicar que compreendera. Um minuto depois, Mikaela encerrou a chamada.

— Você está bem? — A outra tentou levantar e ficou muito corada ao perceber que estava nua. Mikaela riu. — Relaxe, eu também estou, mas não fizemos nada ontem à noite.

— O que aconteceu?

Mikaela sentou-se de pernas cruzadas na grama, sabendo que seria uma longa conversa.

Elena

— Somos lobisomens, Elena. Herdamos isso de algum de nossos pais, e não, você jamais suspeitaria disso antes, porque só se manifesta após os dezesseis anos. Não teria como saber antes. Muitas vezes, mesmo os que crescem em meio à matilha não sabem se irão ou não se transformar.

— Então por que não me transformei antes? — Elena desafiou, esperando encontrar uma brecha na explicação que acreditava ser a maior mentira. — Já tenho dezessete anos.

— Provavelmente porque não estava pronta. — Mikaela deu de ombros. — Ou talvez tenha sido compelida a reduzir o ritmo da transformação. Alguns remédios têm o poder de fazer isso. Qual era a sua droga?

— Minha mãe me faz tomar anti psicóticos desde que consigo me lembrar. Dizia que eu tenho uma doença rara, herdada do meu pai. Mas não os tomo desde que decidimos nos mudar, há um mês. Eu detestava aquela coisa, ficava sempre tão grogue.

Mikaela levantou-se e foi até o riacho. Elena apenas a encarou, ainda confusa pelo que ouvira. Algum tempo depois, a jovem pegou uma bolsa entre a vegetação e se vestiu rapidamente. Olhou por sobre o ombro para Elena, que ainda estava deitada.

— Anda, Elena, se levanta. Eu te levo pra casa.

Elena obedeceu e Mikaela lhe passou uma camisa de botões que lhe servia de vestido. Apenas pelo cheiro, Elena sabia de quem era. Seu pai, que com certeza também era um lobisomem.

Mikaela

Ela tinha que admitir, Elena estava encarando tudo muito bem. Sem surtos, sem "isso não pode ser verdade!", sem lágrimas. Aquela garota realmente tinha fibra, tal como Wolfgang dissera. Estendeu uma das mãos para ela, vendo seus olhos escuros se estreitarem com desconfiança.

— Pronta?

— Pronta pra que?

— Pra correr, bobinha! É coisa de lobo, somos bem mais rápidos e mais fortes do que as pessoas normais. Você vai adorar essa parte.

Sem mais perguntas, Elena pegou sua mão e as duas dispararam como a bala de um tiro de revólver.

Elena

Ela tinha que admitir, estava mesmo impressionada. Chegara em casa em menos de dez minutos de corrida e, por sorte, ainda era cedo o bastante para que somente Lilly estivesse acordada. Felizmente, ela não pareceu nem um pouco surpresa ao ver Elena aparecer de manhã, acompanhada de uma desconhecida e vestindo apenas uma camisa masculina.

— Oi, Elena. — A ruiva disse, abrindo um sorriso cúmplice para a jovem. — Quem é a sua amiga?

— Mikaela, esta é a Lilly. Lilly, esta é a Mikaela. Nós nos conhecemos ontem à noite numa festa.

— Ah. — A ruiva assentiu, fazendo seus cachos balançarem charmosamente. — Estão com fome, meninas? Já vou terminar aqui com o café.

— Não, obrigada, eu não posso ficar. — Mikaela respondeu. — Tenho que ir pra casa antes que minha mãe fique preocupada.

— Está bem, então.

Elena ficou surpresa com a tranquilidade demonstrada pela ruiva. Mikaela voltou-se para a jovem morena, abrindo um sorriso de cumplicidade. Era um sorriso de amizade, e a garota sentiu-se sorrir em resposta.

— Depois te mando uma mensagem com o meu número. Se precisar de qualquer coisa, pode me ligar, ok? Até mais, garota da cerveja.

— Até mais, maluca da pista de dança.

As duas riram. Mikaela acenou antes de ir. Lilly entrou sem fazer mais nenhum comentário e começou a pôr a mesa para o café da manhã.

— Quer tomar café da manhã conosco ou prefere ir se deitar? — Indagou ao ouvir os passos de Elena se aproximarem.

— Café da manhã, com certeza. Estou morrendo de fome. — A morena respondeu. — Só me deixe trocar de roupa primeiro.

— Sem problemas. Ah, e se quiser um lugar para ir hoje, tem um lago por aqui, quase no limite da propriedade. Posso pedir ao Jake pra te levar lá.

