Foi incrível. Ela me correspondeu e ficamos ali, sentadas no chão do meu quarto nos beijando como nos filmes. A boca dela tinha gosto de fumaça, Vodca e Gloss de frutas vermelhas.

Já tinha beijado antes. Um garoto com câncer cerebral uma vez na minha vida lá no hospital. Ele tinha poucas semanas de vida e me disse que nunca tinha beijado e que esse era seu ultimo desejo, então o beijei. Não foi muito agradável. Primeiros beijos normalmente são um desastre. Uma babação nojenta, e, no meu caso, uma babação nojenta com gosto de remédio.

Nós duas estávamos ofegantes e sem palavras. Tipo, tínhamos ficado nos beijando até o ar nos faltar. Gostei do beijo. Tinha sido uma babação gostosa.

Nem eu nem ela sabíamos o que dizer. Ficamos só lá, paradas, olhando uma para cara da outra. Nós nem nos movíamos e nossos rostos ainda estavam próximos. Nossa respiração meio que se misturava. Então, num impulso, ela me beijou de novo. E de novo, e de novo... E quando vi, ela já estava deitada por cima de mim no chão do meu quarto com a mão no meu seio direito por debaixo da blusa. O chão frio me fazia arrepiar.

– Ai, meu Buda, o que a gente está fazendo? – Ela disse alto de mais saltando de cima de mim.

– Nos beijando, ué! – Eu disse rindo ainda embriagada.

– Disso eu sei, quer dizer... – Ela estava histérica.

– Hey, fala baixo, é uma hora da manhã! – Eu disse mais desperta, mas ainda embriagada.

– Nossa, vamos esquecer que isso aconteceu! – Ela disse recuperando a calma.

– É... – Eu disse enrolado. – Mas você não gostou?

– Sim... Quer dizer... É claro que não!

– Sim ou não?

– Sei lá. Estou confusa e bêbada de mais para pensar em alguma coisa coerente a respeito disso!

– Você fica tão sexy falando coisas do tipo “coerentes a respeito”. – Eu disse a recomecei a rir.

– Cala a boca e vamos dormir! – Ela disse e se deitou na minha cama.

Nós duas já tínhamos dividido a cama mil vezes, mas daquela vez me pareceu algo errado de se fazer. Considerando o fato de (1) eu estar bêbada (2) ainda estava com um pouco de desejo sexual (3) eu ainda sentia o gosto dela na minha boca.

– Sai da minha cama! – Eu exclamei brava de repente e comecei a puxar seu pé para fora.

– Me deixa! – Ela disse se enrolando com meu lençol.

– Não podemos dormir juntas na mesma cama! – Eu disse furiosa.

– Ah, ta bom, que seja. – Ela disse se levantando raivosa.

– Ah, vai se foder, sua sapatona idiota!

E pronto. Estávamos brigando.

– Você me chamou de que? – Ela perguntou se virando para mim mais do que furiosa.

– Disso mesmo que você ouviu!

– Ta. Ou você pirou de vez ou está muito bêbada, pois foi você que me beijou, sua doida!

Então eu dei um tapa na cara dela. Um tapa mesmo, tipo, de verdade. Porque eu fiz isso? Não faço idéia.

– Você enlouqueceu, sua vaca idiota! – Ela disse e devolveu meu tapa.

O tapa que ela me deu doeu. Então lhe devolvi puxando seu cabelo.

– Ai! – Ela gritou. – Isso não foi legal!

Então meu cabelo foi puxado.

– Será que dá para as duas pararem de gritar e irem dormir logo? – Ouvi a voz do meu pai.

– Fodeu! – Charlie disse me olhando apavorada.

– Já estamos indo paizinho! – Eu disse na maior tranquilidade.

– Não quero ouvir mais nenhum ruído por hoje, entenderam senhoritas? – Meu pai perguntou.

– Sim, senhor! – Disse Charlie.

– Assim espero! – Ele disse por fim e voltou para o seu quarto.

Ficamos um minuto em silencio e então começamos a rir, mas abafamos o som das risadas com as mãos.

– Tá bom, agora já chega. Vamos dormir! – Ela disse ainda rindo um pouco.

– É, vamos dormir. – Eu disse e me deitei em minha cama. – A propósito, me desculpe! – Eu disse olhando para ela que estava deitada ao meu lado.

– Tudo bem, só vamos esquecer que isso aconteceu! – Ela disse e se virou de lado.

Dormimos assim. Uma de costas para a outra na minha cama, enroladas no meu lençol. Poucas camadas de roupas nos separando.