A Casa Amarela - Dramione escrita por The Mudblood Malfoy


Capítulo 1
Capítulo Único (A Casa Amarela)


Notas iniciais do capítulo

Dedico essa fic à Gabi. Feliz aniversário, espero que aproveite lê-la tanto quanto eu aproveitei escrevê-la.



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Hermione encarou seu reflexo no espelho à sua frente. O vestido verde de seda deslizava sobre o seu corpo, metros de tecido sobrando ao redor de seus pés. A sala era apertada e pequena demais para mais do que duas pessoas. Ainda assim, três velhas senhoras insistiam em se espremer ali para examinar o vestido de Hermione. As senhoras haviam saído por alguns instantes para buscar o vestido azul. A jovem sorriu ao se imaginar subindo no altar com aquele lindo vestido de noiva. Em sua fantasia, olhava para o lado, radiante, e via seu noivo, Ron Weasley, sorrindo para ela também.

Seus devaneios foram interrompidos pelas risadinhas eufóricas das belas jovens estagiárias que arrumavam as vestes de Ron na outra salinha apertada. Hermione bufou irritada quando as velhas senhoras voltaram com o vestido azul e começaram a falar sem parar.

- Seu noivo quer as cores azuis.

- Isso, ele não gostou do verde.

- Não, ele disse que não gostou da gravata verde.

- Você precisa usar seu aparelho de ouvido, Clemence, ele disse que...

- Chega! Deixe-me ver como fico de azul... – Hermione as interrompeu, despindo-se e vestindo o estonteante vestido azul celeste. Virou-se para o espelho e não conseguiu conter o sorriso. Esse seria o vestido. Era simplesmente...

Mais risadas irromperam da salinha de Ron. Hermione respirou fundo.

- Perguntem a ele se gostou do azul. – ela ordenou. As velhas se apressaram em sair. Hermione começou a sair do vestido, quando o silêncio veio à tona. Estranho. Anormal. Ela saiu correndo para ver o que havia acontecido.

Entrou na pequena sala de Ron, que já estava lotada como uma lata de sardinhas e ficou paralisada. Ron estava apenas de calças – as verdes ainda -, e uma das estagiárias estava enrolada em seu pescoço, sugando seus lábios.

As velhas senhoras estavam boquiabertas, e tinham deixado os tecidos caírem no chão de linóleo. Hermione voltou imediatamente para a sua salinha, e arrancou o vestido azul de si – não iria mais usá-lo – e colocou suas roupas normais novamente. Seus passos rápidos e decididos ecoavam pelo estreito corredor. Ela ouvia sons abafados de pessoas gritando ou fazendo ruídos surpresos, mas ela não iria olhar para trás. Deixou as lágrimas tomarem conta de si ao chegar ao céu aberto. Ela as enxugou com a manga da jaqueta marrom, e voltou aparatando para a casa de Harry, o Largo Grimmauld, 12.

***

Contou tudo o que vira para Harry e Gina, sentada no sofá da sala de estar, tomando uma xícara de chocolate quente. Explicou que nem quis saber qual seria a explicação de Ron para tudo aquilo, ela iria cancelar tudo: o casamento, a nova casa, a nova família.

- Vou me mudar, Harry. Não posso perdoá-lo dessa vez. Ele já teve tantos deslizes, que é quase impossível contar nos dedos! – ela concluiu furiosa, pegando a última cópia do Profeta Diário, para procurar alguma oferta de moradia. Ela não podia morar ali, no Largo Grimmauld, o novo lar de seu melhor amigo. Ela queria um pouco de privacidade. – Diga a Ron que vou arrumar uma casa só para mim.

- Sabe o que você deveria fazer, Mione? – Gina falou, segurando sua própria xícara de chocolate quente. Seus cabelos ruivos estavam presos em um coque alto, embora o frio estivesse congelante. – Se eu fosse você, me vingava. Sei que ele é meu irmão, mas ele passou dos limites dessa vez!

Gina insistiu tanto que Hermione aceitou fazer um último ato de vingança contra o seu ex-noivo. A ruiva que bolou o plano e fez seus contatos. Elas foram ao McDonalds.

O lugar era amplo, porém, lotado; Hermione definitivamente não era o tipo de pessoa que come nesse tipo de lugar, apesar de o plano ser de Gina, o que a fez se sentar em uma das cadeiras vermelhas, e esperar a ruiva buscar os pedidos e esperar pelo seu “contato sigiloso”. Este sendo o “rapaz misterioso que faria ciúmes em Ron”, pelas palavras de Gina.

Ron chegou; sua cabeça ruiva visível dentre toda aquela multidão de gente, e se sentou de frente para Hermione.

- Você me chamou até aqui para aceitar o meu perdão? – ele perguntou imediatamente, vermelho como um tomate, com um tom dramático na voz.

- Não – Hermione respondeu secamente, tentando ver por cima de Ron e eventualmente achar Gina para prosseguirem com o plano. – Eu estou...

-... Me procurando? – uma voz arrastada soou não muito longe, de trás de Hermione. Ela se virou e se deparou com um par de olhos azuis metálicos a encarando, com certo ar de deboche no pequeno meio sorriso que se escondia em seu olhar. Hermione engasgou. – Malfoy? – ela olhou incrédula para Gina, que voltava para a mesa com uma bandeja com duas caixinhas de papel e dois copos descartáveis com canudos. Hermione percebeu que Draco também segurava uma, porém com apenas uma caixinha e um copo.

Ron soltou uma risada nervosa e cheia de raiva. Suas orelhas estavam roxas.

- Isso é uma brincadeira? Que droga está acontecendo aqui? – Ron perguntou, olhando de Malfoy para Hermione, e de Hermione para Gina.

- Ron, a fila anda. Você não aproveitou sua chance com a Mione, então... – Gina explicou, abrindo sua caixinha, revelando um sanduíche de frango.

– Isso é uma merda de uma vingança barata? – ele soltou o ar com o nariz com força, se levantando. – O que vocês são? Crianças com malditos sete anos?! – ele ficou estático, assim como todos, esperando uma resposta.

