Floresta dos Ossos escrita por Fernanda Gonçalves


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! =3



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POV Melissa.

Péééééééé!

Depois do toque, a gritaria e correria de sempre começa. Vou atrás de Lucas, ele deve estar dormindo na aula de história.

Quando cheguei, ele estava esperando por mim.

Anda logo, que eu quero chegar em casa- digo olhando para o céu receosa – A noite não está muito boa hoje.

Que besteira – zombou ele.

Besteira, humpf. Não era eu que todas as noites de chuva, ia para a cama dos pais por causa do medo de trovões. Ainda bem que isso parou aos dez anos.

Andamos até chegar à parte sempre vazia ao lado da floresta. Alguns alunos diziam que era mal assombrada, eu não acredito nessas idiotices. Mas resolvi usar a meu favor:

E aí machão, topa passar uma noite na floresta? - provoquei. Se fosse comigo, aceitaria na hora. Nunca fujo de um desafio. Levo até um manual de sobrevivência na bolsa. Quié? Prevenção nunca é demais.

É claro que não! Tá doida? - disse ele um pouco rápido demais- Quer dizer, você mesma disse que a noite não estava muito boa – disse engrossando um pouco a voz.

Mas tem fogo ali, olha! - disse apontando para a floresta.

Não caio nessa. - falou ele.

Mas é sério, olha. - e era verdade, tinha uma fumaça muito alta saindo do meio da floresta. Sem pensar começei a correr.

E você vai atrás do fogo? - perguntou ele indignado.

Sim, pode ter alguém lá. - digo como se fosse óbvio.

Lucas começa a correr também, e depois de um tempo me alcança. E não está nada feliz.

Tinha acabado entrar na floresta, olhei para a frente, mas tropecei quase que imediatamente. Olhei para Lucas para ver se ele estava rindo, mas ele estava paralisado, horrorizado. Apontando para onde eu havia tropeçado. Quando eu olhei, encontrei uma pilha de ossos sob meus pés.

Não se preocupe, deve ser só brincadeira. Nem devem ser verdadeiros. Anda vamos entrar – tentei parecer calma, mas aquilo também tinha me assustado.

Lucas relaxou um pouco e me ajudou a me levantar. Começamos a andar, mas ele para e pergunta:

Porque estamos aqui mesmo?- ai que esquecido!

Por causa do fogo, ora! - mas quando apontei para o alto, não havia mais nada. Nenhum sinal de que tivesse fogo ali.

Melissa! Socorro me ajuda, por favor!

Gelei. Esse grito vinha do fundo da floresta, e chamava o meu nome. Era uma voz muito familiar mas que eu não consegui reconhecer.

Olhei para Lucas, ele entendeu o recado, e começamos a procurar.

Depois de um longo tempo, paramos. O céu já estava completamente preto. Pude ver que chovia na cidade, mas curiosamente não caiu nenhuma gota na floresta.

Achei um espaço vazio, perto de uma árvore. Jogamos as bolsas de lado e nos largamos, estávamos muito cansados.

Que canseira! - bufei.

Lucas não respondeu nada. Estava todo encolhido, parecia com muito frio.

Melissa – disse Lucas. Na verdade foi quase um sussurro.

O quê? - sussurrei de volta.

Tô com medo – responde ele.

Ah, qualé? Você já tem 16 anos, não é mais nem um menininho! – gritei.

Nem vem com essa que eu sei que você também tá morrendo de medo.

Não disse nada, porque era verdade, eu também estava com muito medo. E raiva também, como pude deixar isso acontecer? O fato é que acabei descontando nele. Antes que dissesse qualquer coisa, ouvi um barulho de um galho quebrando. Olhei pra tráz, mas não vi nada.Lucas ficou meio confuso.

Eu só... – tentei explicar – Esquece.

Foi então, que me lembrei do manual de sobrevivência. Poderia usa-lo, e providenciar alguma coisa para passar a noite. Olhei para onde tinhamos largado as bolsas, mas não havia nada. Elas tinham simplesmente sumido. Me levantei rapidamente, e Lucas sem entender nada, também.

A minha bolsa...- balbuciei tentando conter a raiva – Roubaram a minha bolsa.

A minha bolsa é tudo pra mim, se algum engraçadinho acha que pode simplesmente pega-la e sair ileso. Está muito enganado. Olhei para Lucas, ele ainda parecia estar com muito frio, mas nada que uma corridinha não ajude.

É melhor você ir com calma. - diz Lucas.

Porquê? - Acho que ele já percebeu o que eu pretendo.

Você já pensou que pode ser mais do que só brincadeiras de mau gosto, podem ter ladrões de verdade por trás disso, ou até psicopatas.

Fala sério, psicopatas que roubam bolsas, tá certo. - ele não disse nada. Foi até melhor, não quero que ele fique dando pitaco nas minhas decisões. Acelerei o passo sem nem olhar pra trás.

Depois de um tempo, aceitei que estava perdida. Ok, ok, mais perdida. Mas o lugar estava ficando familiar. Ah não! Já estávamos começando a dar voltas.

Nós não já passamos por aqui? - nenhuma resposta – Lucas?

Olhei ao meu redor, mas ele não estava em lugar nenhum. Por isso o silêncio. Fala sério, já está ficando repetitivo. Pensei em gritar por ele, mas lembrei do comentário de Lucas. Não parecia tão ridículo agora.

