– Travis.... Travis... – Katie chamou baixinho, cutucando o filho de Hermes desacordado no assento de ônibus ao seu lado . Ele se mexeu e resmungou qualquer coisa, sem abrir os olhos. – TRAVIS!

– Que que é? – ele perguntou mal humorado, finalmente olhando para ela. Passou a mão no pescoço. Já podia sentir a dor do torcicolo que teria no dia seguinte. Ônibus não foram feitos para dormir.

– Quanto tempo falta? – Kay perguntou, torcendo a barra do seu vestido entre os dedos. Ela estava um pouco ansiosa. O ônibus estava quase vazio, coisa que fazia com que ela suspeitasse ainda mais de cada um dos passageiros. Até onde sabia, qualquer um deles podia ser um monstro esperando para atacar os dois semideuses desprevenidos. Era impressão sua ou o motorista tinha um olho só?

– Muito. – Travis mudou de posição, desconfortável, sem parecer preocupado. – São cinco horas de viagem até Boston, Gardner. Vê se relaxa um pouco.

Katie bufou. Cinco horas. Droga.

– Difícil, usando essas roupas promíscuas. – reclamou. O vestido que as filhas de Afrodite lhe deram era curto demais. Assim como todas as roupas dentro da sua mala. Roupas que, diga-se de passagem, ela nunca usaria por livre e espontânea vontade. Olhou para Travis invejosa. Ele parecia muito bem com seu jeans, camiseta cinza e tênis de corrida. Porque só ela tinha que usar um disfarce?

– Eu até que poderia dizer o que achei do modelito – Travis comentou com um sorriso malicioso, fazendo ela corar. – mas você não ia gostar.

– Cala a boca, Stoll. – respondeu, por força do hábito.

Travis se espreguiçou, passando o braço pelos ombros dela. Katie finalmente se deu por vencida, deixando seu corpo tombar para o lado e se acomodando com a cabeça no peito dele. Do lado de fora do ônibus, o sol começava a se por. Ela olhou para a luz batendo nas folhas das árvores que passavam rapidamente, entretida, tentado ignorar a possibilidade de ser atacada a qualquer momento. Daquela posição, conseguia escutar cada batida calma do coração de Stoll. Era gostoso.

– Você acha que eles vão acreditar na gente? – perguntou de repente, franzindo no cenho.

– Hmm...? – Travis resmungou sem entender.

– A escola, Trav. – Katie disse, paciente. – Você acha que eles vão acreditar que pedimos transferência e somos só dois alunos normais?

– Yeah, talvez. – ele respondeu sem parecer preocupado com a questão. – Quíron falsificou a papelada. Acho que está tudo okay.

– Não é só isso, idiota. – Katie revirou os olhos. – Eles também tem que achar que eu sou uma líder de torcida e que você é um jogador de futebol americano.

– Ah, tem isso. – Travis encolheu os ombros. – Não é culpa minha se você não parece uma líder de torcida promíscua e desmiolada.

– Você também não parece nem um pouquinho com um jock*, Stoll. – a filha de Demeter devolveu irritadiça. Travis tinha um corpo incrível, sim. Mas ele era esguio, alto. Não tinha o porte dos jogadores de futebol americano, que normalmente são fortes e grandes para todos os lados. – Você já jogou futebol americano por acaso?

– Não. E você sabe dar saltos triplos para o lado?

– Não. – Katie admitiu.

– Pelo menos eu posso ser aquele cara que corre muito rápido com a bola até o outro lado do campo. – Travis ponderou, deixando bem claro que sabia pouco ou quase nada sobre o esporte. Ele sempre gostou mais de atividade que envolvem corrida, como o basquete ou o futebol. Além do mais, por ser um campista de ano inteiro, nunca tinha feito parte de nenhum time escolar. – Tem alguma chance de plantas te ajudarem a dar mortais?

Katie soltou uma careta engraçada, fazendo com que ele risse.

– Nós estamos ferrados. – suspirou, com certa irritação. – Porque Hades você me chamou para essa missão mesmo?

Travis deu de ombros.

– É outubro, Katie. – ele argumentou sério. – Não tinha exatamente um número enorme de opções para eu levar em uma missão que teoricamente devia ser feita por sátiros.

– Se você não tivesse instalado o Reinado do Terror de pegadinhas semana passada, Quíron muito provavelmente não faria você sair em busca de um outro filho de Hermes. – Parou, pensativa, antes de concluir novamente. – Nós estamos ferrados.

– Vai dar tudo certo. – Travis murmurou apesar de não parecer muito animado. – Stoll&Gardner, solucionando crimes. Guarde minhas palavras, vamos ser famosos.

– Vamos ser a dupla policial mais conhecida dos anos setenta, isso sim.

– Relaxa, reclamona. Aproveite a incrível companhia Stoll, não é todo dia que você tem essa honra.

– Mais dias do que eu gostaria, com certeza é. – Katie provocou, tentando parecer irritada, mas sem sucesso. Na verdade, era bom estar fora do acampamento para variar. Os turnos nos campos de morango e as aulas de esgrima já estavam se tornando extremamente entediantes. Ainda mais sem a maior parte dos seus amigos, já que o verão terminara há quase um mês.

– Você tem razão. - Travis disse rindo. – Eu devia ter chamado o Connor. Mas, sabe como é, ele não fica tão bem de minissaia.