Elena se animou tanto com a possibilidade de ir nadar que teve que se conter para não subir as escadas pulando como uma garotinha. Correu para seu quarto e trocou de roupa em tempo recorde.

Ouviu sua mãe, Jake e Lilly conversando lá embaixo, porém não pôde entender o que diziam. Olhou-se rapidamente no espelho antes de deixar o quarto, admirando o recatado maiô branco e o vestido de verão azul que colocara por cima.

A jovem desceu as escadas pulando de dois em dois degraus e praticamente correu para a cozinha. Jake a viu e sorriu para ela.

— Bom dia, flor do dia. — Ele disse.

— Bom dia!

Sua mãe pareceu chocada ao vê-la.

— Querida, o que faz acordada tão cedo?

— Nada. Simplesmente acordei. — Elena respondeu, dando de ombros enquanto sentava-se na cadeira ao lado de Jake.

Lilly colocou um prato enorme de ovos com bacon à sua frente antes de se acomodar à mesa com eles.

— Obrigada, Lilly.

— Disponha. — A ruiva respondeu. — E, a propósito, Jake, eu disse a Elena que você a levaria ao lago hoje.

— Tudo bem. — Ele virou-se para Elena com uma expressão ao mesmo tempo curiosa e zombeteira — Sabe cavalgar, Miss Seattle?

— É Elena, Jake, já falamos sobre isso. E sim, sei cavalgar.

— Ótimo, então vamos cavalgar até lá e depois podemos fazer um piquenique no almoço. Que tal?

— Perfeito! Provavelmente não vou querer sair tão cedo depois que entrar na água.

— Eu preparo tudo, e você, Elena, deveria descansar um pouco. Tenho a impressão de que não dormiu bem noite passada. — Lilly disse amavelmente. — Se essas olheiras forem algum sinal, com certeza precisa de um cochilo.

— Não consegui dormir mesmo. Estava quente demais.

— Muito quente mesmo. — Jake concordou prontamente, o que a surpreendeu. — Também demorei pra pegar no sono.

— Tá, vocês venceram, vou tentar dormir um pouco mais depois do café.

O resto do café seguiu-se em meio a uma conversa superficial e logo depois Elena foi se deitar. Nem tirou a roupa, apenas deitou-se por cima da colcha e tentou dormir. Não conseguiu.

Algum tempo depois, ouviu uma batidinha tímida na porta. Katelyn abriu uma fresta da porta e espiou timidamente antes de entrar. Elena notou que a pequena estava agarrada à boneca que lhe dera dias antes.

Kate sentou-se perto dela na cama. Pela sua expressão, a garota viu que algo a incomodava.

— Que foi, princesinha?

— Sonhei com meus pais. — A menina informou baixinho.

Elena passou um braço por seus ombros, trazendo-a para junto de si num abraço apertado. Sabia, por intermédio de Lilly, que os pais de Jake e Kate haviam morrido anos atrás.

— Está tudo bem. Foi só um sonho.

— Acha que eles gostavam de mim?

— Tenho certeza que sim.

Elena sabia que não havia mais nada a ser dito, então apenas a abraçou. Quando a pequena se recobrou do sonho, a morena foi com ela até seu quarto e ficaram brincando de boneca por mais de uma hora, até que Jake veio chamá-la.

— Anda, Miss Seattle, vamos nadar. — Ele disse, oferecendo a mão para ajudá-la a levantar. Ela aceitou a ajuda.

— Vão ao lago? — Kate perguntou. — Posso ir junto?

— Dessa vez não, baixinha. Isso é entre Elena e eu.

Kate fez biquinho, mas não protestou. Jake e Elena desceram as escadas correndo. Ela nem se deu conta de que ainda estavam de mãos dadas.

Ele a levou diretamente aos estábulos, onde Lilly esperava com um cavalo selado e uma enorme cesta de piquenique, que entregou a Elena.

— Aproveitem o lago. — Ela disse. — E comporte-se, Jake.

— Pode deixar, Lil. — O moreno respondeu, subindo no cavalo e estendendo a mão para ajudar Elena.

Ela pôde ver que o surpreendeu pela facilidade com que montou e passou os braços por sua cintura. Ele incitou o cavalo ao trote e, poucos minutos depois, estavam no lago.

— Esse lugar é bem grande. — Elena comentou enquanto Jake a ajudava a apear.

O toque das mãos dele em sua cintura fez correr uma descarga elétrica por todo o seu corpo. Algo dentro dela disse que aquele dia seria perfeito, o tipo de dia que acaba se tornando inesquecível.


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