- Ron... – Hermione o chamou, se levantando também, e ignorando o olhar malicioso de Malfoy. Mas o ruivo cerrou os dentes e saiu correndo dali. Hermione suspirou e voltou a se sentar. – O que diabo foi isso?

Gina e Malfoy começaram a rir, mas Hermione continuou parada, com os braços cruzados.

- Esse era o seu plano de vingança? E o que Malfoy está fazendo aqui? – ela perguntou, mas eles a ignoraram, gargalhando à custa do rejeitado Ron Weasley. – Perdi meu tempo com vocês. E Ron está certo: vocês são crianças de sete anos. Com licença. – antes que ela pudesse ir embora e deixar seu sanduíche intocado, Malfoy interrompeu-a.

- E o meu dinheiro? – Gina limpou uma lágrima de riso.

- Calma, não é você que tem uma mansão? – ela retorquiu, rindo ainda, e tirando um saco tilintante da bolsa. Entregou-o a Draco. – Afinal, por que você precisa desse dinheiro? – Draco a ignorou e deu uma grande mordida em seu lanche.

***

Semanas se passaram e Hermione ainda estava hospedada na casa de Harry e Gina, visitando casas à venda. O encontro desastroso no McDonalds fora esquecido com o tempo, enquanto Gina e Hermione procuravam propostas no Profeta Diário.

- Desde quando você anda com Draco Malfoy, Gina? – um dia Hermione perguntou, circulando um endereço com uma canetinha vermelha. A ruiva riu brevemente. Estava chovendo lá fora, e os pingos faziam um barulho aconchegante quando batiam na vidraça da janela.

- Liguei para Theo Nott, sabe? – Theo era o único sonserino que mantinha amizade com a família Weasley, Harry e Hermione. Ele também era aparentemente o único puro-sangue que possuía um telefone. – E perguntei se ele sabia de alguém que precisava de dinheiro, porque eu tinha uma proposta: nossa vingança, certo? – Hermione assentiu. – Ele me ligou um dia depois e me falou que Malfoy estava sem um tostão – não sei como – e estava disponível para ofertas. Por que quis saber, Mione?

- Só achei estranho você andando com alguém como ele. Enfim, creio que achei a casa certa, ouça; - Hermione esticou o jornal e começou a ler em voz alta: Sobrado amarelo com duas suítes, um escritório, cozinha e sala de estar. Preço a negociar com o morador – visitas diariamente, das duas às seis horas da tarde. Parece perfeita! Vou visitá-la amanhã.

No dia seguinte, Hermione cumpriu sua promessa, e foi visitar o tal sobrado. Ela aparatou no endereço: 29 Cranmer Road, Edgware. Desaparatou em frente a um pequeno sobrado amarelo. A área da entrada era de tijolinhos à vista. Hermione tocou a campainha, e esperou até que a porta branca se abrisse, e um homem atarracado e baixinho aparecesse à sua frente. Ele era calvo e tinha um nariz de batata grande demais para o seu rosto.

- Ah! Mais interessados! Que maravilha! – ele exclamou e abriu a porta totalmente para Hermione entrar. – Entre, entre! Sinta-se em casa!

A garota assentiu e olhou à sua volta. À sua frente havia a sala de estar, com um sofá encostado na parede, duas poltronas do lado oposto, e uma mesa central com um prato de biscoitos e alguns exemplares do Profeta Diário. Mais a frente, havia a sala de jantar, com uma longa mesa de seis cadeiras e um pequeno criado mudo no extremo esquerdo. Logo atrás da mesa, uma escada levava ao andar de cima. À sua direita, uma bancada de mármore levava à cozinha.

Hermione quase havia ignorado o fato de que Draco Malfoy estava sentado com as pernas cruzadas em uma das poltronas da sala de estar. Os dois se encararam por um instante. O rapaz fez uma careta.

- O que você está fazendo aqui?

- Então era para isso que você precisava de dinheiro? Comprar uma casa? – Hermione perguntou, divertindo-se. – Sua mesada não é de, hum, mil galeões?

- Talvez seja isso mesmo, Granger. Mas e você? Sua mesada é de dinheiro trouxa, não é? Não deve valer nem dois sicles! – Ele soltou uma risada seca. O dono da casa fitou os dois, confuso.

- Eu não ganho mesada, Malfoy, eu ganho salário! – ela protestou. Draco bufou, mas antes de ter a chance de retrucar, o homem pequeno pigarreou.

- Então, vamos ver a casa e depois vocês conversam. – Ele riu nervosamente. – A propósito, eu sou Brian Louiandale. Gostaria de saber seus nomes. – Hermione e Draco se apresentaram, trocando olhares irritados. Sr. Louiandale os levou até o andar de cima, em que havia as duas suítes e o escritório. Depois de descerem as escadas, os levou para a cozinha para tomarem um gole de café.

Contudo, ele parecia muito nervoso. Tão nervoso que quebrou a xícara de Draco e deixou o líquido ocre se espalhar pelo chão da cozinha.

- Sr. Louiandale! O senhor está bem? – Hermione perguntou assustada.

- Não! – ele berrou, tremendo ao pegar o pano limpo em cima da pia para limpar o chão. Então deixou o pano cair, e começou a chorar. – O Ministério está atrás de mim! E eu não fiz nada! Merlin! Por favor, - ele segurou a mão de Hermione. –Fique com a casa, não precisa pagar. De qualquer forma eu irei para Azkaban e tenho que ter alguém para cuidar da minha casinha! – ele irrompeu em prantos novamente. – Por favor... Por pelo menos um ano.

Hermione olhou de esguelha para Draco.

- Mas o que o senhor fez de tão errado para o Ministério da Magia estar atrás de você? – Malfoy perguntou, sentado em um dos bancos de três pernas que havia ali. As paredes de azulejo branco e pastel deixavam os últimos raios do sol passarem despercebidos.

- Eu vendi meu hipogrifo ilegalmente para fora do país! – Brian Louiandale choramingou. Hermione percebeu que Draco estava tentando não rir.

