PITTER

– Hey, povo, acho que chegamos. - Avisei para meus dois amigos bêbados e minha namorada. Quer dizer, tecnicamente ela ainda não era minha namorada.

Ainda.

– Espere ai, - Annie disse numa voz de bebê (a voz bêbada dela) - sua tia mora no meio do nada?

– É claro que não, burra. É apenas a entrada. - Jhony respondeu um pouco exasperado. Annie também deve ter percebido porque lançou um olhar confuso para meu amigo.

As crianças realmente estavam se dando bem hoje. Sim, é claro que houve os insultos e um pouco de discussão entre os dois, mas poxa, Annie o chamara de bonito. Eu tenho total certeza de que eu nunca mais vou ouvir isso de Annie. Por isso fiquei um pouco cismado com a mudança repentina do estado de humor de Jhony, por que, Deus, ele está afim da garota! Ele deveria estar feliz, não?

– Isso, Annie. Temos que dirigir mais uns três quilômetros até em casa. - Respondi, confirmando o que Jhony dissera. Ele sabia de cor, já que esteve aqui diversas vezes com seus avos.

A entrada para a casa de minha tia Carla se parecia mais com um sitio do que uma casa de praia de verdade. Havia árvores de palmeiras rodeando a pequena estrada de areia e era lindo, não tão lindo como a própria casa, mas acolhedor. Olhei para Hanna que estava maravilhada. Eu sabia que ela iria gostar.

Em instantes avistei a enorme casa amerela dos Lorenzo. Tinhamos vista apenas da parte traseira da casa. A parte da frente é que vinha a surpresa.

– Agora sim. Definitivamente chegamos.

– Jesus Cristo, essa casa é enorme! - Hanna exclamou entre sorrisos.

– Quantos cômodos tem essa belezura? - Annie perguntou, ela não sorria, porque bem, ela era a Annie. Mas estava claramente feliz.

– Uns Treze.

– Treze?!

– Sala principal, sala de jantar, sala de jogos, cozinha, uns seis quartos e uns três banheiros. - Jhony tentou contar nos dedos.

– Seis quartos?! - Annie perguntou chocada.

– É, seis. - Meu amigo respondeu saindo do carro e dando a volta para abrir a porta de Annie. - Mas nós vamos precisar apenas de um.

– Nem sonhando. - Ela retrucou, já acostumada com as piadinhas perversas de Jhony. Ele apenas riu, voltando à lucidez aos poucos.

Sai do carro e também dei a volta para abrir a porta de Hanna. Ela sorriu e me agradeceu com um selinho. Ao meu lado ouvi Jhony murmurar "copião" para mim. Dei um tapa em suas costas e ele me devolveu com um soco do braço. Começamos uma breve lutinha.

– Então, menininhas será que vocês podem continuar esses amassos lá dentro? Eu quero entrar! - Annie choramingou. Paramos de lutar e ajeitamos nossas blusas, rindo sem fôlego.

– Vai ter revanche. O Power Ranger vermelho aqui vai te socar! - Jhony avisou.

– Isso é o que nós vamos ver. O Power Ranger preto te arrebenta! - Respondi, lhe lançando meu olhar de ninja.

– Vocês são bem idiotas. Os Power Rangers brigam contra vilões, não com sua própria equipe! - Annie disse, estragando a brincadeira completamente.

– Sua estraga prazeres. - Me aproximei dela para poder bagunçar seu cabelo. Ela gritou e correu atrás de Hanna, que era bem mais baixinha que ela.

– Nem vem! - Ela implorou, mas Jhony correu até ela e bagunçou todo seu cabelo por mim. Sorri para meu amigo e trocamos um high five.

– Agora é a loira! - Ele gritou. Segurei minha garota enquanto ele bagunçava todo seu cabelo que estava liso. Ele se contorcia e gritava.

Jhony gargalhou com a visão das garotas com seus cabelos bagunçados. Elas - até mesmo Hanna - nos lançaram olhares furiosos. Hanna brava era adorável. Annie também, mas eu tinha um certo medo...

– Vai ter vingança. - Hanna avisou.

– Ah, se vai... Preparem-se, amigos. - Annie abriu um sorriso maléfico. Meu amigo e eu paramos de rir na hora e fomos pegar as malas no carro em silêncio.

