“Não consigo ver o lado bom, caído aqui no chão, e eu apenas continuo tentando, mas eu não sei para que, porque tentar não te amar, apenas me faz te amar mais”

Lydia olhara os brilhantes olhos azuis celestiais e sorriu amarelado. Ele lhe fazia tão bem, ele era tudo para ela, ele era como uma droga: inofensiva a primeira vista, viciante após uma ou duas tragadas.

―Se lembra das inúmeras vezes que brigávamos?- indagou Jackson acariciando a clavícula da ruiva.

Ela aconchegou-se na curva do pescoço do maior e fez um bico: o momento estava tão bom para se pensar no passado, ainda mais um passado malévolo; só que ela lembrava-se muito bem. Jackson lhe dera um chute e pediu suas chaves reservas, a ruiva disse que esqueceria ele em segundos e olha só onde ela estava agora. Deu um suspiro longo e olhou para cima a fim de ver o rosto do rapaz, mas ele não estava mais lá. Ela não conseguia se mexer e de repente viu o rosto do kanima apontado as longas garras para si, gritou o mais alto possível...

E então, ela acordou.

Olhou-se no espelho, se assustando com o que vira. Cara inchada, olheiras... Ai meu Deus, aquilo era uma espinha?! Não apenas sua aparência estava numa situação crítica: seu coração mantinha-se vazio, sua mente cheia e sua alma fria.

Ela precisava de alguém, desabafar, queria um abraço apertado e verdadeiro, quem sabe um bom chá e um colo para se deitar. Ela queria o Jackson. Mas ele estava muito ocupado sendo controlado para matar pessoas. Tal pensamento lhe fez dar uma careta.

Após tomar um banho, fez uma maquiagem nada básica e sorriu para o espelho. Sorriu mesmo que tenha chorado a noite inteira. Sorriu mesmo que sua alma chorasse. Ela só saiu sem destino por aí, até ver onde parou: na casa de Stiles. “Ok, entrar na casa do cara que gosta de você para falar de outro cara é inválido, isso é uma regra Lydia”– pensou a ruiva, mas seu lado egoísta era maior, ela iria desabar uma hora e precisava de alguém que a apoia-se para não chegar ao chão. Apertou a campainha.

― Olá senhor Stilinski, eu poderia falar com o Stiles?- forçou um sorriso, que até parecia um pouco verdadeiro.

Lydia subiu as escadas e bateu na porta. Um toque e nada, ufa. Dois? Droga, ele abriu. O que diria agora?

― Hey Stiles... Eu só vim... Bem... Olha, meu mundo está destruído e me sinto como se fosse a última pessoa na terra, sozinha, onde não adianta nem lutar, porque tudo que importa já parece ter ido!- exclamou perdendo o ar, ela olhou para cima, mas isto não impediu que as lágrimas rolassem por suas têmporas. A verdade é que ninguém poderia quebrar mais Lydia, porque ela mal estava inteira. Sentia-se ferida, uma ferida que não fecharia, não sem Jackson.

―Eu sonhei com ele hoje, sabe. No começo, foi tudo perfeito. Depois, nem tanto, mas pelo menos ele estava ali: então eu acordei e tudo que vi ao meu redor foi o meu pior pesadelo. Eu tentei esquecer, tentei parar de chorar por alguém que não se importa comigo. - e ali estava Lydia Martin, desabando no colo de alguém que mal conhecera.

― Lydia, acredite, eu sei como é chorar por alguém que não se importa. Quer? Não tenho lenços... Se quiser posso te deixar sozinha. - disse o acastanhado com um tom frio, oferecendo o papel higiênico para a ruiva.

― Fica. Sei que estou sendo complicada, difícil de entender, chata e dramática. Mas fica, me faz sorrir, me faça sentir bem. O QUE É ISSO?! Stiles, você tem jóias femininas no seu quarto...

― É... Elas são para você, para o seu aniversário. Eu não sabia o que comprar, mas vou devolver os outros.

Lydia chegou a se sentir mal. Mas antes que pudesse chorar mais ainda seu celular vibrou.

― Olhe esta mensagem!- mostrou a Stiles o SMS que informava o paradeiro de Jackson.

Lydia engoliu seu choro, levantou a cabeça e saiu andando em direção ao jipe, mesmo que desmoronasse por dentro. Sentia-se grata que em sete bilhões de pessoas, uma se importasse. Então ela sorriu para Stiles, um sorriso de canto, mas o primeiro e único verdadeiro.

Enquanto isto, Jackson aparecera e estava causando problemas a Scott, Derek, Chris Argent e Isaac. Ele parecia mais ágil e voraz, conseguia ferir todos. E então Gerard apareceu rindo, foi tudo uma armação.

― Você não percebeu que estava trazendo Derek Hale para mim, Scott. Você deve saber o que eu vim fazer não é?- o Kanima agora apertava o pescoço de Allison a mando de Gerard. ― Foi na noite do hospital. Conseguiu sentir o cheiro não é? O cheiro da morte. A ciência não tem uma cura para o câncer, mas o sobrenatural tem. Ou você me cura, ou ela morre.

