Adoçou o café, inalou o cheiro tão conhecido e adorado e apreciou o gosto doce mas ao mesmo tempo amargo daquele café que só ela mesma sabia fazer. E, bem, só ela mesma pra gostar, também.

Abriu o notebook e checou seus e-mails. No meio de tantas mensagens, o link de um site chamou sua atenção.

Bomba: Elas se estranharam!

As duas mulheres mais famosas e adoradas do Japão finalmente se conheceram. Mas, ao que tudo indica, elas se estranharam! Isso mesmo! Ouve um desentendimento entre elas, e parece que a causa foi o jovem Eren Yeager (o famoso “zero a esquerda”), pois, depois de sua saída, Mikasa Ackerman e Annie Leonhardt se encararam de um jeito no mínimo... Estranho. Será rivalidade?

Havia mais coisas escritas, mas Annie preferiu não continuar lendo. Ah, como odiava essas fofocas inúteis! Contudo, para os leigos, aquilo bem que parecia uma briga pra quem ficava com o Eren. Bem, era realmente isso para Mikasa. Já pra Annie... Ela tinha objetivos maiores do que ficar com o garoto. Seria rivalidade, como a fofoca tinha apontado? Annie achou aquilo interessante. Ter uma rival como Mikasa era... excitante.

Mordeu o lábio; Mikasa ultimamente estava provocando sentimentos de mais.

XxX

– Annie?

– Armin? – A loira se surpreendeu. – Algo importante?

– Um grande contrato. Depende de você aceitá-lo ou não.

– Como?

– Querem que você dê aulas particulares para uma famosa.

Annie suspirou. Já sabia até quem era.

– Mikasa?

– Exato.

Riu de leve.

– O que você acha?

– Bem... – Armin pareceu ponderar a proposta pela enésima vez. – Será ótimo para sua reputação treinar a garota faz-tudo.

– Então eu confiarei na sua decisão – Annie disse com carinho. – Mas também não espere muito de mim. Bem sabe como aquela garota me irrita.

– Falarei com Mikasa – Armin disse em tom sereno. – Depois eu te ligo.

– Estarei esperando.

Armin... Ainda sentia uma dorzinha no peito ao pensar no rapaz. Annie ainda nutria amor por ele. Embora tivesse plena consciência de que não seria correspondida, estava feliz daquele jeito. Conheceu-o por meio de Eren, e automaticamente passou a gostar do moleque frágil e astuto. Mas, ao saber que ele era gay, todas as suas esperanças sumiram. Como não queria sequer perder a amizade do loiro, chamou-o para trabalhar consigo.

Armin era quem cuidava desses assuntos “amenos” para Annie. Recentemente descobriu que o garoto também era amigo intimo de Mikasa. Contudo, ao menos, esta não nutria um sentimento obsessivo pelo loiro.

– Será que aquela idiota já sabe que iremos trabalhar juntas...? – Annie soltou uma risada forçada e tomou mais um gole de café.

XxX

– Você fez de propósito, não fez? – Mikasa indagou olhando acusadoramente para Eren.

– Ora, claro que sim! – Ele exclamou em resposta. A garota olhou-o horrorizada.

– Como você pôde?! Sabe que eu odeio aquela vadia!

– Não chame Annie assim – censurou-a. – E quem melhor para te treinar senão a líder de uma das melhores escolas do mundo e a melhor do Japão? Você precisa de treino adequado para fazer esse filme de ação. E como Vossa Majestade não aceita dublê...

– Tsc – Mikasa reclamou. Eren compreendeu que venceu essa batalha. Comemorou em silêncio.

– Seja legal com a Annie – Eren avisou. – Estou indo treinar. Annie e Armin chegam daqui a pouco.

– Já vai encontrar aquele tampinha? – Mikasa tentou parecer despreocupada. Só tentou, pois Eren sabia perfeitamente que ela estava extremamente raivosa e indignada.

– Respeito com o Ri-... Levi, também – sibilou. – E, sim. Estou saindo.

– Até a volta.

Quando Eren saiu, Mikasa pegou o objeto mais próximo e jogou-o contra a parede. Primeiro ela mataria esse tal de Levi por roubar Eren todas as manhãs e tardes. Depois mataria Annie por ela simplesmente ser Annie.

A campainha tocou, atrapalhando seus planos assassinos.

– Falando no diabo... – Disse com desdém ao ver Annie – acompanhada de Armin, que sorria claramente se sentindo desconfortável – observando sua casa como se a criticasse.

– Ora, estava pensando em mim? – Esta disse passando por Mikasa sem nem ao menos pedir licença.

– Em como matá-la – Ackerman proferiu friamente. Quando Armin passou por ela, Mikasa deu-lhe um pequeno sorriso acolhedor e acenou para que se sentasse.

– Na verdade estou de saída – Armin disse.

A morena indagou-o com o olhar.

– Bem... Vou ter que fazer umas coisinhas... Pensei que o Eren tinha avisado.

– Então leve-a embora – Mikasa “pediu”.