- Tudo bem. Nós aceitamos morar na sua casa enquanto o senhor estiver em Azkaban. – Os olhos de Louiandale brilharam. Ele exclamou “viva!” em alto e bom som, e se despediu da casa e de Hermione e Draco. Ele entrou em um carro trouxa prateado de uma marca popular, e sumiu de vista.

- Uau. Que rápido. – Hermione sussurrou. Draco também estava de saída. – Aonde você vai?

- Fazer a mudança! – Draco respondeu bruscamente, fechando a porta na cara dela.

***

Hermione também fez sua mudança. Escolheu o quarto mais perto da escada, e em algumas semanas todas as suas roupas, todos os seus livros e seu material de trabalho estavam ali. Ah, sem esquecer Bichento, que rondou a casa e a aprovou, adormecendo em uma das poltronas. Seu quarto tinha o papel de parede listrado, alternando do branco para o cinza, e do cinza para o lilás. O guarda roupa era de madeira pintada de branco, e a cama era de casal, com molas.

Novembro começara, assim como o trabalho de Hermione, no Hospital St. Mungus. Ela havia ficado de férias temporárias em Outubro devido à sua lua de mel cancelada.

Em suas primeiras semanas na casa amarela, Hermione quase não viu ou falou com Draco Malfoy. Ele também estava ocupado com o trabalho, que era um pouco inconstante. O rapaz trabalhava no Ministério da Magia, na área de revistar casas à procura de objetos com magia das trevas.

Então começou a nevar, e o Natal se aproximava. Malfoy às vezes pedia para Hermione sair para que ele pudesse chamar seus amigos, porém, durante a ceia de Natal, só estavam os dois sozinhos na casa. Aquele silêncio mórbido. Imortal.

Hermione queria criar coragem e ir até o quarto dele, mas tinha medo que ele a enxotasse de lá, ou pior, a insultasse. O problema era que ela estava se sentindo sozinha, já que Harry e Gina haviam viajado para a Islândia e ela não tinha ninguém. Estava tentando ler um livro, mas não conseguia se concentrar.

De repente, a porta se escancarou e um Draco Malfoy aflito apareceu e começou a falar sem pausa para respirar.

- Encomendei pizza por aquela máquina estranha trouxa de falar com as pessoas e queria saber se você está a fim de dividir a pizza comigo aliás a pizza é de calabresa e não sei se você gosta mas mesmo assim vale a pena perguntar não é mesmo é que eu não tenho ninguém para passar o natal e não sabia se você tinha ou se queria um pouco de privacidade entende então tudo bem pra você? – ele soltou o ar com força, e imediatamente fez uma careta de arrependimento.

Hermione sorriu.

- Eu adoro calabresa!

Ambos desceram as escadas e se sentaram no chão acarpetado da sala de estar. A caixa com a pizza estava em cima da mesa central. Cada um pegou um pedaço e começou a comer com a mão.

- Aliás, a máquina com a qual se fala com outras pessoas se chama telefone. – Hermione corrigiu Draco, rindo enquanto ele corava razoavelmente. Aquele silêncio de pouco tempo atrás voltou por alguns instantes, antes de Hermione perguntar, hesitante: Por que você precisava comprar esta casa? Você não tem a mansão?

Draco olhou para o seu segundo pedaço de pizza, mais envergonhado. Ele não parecia nem um pouco aquele Draco desprezível que insultara Hermione em seus dias de escola.

Depois de minutos infinitos de silêncio, a voz arrastada de Draco era o único som na sala.

- Meus pais me deserdaram. – toda a vergonha na voz de Draco, ou em seu rosto, era quase palpável. Ele pegou outro pedaço de pizza. Hermione queria perguntar o porquê, mas sentiu que envergonharia ainda mais o rapaz. Eles comeram o resto da pizza em silêncio, mas dessa vez era um silêncio amigável. Depois de Hermione levar a caixa até o lixo reciclável, foi até a cozinha, onde Malfoy bebia um copo d’água. Ela aproveitou a oportunidade para segurar a sua mão.

- Não se preocupe. – ela sussurrou, e subiu para o seu quarto.

***

Em Janeiro, Gina ligou para Hermione para avisar que iria se casar com Harry em junho. Gina e Harry sabiam que Malfoy estava morando com ela pelo que ela contava a eles, mas o casal não sabia que de vez em quando, Draco a flagrava chorando em algum canto da casa e a consolava. E agora o choro e os pesadelos estavam mais frequentes. Era como se Ron a estivesse perseguindo.

Agora a neve derretia, mas Edgware continuava fria como uma geladeira. Certa noite, Hermione acordara tremendo de um pesadelo que tivera. No pesadelo, Ron estava preso no trilho do trem, e Malfoy estava apressando-a para correr senão eles perderiam o trem. Ela tinha que escolher entre salvar Ron ou fugir com Malfoy.

Seus olhos lacrimejavam, e seu corpo sacudia em sua cama. Draco abriu a porta de seu quarto, assustado.

- Você está bem? Ouvi você gritando e... – ele começou a dizer, mas o olhar de Hermione já dizia tudo. Ele se sentou ao seu lado e a abraçou. – Foi apenas um sonho ruim. – ele sussurrou. Ela fungou.

- Ele não quer ir embora da minha vida – Hermione chorou contra o peito de Malfoy. – Desculpa, desculpa.

- Tudo bem. Vamos, deite-se. Eu durmo com você. – ele entrou debaixo das cobertas e abraçou Hermione, que enterrou a cabeça em seu aperto. – Juro que vai ficar tudo bem. Agora durma.

Seu trabalho no hospital continuava na correria rotineira; e ela tinha apenas os fins de semana para ajudar Gina com o casamento. Agora, dormir ao lado de Draco também era rotina, e isso pareceu acalmá-la. Em meados de fevereiro, os pesadelos cessaram de vez.

Não havia mais nenhum resquício de neve em Edgware, portanto, para comemorar, Draco preparou um piquenique para Hermione. Eles levaram até uma toalha xadrez e foram a pé até o Glen Gardens, na rua do lado.

Os portões de ferro enferrujado estavam abertos, e os arbustos que delimitavam o parque pareciam menores sem a neve. O tempo não estava plausível, com várias nuvens negras deslizando sobre as cabeças das pessoas que estavam no parque àquela hora. Draco estendeu a toalha em um canto mais isolado, e sentou-se.

