Partners in Disguise escrita por Jojo Almeida


Capítulo 5
Half Naked


Notas iniciais do capítulo

Bom dia meu povo!
Sim, eu resolvi ser uma pessoa melhor. E isso quer dizer passar a manhã inteira mandando áudios explicando matemática pras pobres almas do grupo da minha turma, e terminar de escrever o capítulo de PinD!
Bom, acho que não dava pra ser outro nome, certo? hahahahahahha
E não reclamem da demora... Nyah só resolveu dar o ar de suas graças ontem.
Espero que gostem do capítulo, me diverti muito muito muito escrevendo :)
Esse é especialmente dedicado pra mihhy, que deu a primeiríssima e linda recomendação da fic semana retrasada. Muito obrigada, mihhy



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– Aqueles....arghhh... - Katie resmungou irritada. - Quem Hades ainda faz uma coisa tão incivilizada e retardada como um trote? Acéfalos. Acéfalos fazem. Gente idiota. Missão idiota. Eu juro, Stoll, se a gente conseguir sair dessa eu estou-

– Ahá! - Travis exclamou, interrompendo-a. Ele inclinou o corpo para frente, e Katie sentiu um pedaço de corda bater em suas panturrilhas ao cair.

O Stoll deu dois passos para o lado, entrando na linha de visão dela.

– Wow, você realmente realmente está seminua. - Ele disse sorrindo maliciosamente e passando a mão pelo pulso. Katie sentiu suas bochechas ferverem.

– Nem começa, Stoll. - Ela avisou em tom de ameaça. - Como Hades você conseguiu se soltar?

– Filho de Hermes. - Travis respondeu convencido. - E eles estavam pedindo. Aquele nó estava péssimo.

– Tanto faz. - Katie revirou os olhos. - Dá pra me desamarrar?

– Eu posso dizer não? As mãos presas até que combinam com o resto do seu look.

– Stoll! - Ela guinchou exasperada. - Me. Desamarra. Agora.

– Okay, okay. - Travis resmungou fazendo sinal pra que ela se virasse. Ele desfez o nó com certa dificuldade, comentando que as líderes de torcida eram muito melhores que os caras do time. Mas, na verdade, ele não conseguia focar muito no que seus dedos faziam. Não com Katie seminua e tão perto.

– Arh - Katie suspirou quando suas mãos estavam finalmente livres. Passou os braços ao redor do corpo, numa tentativa quase inútil de reter calor vital. - Você sabe pra que lado fica os dormitórios?

– Hm... - Travis franziu o cenho e olhou para os dois lados, pensativo. - Eu tenho quase certeza que é pra lá. - Respondeu, apontando para a direita.

– Mas eu acho que as líderes de torcida vieram de lá. - ela comentou, apontando para o outro lado. Os dois se encararam por um segundo, hesitantes. - Di immortales. - Katie revirou os olhos. - Tanto faz. Só vamos sair daqui logo. Me passa uma lanterna.

O filho de Hermes pegou as duas lanternas no chão, e jogou uma na direção dela. Katie apanhou o objeto com facilidade, girando-o na mão em busca do botão de ligar. Mudou a posição do interruptor algumas vezes. Nada. Bateu no compartimento das pilhas, e tentou novamente. Nada.

– ARGH! - Ela gritou num súbito acesso de raiva, arremessando a lanterna vermelha contra as árvores ao redor da clareira.

A lanterna quicou contra um tronco, ligando imediatamente. Katie teve um vago deslumbre do feixe de luz, antes que a lanterna rolasse pelo barranco, desaparecendo.

– Puta que pariu. - Katie xingou muito baixo, em choque. Ela estava com tanta raiva que queria desistir, simplesmente se sentar e começar a chorar.

– Calminha Kay - Travis disse devagar, com as mãos pairando no ar. Parecia aterrorizado. - Está tudo bem. Nós vamos sair da floresta e dormir e terminar a missão. Tudo certo.

