Cristais de Sangue escrita por P David


Capítulo 3
Ferro em Brasa


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer a Maria Valentina, por ser a primeira a comentar. Muito obrigado.



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Cristais de Sangue

Capítulo 3: Ferro em Brasa

Só o que eu conseguia ver eram vultos disformes enquanto corríamos, eu podia sentir a mão apertada no meu pulso esquerdo, que mim obrigava a correr mais do que eu acreditava ser possível, e o cheiro de hortelã e mais alguma coisa amadeirada, como um troco de árvore molhado depois da chuva. Quando mim soltou minha visão continuou turva por alguns instantes até ganhar foco nele, o garoto loiro que estava mim seguindo. Ele estava com os braços cruzados sobre o peito, mim encarando enquanto eu continuava a piscar os olhos. Nós estávamos atrás do meu prédio em uma rua deserta com alguns postes de luz negros com características medievais e casas de cores mortas com luzes apagadas, devia ser o jeito que qualquer rua de Cristal estaria há essa hora.

–O que foi aquilo?- perguntei estralando os dedos, eu tinha a ilusão de que isso destravaria os meus ossos caso eu precisasse correr.

–Um iniciante á Filho de Vanrelse e um vampiro idiota. - ele desdenhou sentando no meio-fio.

–Filho de quê?- perguntei confusa.

–Filho de Vanrelse. Eu sei, o nome é brega, reclame com eles. Embora eu ache que não seria uma boa ideia. - seus olhos ficaram presos aos meus por um momento até suas orbitas escurecerem e ele desviar o olhar massageando as pálpebras. –Resumindo, é uma facção que mata seres paranormais. – ele terminou voltando a mim fitar com os olhos azuis escuros de antes.

–O que você quer dizer com “mata seres paranormais”. – se é possível que existam vampiros, o que impediria que outras criaturas existissem.

–Eu quero dizer que qualquer ser paranormal, seja qual for, aparecer na frente deles, eles vão dar cabo. Intendeu? –ele perguntou com as sobrancelhas arqueadas, levantando do meio-fio e dando alguns em minha direção, ao mesmo tempo que eu recuava. -Eu salvei sua vida. – ele fingiu estar incrédulo, colocando a mão sobre o peito e parando de se aproximar.

–Você ainda não especificou o porquê. – acusei.

–Solidariedade. – ele soltou sem pestanejar.

–Aquele vampiro precisava muito mais da sua solidariedade, do que eu. - era mentira, eu estava em choque, se ele não tivesse mim tirado de lá, a estaca estaria no meu coração agora.

–Digamos que quando eu cheguei o corpo dele já estava em combustão mais o seu mim parecia intacto. –ele falou irritado.

–De qualquer forma, obrigado por ter mim tirado de lá. – forcei um sorriso, eu tinha medo de pensar em como ele pareceria do lado de fora.

–Que seja. – ele deu de ombros, ainda com a cara fechada.

–Eu posso voltar pra cafeteria agora? – quebrei o silêncio.

–Eu iria pra minha casa se fosse você. – ele abriu o agasalho e retirou de dentro uma bolsa de sangue oferecendo-a pra mim. –Pega eu sei que você esta com sede.

–Obrigada. – agradeci.

–Esconde na jaqueta e não se alimente em público. – ele se virou pra ir embora. -Espero que tenha gostado da música que eu pedi. –quando abri a boca pra responder ele já tinha virado um vulto e sumido.

Corri pra o meu aparamento com a bolsa escondida debaixo da jaqueta, fechei todas as portas e a bebi, por sorte sessou minha sede.

No dia seguinte acordei com uma mensagem de Christian desejando bom dia, e arrastei o meu corpo pro bainheiro, tentando não mim lembra da noite anterior, mas elas mim fizeram estremecer enquanto mim enxugava. Vesti jeans, regata e calcei as botas de ontem à noite.

Jayles estava mim esperando na escadaria que da escola.

–Você sumiu ontem. –ela acusou.

–Eu passei mal e um garoto mim ajudou a chegar em casa. –não era tudo mentira.

–Aqui. –ela estendeu um papel pra mim. -É o meu número caso você precise. – era errado mentir pra ela, mas se eu soltasse toda a verdade ela sairia correndo e Jayles era a coisa mais próxima que eu tinha de uma amiga.

