–Como assim! Perguntei quase gritando.

–Calma! Deixa eu explicar. Então, eu sou criação da sua mente...

–Mas eu posso tocar e falar com você.

–Por favor não me interrompa. Ele disse rude e frio.

–D-desculpa.

Ele bufou como resposta e disse:

–Parte de mim e criação da sua mente, porem só ela não tem a capacidade de me criar. Precisaria de muito mais. Você sabe do que é preciso?

–Magia?

–Exatamente. Ele disse confirmando com a cabeça e continuou. A magia que me criou vem das estrelas.

–Como assim? Estrelas não podem ser mágicas. Elas são só... estrelas.
Seu olhar me fuzilou e logo eu me calei. Ele prosseguiu

–Você fez um pedido desesperado para uma estrela lembra?
Comecei a procurar na minha memoria e logo encontrei, queria esquecer aquele dia, para sempre.
Flashback on
Era o ultimo dia de aula, eu tinha 14 anos. Desde os 8 eu gostava do mesmo garoto. Seu nome? Era Rafael. Tinha os cabelos negros e os olhos igualmente escuros. Ele era lindo. Seus cabelos cacheados me faziam ir para outro planeta quando ele passava os dedos por eles. Seus olhos me tiravam o ar toda vez que ele me encarava. E seu sorriso. Ah. Esse me levava ao paraíso. Eu gostava dele a seis anos. E estava na hora de falar. Eu escrevi uma carta para ele, uma carta dizendo o que eu sentia. Ele era sempre tão gentil comigo que eu tinhas esperanças dele gostar de mim. Se ele não gostasse, bom então eu partiria para outra.
O sinal tocou e todos saíram da sala, porém eu e o Rafael continuamos lá. Tomei coragem e peguei minha carta. Entreguei-lhe e disse:

–Leia quando não tiver ninguém por perto. E sai correndo. Entrei no banheiro e tranquei a porta. Parei para respirar e comecei a pular de alegria.

–Uhu! Eu consegui! Eu consegui! Parei de pular e logo comecei a ficar deprimida pensando na possibilidade dele não gostar de mim.

– Não! Falei comigo mesma. Ele gosta de você. Ele sempre jogou indiretas.
Sai do banheiro quando o sinal para entrar na sala bateu. Aquelas aulas seriam longas...
Depois que as aulas terminaram Rafael veio falar comigo. É agora pensei mentalmente.

–Eliza

–Sim. Ai meu deus. AI MEU DEUS. É AGORA.

–O que você tava pensando quando escreveu isso.
Eu olhei espantada para ele.

–Como assim?

–Você achou mesmo que eu poderia gostar de você? Você é muito ingenua.

– Mas você...

–Eu sempre fui educado mas nada além disso. Desculpe se eu fiz parecer errado, mas pessoas como eu nunca gostariam de pessoas como você.
Ele foi embora bem diante dos meus olhos. Foi embora me deixando com meu coração despedaçado.
Naquele dia ao chegar em casa eu deitei na minha cama e chorei. Eu chorei a tarde inteira. Minha mãe, minha irmã, meu pai e até meu irmão vieram me perguntar o que tinha acontecido. Porem eu não disse nada, apenas chorava.
Pelas 7 horas da noite meu choro começou a diminuir. Fui para a varanda olhar as estrelas.
Lá estava ela, somente durante esta época do ano ela aparecia. Parecia que ela brilhava mais hoje. Ver ela me deixou um pouco melhor mas logo me lembrei de todas as coisas sobre o Rafael que havia contado para ela.
Comecei a chorar desesperadamente.

–Por que estrela, por que?! Por que ele fez isso comigo. Eu falava bem baixo, soluçando. Sera que eu compreendi todos os sinais de forma errada? Sera que a gentileza era só educação?Continuava me queixando para minha estrela.

–Oh estrela. Eu só queria ser amada, só. O que eu fiz de errado. Agora já falava desesperada.

–O que estrela. Me diz. Oque eu fiz de errado? Ele era tão perfeito. Tão bom, tão legal, tão bonito. Ele era interessante, simpático, engraçado. Tudo que eu sempre pedi.
–Acho que foi por isso que não funcionou. Disse mais calma. Ele era perfeito demais. Quase como um sonho. E como todo sonho uma hora ele acaba.
Um vento frio passou por mim e eu me encolhi.
–Estrela eu tenho medo, medo de não ser amada. Eu tenho muito, muito medo. Falei e voltei a chorar desesperadamente. Entretanto eu comecei a reparar no céu, naquela noite a única estrela presente era a minha.

