Eu estou mesmo sentindo isso?

Estou tão confusa e sem entender exatamente quais os acontecimentos que nos trouxeram até aqui, ou seria melhor pensar em quais não trouxeram?

Suas mãos seguram meus pulsos, e é tão forte e ao mesmo tempo tão leve, como um toque que queima, mas afaga. Como quando a gente segura algo que gosta muito não forte o suficiente para quebrar, mas do jeito certo para que não caia, não quebre, não fuja.

Quando fecho os olhos posso me lembrar dos minutos antes desse momento. E minha mente trabalha como se rebobinasse uma fita antiga. Vejo as cenas ao contrario e estão tão rápidas que me sinto enjoada. Quanto tempo pode durar um segundo? Para mim nesse momento parece está durando uma vida inteira. Ou quase isso.

Vejo seu boné saindo do chão e voltando para sua cabeça, tudo que consigo pensar é “louco por Quadribol” não sei se odeio ou adoro o boné, mas sei que em seguida eu estou parando de gritar, e ele está apenas sentado ao meu lado no fim da escada principal.

Sei que meus olhos estão tão abertos e que os olhos dele não os largam, estou o vendo é claro, só não o estou vendo agora, porque agora estou na cama de minha prima aconchegada em seus braços tentando entender essa insônia que vem me acompanhando os dias.

Ela sorri enquanto afaga meus cabelos e parece entender sobre tudo, como se fosse uma senhora de mil anos, e não apenas minha prima dois anos mais velha que eu. Um segundo depois estou passando rapidamente pelas ultimas férias.

Passamos tanto tempo juntos. Ele e eu. Desde de sempre.

No começo tudo era tão normal, como se nós fossemos irmãos, como se fossemos quase gêmeos, diferentes só pelo jeito. Ele tão sério e eu, eu sou completamente doida, segundo dizem por ai. A que fala sozinha, abraça todo mundo e chorona.

Mas ele sempre estava lá.

No primeiro dia de Hogwarts, no primeiro amor não correspondido, nos momentos tristes, nos alegres, e também nas escolhas difíceis.

Como uma pessoa pode está sempre presente? Sempre sendo o suporta da outra? Eu não sei explicar, mas ele é assim. O suporte. O meu suporte.

Eu ainda sinto suas mãos em meus pulsos, enquanto lembro dele dizendo “eu gosto de você”, ainda sinto nossas respirações próximas enquanto lembro da neve caindo e dele me abraçando. Eu ainda sei que estou em dois mundos diferentes, o real e o das lembranças e não sei diferencia-los porque nesse momento são tão parecidos.

E quando o segundo passa e tudo acelera voltando a cena do inicio, sei que seu boné está caído no chão. Sei que suas mãos apertam delicadamente meus pulsos. Sei que nossos olhos se encaram. Sei que as respirações se fundem. E sei que Hugo Weasley está me beijando.

O primeiro beijo.

Nosso primeiro beijo.

Hugo e Lily, Lily e Hugo.

E seus lábios parecem se fundir aos meus.

E meu coração consegue bater tão rápido.

E finalmente meus olhos se fecham, e eu entendo exatamente o que significa cada detalhe, sei porque seus braços me seguram, para que eu não reaja, mesmo que eu não esteja pensando nisso.

Sei porque minhas pernas tremem e eu pareço uma gelatina morna, porque espero por isso a mais tempo do que admitirei para mim e para o mundo.

Só não entendo o motivo de o tempo durar tão pouco nos momentos mais preciosos, e agora enquanto percebo que nossos lábios estão se separando, que suas mãos estão se afastando dos meus pulsos, eu só penso “que seja real”, “que seja real”, “que seja real”.

Mas o silencio cai sobre nós, e eu apenas digo:

— Seu boné caiu.