– Não está nada certo, Stoll! - Ela explodiu. Não conseguiu evitar. - Eu estou congelando, e está escuro, e você está sem camisa.

Trav levantou uma sobrancelha para ela.

– Qual é o problema d'eu estar sem camisa?

– Todo problema. Todo problema, Stoll. - Katie balançou as mãos nervosamente. - Deuses! Para de me encarar! Faz alguma coisa! - exigiu.

– Hã, eu não sei fazer camisas aparecerem espontaneamente.

– Outra coisa, idiota. Qualquer coisa.

Travis olhou para os dois lados, hesitando. Então, ligou a lanterna que segurava e foi em direção ao barranco, descendo-o. Kay cruzou os braços, impaciente. Ele voltou uma eternidade depois, com duas lanternas em mãos.

– Obrigada. - Katie agradeceu sinceramente, pegando o cabo vermelho. Era um certo conforto poder iluminar aonde ia. - Uhrm-um - ela pigarreou. - Para a direita?

– Você não vai discutir e falar que está certa e que eu estou errado?

– Hã... Não? - Katie respondeu indecisa e envergonhada. - Filhos de Hermes tem um ótimo senso direção, certo?

Travis deu um de seus típicos sorrisos Stoll, satisfeito.

– Se você diz, Florzinha.

Ela revirou os olhos, e ele tomou a dianteira. Katie se apressou para ficar ao seu lado, desajeitado. Eles andaram um pouco entre as árvores, num silêncio irritado. Katie tentava afastar as folhas que se esticavam na sua direção com a mão livre, incomodada. Eu não sou uma fonte ambulante de energia, pensou. E, deuses, eu preciso de toda minha energia. Eu estou congelando. Eles andaram um pouco mais. E um pouco mais. E um pouco mais.

– Argh! Merda! - Trav reclamou quando o décimo oitavo (ou décimo nono? Era difícil dizer) galho seco se quebrou sobre o peso de seus pés descalços. - Por que elas deixaram você ficar com as botas?

Ele se curvou para arrancar um pedaço de graveto da sola de seus pés, com uma careta cômica.

– Acredite, não foi um ato de gentileza. - Katie disse parando atrás dele. - Alguma coisa sobre eu precisar dos meus pés para animar torcidas. - parou, pensativa. - Pelo menos eles deixaram você ficar com a sua calça.

– Pelo menos isso. - Travis resmungou nem um pouco feliz.

– Hey - Kay semicerrou os olhos, apontando a lanterna para um pinheiro a poucos metros dos dois. - a gente já passou por aqui?

– Claro que não. - ele fez pouco caso, jogando o graveto para o lado.

– Trav, eu tenho certeza absoluta que nós já passamos por essa árvore.

– Você está louca. - ele também apontou a lanterna naquela direção. - É só uma árvore, tem um monte dessas pra todos os lados.

– Mas eu tenho certeza que eu já vi essa árvore. - Ela insistiu, imutável.

– 'tá escuro, Katie. Você não está vendo direito.

– Eu estou vendo perfeitamente bem, Stoll. - ela fez questão de enfatizar. - E, só pra lembrar, eu sou filha de Demeter.

Travis mudou o peso dos pés.

– E isso quer dizer que você tem mestrado em árvores? Que você simplesmente sabe tudo sobre pinheiros?

– Sim. É exatamente isso que quer dizer. - Katie respondeu séria, em tom de ameaça. - Para de ser idiota por um segundo e me escuta, tá bom? Nós estamos andando em círculos.

– Para de ser idiota você! - Travis remendou infantil. - Nós não estamos andando em círculos.

Os dois se encararam, em silêncio, até que Katie soltou uma risada irônica.

– Ah. Entendi. - ela disse. - Você não quer admitir que está completamente perdido, é isso.

– Nós não estamos perdidos! - ele se apressou em discordar, amaldiçoando a escolha de palavras logo em seguida. Definitivamente, não era um bom argumento.