– Não posso. Você precisa começar a treinar hoje. A gravação começará em breve, não?

Silêncio.

– E... Você vai treinar na casa da Annie.

As duas olharam-no, incrédulas.

– O quê? Isso era obvio, não? Mikasa, vá com Annie. Ela está de carro. Annie, depois traga Mikasa de volta.

E saiu apressado, sabendo que, se ficasse, seria massacrado.

– Maldito Armin... – As duas praguejaram ao mesmo tempo. Isso só piorou a tensão entre as duas.

Por fim, Mikasa “aceitou” a carona. O caminho todo elas trocaram comentários idiotas do tipo “você dirige muito devagar” e “então faz melhor, perdedora”.

XxX

– Levante mais esta perna! Acha que vai vencer alguém com um chute fraco desses?! – Annie gritou, adorando o modo como Mikasa tornara-se sua possível subordinada. Ou pelo menos era assim que ela via a situação.

– Annie, estou treinando para encenar um maldito filme de ação, não para derrotar um lutador peso pesado! – Mikasa resmungou atacando-a com um chute que seria fatal pra qualquer um, menos pra Annie, que prontamente bloqueou o ataque como se uma criança de três anos tivesse o feito.

– Ah é? – A loira perguntou irônica, dirigindo um soco na direção da barriga da rival, tentando controlar ao máximo a força usada. Desnecessário; Mikasa desviou no ultimo segundo. – Bom – elogiou. – Por hoje chega.

– Vou tomar banho antes de voltarmos – caminhou até o banheiro que ficava praticamente ao lado de onde elas treinavam.

Afinal, assim como a enfermaria, um banheiro também era necessário. Era frequente Annie trazer pessoas para lutar, e depois de uma luta, banhos eram mais que uma urgência.

– Não pense que vou te emprestar roupas – ela avisou antes de agarrar uma garrafa d’água e beber como se não soubesse o que era água há anos.

– Como se eu quisesse vestir suas roupas nojentas – Mikasa agitou a bolsa que carregava.

– Droga... – praguejou. Não tinha visto Mikasa trazer bolsa alguma.

Annie resolveu também tomar um banho. Quando terminou, desceu as escadas e avistou Mikasa a esperando na sala. Os cabelos da rival ainda pingavam, e Annie teve a incômoda sensação de que ela fez de propósito para que água pingasse na mobília e no chão. Respirou fundo, pensando que estava sendo infantil demais, e caminhou até ficar ao lado da jovem.

– Vamos – disse, praguejando por estar muito perto. Pois Mikasa estava especialmente bonita com os cabelos molhados. E o perfume dela...

A morena sequer a olhou. Abriu a porta e ficou esperando.

Entraram no carro e Annie deu partida. Quando chegaram à primeira avenida, o transito estava tão tenso que Annie desanimou.

– Vamos fazer um lanche – disse subitamente, virando para o estacionamento de uma lanchonete.

– O quê?

– Você deve estar faminta. Eu estou irritada demais para esse transito. Eren ainda deve estar treinando com o Levi. Então vamos fazer um lanche.

Mikasa preferiu não responder.

– Ah, sim... – Annie começou, pegando o cachecol de Mikasa e enrolando-o em sua cabeça como se fosse um lenço. Depois abriu a bolsa e entregou-lhe óculos escuros. – Será um problema se te reconhecerem.

Novamente não houve resposta, apesar de Annie ter percebido o olhar irritado da mulher.

Em silêncio, dirigiram-se para a lanchonete e sentaram numa mesa um pouco afastada das demais. Os óculos não eram lá tão escuros assim, e Annie pôde ver que o olhar irritado já havia sumido. Não teve esperança, mas de algum modo se decepcionou ao ver que Mikasa permaneceria indiferente. Logo os pedidos chegaram. Comeram sem quebrar o silêncio perturbador, voltaram para o carro e logo Annie estava a caminho de casa, agora sozinha e com o rádio ligado.

XxX

A rivalidade nunca foi tão quente!

Ontem Annie Leonhardt e Mikasa Ackerman foram flagradas juntas numa famosa lanchonete da cidade. Mikasa bem que tentou usar disfarce, mas acha mesmo que não reconheceríamos o mais famoso cachecol do mundo?! Não nos subestime, garota faz-tudo! Nós somos o seu maior fã clube!

[...]

Tudo aconteceu estupidamente rápido: pediram, comeram e se mandaram. Exatamente assim. Nenhuma palavra. Apesar de termos visto a postura irritada de Mikasa. Será que a rivalidade está mesmo assim tão quente? E, mesmo assim, elas estão trabalhando juntas (esse “encontro” só confirma nossas suspeitas). O que será que se passa entre as duas mulheres mais importantes do país?

...

– Hein, Annie? Pode me explicar isso? – Armin ordenou.

Annie entendia bem o desespero de Armin; ela mesma o sentia.

– Malditos! – Praguejou. – Armin, não é isso... Veja, eu tentei disfarçá-la...

