A Garotinha: Sherry escrita por Walter


Capítulo 2
Cidade Fantasma


Notas iniciais do capítulo

"É muito mais difícil matar um fantasma do que matar uma realidade." - Virgínia Woolf



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Abro os meus olhos. Papai parece desmaiado e eu não consigo chamar por ele. Na verdade, não estou conseguindo falar nada, nem ao menos abrir a boca. Me sinto mal, minha cabeça tá doendo muito e eu não consigo saber onde eu estou. Olho em volta e vejo apenas uma fumaça branca. Abro a porta do carro e desço. Acho que estou em Raccoon City, não tenho certeza porque não consigo ver quase nada... parece mais que alguém está queimando alguma coisa como quando mamãe fazia fogueiras nas férias. Sinto falta dela todos os dias. Minha cabeça dói e não consigo voltar pro carro pra acordar papai. Tenho que me afastar desse carro, tenho que me afastar do meu pai.

Olho em volta mais uma vez e consigo ver apenas faixas de pedestres. Alguns prédios começam a aparecer, prédios até um pouco grandes. Quanto mais entro na fumaça, mais consigo ver a cidade surgindo e ela parece estar sem ninguém.

–Aléxia?

–Quem é? –pergunto com um pouco de medo.

–Aléxia? Você está aqui?

Sinto o impulso de seguir a voz. Não consigo saber de onde vem, apenas quero segui-la.

–Sherry? Sherry!

Olho pra trás o suficiente para vê-lo. É o papai. Eu não posso voltar com ele agora, tenho que ficar aqui por algum motivo. Se ele me encontrar, vai querer me levar pra casa! Eu tenho que correr... mas espera? Quero ver o papai, ele me protege... não, tenho que seguir a voz.

–Sheeerryyy!

–Aléxia? Venha até aqui se pode me ouvir.

É a voz. Eu preciso segui-la. Começo a correr pra mais longe do meu pai e perto da voz que chama por Aléxia sem me importar o caminho que traço. É uma voz masculina que demonstra confiança e confiança de um pai, tão confiante quanto à voz de William... William? Não, ele é meu papai. Mas sei que preciso ir atrás dessa voz que chama por Aléxia.

Acho que não estou mais ouvindo os passos do papai atrás de mim, quem sabe o despistei. Não consigo enxergar para onde estou indo, a fumaça está muito densa e parece chover... não sei o que é isso que está caindo do céu. Esse lugar está começando a me dar arrepios. Mas, mas... o que é isso? Está ficando escuro? Não estou conseguindo ver absolutamente nada. Meus, meus sentidos estão enlouquecendo... ouço apenas um barulho... alto, agudo... uma ambulância...? Não, não é uma ambulância... Mas o que é? Minha cabeça dói, tudo gira... socor...

____________||____________

–SHERRY! SHERRY!

Puxo a chave da ignição e olho rapidamente para o chaveiro de lanterna acoplado a ela e coloco no bolso. Saio do carro. Há um forte cheiro químico no ar que me lembra das aulas de laboratório que tive no colegial. Não consigo enxergar nada num raio além de três metros. As ruas, as casas... tudo está coberto por uma estranha névoa. O carro parece que foi capotado, pois apresenta vários amassados principalmente na parte de cima. Olho em volta. Não vejo mais nada além de névoa e cinzas, o que dá a impressão de que a cidade inteira está em chamas constantemente. Me sinto incomodado.

Meu estômago parece dar voltas e voltas. A cidade coberta com uma névoa, chove cinzas e não há uma pessoa sequer na rua. Era uma cidade fantasma? Tentei dar alguns passos, me distanciando do carro na tentativa de ver algum sinal de Sherry. Quanto mais ando, mais percebo que a névoa não acaba e isso me deixa mais desesperado. Onde ela está? Será que vai me ouvir?

–SHERRY? SHERRY!!

Após alguns passos, vejo uma silhueta que lembra minha menina de 10 anos, Sherry Birkin. Continuo me aproximando, na esperança de que seja ela. Vejo o cabelo loiro, o tamanho e as roupas... é realmente ela. Impulsionado por medo e temor, corro ao seu encontro.

–SHERRY!

Ela olha para trás e em seguida começa a correr na mesma direção, se distanciando de mim como se não me quisesse por perto...

–SHERRY?

Tento correr atrás dela, mas na medida em que me aproximo, ela se distancia ainda mais. Não sabia que ela corria tanto assim, mas agora não é hora para brincadeiras. Esse lugar está me deixando muito incomodado. Continuo correndo atrás dela, ela sumiu.