– Ha, nós estamos sim. - Katie riu. - Você só não que perder sua pose de imponente, de homem com ótimo senso de direção ou coisa do tipo. Isso é muito machista, viu Stoll?

– Deuses, Kay não me venha com esse seu discurso femista de novo.

– Feminista, idiota. Feminista. Femista é outra coisa.

– Deuses, tanto faz o- ele passou a lanterna da árvore para Katie, e parou de falar de falar quando a luz alcançou o busto dela. - Por que o seu sutiã é da mesma cor que os seus olhos? - perguntou de repente, sem pensar duas vezes e sem conseguir evitar.

– A-a a érhm Afr-... - Katie gaguejou, pega de surpresa. Ela cruzou os braços, mas descruzou-os logo em seguida, percebendo que estava piorando a situação. Suas bochechas ferviam. - Para de olhar para os meus peitos! - exigiu, recuperando-se levemente do estado catatônico.

– Seus peitos é que estão olhando para mim! - Travis argumentou, igualmente envergonhado.

– Então ignora eles! Ah! Não é culpa minha! - Katie ralhou, e ele abaixou a lanterna para o chão. - Só... Vamos concentrar em sair daqui, certo?

Travis assentiu, e deixou que ela escolhesse para que lado iam seguir. Acabaram indo em frente, após uma breve discussão que, se andassem sempre na mesma direção, acabariam chegando a algum lugar.

– Hey, Kit-Kat. - Travis chamou suavemente, após algum tempo desbravando a floresta em silêncio. Katie tentou se desviar dos galhos de uma árvore.

– Hmmm? - ela murmurou distraída.

– Você disse que não era minha namorada. - Travis começou devagar, franzindo o cenho. - Por que você disse que não era minha namorada, mesmo?

– Érhm - ela resmungou, tentando ganhar tempo. Por que ele queria saber sobre isso, de qualquer jeito? Era óbvio... Certo? - Eu sou a sua namorada?

Travis fechou os olhos, um milhão xingamentos passando por sua mente como um disco arranhado de auto depreciação. O que ele estava pensando? Conhecia Katie Gardner e nem sob ameaça de morte devia ter perguntado isso. Não era assim que Katie funcionava. Ele não podia por tudo a perder.

– Claro que não. - Ele respondeu finalmente, quebrando o silêncio incômodo. - Mas... eu achei... - ele se apressou em acrescentar, enrolando. - Para a missão, sabe? Eu achei que para a missão...

– Ah. Entendi. - Kay disse, pouco convincente. Na verdade, ela se sentia dez vezes mais decepcionada do que provavelmente deveria. - Bom, agora é tarde temais.

– Tarde demais. Certo. - Travis repetiu, e eles voltaram a caminhar em silêncio.

Alguns muitos metros à frente, a lanterna de Katie começou a piscar até finalmente desligar. Ela bateu no compartimento das pilhas e na parte de baixo do cabo, mas não teve a mesma sorte da antes. Era uma morte oficial.

– Merda! - ela gritou, jogando a lanterna no chão. Nem isso adiantou. Katie passou a mão pelo cabelo nervosamente, e desabou sobre as folhas secas e a terra úmida, sob o olhar atento de Travis.

– Okay... - Ele disse devagar, se sentando ao lado dela. - Acho que podemos parar um pouco.

– Malditos Coal High. - Katie resmungou em lamento. - Porque eles não podem simplesmente jogar os novatos no lago de canoagem e pronto é isso?

Travis riu, divertido.

– O bom e velho chalé de Hermes. - ele disse como se não visse o acampamento há anos e anos (não apenas dois dias). - Nós sim sabemos lidar com um trote.

– Você fica molhado, mas é isso. Tudo bem. - Katie encolheu as pernas. - Ninguém te larga no meio da floresta pra congelar até a morte.

– Ou possivelmente pisar em alguma coisa e pegar tétano.

Katie riu, se encolhendo ainda mais ao sentir uma leve brisa passar pelos os dois.