Disquei o número do papel e liguei, o celular dela tocou em seguida.

–Agora você tem o meu. –que era um mistério pra mim.

O sinal tocou nos fazendo entrar na escola, minha primeira aula era latim avançado, sentei o mais escondida possível da Str. Rayle, tentado evitar possíveis perguntas. Depois veio biologia, o Sr. Orcroot pediu para fazermos duplas, um garoto moreno do outro lado na sala apontou para o lugar vago ao meu lado, mas antes que eu assentisse, a mesma figura loira da noite anterior deslizou pra cadeira e tomou o lugar.

–Suponho que tenha perguntas? – ele levantou uma sobrancelha esperando minha confirmação.

–Seu nome? – perguntei, enquanto o professor entregava uma folha para identificarmos os órgãos de uma rã, mas não nos importamos com ela.

–Jack, e o seu? –ele tinha virado a cadeira em minha direção.

–Marina. –respondi, revezando o olhar entre os lagos escuros em seu rosto e a camisa preta de flanela praticamente transparente pra mim, talvez minha super visão também funcionasse em jeans.

–Estou mim sentindo violado com você mim olhando desse jeito. –ele falou, sorrindo descaradamente.

–Voltando às perguntas, por que você estava mim seguindo? -virei meu corpo em sua direção, ele parecia desconfortável.

–Eu não estava te seguindo, só te observando casualmente. –ele se defendeu.

–E o porquê disso? –ele coçou a cabeça, parecendo pensar se deveria responder.

–Nós queríamos saber se você era perigosa. –ele falou ajeitando o corpo desconfortavelmente na cadeira.

–“Nós?” – fiquei preocupada com o uso do plural.

–Minha irmã e nosso amigo. – ele respondeu.

–Eles são vampiros?

–Não, Otávio é um bruxo, mas não gosta dessa palavra então eu não usaria em uma conversa, e Linor é uma fênix para todos os efeitos. A gente penou pra descobri porque ela conseguia se transforma em uma tocha humana e queimar o namorado. Ele passa bem. –Jack cochichou em meu ouvido a ultima parte.

–Nossa! –foi à única coisa coerente que eu consegui falar.

–Eu sei. –ele afirmou, pegando a folha esquecida na mesa e começando a responder.

–Ajuda? –ofereci, mesmo sendo péssima em biologia, por sorte ele negou.

No final da aula nos despedimos com um ”Até logo”, e fomos para próximas.

O som do sinal indicando o fim da aula de artes era música para meus ouvidos, depois de fazer traços disformes e entrega ao Sr. Maya, que revirou os olhos claramente descontente com os meus rabiscos e sem a menor vontade de esconder, fui para o refeitório encontra Jayles. Assim que entrei consegui vê-la sentada na mesa resmungando para um papel que ela segurava em frete ao rosto.

Entrei na fila da lanchonete para tentar enfia alguma coisa humana no meu estomago.

–Você é bonita. –mim virei e vi uma garota um pouco mais baixa que eu, cabelos loiros ondulados e algumas mechas rosa nas laterais. O rosto era redondo e infantil, ela tinha olhos castanhos, mais castanhos que os meus, beiravam o marrom, e lábios rosa brilhando por causa do gloss.

–Sou Linor. – ela se apresentou acenando com a mão.

–Marina. –retribui a troca de nomes.

–Jack mim falou do seu super alto-controle, você o deixou louco de inveja. –ela sorriu, como se lembrasse de algo, mostrando uma fileira de dentes brancos e alinhados.

–Como assim alto-controle? – perguntei perdida.

–Aparentemente você se contenta com menos sangue, do que deveria. – falou olhando pra frente, onde uma mulher robusta mim encarava com raiva por impedi que à fila andasse. Caminhei até ela e fiz o pedido.

–Por que você não senta com a gente. – ela sugeriu. – Otávio tá louco pra te conhecer. – ela mim olhou com esperança. A mulher voltou com o meu pedido.

–Eu já tinha combinado com alguém, desculpa.

–Tudo bem, a gente se vê. –ela falou, acenei e fui para minha mesa, onde Jayles esperava com uma bola de papel na mão.

