Quantas coisas alguém poderia ler em menos de um minuto? Quantas palavras podemos aprender? O que a gente nunca saberá?

Bem, nada sabemos e sabemos tudo!

Tatiana procurava algo interessante em sua casa para fazer, as grandes escadas rústicas não lhe diziam para onde ir buscar diversão.

O vestido amarelinho com flores branquinhas despencavam de alegria em seu corpinho de seis anos, os cabelos lisos trançavam as madeixas escuras, os olhos claros como o céu contorciam a madeira velha que seus pés pisavam.

Tão curiosa para aprender sobre o mundo, Tatiana foi se embalsamar no escritório do pai.

No escritório do pai podia entrar? Talvez não, talvez sim, talvez... só talvez...

E lá encontrou nada além de muitos livros, livros de todos os tamanhos, de todas as cores e de todos os assuntos.

O que tem de tão especial nos livros do pai?

"Nada?" -indagou sua cabecinha pensante.

Subiu devagarzinho na cadeira do pai, bisbilhotou miudamente os óculos do pai em cima da escrivaninha; olhou atenta para o livro aberto do pai... Nada... Nada tinha de interessante.

Nada escrito, nem desenhado, nem rabiscado...

"Nada"... Esse nada foi mais interessante do que tudo que um livro poderia ter, mais interessante até que o mundo real.

A gente pode imaginar o mundo não é mesmo?

Sim, a gente pode Tati. Olhou firme para o grafite do pai; podia mexer no grafite do pai? Podia sim, podia não... Talvez, só talvez...

E com a mãozinha de boneca pegou o grafite do pai, começou a escrever palavrinhas melosas no papel branco do pai.

Tatiana explorou a caneta tinteiro do pai, podia mexer na caneta tinteiro do pai? Podia sim, podia não, mas só talvez pudesse...

E o que a Tati queria, era que a guerra acabasse e imaginou como seria bonito o mundo sem ela. Tati desenhou o mundo bonito e colorido, escreveu no livro do pai.

Podia escrever no livro do pai? Talvez, quem sabe?

Mas a Tati queria brincar de ser poeta e escreveu uma poesia desenhada, desenhou o mundo sem nada.

O nada era tudo que ela precisava, o nada do papel era tão interessante quanto brincar de peteca, porque a Tati gostou dos livros do pai, porque a Tati gostou de brincar de escrever e não parou mais...

Essa é a pequena Tatiana, para muitas Tatianas, Tati não era ninguém, Tati não era nada, mas se tornou uma Tati grande e essa Tatiana sempre será o nada de um livro, para cada palavra fazer toda a sua mágica...

"Um é feioso,

Outro é bonito
Um é certinho
Outro, esquisito

Um é magrelo
Outro é gordinho
Um é castanho
Outro é ruivinho

Um é tranquilo
Outro é nervoso
Um é birrento
Outro dengoso

Um é ligeiro
outro é mais lento
Um é branquelo
Outro sardento

Um é preguiçoso
Outro, animado
Um é falante
Outro é calado

Um é molenga
Outro forçudo
Um é gaiato
Outro é sisudo

Um é moroso
Outro esperto
Um é fechado
Outro é aberto

Um carrancudo
Outro, tristonho
Um divertido
Outro, enfadonho

Um é enfezado
Outro é pacato
Um é briguento
Outro é cordato

De pele clara
De pele escura
Um, fala branda
O outro, dura

Olho redondo
Olho puxado
Nariz pontudo
Ou arrebitado

Cabelo crespo
Cabelo liso
Dente de leite
Dente de siso

Um é menino
Outro é menina
(Pode ser grande
ou pequenina)

Um é bem jovem
Outro, de idade
Nada é defeito
Nem qualidade

Tudo é humano,
Bem diferente
Assim, assado
Todos são gente

Cada um na sua
E não faz mal
Di-ver-si-da-de
É que é legal

Vamos, venhamos
Isto é um fato:
Tudo igualzinho
Ai, como é chato!"

Tatiana Belinky