– Hey, Trav - Chamou em uma voz bem baixa. - Me abraça.

– O quê? - Travis perguntou, sem entender.

– Me abraça, idiota. - ela pediu novamente, sorrindo, mas irritadiça. - Ou eu vou pegar pneumonia. E morrer.

– Ah.

Ele passou o braço pelos ombros dela. Eles eram pele para todos os lados, e Travis sentia correntes elétricas subindo todo o caminho em direção a sua coluna espinhal. Katie se acomodou. Ainda estava com frio, é claro. Mas aquilo definitivamente era melhor.

– Você tá sentindo esse cheiro? – ela perguntou, com a voz rouca. Por um segundo, Travis apreciou o simples fato que a segurava tão perto que podia sentir pequenas vibrações quando ela falava.

– Que cheiro? – ele perguntou confuso. Só conseguia sentir o perfume dela, o típico morangos-flores-silvestres-e-plantas. Ele sempre achara que Katie cheirar a morangos era uma consequência do tempo que ela passava nos campos do acampamento. Pelo visto, estava enganado.

– De terra. Terra molhada. – Ela inspirou profundamente, fechando os olhos. – Sentiu?

– Hm-m. – Travis concordou distraidamente, brincando uma mecha de cabelo dela entre os dedos.

– Meu pai ama esse cheiro. – Katie riu, sem graça, causando vibrações ainda melhores. – Eu – corrigiu-se – amo esse cheiro. Existe uma palavra pra isso, sabia? Acho que no fundo é assim que funciona. Existem palavras para todas as coisas, e a culpa é das pessoas, que não encontram as palavras certas.

– E como que chama? – ele perguntou. – O cheiro. Qual é a palavra?

Ela sorriu abertamente. Um sorriso que, na opinião de Travis, poderia salvar civilizações inteiras e curar o câncer.

Petrichor. Bonita, não?

– É. Linda. – Travis respondeu. Ele olhava bem no fundo do verde-planta dos olhos dela. E Katie sabia. Simplesmente, sabia. Ele não estava falando sobre petrichor.

– Trav... Trav... Stoll... – Katie chamava incoerentemente, entre uma respiração e outra, ofegante. Travis seguia em frente, sem escutá-la. – Vamos parar de novo. Por favor.

– Mas eu acho que dá pra ver o ginásio daqui. – ele respondeu sem se virar, animado.

– Nós estamos andando há horas. Será que não dá pra simplesmente admitir que eles ganharam e esperar uma morte digna por hipotermia?

– Anda, Gardner. Dessa vez eu tenho certeza. A gente está quase lá.

Katie resmungou uma ou duas pragas em grego antigo, mas se apressou para acompanha-lo. Estava exausta. Não, exausta não era forte o suficiente. Ela se sentiu exausta há umas duas horas atrás. Ela estava destruída. Sua mente oscilava na lucidez, e seus pés estavam pesados e doloridos. Travis, descalço, devia estar ainda pior; mas, ironicamente parecia que ele havia superado seu cansaço mais ou menos uma hora atrás, substituindo-o por uma animação cega e incoerente. Eu estou tão cansado que não estou mais cansado, ele disse. Ha. Hilário, Stoll.

O sol começava a nascer por entre as árvores. Eles andaram a noite inteira. Isso era, no mínimo, tempo demais. Aquela maldita floresta era perfeitamente simétrica, além de escura e assustadora. Os alunos de Coal High eram cruéis.

– Ta-dáh! – Travis exclamou, de repente, fazendo com que ela desse um pulo. Ele apontou para uma construção vermelho escuro, não muito visível entre a vegetação rasteira do limite da floresta. – Eu disse. Vai, pode admitir que eu tenho um ótimo senso de direção. E que eu estava certo.

– Supera, Stoll. – Katie rebateu com uma careta mal humorada.

– Nunca, Gardner. – Ele deu um dos seus típicos sorrisos eu-sei-mais-que-você.

– Anda. Vamos para o dormitório antes que alguém acorde e veja nós dois assim.