– Fudeu. - Jhony murmurou.

Peguei a mão de Hanna e entramos pela porta dos fundos. Tia Carla adorava artesanatos, então a parte interna da casa era cheia de tapetes indianos, quadros e estantes lotadas de copos e pratos. Revirei os olhos apenas por lembrar de todas as vezes em que tia Carla me alertou sobre não tocar neles.

Na parte de baixo da casa só havia as salas, cozinha e os banheiros e em cima ficava apenas as suítes. Entramos na cozinha e Jhony já estava na geladeira pegando cervejas. Annie logo atrás.

– Quer uma? - Perguntei a Hanna. Ela assentiu e Jhony me jogou duas garrafas.
– Obrigada! - Ela disse a Jhony, que lhe mandou um beijo no ar.

Eu sorri para ela, me lembrando de que essa noite ela iria ser minha. Me sentia um tanto estranho por ter planejado isso com antecedência, quer dizer, eu era um bastardo e quase todos os dias eu transava com uma vadia aleatória. Mas eu estava nervoso pra caralho. Me sentia um virgem.

– Vem ver uma coisa. - Puxei Hanna para o corredor, enquanto as crianças conversavam algo sobre Power Rangers. Eu queria mostrar a sala para Hanna, eu tinha certeza que ela iria adorar.

Paramos na sala de jogos e eu empurrei a ultima porta de correr que dava para a sala principal. Hanna prendeu a respiração quando viu que a sala se constituía apenas em enormes janelas de vidro em que a vista era para o mar.

– Meu Deus...

– É lindo, né? - Levei ela para uma Janela e a abri, nos levando para o terraço.

– Lindo? É maravilhoso! - Ela me abraçou. Eu fiz o mesmo, cheirando seus cabelos. Pode parecer piada, mas Hanna cheirava a biscoito. E era maravilhosamente bom.

– Eu amo seu cheiro. - Falei, minha cabeça apoiada em seu pescoço.

– Eu amo você, amo seu cheiro, sua voz, seus braços, sua boca... - Ela sussurrou em meu ouvido.

– Eu também amo cada parte de você. Amo pra cacete. - Apertei ela. Ela se afastou para me beijar e logo depois se virou para ver o mar. Apoiei meu queixo em seus ombros e ficamos ali, aproveitando o momento.

– Então, eu não te trouxe aqui só para ver a paisagem. - Falei.

– Por que então? - Ela perguntou virando seu rosto para mim. Deus, eu não me cansava do seu sorriso.

– Na verdade, eu queria te pedir uma coisa. - Toquei em meus bolsos procurando a caixinha. - Hanna, eu gosto de você de verdade. Eu te amo. Eu sei que pode parecer bobagem, mas nós não somos namorados ainda. - Peguei a caixinha e abri calmamente, vendo sua reação. - Quer dizer, nós somos, mas não oficialmente. Então eu te trouxe aqui para te perguntar se você está afim de ter um compromisso comigo.

Hanna sorriu. Seus olhos estavam marejados, ela queria chorar. Por que ela queria chorar?

– Então, você não vai perguntar?

– Hanna Barberini de Lucca, você está afim de ter um compromisso comigo? - Peguei sua mão direita e lhe entreguei a caixinha com dois anéis dentro.

– É claro que sim. - Ela se jogou em meus braços e me deu o beijo mais longo e apaixonante que já me dera antes. Ela se afastou sem ar e abriu a caixinha.

– Oh... - Ela ofegou.

– Bom, eu achei que tinha sua cara... - Sorri. O anel era todo prata e no centro tinha uma pequena florzinha de diamante.

– É maravilhoso! - Ela me olhou maravilhada.

– Assim como você. - Tirei o anel da caixinha azul e o coloquei em seu dedo na mão direita.

– Minha vez! - Ela fez o mesmo comigo. Selando nossos lábios no final. - Você é o melhor namorado do mundo!

– Te amo.

– Eu também. Muito, muito, muito! - Hanna agarrou minha cintura, me abraçando. - Deus, eu preciso mostrar para Annie! - Ela deu seus típicos pulinhos histéricos e correu para dentro. Eu gargalhei feliz que tudo ocorreu

Eu tinha certeza que amava essa garota mais do que qualquer coisa neste mundo.