Hermione tirou as coisas da cesta; um pote de amendoins, uma caixa de suco de laranja, dois sanduíches de presunto embrulhados em papel alumínio e copos descartáveis. Enquanto desembrulhava seu sanduíche caseiro, Draco lhe contou sobre seu último dia de trabalho, em que louças de prata soltavam fumaça preta, mas não era nada relacionado à magia das trevas.

Draco abriu o pote de amendoins e encheu sua mão em concha. Hermione puxou o pote dele, e pegou um amendoim.

- Ei, você sabe comer amendoins do jeito divertido? – Hermione perguntou, tirando a casca do amendoim. Draco balançou a cabeça, ainda mastigando. A garota riu. – É simples: eu jogo o amendoim e você tenta pegar com a boca, certo? – Draco riu de uma forma concisa e assentiu com a cabeça. Hermione mirou o amendoim na boca de Malfoy e jogou. Errou por centímetros. Ela pegou outro.

Hermione descascou o outro amendoim e mirou-o na boca aberta de Draco. Ele se inclinou para pegar, mas não conseguiu.

- Você é muito ruim! - Hermione reclamou com um tom divertido. Malfoy bufou.

- Ah é?! Deixe-me jogar um amendoim pra você. - ele puxou o pote para si e descascou um amendoim. Ele mirou na boca aberta de Hermione, só que agora ela mexia a cabeça para os lados. - Pare de se mexer, está complicando as coisas! - ele pediu, rindo.

- Desse jeito eu não vou conseguir pegar! - Draco revirou os olhos.

- Certo. Vou me aproximar. - ele se apoiou nos joelhos e se arrastou para mais perto. Franziu o cenho, aparentemente se concentrando. De repente, ele cedeu e suspirou. - Não consigo fazer isso enquanto você se move, Granger. – a garota fechou a boca, chocada, e cruzou os braços.

- Ok, vou ficar parada. – Malfoy fechou um olho e franziu a sobrancelha, arremessando o amendoim como se fosse uma minúscula bola de beisebol. Hermione inclinou-se para frente e fechou a boca sobre o amendoim. Mastigou confiante, encarando um Draco Malfoy revoltado.

- Como você conseguiu?! Isso não é justo! Vamos, jogue outro para mim; vou provar que consigo também! – ele empurrou o pote para Hermione, que descascou outro amendoim determinada. Ela estava pronta para arremessá-lo, quando Draco estendeu uma mão para interrompê-la. – Espere. Aproxime-se para que eu consiga pegar o maldito amendoim!

Hermione soltou uma gargalhada sonora, e arrastou-se para mais perto de Malfoy. Se ela se inclinasse mais alguns centímetros, seus narizes corriam o risco de se tocar.

- Você sabe que assim não vale. – ela sussurrou, apenas colocando o amendoim na boca do rapaz, sem nenhum esforço. Ela sentiu as mãos dele deslizarem para sua cintura e a puxarem contra ele; consequentemente, seus lábios se tocavam, assim como seus narizes.

- Eu fiz de propósito. – ele sussurrou, com um pequeno vestígio de seu típico meio sorriso cheio de malícia. Ele a beijou e ela retribuiu. Ela finalmente pôde passar os dedos por aqueles sedosos cabelos louros do rapaz.

Hermione se inundou em felicidade enquanto ele se deleitava em seus lábios. Ela conteve um arrepio quando ele mordeu seu lábio inferior. Ele se afastou tão rápido, deixando-a brevemente em transe.

- Acho melhor nos apressarmos, porque sinto que vai chover. – Draco suspirou, levantando-se de um pulo, e olhando para o céu negro como fumaça. Hermione desviou o olhar, sentindo-se subitamente envergonhada. E se ele não tivesse sentido nada, e estava apenas brincando com o seu coração? Ela arrumou as coisas na cesta rapidamente, deixando o pote de amendoim por último. Draco ajudou-a a dobrar a toalha xadrez, e ambos saíram de Glen Gardens, descendo a rua vagamente.

Os primeiros pingos de chuva atingiram os dois quando estavam em frente ao sobrado amarelo de número 29. Hermione correu para dentro de casa e dirigiu-se para cozinha. A tensão entre os dois era quase palpável. Finalmente, ela declarou o fim do dia e se trancou em seu quarto, remoendo o que acabara de acontecer.

Naquela noite sonhou com Draco, e apenas com ele. Ron não atrapalhou dessa vez.

***

O casamento de Gina chegou a um piscar de olhos. Foi em uma linda tarde ensolarada de junho. Draco roubava um beijo de Hermione de vez em quando, porém, o hábito de dormir ao seu lado continuava religiosamente, todos os dias. Mesmo sabendo que os pesadelos da garota haviam cessado, ele continuava a se deitar e esperar que ela dormisse em seus braços.

Agora Gina autoproclamava-se cupido, mesmo sabendo que o namoro entre ambos ainda não era oficial. Da mesma forma, convidou Draco para a cerimônia.

Como Hermione era a madrinha, ela foi vestida de carmesim: um lindo vestido rente aos joelhos, com decote em canoa. Também por ser madrinha, seu assento estava localizado na primeira fileira, ao lado de seus outros companheiros padrinhos e madrinhas; Luna Lovegood, Neville Longbottom e, infelizmente, Ron Weasley.

Luna usava a mesma cor de vestido, no entanto, o seu estava cortado aos pés, e com alças regata, fazendo-a parecer uma hippie dos anos 60. Neville e Ron usavam paletós, assim como todos os outros rapazes presentes; com exceção de Draco Malfoy, que estava vestido sofisticadamente com um sobretudo e sapatos bem engraxados. E, para variar, estava sentado logo atrás de Hermione – ela conseguia sentir os olhos metálicos dele em sua nuca.

Mesmo quando Gina desfilou lenta e graciosamente pelo gramado ensolarado, dirigindo-se ao pequeno e improvisado altar onde Harry a esperava, Draco não parou de olhar para Hermione.