Scott segura Derek pelas garras e mesmo que o outro pedisse, força-o a morder o outro. Gerard riu, mas percebeu que ele não parava de sangrar. E percebeu também que sua morte estava próxima.

― MATE TODOS!- exclamou antes de cair e sua pulsação cessar. Neste momento o Kanima prepara-se para atacar. Até certo jipe atropelá-lo.

Lydia sentiu vontade de gritar. Correu do jipe e gritou por seu nome. Ele a ameaçou com as garras e ela soube o quanto doía. Não sentia medo, se sentia destroçada. Quem lhe mataria é aquele que sempre amou? Ofereceu a chave ao rapaz.

Algo no fundo do peito do moreno bateu forte. Lembranças da noite em que lhe dera a chave passaram na cabeça do Kanima. E percebeu o quanto gostava dela. Aos poucos seu lado humano ia aparecendo. Lydia estava lhe salvando. Simplesmente por seu amor solene. Ele agarrou a chave. E neste momento, Derek e Peter enfiaram suas garras no rapaz.

Dentro de Lydia o que pouco restou de sua sanidade acabara. O sentimento de angústia, medo e tristeza pareciam a única coisa em sua mente. Ela não levara um tiro? Claro que não, essa dor se superava. A dor de perder alguém que ama. Ela só queria gritar, estapear Derek e Peter até mata-lós e perguntar repetidamente “Por quê?”, mas ela sabia o porquê, sabia que aquilo protegeria Beacon Hills, só não sabia o quão seria duro. Lydia queria deitar e morrer ao lado de Jackson, que fosse outro pesadelo, porém não era. Ela o apoiou para que não caísse, mesmo que não conseguisse manter-se em pé. Ele olhou nos olhos dela e lhe perguntou se ela ainda o amava. Ela não hesitou em dizer a verdade. ―

― Eu te amo Jackson. Amo. E sabe de uma coisa? Eu não queria te odiar, eu não queria deixar de te amar. Porque você me faz bem. E mesmo que eu tentasse um milhão de vezes parar de te amar, isso só me faria te amar mais. Jackson, eu sempre caí ao seus pés. E agora eu estou caindo junto de você. Eu morreria cem mil vezes. Mas não deixaria de te amar. Oh deuses... - mas Jackson já não estava mais ali, ele caiu em seus braços e a chave estava no chão. As lágrimas pareciam não secar. Ela o abraçou e deixou-o no chão.

Virou-se para não ver o corpo dele e as lágrimas rolavam como nunca, era a hora de deixar de ser forte, a hora de transbordar. Não queria fingir que estava bem, não conseguia, porque não estava. O pior dia de sua vida? Ela deixou-se cair no chão, porque não conseguia se sustentar. E então ele se mexeu. Ela viu Jackson se erguendo como um muro. Seus olhos se tornaram um azul escuro, mas ainda brilhante. E então ele uivou, ou rugiu, isso não importava. E ela o abraçou o mais forte possível, para nunca mais largar.

Lydia fora para a casa de Jackson e usou a chave reserva. Selou em seus lábios um beijo carinhoso no qual suas línguas mexiam-se numa perfeita sintonia, nada voraz, mas sim delicado. Ele envolveu uma mão em sua cintura. E ela encaixou seus braços no pescoço dele, que a levou para o quarto onde tiveram uma esplêndida noite. E então de manhã, ela estava lá, com o moreno acariciando sua clavícula e ela com sua face na curva do pescoço dele. Eles riam e se beijavam. Até ele lhe perguntar:

― Você se lembra das inúmeras vezes que brigávamos?- indagou.

Tal pergunta lhe deu um déjá vu. Ela simplesmente fez um bico e suspirou.

― Sabe Lydia... Eu vou ter que viajar.

― MAS COMO? PARA ONDE JACKSON? Você vai me deixar novamente?- Oh céus, outro pesadelo?

― É necessário, Lydia. Eu causei confusão demais.

― Fica. Preciso do seu amor. Não me abandone Jackson! Não foge de mim, não desiste de mim. Ame-me mais, afinal eu que me esforço mais pra isso. Meu coração que se esforça.

O rapaz pressionou os lábios no pescoço da ruiva. Deu um suspiro longo e olhou para cima afim ver o rosto do rapaz, mas ele não estava mais lá, ele partiu. Ele pensou que mesmo não a vendo, ela estaria chorando. E ela chorava porque pensava que ele não choraria por ela. Ambos choravam, mesmo que ele só por dentro, e ela não fizesse questão de esconder por fora.

"Parabéns Jackson, você conseguiu me magoar. Já que foi embora, leve meus sentimentos contigo. Ninguém conseguiria partir meu coração do que você, realmente parabéns."

"Parabéns Lydia, você me proporcionou os melhores dias da minha vida. Já que fui embora, arranje um cara legal. Ninguém vai conseguir ser pior do que eu, o Stiles está aí, você é linda, realmente parabéns."

E ela seguiu, fingindo ser durona e dizendo a si mesma para não chorar na frente de Allison. E ele seguiu, fingindo que não se importaria quando ela arranjasse outro alguém. E talvez, Lydia tente não amar ele. Mas ele nunca vai querer esquecê-la.