– Annie, como diz a noticia, esse disfarce é pra lá de obvio. – O loiro fez uma pausa. Quando prosseguiu, seu tom de voz era preocupado. – Por que fez isso? Mikasa disse em alto e bom tom que aceitaria com a condição de que ninguém soubesse que você passou a treiná-la. E se ela desfizer o contrato por causa dessa noticia, você e sua escola terão sérios problemas com os produtores do filme.

– Entendo – Annie respondeu. – Me desculpe. Juro que irei convencê-la a não fazer cu doce. Pode confiar em mim?

– Que escolha eu tenho? – Armin riu de leve. – Brincadeira. Confio plenamente em você.

–... Pode ir comigo à casa de um colega?

XxX

Levi franziu o cenho e deixou-os entrar.

– O que querem aqui?

– Cadê o Eren? – Annie ignorou a pergunta do amigo.

– Treinando.

– Ótimo. Já terminaram? – Levi olhou-a com claras intenções de “vou chutá-la até o outro lado do... planeta.” – Oh, você já conhece o Armin? – Annie puxou o garoto pela camisa. Levi brevemente acenou a cabeça e o loiro sorriu timidamente. – Armin quer ver você massacrar o Eren.

Pra Levi ficou claro que era mentira. Mas decidiu deixar passar.

Os “convidados” o seguiram até a sala de treinamento.

– Armin! – Eren sorriu alegre ao vê-lo. – Annie!

– Esse loiro magricela disse que quer te ver massacrado. Vamos dar o que ele quer, não? – Levi avançou não perdendo tempo. Eren arregalou os olhos, desesperado, e olhou indignado para Armin. O loiro sorriu num pedido de desculpas.

Os dois intrusos ficaram em silêncio enquanto viam O Massacre de Eren. Até que, finalmente, Armin suspirou.

– Vamos, Annie, diga. O que quer saber?

– Eu nunca vou conseguir te enganar, não é? – Annie sequer desviou os olhos da luta.

– Exato – Armin disse em tom firme. – Mas vamos reformular a pergunta... O que quer saber sobre a Mikasa?

– Eu sou tão obvia assim? – Annie não esperou resposta. – Desde quando ela conhece Eren?

– Desde sempre. Na verdade, a família de Eren adotou Mikasa quando ela era bem nova.

– Adotou? – A garota repetiu, surpresa.

– Yeah. Os pais de Mikasa foram assassinados quando ela tinha... Quatro... seis anos? Não importa, não é? Ela foi pra um orfanato, obviamente, e foi quando os pais de Eren a adotaram. Pouco tempo depois eu os conheci. Acho que Eren foi o que lhe deu forças para viver, esse é o motivo de tanta obsessão. E, como sabe, ela faz tudo por ele. Ajuda em todos os sonhos loucos que ele tem. Esse é o motivo de ela ter tantas profissões.

– Como assim?

– Você não entende? – Armin estava levemente irritado. – O que Mikasa sabe fazer?

– Cantar, dançar, pintar, compor... – Annie não disse tudo, mas Armin não queria que ela dissesse mesmo. – Mas por que a pergunta?

– Eren tentou ser cantor. Ela foi junto. Eren quis dançar. Ela foi junto. Eren decidiu pintar. Ela novamente o acompanhou. Tudo o que Mikasa sabe fazer é por causa de uma tentava frustrada de Eren de fazer algo que preste. Eren sempre chegou perto, mas nunca conseguiu o que queria. E por causa disso ele ficou famoso por ser o “Nada”, o “Zero a esquerda” ou coisas do gênero. Pois enquanto Mikasa conseguia ficar famosa e fazer algo de qualidade, Eren apenas pulava de carreira em carreira, tentando sucesso em alguma. Eren quer ser independente, quer explorar o mundo, conhecer pessoas... Ele estuda filosofia, sabe? É péssimo na teoria, mas encantador na prática. Não importa quantas vezes se dê mal, ele sempre tenta novamente.

– Ele nunca desiste, né? – Annie sentiu uma pontada de afeto por Eren, que tentava ao máximo não ser acertado pelo furioso Levi. – Quanta determinação...

– É – Armin concordou. – Mas isso, infelizmente, não é algo que a mídia dê valor. Satisfeita?

– Obrigada, Armin. – Annie finalmente olhou para o colega. – Oh, parece que eles terminaram...

Eren caminhava com dificuldade (provavelmente fora acertado na perna umas cem vezes) e seu olhar parecia se estreitar à medida que ele ia chegando perto.

– Enquanto vocês tagarelavam... – Ele começou ofegante, longe o bastante para ter que gritar. Embora isso também ocorresse por estar furioso. – Eu estava levando uma porrada! Satisfeito, Armin?!

Armin riu, tentando amenizar a situação.

– Adotada...Hm? – Annie sussurrou para si mesma. Eren acabara de levar mais um soco de Levi (esse provinha de ele ser barulhento demais). – Queria saber que tipo de passado ela teve...

Então, pela enésima vez naqueles últimos dias, tudo o que ocupou sua mente pelas próximas horas foi Mikasa.