As árvores e os pássaros deixavam o cenário ainda mais belo. Hermione tinha orgulho da escolha da amiga para o local da cerimônia: uma chácara enorme, com o gramado e o lago, além de ter um lugar coberto para refeições e para cerimônias noturnas.

Contudo, Hermione sentiu mais um olhar pairar sobre si, e não era o de Malfoy.

Ron.

A garota tentou evitar olhá-lo diretamente desde que aparatara ali com Draco. Eles estavam a duas cadeiras de distância, e mesmo assim, ela o evitava com profunda perseverança.

O olhar do ruivo a desorientou por alguns momentos, fazendo-a perder uma parte do discurso do padre que falava sobre os dois “pombinhos”.

Gina estava estonteante com seu lindo e longo vestido de seda prateado, e seus compridos cabelos ruivos jogados para trás, escorrendo como labaredas pelas costas. Nem Neville conseguiu conter um suspiro quando ela sorriu radiante.

O sol se punha quando Gina e Harry se beijaram na frente de todos para selar a cerimônia. Deveriam ser por volta das sete da noite. O céu se tingia de laranja e rosa, assim como as pétalas de flores que foram jogadas nos dois “pombinhos” enquanto eles passavam pelas cadeiras dos convidados e dirigiam-se para o espaço coberto.

Esse espaço não tinha paredes, apenas pilares que sustentavam o teto de abóbadas de cristal. Alguns funcionários arrumavam várias mesas redondas com pratos e talheres para o jantar. Gina também havia planejado separar um espaço para dançarem quando a banda finalmente chegasse.

A banda não demorou muito tempo para chegar, mas demoraram cerca de duas horas para arrumar e afinar seus instrumentos, diante de um pequeno palco logo depois do espaço coberto. O céu já estava escuro e sem estrelas quando eles chegaram.

Draco e Hermione sentaram-se à mesa reservada aos padrinhos e madrinhas. Consequentemente, Ron estava ali também. Ele revirava os olhos ou bufava toda vez que Malfoy falava. Quando seus barulhos irritados tornaram-se insuportáveis, Draco se virou para ele:

- Qual é o problema, cabeça de cenoura? – ele perguntou ceticamente. Neville se virou para escutar a conversa; Luna continuou olhando para o céu, agora estrelado, sem perceber a presença das pessoas à mesa.

Ron soltou uma risada abafada.

- Eu sei que vocês não estão juntos de verdade. Aquilo foi uma vingança mexicana contra mim, podem parar de fingir e de dar as mãos e de rirem juntos! – seu rosto ficou vermelho como um tomate.

- Na verdade, Ronald, eu e Draco estamos juntos e nós estamos realmente felizes. – Hermione constatou, embora não tivesse tanta certeza de suas palavras. Malfoy não falava muito sobre definir a relação deles, portanto ela não sabia se era certo dizer que estavam namorando.

- Mentira! – Ron berrou, suas orelhas ficando vermelhas como o seu rosto. Algumas pessoas que estavam próximas o suficiente para ouvir se viraram para ver o que estava havendo. – Vocês nunca se gostaram antes! Trocavam insultos como duas crianças trocam figurinhas! – ele gritou um pouco esganiçado, sem cobrir seu ciúme. Neville arregalou os olhos, olhando para as pessoas em volta. Hermione lançou um olhar de esguelha à Malfoy: ele era a pessoa mais tranquila presente, com um leve ar zombeteiro nos olhos azuis.

- Ron, ouça: se você quer chamar atenção, irei embora. Já estou farta de seus ataques nervosos e irritados sendo descontados em mim! Afinal, a culpa não é minha, certo? – Hermione sibilou entre dentes para Ron, evitando os olhares curiosos. – Foi você que foi flagrado beijando outra, e não eu. Agora, se me der licença. – Hermione se levantou ereta, e, segurando o braço de Malfoy, saiu para o ar livre.

Encontrou Harry e Gina posando para algumas fotos. Hermione se dirigiu até eles para se despedir.

- Mas já vão embora? A sobremesa nem foi servida ainda! – Gina argumentou, abraçando Hermione.

- Na verdade, seu irmão estava nos irritando, e acho melhor irmos para não arrumarmos problemas. – Hermione explicou rapidamente.

- Sim, e não queremos estragar seu casamento. – concluiu Malfoy, sorrindo afetado, com seu sotaque arrastado.

Os dois aparataram em frente ao sobrado amarelo.

Hermione e Draco entraram silenciosamente na casa; um silêncio diferente, quase constrangedor. O rapaz foi o primeiro a quebrá-lo:

-Por que você não disse logo para aquele gambá ruivo que nós estávamos namorando? - Malfoy andava à sua frente, subindo as escadas, tirando o sobretudo; portanto, Hermione não conseguia ver seu rosto, mas tinha certeza que ele segurava um de seus meio-sorrisos. - Falar que estamos “juntos” não é uma afirmação muito clara, certo?

Hermione sorriu para a nuca pálida de Draco.

- Eu não falei que estávamos namorando porque temia que você não pensasse o mesmo. - ela respondeu, soltando uma risadinha quando Draco parou no meio do corredor, a meio caminho de desabotoar a blusa branca social. Ele parecia indignado.

- Como assim? Por que eu não pensaria que estávamos namorando? - Hermione demorou um instante para responder, apreciando a vista da parte nua do peito de Draco, que, de tão pálido parecia um reflexo.

- Ora, você pode muito bem continuar sendo o Draco dos dias de escola, que tinha o coração de todas as garotas, mas nenhuma garota tinha o seu coração. - Draco fez uma careta e abriu a boca para protestar, mas Hermione aumentou o tom de voz. - Sem contar que você me detestava em Hogwarts, desde o primeiro dia em que nos vimos! - ela ria agora, fugindo dele, que tentava cobrir-lhe a boca.

- Isso não é verdade! - ele berrou atrás dela, agora no quarto dele, rindo à toa. Ela caiu na cama, cansada, depois de algum tempo, e sorriu para o teto.