Travis assentiu, e ela começou a andar em direção ao ginásio na frente dele. Já tinha dado quase seis passos quando sentiu o braço dele passar por sua barriga, puxando-a para trás e para baixo, entre um arbusto e um tronco de árvore. Kay arfou, abrindo a boca para gritar num reflexo. Travis foi mais rápido, comprimindo sua mão contra os lábios dela.

– Shh! – ele exigiu em um sussurro, sua respiração quente no pescoço descoberto dela. – Tem alguém vindo.

Katie ficou imóvel, escutando. Passos ritmados se aproximavam pela esquerda. Ela mordeu os lábios, levemente apavorada. Os segundos seguintes foram quase uma eternidade, mas, finalmente, o zelador entrou no campo de visão deles. Ele tinha uma lanterna enorme em mãos, que brandia para os dois lados enquanto resmungava incessantemente. Travis deixou seu queixo cair, logo entendendo do que se tratava.

– Filhos da puta. – ele xingou, quando o Zelador já estava distante o suficiente para não ouvi-lo.

– Travis. – Katie disse em tom dia aviso, obviamente incomodada pelo uso do palavrão.

– Você viu isso? – Travis perguntou, indignado. – Eles armaram pra gente, Kay. Eles armaram muito para gente.

– Que quê você ‘tá falando, Stoll? – ela perguntou, confusa.

– Você coloca dois adolescentes seminus na floresta à noite, e aí avisa para o zelador que têm dois adolescentes seminus na floresta à noite. – Ele esclareceu com raiva. – Katie, se aquele cara visse a gente, nós seriamos expulsos assim – estalou os dedos. – e aí adeus missão. Aqueles idiotas malditos armaram pra gente.

– Di immortales. – Katie murmurou.

– Isso não é um trote. – Travis balançou a cabeça. – Isso é baixaria, e é baixaria das grandes.

– Trav...- Katie disse docemente, se afastando dele. Usou o apelido de propósito. Sabia muito bem o efeito que o apelido causava nele. – Deixa pra lá. Ele não viu a gente.

Travis riu com escárnio, descrente.

– Katie, eu não posso deixar pra lá. Isso não pode ficar barato.

– E que bem faz? – ela suspirou. – Deixa quieto. Por favor. A gente ‘tá aqui pela missão, não para abaixar o nível médio da babaquice dos alunos.

– Que quê você acha que aquele zelador ia dizer se encontrasse a gente assim, Kay?

Mas não encontrou. – ela passou a mão pelos olhos. – Não mexe com isso, não. Não adianta nada.

Travis resmungou qualquer coisa concordando, pouco convincente. Então, explicou seu plano rapidamente. Katie concordou sem grandes discussões, ela estava cansada demais para argumentar. Cansada demais.

Eles correram para o ginásio, então contornaram o prédio meio abaixados entre os canteiros mal cuidados e correram em direção ao dormitório masculino, que era o mais próximo. Andaram pelo corredor calmamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Não podiam arriscar acordar alguém

Travis testou a porta de seu quarto, empurrando a maçaneta vagarosamente. Por algum milagre, estava aberta. Pelo vão, conseguiu ver que a cama de Duke estava vazia. Onde o capitão do time de footbol passava suas noites, era um mistério.

– Então... Eu te vejo mais tarde? – ele disse para Katie, sem jeito. Ela riu.

– Você só pode estar brincando. – disse ironicamente. – Não tem a menor chance de eu andar até o dormitório feminino assim.

– E o que você quer que eu faça? – ele perguntou impaciente. A filha de Demeter deu de ombros.

– Me empresta uma camisa. – Disse simplesmente, e, ao notá-lo hesitar, acrescentou: - Não seja egoísta, Stoll.

– Tá, tá. – Travis murmurou, segurando a porta para que ela passasse. Então andou até a cômoda e revirou uma das gavetas (contra as suspeitas de Katie ele havia, sim, desfeito sua mala), jogando uma camisa preta na direção dela.