–SHERRY!

Continuo correndo até entrar em um pequeno beco, acreditando que esse tenha sido o caminho que ela percorreu.

–SHERRY?!

Decido parar e olhar em volta. Acho que realmente a perdi de vista. A névoa não ajuda em nada e a droga da cidade não tem uma pessoa sequer. Tudo isso não faz sentido para mim, principalmente a parte em que Sherry está agindo desse modo. Ela costuma ser muito obediente, calma e amável. Agora, ela está agindo totalmente diferente e, exatamente nesse contexto, onde normalmente ela ficaria perto de mim. Há algo de errado e eu preciso descobrir. Talvez ela tenha seguido esse caminho, se eu continuar...

Dei mais alguns passos, entrando um pouco mais no beco. Algo começa a tinir nos meus ouvidos, e parece aumentar a cada segundo, está ficando ensurdecedor. Parece uma sirene, semelhante a uma sirene de ambulância. Isso, isso está invadindo meus ouvidos, minha mente... aumenta a intensidade crescentemente, está insuportável. Fecho os olhos por alguns segundos, sinto uma forte dor de cabeça. Decido abri-los e então vejo uma imagem diferente do lugar onde estou. É como se a cidade houvesse imergido nas trevas, como se, no mínimo, tivesse ocorrido um eclipse solar. A escuridão toma conta de tudo e as paredes do beco parecem ter sido queimadas.

–O que é isso? SHERRY!

Não pode ser. Que espécie de maluquice é essa? Primeiro, o acidente com Jill e o corpo dela some. Depois, uma menina surge do nada e causa outro acidente e então Sherry some em uma cidade fantasma. Pra fechar, a cidade passa por ciclos?

O barulho da sirene começa a diminuir gradualmente. Continuo andando pelo beco sem enxergar muita coisa. Então me lembro da pequena lanterna acoplada à chave do carro.

–Ainda bem que você vai servir. –Disse tirando o a chave do bolso e ligando a lanterna.

A lanterna parece não fazer muito efeito, mas pelo menos me ajuda a acostumar meus olhos com essa escuridão. Continuo andando na expectativa de encontrar Sherry. Enquanto caminho, começo a perceber que há coisas fora do lugar. Há macas, cadeiras de rodas e coisas que lembram alguma espécie de hospital ou coisa do tipo. Todos repletos de sangue espalhados pela viela da cidade.

–Mas que droga de cida... –fico em silencio. Percebo que há alguma coisa ainda pior pendurada em uma grade no final do beco. É um corpo. Mas não um corpo comum, é o corpo de algum ser, algo semelhante a um humano, mas que não parece exatamente um. A coloração é acinzentada, e o ser tem uma expressão de ódio, dor e sofrimento ao mesmo tempo. Está morto e não dá pra identificar o rosto, ou até mesmo ver qualquer coisa. Completamente deformado.

–NÃO!

Começo a me desespera ao sentir sangue descer pela minha perna. Olho imediatamente para trás e vejo pelo menos uma dúzia de coisas semelhantes a crianças, coisas que tem a pele absolutamente branca à luz da lanterna, crianças deformadas sem rosto. Elas querem me morder, e pelo visto uma já havia conseguido.

Meus sentidos começam a se confundir. Há um cheiro de podre no ar, meus ouvidos ouvem gritos, meus olhos veem as crianças correndo em minha direção, minha boca tem um gosto metálico e meu corpo parece queimar de dor. Essa última está muito forte, não sei se consigo ficar em pé. Não consigo gritar, as crianças veem ao meu encontro, sedentas de sangue. Parece o fim. Minha respiração está ofegante, meu coração acelerado. Meu corpo queima, e a dor é tão lancinante que não consigo ficar de pé e caio no chão. Não consigo me conter, começo a me contorcer de dor. Tudo fica escuro de vez.


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Notas finais do capítulo

Sherry acorda e se encontra em um lugar desconhecido. Ela se sente impulsionada ao vasculhar a cidade ao invés de acordar seu pai e pedir sua ajuda. Enquanto procura sinais que algo que não sabe exatamente o que é, ela ouve uma voz que chama por Aléxia. Sherry ouve seu pai, que provavelmente recuperou a consciência e a procura, entretanto, se sente obrigada a seguir a estranha voz que chama por Aléxia, deixando assim seu pai para trás e formando o seu próprio caminho.



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