- Então somos oficialmente namorados? - ela perguntou, quando ele se debruçou sobre ela, os lábios a alguns milímetros de distância. Ela passou os dedos pelos cabelos sedosos dele, temendo perdê-lo. Deveria mesmo confiar nele? Aquele Draco malandro que passava por cima de todas as garotas, e não deixava nem um pedacinho de sobra para que elas pudessem amar novamente?

- Sim. - ele murmurou, beijando o seu nariz, e finalmente tirando as calças.

***

Em julho, os raros dias de sol apareceram e se foram como fumaça. Em um desses dias, Ron visitou o pequeno sobrado amarelo de Hermione. Ela estava fazendo brownies quando a campainha tocou. Ela olhou pela janela, surpresa pela visita; e, ao ver a cabeça ruiva do rapaz, sentiu uma pontada no estômago.

Deixou a massa do brownie dentro do fogão de quatro bocas e limpou o suor do rosto. Abriu a porta para Ron. Ele estava vestindo roupas trouxas: uma camiseta de uma banda trouxa e calças jeans.

- Ron! Que... surpresa! - Hermione deixou escapar uma exclamação de espanto. - Por que você está aqui? Aconteceu algo? Entre - a garota disse hesitante, abrindo a porta totalmente.

- Desculpe, Mion... quero dizer, Hermione. Gina me deu o endereço da sua casa; e, afinal de contas, só vim conversar, não precisa se preocupar. - Ron falou com ar monótono, entrando na casa e olhando em volta impressionado. Ele se virou para Hermione rapidamente para elogiar a casa, e já foi se sentando em uma das poltronas.

- Então, onde está a fuinha? - ele perguntou, colocando o tornozelo sobre o joelho, de modo largado. Hermione pigarreou, sentando-se ereta no braço do sofá.

- Draco? Ele está no trabalho. E você, Ron? Não deveria estar trabalhando também? Junto com Harry pelo que me lembro; - Hermione retorquiu, querendo machucar o pobre rapaz. Ele desviou o olhar.

- Eu pedi demissão. Logo depois que você me largou.

- Te largar? Eu não larguei você, Ronald! - Hermione começou a protestar, percebendo que sua voz estava muito próxima de um grito. Ron se encolheu na poltrona. - Em primeiro lugar, eu desisti de tentar seguir com o nosso relacionamento; e em segundo lugar: você estava beijando aquela garota na frente de todo mundo! - agora lágrimas começaram a saltar pelos seus olhos. Ela as esfregou com raiva.

- Mas você não percebe que eu preciso de você?! Sou um fracassado e desempregado desesperado para ter você de volta! - ele estava com as bochechas coradas, e as mãos cerradas. - E quando eu vejo você feliz com aquele desgraçado... Ah, Mione... Por que ele? - a voz dele fraquejou, e os olhares dos dois se cruzaram, por mero segundo, antes de se desviarem novamente. - O que ele tem que eu não tenho?

Um silêncio pesado se apoderou da sala. Hermione lentamente se levantou e sumiu pela cozinha. Ali, ao lado do forno, de costas para a sala, Ron não conseguia ver as lágrimas frustradas de Hermione. Ela soluçou, cobrindo o rosto. Estaria ela substituindo Ron por Draco? Quem ela realmente amava?

Ela sentiu as mãos ásperas de Ron afagar os seus ombros e a envolver em um abraço. Hermione o retribuiu, molhando o peito do rapaz com o choro. Era a primeira vez em meses que sentia aquele abraço apertado e morno de Ron contra o seu corpo. Ela sentiu um calafrio percorrer pela pele.

Ron lentamente se inclinou para ela e a beijou suavemente, como fazia antes. Hermione era um misto de sentimentos naqueles momentos em que ela e Ron se conectavam. Ela queria se afastar, correr para os braços de outrem, mas ao mesmo tempo, a garota queria abraça-lo mais forte, beijá-lo com mais insistência, ou apenas estar ali, chorando baixinho, ao lado de seus brownies.

O som ensurdecedor da porta batendo fez Ron e Hermione pularem. Eles se afastaram imediatamente, e Hermione percebeu o risco de suas ações. Abriu a boca fazendo a forma de um “O”, e deixou as mãos apertarem a superfície fria da pia, para se apoiar em algo e não cair.

Draco os fitava parado, segurando uma maleta em uma mão. Seus cabelos estavam despenteados e sua expressão era de horror absoluto. Ron o encarou com a expressão desafiadora, cerrando os punhos.

- O que está havendo aqui? - Malfoy perguntou com a voz falha. Ron cruzou os braços.

- Estou levando o que era meu antes de você pegar para você. - o ruivo respondeu entredentes. Entrementes, Hermione se desfez em desespero. Sua mente estava clara agora: ela queria ficar com Draco, ser apenas dele, não importava se já havia se apaixonado por Ron; uma vez sua mãe lhe contou que não é possível se apaixonar duas vezes pela mesma pessoa.

- Então leve o que era seu, e não volte nunca mais. - Draco falou com a voz rígida e gélida - um contraste com a temperatura do recinto naquele momento. - Vamos! Fora daqui! - ele evitou ao máximo olhar para Hermione. Antes que ela pudesse se jogar em seus braços e dizer o que sentia, os dedos frios de Ron apertaram o seu braço, e ela acordou de seu torpor.

- Não! Foi um engano! Eu não pertenço ao Ronald! Draco! - no entanto, Draco a ignorou, e esperou que Ron a arrastasse para fora da sala para bater a porta na cara dela. - Não! - o baque surdo da porta retumbou diversas vezes mais tarde, em seus pesadelos.

***

- Eu tentei voltar, eu juro! Ele não atende a porta, e quando aparece na janela, ele me ignora! É injusto! Toda essa situação é injusta! - Hermione reclamou frustrada, sentada à lareira ao lado de Gina, Harry e Theo Nott, sentado ao seu lado.

- Pare de se preocupar tanto com isso, Hermione. - Theo falou com sua voz sempre cortante, e ao mesmo tempo, reconfortante. Ele tinha o mesmo estilo de Draco: sobretudo, sapatos bem engraxados, cabelos sedosos e brilhantes; no entanto, seus cabelos eram negros como uma noite sem estrelas. - Se serve de consolo, Draco sempre demorou em agir em situações como esta. Uma hora ele verá que você não fez absolutamente nada de errado...