Kay desdobrou a peça de roupa, notando que era estampada. Estranho. Travis sempre usava camisas lisas, ou então o uniforme do acampamento. Não sabia que ele sequer possuía alguma coisa estampada.

– Queens of the Stone Age? – ela perguntou levantando uma sobrancelha e segurando a risada. Travis Stoll tinha uma camisa de banda. Desde quando?

Ele encolheu os ombros.

– Algum problema?

– Não, não. – Katie vestiu a camisa. – Nenhum.

– É uma ótima banda. – ele disse na defensiva.

Era sorriu.

– É sim, Stoll. É uma ótima banda.

– Tem folhas no seu cabelo. – Travis observou leviano, com um meio-sorriso. Katie passou os dedos pelo cabelo cheio de nós, imaginando que devia parecer com a definição de caos.

– Tem folhas no seu cabelo também. – ela respondeu, rindo ao notar como o cabelo dele estava rebelde e esquisito.

– Nós podemos lançar uma nova moda.

– A próxima grande tendência das passarelas de Paris. – Kay concordou se sentando na cama de Travis. Ah. O colchão era tão macio. Ela sentiu toda a exaustão atingi-la novamente, como um soco no estômago. Ainda sorrindo, deitou-se lentamente, deixando o corpo afundar nos lençóis.

– Katie, levanta. Anda. Você não pode ficar aqui. – ela ouviu a voz de Travis chamar, muito distante.

– É só um pouquinho, Trav. Cinco minutos. Só.

– E se alguém te ver?

– Só cinco minutinhos.

– Vamos, Katie. Levanta...

– Hm-hmmm...

– Kay?

Katie sonhou que o ginásio da Coal Hill High School estava pegando fogo. Metaforicamente, claro.

Ela queria gritar de frustação. Não podia, é claro. Era um daqueles típicos sonhos de semideus, em que você é obrigado a engolir o orgulho e assistir a si mesmo tomar péssimas decisões, em silêncio absoluto. Maldição. Ela estava exausta, tudo que queria era uma calma noite de sono. Não... Bem, isso.

No sonho, Katie acotovelava seu caminho através da multidão que estava no ginásio. A música forte balançava as paredes, e era difícil ver para onde ia. As luzes coloridas faziam sua cabeça rodar. Era a maior festa que ela já tinha visto. Ela usava a saia do uniforme das líderes de torcida, e uma camisa muitos números maior, suja de terra. Para completar, estava descalça.

– STOLL! – Ela gritou, olhando para os dois lados desesperada, a voz mal se sobressaindo à música. – STOLL! – ela chamou de novo, usando o braço para tentar evitar ser esmagada. O odor de álcool enchia suas narinas.

Ninguém respondeu. Ela tropeçou pelo ginásio, percorrendo as arquibancadas com os olhos. Ela agarrou Mick, que passava por perto, pelos ombros.

– MIck! VOCÊ VIU O TRAVIS? – gritou no ouvido dele. Mick balançou a cabeça, parecendo perdido demais para ter visto qualquer coisa. Talvez não tivesse escutado muito bem.

Ela soltou o garoto. Olhou para os lados, encontrando Sky a alguns metros. Ela agarrou o pulso da ruiva.

– Você viu o Travis?! – Perguntou. Sky sorriu.

– Não, Kay. – respondeu, e voltou a dançar. Katie passou a mão pela testa, varrendo o ambiente com os olhos. As pessoas ocupavam as arquibancadas, e um DJ improvisado escolhia as músicas eletrônicas que tocaria talo.

– TRAVIS! STOLL! CADÊ VOCÊ?!

Ela parou, tendo uma ideia. Correu em direção à pequena sala de vidro do treinador, e abriu a porta com os dedos tremendo.

– Ah, Trav...- ela disse, assustada e em choque. – O que foi que você fez?

– Eu resolvi o problema. – Travis respondeu sombriamente. Katie balançou a cabeça, e levou a mãos ao cabelo.