–O que é isso? – apontei pra bola em sua mão, enquanto abria meu refrigerante.

–Era meu trabalho de inglês, tirei nota baixa, injustamente, por pouco não rola agressão na sala. - ela falou olhando com ódio o folha deformada em sua mão. –E como esta sendo o seu dia? –ela procurou amenizar o tom de voz.

–Bom... –tomei um gole de refrigerante e esperei desce. –Copiei duas folhas em latim, fiz dupla em um exercício de biologia em que eu sequer toquei na folha e o professor Maya odiou meu quadro impressionista.- enquanto eu falava ela jogava e aparava a bola de papel.

–Fiquei confusa, foi bom ou ruim? – ela perguntou arremessando a bola no lixo e mim encarando com os cotovelos apoiados na mesa e as mãos sustentando o queixo.

–O seu foi pior, consertesa. –confessei

Depois das aulas caminhei para fora do prédio, Jayles tinha dispensado a carona para reclamar com a professora da sua péssima nota e Jack não havia aparecido desde a aula de biologia, mim fazendo experimentar pela primeira vez na minha nova vida emoções de insegurança, e a sensação não era das melhores.

O céu estava nublado e ameaçava a chover. O estacionamento estava quase deserto, com exceção de mim, Jack parado no meu carro com os braços cruzados e alguns outros automóveis.

–Linor disse que conversou com você. –ele falou desconfiado, como se estivasse conferindo se era verdade.

–Sim, ela também mim convidou para senta com vocês. –acrescentei.

–Por que você não aceitou? –ele franziu a testa, curioso.

–Porque eu não deixaria Jayles comer sozinha. –respondi.

–E quem é Jayles? –ele voltou à pergunta como se fosse um castigo, por todas as que eu fiz a ele.

–Minha amiga humana. Corrigindo minha única amiga humana. Mas você deveria saber disso já que estava mim seguindo. –acusei abrindo a porta do passageiro e jogando minha bolsa lá dentro.

–Observando. – corrigiu.

–Ok, mas eu tenho uma pergunta. –comecei.

–Pra variar. –ele sussurrou pra si mesmo. –Manda. – pedi-o.

–Se eu fosse um perigo o que você faria comigo? – perguntei.

–Você não é. - ele desviou o olhar para o chão.

–Responde. Se não fosse pelo meu autocontrole, que eu nem sequer sabia que tinha o que você faria comigo? –insisti

–O plano era... - ele virou o corpo em minha direção, mas evitou meus olhos. –Matar você se fosse um problema. –por fim as palavras saíram, no entanto as minhas pareciam esta perdidas.

–Mas... –ele começou a explicar.

–Vai embora. –pedi com medo que minha voz começasse a falhar e as lágrimas descessem. No entanto aconteceu o contrario minhas presas saltaram da gengiva e eu não dava a mínima pra cor dos meus olhos mesmo tendo ideia de como estavam.

–Marina. –ele tentou novamente.

–Vai! – dessa vez eu gritei, ele se afastou sem voltar a questionar e quanto olhei em volta não havia nenhuma evidencia de que ele tinha estado ali.

Mim sentir idiota, por qualquer ilusão que eu tive em relação a ele, qualquer tipo de desejo. Eu só o conhecia por dia, eu não devia esta assim, brinca de ser normal estava fora de cogitação pra mim. Ele mim mataria se eu não tivesse sorte.

Enquanto mim praguejava, começou a chover, antes que eu entrasse no carro ouvi um disparo e algo rasga meu ombro, provocando uma dor insuportável, quando olhei ele estava todo ensanguentado e queimava como se tivessem atravessado nele ferro em brasa. Minha visão ficou embaçada e minhas pernas cederam, mim fazendo cair e bater a cabeça no chão - doeu-, mas ainda assim não se comparava ao meu ombro. Aos poucos meu corpo foi ficando paralisado e eu comecei a perde os movimentos. Antes de ceder ao peso das minhas pálpebras, eu vi um vulto azul-marinho se aproximar e em seguida ouvi algo sendo quebrado.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Só pra lembra que o garoto que enfiou a estaca no vampiro, no capítulo anterior vestia um casaco azul-marinho.
Bjs. Nos vemos quinta