- O problema é que eu fiz! - Hermione o interrompeu, jogando as mãos para o alto, mostrando sua frustação. - Eu beijei Ron!

- Pelo que eu ouvi, foi o meu irmão que te beijou, não foi? - Gina perguntou, jogando as madeixas ruivas para trás dos ombros.

- Sim, mas eu retribuí. - Hermione resmungou. Harry continuava em silêncio, olhando para o fogo que crepitava na lareira.

- Mesmo assim, você não teve culpa, Mione. - ele finalmente quebrou o seu próprio silêncio. - Ron foi seu último romance, você ainda estava balançada com isso. Se ele não te perdoar, volte para cá e siga em frente.

- Harry tem razão, sabe. - Gina interveio, balançando a cabeça em afirmação. - Se ele não te perdoar, ele não merece você. - Theo se levantou, por fim, dando um fim ao assunto.

- Receio que tenho que ir. Há uma festa que Pansy Parkinson está atendendo, e ela espera que eu vá, entendam... - ele se despediu. Harry o acompanhou até a porta. Antes que Theo saísse para o ar livre, porém, Hermione segurou o seu ombro.

- Posso ir também? Talvez haja uma chance de eu conseguir falar com Draco, o que você acha? - ela perguntou com apenas um sopro de ar, esperançosa. Theo fez uma careta. O vento que vinha da rua bagunçava seus cabelos cuidadosamente penteados.

- Temo que não seja uma boa ideia... - seus olhos verdes brilhavam com a pressa que ele não conseguia disfarçar. Embora fosse polido e pomposo, Theo sabia ser um ótimo amigo. Talvez ele pudesse entender a dor que Hermione sentia.

- Por quê? - ela o interrompeu, sua esperança esvaindo como o vento lá fora.

- Pansy pediu que eu levasse apenas um acompanhante, senão a festa poderia lotar e...

- E eu posso ser sua acompanhante, certo? - mas a garota já sabia a resposta. Seus ombros caíram de desânimo.

- Bom, eu ia levar a Suse, então... - Theo respondeu lentamente, sorrindo cheio de pena. Suse, Susana Bones, era sua namorada desde os tempos de escola, fazia mais do que sentido ela ser a acompanhante de Theo. Por que Hermione pudera pensar que havia uma chance...

- Eu posso falar com ela, quero dizer, com a Suse. Ela vai entender. - Hermione quase gritou, com a expectativa dessa nova ideia. Theo fez uma expressão de dor e voltou para dentro do Largo Grimmauld, 12.

- Certo. Eu posso falar com ela.

***

Theo e Hermione aparataram na frente da mansão de Pansy Parkinson pontualmente às dez horas da noite. O enorme casarão tinha quatro andares visíveis, contando o térreo. Tinha um estilo gótico, com tijolinhos à vista negros e um grande portão de ferro delimitando o gramado e a piscina iluminada pelo que Hermione deduziu serem fadas. Havia algumas pessoas dançando ou conversando perto da piscina, segurando copos de plástico. Theo inclinou-se para frente e tocou a campainha: uma argola de metal no centro dos portões de ferro com a forma de uma serpente. Hermione conteve um calafrio.

Os portões se abriram sonoramente, e, aparentemente sem a presença de ninguém. De repente, a figura de Pansy Parkinson surgiu do extenso gramado que parecia não ter fim. A jovem garota estava com os cabelos negros presos em um rabo de cavalo, e um vestido de lantejoulas curto e decotado, deixando suas coxas finas e bronzeadas de modelo à mostra.

O sorriso afetado da garota se desmanchou ao ver Hermione, vestida despreparada para uma festa, com um suéter azul e calças jeans.

- Theo! - Pansy gritou, abraçando Theo brevemente. Mesmo longe o suficiente, Hermione conseguia sentir o cheiro pútrido de ervas e drogas que com dúbia certeza eram ilegais. Theo franziu o nariz, o que provavelmente mostrava que ele também sentira o cheiro.

- Não sabia que tinha largado a ruiva por essa sangue-ruim da escória. - Pansy comentou, como se Hermione não estivesse presente. Ela sentiu o estômago queimar. Como Theo podia ser amigo de uma pessoa tão desprezível?

- Pansy... Hermione é apenas minha amiga. Trate-a com respeito, por favor. - ele murmurou, com as mãos dadas nas costas. Pansy resmungou alguma coisa inaudível e acenou para Hermione, como se só tivesse notado a garota agora.

- Vamos. Entrem. .Sintam-se em casa - ela falou, já sem ânimo, cambaleando até a piscina.

Hermione arrastou Theo para todos os lados, procurando por cabelos loiros, ou por olhos azuis metálicos.

- Só falta ele não estar aqui! - Hermione reclamou, sentindo lágrimas de frustração brotar nos olhos, mas ela não iria chorar em público, principalmente na casa de Pansy Parkinson. Lembrou-se dos dias da escola, quando Pansy e suas amigas a insultavam e a faziam se sentir tão pequena. Subitamente, com a lembrança e com todas aquelas pessoas que não eram Draco, Hermione teve uma ânsia de vômito. Ela se inclinou para frente e tossiu freneticamente, sentindo uma dor horrível na garganta. Theo a segurou com suas mãos frias.

- Você está bem? - ele perguntou. Hermione respirou fundo.

- Faz dois meses! Ele não fala comigo há dois meses! Você acha que eu estou bem! - Hermione berrou, sentindo-se irritada pelo fato de Theo estar tão calmo e tranquilo, quando ela estava desesperada e desamparada. Theo piscou algumas vezes, como se não tivesse compreendido, e então apontou para algo atrás de Hermione.

Ela se virou e viu, dentre um grupo de amigos que riam e conversavam alegremente, a figura esguia e pálida de Draco Malfoy. Então tudo escureceu.

***

A primeira coisa que Hermione viu foi o teto cinza e sombrio do quarto de hóspedes da casa de Pansy. Ela sentia uma dor lancinante na garganta, como se ela estivesse em chamas. A garota tentou se levantar, mas sentiu outra dor insuportável na barriga.