Por mania, por costume, eu falei o pequeno versinho que falava quando era menor:

–Primeira estrela que eu vejo, realize o meu desejo. Eu quero alguém que me entenda, alguém que divida comigo seus sentimentos, seus pensamentos. Quero alguém que me faça rir, mas que me console quando eu precise. Eu quero alguém que não julgue as pessoas, que não se preocupe com aparências, que se preocupe com o interior das pessoas. Eu quero alguém que seja gentil e não grosso. Agora começava a me levantar e falar mais alto. Quero alguém que não minta para as pessoas e nem engane elas, quero alguém que possa me fazer feliz mas que também me de momentos tristes. Pois o amor não é só felicidade. O amor também é sofrimento. E passar os bons e maus momentos juntos.

Enquanto falava meu tom de voz só aumentava eu ficava mais brava me lembrando do Rafael e de tudo que ele fez comigo.

–Estrela não quero que a pessoa seja perfeita, longe disso, quero que ela seja humana. Quero que ela não destrua minhas expectativas. Quero que ela goste de mim. QUERO QUE ELE ME AME!

Ao falar isso cai de joelhos e voltei a chorar.

–Eu só desejo alguém para amar.
Flashback off.
Depois daquele dia o Rafael não foi mas gentil comigo. Alguns dias depois ele enviou para uma serie de pessoas a minha carta, e como todas veneravam ele, e não tinham coragem para se opor contra ele, todas elas acabaram me zoando. Agora com o começo das aulas as coisas tinham ficado piores os assuntos tinham voltado, porem não durou por muito tempo. As pessoas cansam de fofocas rapidamente, e , quando eu vi já não falavam mais sobre mim.

–Eliza? Aquela voz suave me despertou de minhas lembranças.

–Sim!

–Você se lembra do seu pedido?

–Sim.

–Então como eu ia dizendo as estrelas realizaram o seu desejo. E aqui estou eu. Ele disse apontado para si próprio

–Então você é... como posso dizer...

–Não! Eu não sou o seu desejo eu vou te ajudar a realizar o seu desejo, mas tenho todas as qualidades que você pediu.

–Como assim vai me ajudar a realizar o meu desejo.

–Eu vou te arranjar alguém para amar!

–Como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Acabei dizendo alto demais, permitindo ao Thomas compreender o que eu disse.

–É lógico que não é fácil mas eu compreendo os meninos, sei sobre o que eles estão falando, quando estão dando indiretas, quando estão te olhando de formas diferentes... Eu sou um garoto mesmo sendo só imaginação da sua mente exageradamente criativa.

–Isso soou um tanto quanto contraditório.
Ele ignorou o que eu disse completamente continuando sua confusa explicação. ( isso foi de novo contraditório)

–Bom o que você precisa saber é que eu posso desaparecer assim como apareci, é só me chamar mentalmente. Ah eu também sei tudo o que você pensa e tudo o que você já pensou em toda a sua vida.

–O que? Perai! Agora eu não tenho mais privacidade?

–Digamos que sim?

–Ah que ótimo. disse revirando os olhos.

–Ufa! que bom que você não liga. Pensei que ficaria furiosa com esse detalhe.

Ignorei sua ingenuidade a respeito do sarcasmo.

–Você entendeu tudo corretamente?

–Você é criação da minha mente e ao mesmo tempo foi criado pelas estrelas pois a minha mente não tem capacidade de criar um... tanto faz, a questão é: você foi mandado para ajudar-me a achar um menino legal por quem eu possa me apaixonar. Ah você também pode aparecer e desaparecer. É só isso ou eu perdi alguma coisa? Acho que se tiver algo a mais minha mente vai explodir.

–Não você compreendeu tudo. Por um momento pareceu-me que ele queria dizer mais alguma coisa, porem ele se calou. Aproveitando a oportunidade pedi:

–Agora por favor pode se retirar preciso de um tempo para compreender esse turbilhão de informações.

–Claro. Ele disse, com uma carinha de cachorro abandonado. Quase que pedi para ele ficar mas eu precisava mesmo de um tempo.

–Tho... Quando ia falar ele já tinha desaparecido, sem eu perceber. Suspirei. Não sabia o que seria do meu futuro de agora em diante.