Nevermore escrita por Porcelain Warrior


Capítulo 1
Oh, Olek...




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Tudo sempre começa quando abrimos os olhos. O dia. A vida. Os sonhos. Isso é um sonho, aqui, agora? Não parece um sonho, mas eu só vou saber se abrir meus olhos. E se eu não abri-los, posso evitar alguma coisa? Se é que tenho permissão de achar qualquer coisa... Não, não podemos evitar nada.

Sinto uma cadeira sob meu corpo, um encosto para as minhas costas e um assento para o meu traseiro, ambos duros como mármore; E tão frios quanto. Sei que estou nu. Sei que algo vai acontecer.

Ainda que a vida em si não tenha uma trilha sonora, sempre senti como se a minha tivesse. Talvez não aqui, mas em algum lugar deve ter. Você sabe que existem lugares fora daqui, não sabe? Você só precisa senti-los, imbecil.

Hm, “imbecil”, já começo a falar igual a ele.

Minha vida sempre pareceu trazer consigo uma caixinha de música, uma pequena vitrola que fosse, mas a variedade de sons sempre foi um tanto limitada. Agora toca a música de suspense que indica: algo está para acontecer. É assim que eu sei. É assim que eu fico sabendo de tudo.

Estou amarrado? Eu tento mover as mãos, mas mesmo não sentindo nenhuma corda ou algemas em torno de meus pulsos, é impossível. Estou preso, agora só falta descobrir como. Começo a roçar meus pulsos um ao outro devagar, sentindo a pele fina de um tocar a outra, e assim vou descendo a sensação gélida até minhas palmas; Consigo movê-las. Sucesso. Agora os dedos.

-O que acha que está fazendo?!

Corpo ou mente?”

Mente.”

Implore-me.”

Ah, sim, eu havia me esquecido disso. Eu, por tolice ou por inocência, não fazia ideia de que essa pergunta era uma imensa retórica. Se eu respondesse “corpo”, ele teria minha mente como consequência. Se eu respondesse “mente”, ele teria o meu corpo. E tinha, a única coisa que muda é a via de controle.

-A consciência é extremamente perigosa. Vai te massacrar inteirinho.

Não posso contar mais quantas vezes escutei isso dele. Às vezes eu sei que conquistei a tal consciência, mas ele tirou isso de mim. Sei também que algumas das coisas que conheci, eu nunca mais vou recuperar, porque não é interessante para ele que eu recupere. Ou que eu descubra qualquer coisa fora daqui. Justamente por isso que me manter em um mundo formado por mortais ignorantes é tão conveniente. Isso é uma forma de consciência, não é? Bem, eu particularmente me divirto bastante com os mortais. Ele nunca saberá como é bom estar cercado por seres tão pequenos e tão auto-suficientes.

-Por que me trouxe...?

Sinto um tapa forte acertar meu rosto com a raiva pulsante, seca e quente. É apenas uma brincadeirinha. Isso provavelmente nem aconteceu de verdade, mas sinto a região magoada começar a latejar. Filho da puta.

-Te dei permissão para abrir a boca?

Apenas balanço a cabeça negativamente dessa vez.

-Peça. Fica tão lindo quando pede...

As unhas dele se cravam em minha pele, segurando meu rosto firmemente – e isso é físico, eu tenho certeza absoluta – e levantam minha cabeça para que eu encare os olhos dele. Grandes olhos amarelos. Deliciosos e grandes olhos amarelos. Felizmente para mim, eu só vejo escuridão.

-Abra os olhos.

-Não.

A pressão das unhas dele fica consideravelmente mais forte, arranhando dolorosamente minha pele e ferindo os músculos da minha mandíbula. Seria tão gostoso cravar os dentes nele agora.

-Mandei abrir os olhos!

Solto um gemido fraco de dor, permitindo que minhas pálpebras se separem a ponto de arregalar os olhos, processando a imagem à minha frente. Me irrita demais o fato de esse filho da puta ser tão atraente. Ele me encara com o sorriso cheio de vitória dele, lambe os lábios e encolhe os ombros como se não fosse nada. Agora eu vejo tudo; Agora é real demais.

-Bom menino. Muito bom menino. Quer saber porque eu trouxe você aqui hoje?

Assinto com a cabeça, engolindo o pouco de saliva que se forma em minha boca. A luz de cima me cega. Mantenho cada músculo de meu corpo contraído até que ele alivie o toque de seus dedos em meu rosto, iniciando o que parece ser uma carícia perdida pelas áreas que ele feriu. Eu permito sem protesto.

-Eu amo você, Olek. Às vezes eu sinto como se fôssemos apenas você e eu no universo inteiro, meu garoto.

Eu sei como ele se sente.


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Notas finais do capítulo

Eu era muito novinha quando escrevi isso e a intenção era que se tornasse uma novel, mas deu errado. Ainda tenho um amor imenso por essa história, mesmo que seja confusa. Tentei editar várias vezes, mas não tive coragem de mudar nada.



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