– Você não resolveu o problema. – disse. – Você não resolveu nenhum problema!

Travis olhou para ela, irritado. Ele usava a Jersey do time de footbol, e tinha um corte na bochecha esquerda que combinava com seu olho roxo.

– Você tinha alguma ideia melhor? – Ele atacou, seco.

– Qualquer ideia é melhor do que isso! – Katie gritou, apontando para a cadeira no canto da sala. De relance, era possível ver alguém amarrado e amordaçado ali. – Nós precisamos fazer alguma coisa. Ele não pode ficar aqui assim.

– Fazer o que?

– Eu não sei! –ela andou de um lado para o outro. – Você não vê, Stoll? – perguntou desesperada. – É isso! É assim que acaba!

Os dois pararam de falar e se encaram, hesitantes. Travis olhou pelo vidro, franzindo o cenho.

– É ele. – anunciou, e Kay sentiu sua garganta fechar. - Katie, ele está vindo.

Katie acordou em uma bagunça quente de lençóis, com uma coberta macia sobre suas pernas. Ela não conseguia respirar. Sua mente não funcionava direito, mas por algum milagre conseguiu se levantar da cama e correr em direção ao lavabo do quarto.

Ajoelhou-se no chão, vomitando quase que imediatamente. Fechou os olhos. Não conseguia dizer se era por causa do sonho, ou se tinha ficado gripada após a noite só de lingerie na floresta, mas seu estômago dava voltas.

Com certa dificuldade, se levantou, olhando no espelho. Seus olhos estavam vermelhos, e a nariz inchado. O cabelo ainda estava cheio de folhas. Devia ser doente, concluiu. Só isso. Lavou o rosto, deixando a água fria escorrer pela pele quente num choque térmico desconfortável. Então, deu descarga e certificou-se que não tinha feito nenhum estrago no pequeno banheiro.

Com o resto de sua lucidez, conseguiu convencer-se a revirar as gavetas de Travis em busca de algum néctar ou ambrosia. Já tinha gastado bons minutos revirando camisas masculinas quando percebeu que, afinal, estava mexendo nas coisas de Duke. Meio trôpega, andou até a outra cômoda. Não foi difícil encontrar o cantil prateado, escondido no meio da gaveta de meias. Para um filho de Hermes, Travis não era muito bom em esconder suas coisas.

Sentou-se na cama e tomou um pequeno gole, tomando cuidado para não exagerar. Deixou-se deitar novamente, sem se preocupar de tirar as botas. A luz do dia passava pelas persianas, e ela refletiu sobre como Travis devia ter colocado aquela coberta em cima dela e fechado a janela. A cama de Duke estava vazia. Talvez já não estivesse mais na hora de dormir. Talvez (se ela lembrava bem do seu horário) já estivesse na hora de ter cálculo.

Ela pensou sobre funções algorítmicas enquanto caía no sono. Dessa vez, não sonhou.

A porta do quarto rangeu, acordando Katie. Ela se revirou na cama. Não, não... Ainda não. Era cedo demais.

– Uhrhmm... – ela resmungou, abrindo os olhos devagar. Alguém estava parado na porta, contra a luz, segurando a maçaneta. – Trav...?

– Katie?! – a pessoa perguntou incrédula. Aquela não era a voz de Travis. Mas Katie conhecia aquela voz.... Ela se apoiou nos cotovelos, levantando o tronco, e semicerrou os olhos para ver melhor.

Connor? O que Hades você está fazendo aqui?


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Notas finais do capítulo

As coisas começaram a esquentar!
Ou, bem, né, pegar fogo.
(acho que eu sou piromaníaca)
Bom, mandem suas teorias. Mandem recomendações. Mandem seus animais de estimação como sacrifício. Mandem seus primos como servos.
Mandem qualquer coisa!
hahahaha
Como parte da minha decisão de ser uma pessoa melhor, vou ler e responder tudo com muito amor.
Beijinhos!