Quer saber? Eles pegaram minha bolsa e o meu irmão, isso não vai ficar barato. Paro subtamente, começo a ouvir passos. Sigo-os, mas parece que pararam. Agora posso ouvir vozes. Eles diziam coisas como: “ Que canseira”, ou “ Tô com medo”. Roubam as bolsas e agora ficam com medo.

Eram vozes familiares, não consegui distinguir os rostos, por causa do escuro, mas pude ver que eles também levavam bolsas. Não me lembro de ter decidido fazer isso, nem, pensei no meu irmão, só me aproximei devagar. Pisei em um galho, sem querer, tomara que não tenham ouvido. Peguei as duas bolsas e saí correndo.

* * *

POV Lucas.

Achei estranho Melissa ter desaparecido de repente, mas eu estava com muito frio para pensar em qualquer coisa. Parei em um lugar que parecia mais quente, e tentei lembrar de como as pessoas faziam fogueiras nos filmes, não parecia tão difícil.

Peguei dois gravetos e comecei a esfregar. A fumaça começou a aparecer, juntai mais galhos e consegui o fogo. Coloquei mais gravetos e ele começou a aumentar. Mas a fogueira estava subindo muito, acho que dava pra ver até da cidade. Decidi apaga-la, vai que chama a atenção de quem quer que fosse que estivesse aqui com a gente. Depois de apagar, meu frio já tinha passado, pelo menos o suficiente para poder andar.

Então vi um brilho logo a minha frente, me aproximei e o peguei, era um embalagem de barrinha de cereal. Presumi que Melissa tinha achado as bolsas, pois é a marca favorita dela. Além disse aquela porca sempre joga lixo no chão. Na frente tinha outras, várias, quase uma triha até a minha irmã. Respirei fundo e a segui.

* * *

POV Melissa.

Depois de estar longe o suficiente, pensei em uma coisa para me proteger. Uma armadilha, isso!

Juntei algumas coisas que achei na bolsa e fiz uma armadilha. Depois que terminei, notei que estava morrendo de fome. Abri as bolsas e em uma delas achei um monte de barrinhas de cereal. Joguei as embalagens no chão, e fui descansar atráz de uma moita.

Meus olhos começaram a pesar, fazia tempo que eu estava aqui. Então apaguei.

Melissa! Socorro, me ajuda, por favor! - Acordei com o grito, eu já tinha ouvido antes, tinha certeza. Foi o que ouvimos quando chegamos.

Saí de trás da moita e encontrei Lucas pendurado.

Lucas! - corri para solta-lo – Onde você estava?

Ele caiu no chão e gemeu um pouco.

Você sumiu, então fiz uma fogueira pra me esquentar, mas apaguei para não chamar atenção. - falou ele.

Estava tão feliz em vê-lo, que nem o corrigi quando disse que eu tinha sumido, quando na verdade quem tinha sumido era ele.

Ele disse que fez uma fogueira. Nós vimos uma fogueira antes de eu tropeçar naqueles ossos. Então de repente tudo fez sentido.

Lucas! - disse enquanto tirava a rede de cima dele e o levantei bruscamente – Nós temos que sair daqui!

Eu sei mas porque isso agora? - perguntou ele. Respirei fundo e comecei a contar.

Um dia eu estava na biblioteca, e achei um livro bem velho que falava sobre uma floresta: A Floresta dos Ossos. Tinha um poema que dizia que os visitantes eram pegos pelo tempo. Na hora eu não entendi, não curto poesia. Mas agora faz sentido. A fogueira que eu vi, foi a fogueira que você fez, os gritos que vieram depois, foram os seus quando caiu na armadilha – Lucas ficava cada vez mais assustado a medida que eu contava a história – E as bolsas sumiram porque eu roubei! - disse mostrando as bolsas, só agora notando que eram idênticas as nossas – Também tem uma lenda que diz que ninguém nunca voltou vivo daqui.

Então aqueles ossos eram..

Eram verdadeiros. - não precisei dizer mais nada, começamos a correr o mais rápido que podíamos.

Quando estava quase saindo da floresta, que estranhamente achamos o mesmo caminho pelo qual entramos. Lucas não estava correndo. Ele tinha parado, e estava se ajoelhando. Fui até ele.

Lucas o que...? - perguntei, mas ele levantou o rosto, e estava ressecado, como se tivesse envelhecido uns 50 anos.

Ele abriu a boca, mas só o que saiu foi um gemido. Peguei minha pele, e ela estava começando a ficar com o mesmo aspecto. Minhas pernas fraquejaram e eu também caí.

Fiquei desesperada quando vi que também não conseguia falar. Minha pele estava ficando cada vez mais fina.

A de Lucas já tinha sumido quase completamente, ele j estava caído no chão. Morto.

Então tudo ficou escuro.

* * *

POV Narradora.

Os dois irmãos já estavam mortos, mas continuaram se decompondo. Até que só o que sobrou foi uma pilha de ossos.

Melissa vinha correndo, com Lucas logo atrás, e tropeçou na pilha de ossos. Seu irmão ficou paralisado. Melissa olhou para onde havia tropeçado, e apenas se levantou e disse:

- Não se preocupe, deve ser só brincadeira. Nem devem ser verdadeiros. Anda, vamos entrar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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