Contudo, quando se virou para o lado, viu Draco Malfoy sentado em uma cadeira de espaldar alto, fitando-a com a expressão cheia de dor e preocupação.

- Draco... - ela sussurrou com sua voz quase nula pela sua dor na garganta. - Me ajude a levantar...

- Você precisa descansar. Pansy deixou você dormir aqui esta noite, e depois voltaremos para a Cranmer Road. - Hermione assentiu, com dificuldade para engolir, e então largou a cabeça no travesseiro, apertando os olhos.

- Você me perdoa? - ela perguntou, sem esperar resposta. Mas a resposta veio, mesmo que seca e friamente.

- Sim. Theo me contou o que estava havendo. - um farfalhar indicava que Draco mudava a sua posição na cadeira. - Quero que saiba que eu não toquei em nada do seu quarto nesses últimos dois meses.

Hermione suspirou.

- Você não me perdoou. Vou voltar para a casa, mas as coisas não voltarão a serem as mesmas, não é? - Hermione segurou as lágrimas; apertou ainda mais os olhos.

- Se você diz. - Draco respondeu bruscamente.

- Então por que está aqui me observando enquanto eu sofro? Isso é doentio. - Hermione resmungou, com a voz baixa e rouca.

- Eu queria te vigiar, impedir que você se levantasse. - ele disse simplesmente, deixando o silêncio se sobressaltar por alguns minutos.

- Por que você se importa? - Hermione sussurrou. Houve mais silêncio. - Quer saber? Não vou voltar para aquela casa. Vou sofrer ainda mais! - ela gritou agora se sentando, ignorando a dor na garganta e na barriga.

- Deite-se, Granger! - Draco aumentou a voz, a expressão preocupada.

- Eu não vou me deitar! Você não percebe que é desconfortável dormir sabendo que alguém está te observando?! - Hermione berrou deixando as lágrimas rolarem e caírem em seus braços cruzados.

- Hermione, estou te falando... Deite-se! - Draco gritou também, sua têmpora saltando. Agora os dois gritavam, tentando soltar tudo o que havia segurando durante aqueles dois meses.

- Caramba, como você é teimosa! Deite-se ou você vai acabar perdendo o bebê! - Draco reclamou, se levantando e empurrando os ombros de Hermione para trás. Ela protestou, tentando se soltar, mas, eventualmente, cedeu, e os dois ficaram face a face.

- O que você disse? - ela sussurrou com a voz trêmula, paralisada.

- Eu disse, - Draco começou lentamente, seus olhos azuis metálicos inquietos e preocupados. - que você é teimosa.

- Você disse algo mais, algo sobre... - Draco balançou a cabeça.

- Apenas descanse, Hermione. Amanhã é um novo dia. - ele se afastou lentamente, e se sentou novamente na cadeira. A garota fechou os olhos lentamente, e deixou que o cansaço a possuísse por completo.

Hermione acordou novamente encarando o mesmo teto feio sobre si. Dessa vez não teve muita dificuldade para se levantar, mas as dores na garganta continuavam a latejar de vez em quando. Quando ela finalmente saiu da cama, percebeu que Draco estava deitado na ponta da cama, seus cabelos suados e grudados na testa. Hermione segurou a tentação de acaricia-los. Ele se sentou quando ela finalmente ficou de pé.

- Esclareça para mim o que você me disse antes de me empurrar e me obrigar a dormir. - Hermione exigiu determinada.

- Oi?! - ele balbuciou, e então esfregou os olhos com determinação. - Você está bem?

- Pare de enrolar. Ouvi algo com relação à perda de bebês. - Hermione cruzou os braços. Draco começou a rir.

- Nem dormindo você esqueceu esse assunto?

- Eu tenho cara de quem esquece esse tipo de coisa?

- Vai continuar respondendo com perguntas? - Hermione bufou.

- Se eu obter uma resposta. - Draco deu de ombros.

- Depois que você desmaiou no meio da festa sem ter bebido, Theo deduziu que você estivesse grávida, e depois que colocamos você aqui, - Draco tirou a franja da testa. Ele parecia pálido com a luz do dia. - ele colocou um feitiço em você para ver se era mesmo verdade; e deu positivo. - Hermione tremeu.

- Eu estou... - a garota se deu um abraço, desviando o olhar. - Mas isso é impossível...

- Não, não é. E agora vamos sair daqui que eu estou tendo calafrios. - Draco se levantou de um pulo e estendeu a mão para Hermione segurar.

Havia tantas emoções passando por ela, que não sabia se segurava ou não a mão do rapaz. Ela hesitou por um momento e a segurou. Eles aparataram.

Hermione se viu na frente do sobrado amarelo, 29, Cranmer Road, Edgware. Ela apertou ainda mais a mão pálida de Draco. Então, mesmo que nada estivesse fazendo sentido naquele instante, a gravidez, a briga entre eles, ou até mesmo a confiança que ela tinha nele, sua voz se ergueu acima do som dos pássaros, acima do som de seu coração batendo forte contra o peito.

- Por que seus pais te deserdaram? - Draco a encarou, seus olhos metálicos mostrando aquela preocupação de antes.

- Porque depois da guerra eu tive coragem de dizer para eles que eu amava alguém por quem eu havia mascarado meus sentimentos com sarcasmo e ódio, alguém como você. - ele falou sem soltar a mão de Hermione.

- Você sempre me amou? - ela perguntou com a voz fraca, lançando um olhar para a pequena casa amarela que os esperava.

- Se eu não te amasse não teria me mudado para essa casa, eu não teria aceitado o fato de ser pai, ou não iria te perdoar. - Hermione sentiu a felicidade inundar o seu ser novamente, como na vez em que ele a beijou pela primeira vez. Ela o abraçou, então, porque não havia nada a perder, e a casa amarela estaria sempre esperando. Pelo quê? Hermione não sabia, e tampouco se importava.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por terem lido, espero que tenham aproveitado. Deixem comentários para expressarem suas opiniões. :)



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