Laços Temporais escrita por Kunimitsu


Capítulo 5
Indizi prime e Incontri




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Primeiras pistas e Encontros

A carruagem chacoalhava um pouco, andando em uma marcha lenta, já que percorria uma rua movimentada de pessoas. A tarde já estava em suas últimas horas, e as pessoas devido aos recentes acontecimentos, se recolhia para dentro de suas casas em uma hora mais cedo que o habitual. A cidade, outrora alegre, parecia abandonada e fúnebre. As pessoas andavam com rapidez e cautela, desconfiados dos menores ruídos que escutavam. Estavam todos com medo. Medo de ser a próxima vitima.

– Ahh, quanto mais até chegarmos? - um dos ocupantes da carruagem falara, de forma preguiçosa, quase um choramingo. Os olhos claros estavam fechados, enquanto descansava no encosto estufado. Parecia preste a dormir, como se estivesse alheio ao ar denso a sua volta.

– Só mais um pouco, Lampo. - o loiro ao lado dizia, com paciência. Seus olhos vagando para o mundo de fora através da pequena janelinha de sua porta.

Vongola Primo, junto com dois de seus guardiões - Alaude e Lampo - estavam indo de encontro com Primo Cavollone, atender o chamado do mesmo. Já estavam mais ou menos, quase uma hora na estrada, demorando por estar longe da cidade; e também porque a estrada se mantinha em reforma. E a demora só afligia mais ainda o jovem chefe, pensando em várias coisas ao mesmo tempo. Quem morrera agora? Havia alguma pista? Motivo? Era o mesmo assassino? Eram tantas perguntas, que fazia a cabeça doer. E de respostas nulas naquele momento, o frustrava.

Suspirou, coisa que estava fazendo muito ultimamente, ao ver que estava, enfim, chegando ao seu destino. Logo, a carruagem estava fazendo uma parada, o cocheiro abrindo a porta e saindo primeiro Alaude, seguido por Lampo. Giotto desceu um pouco depois, sendo recebido pelo forte vento; o céu estava pintado de laranja e vermelho. A sua frente se encontrava um hotel muito bem conceituado da cidade, grande e com os melhores serviços da região. Típico de Fabian, pensara o loiro, ao adentrar no saguão de entrada do hotel. Era lindo e bem iluminado, decorado ricamente, com bastante dourado e vermelho.

Não houve a necessidade de irem ao balcão, pois assim que entraram, os olhos se puseram na figura do braço direito do Cavallone. Pablo, encostado a um pilar de mármore, estava a espera dos convidados, e assim que os mesmos chegaram, se dirigiu a eles. Com um breve cumprimento, o grupo seguiu para as escadarias longas, por onde não subiram muito, até seguirem por um corredor, e então adentrarem em um outro cômodo. A primeira coisa que viram era uma pequena saleta, com sofás estufados e mesinhas o decorando; o piso de mármore era coberto pelo carpete roxo turquesa, um pequeno ilustre no teto proporcionava luz ao ambiente. Havia ainda duas portas, uma delas por onde podia se ver a sacada do quarto, e na outra, possivelmente, dava acesso ao quarto da suíte.

Pablo convidou-os a se sentar, e Lampo, sem se fazer de rogado, sentou-se com vontade em uma das poltronas. Primo mandou levemente um olhar repreendedor, antes de também se acomodar em um dos sofás. Alaude preferiu encostar-se na parede atrás do loiro, cruzando os braços e fechando os olhos. Pablo os informou que logo seu chefe estaria em companhia dos demais, antes de se retirar. Assim que o subordinado saíra, a porta que dava para o quarto fora aberta, e por lá passava a figura imponente de Fabian Cavallone. E este arrumava o terno negro e caro, enquanto segurava uma pasta em uma das mãos.

– Primo, que bom que veio. Como vai? - o moreno cumprimentou o Vongola com um aperto de mãos, sentando em frente ao mesmo.

– Vou bem. Mas estou mais ansioso para saber sobre o caso. - respondeu Giotto, franzindo um pouco sua testa. - Vim o mais rápido possível desde que recebi sua mensagem.

– Ah, claro... O assassinato. - o Cavallone passou uma mãos nos cabelos negros, desconfortável. - Aqui, - ele estendeu a pasta para o outro, que pegou rapidamente. - são sobre o caso, algumas coisas que conseguimos saber.

Primo avaliava as folhas com cuidado, absorvendo tudo que estava escrito nas páginas brancas. A vítima tinha sido uma mulher no auge de seus vinte e pouco anos, que morava perto do local onde seu corpo fora achado. Trabalhava, pelo que conseguiram achar, em um cabaré na preferia, ou as vezes - alguns moradores relataram - nas próprias ruas. Tinha uma pequena família, eram pobres, morando apenas ela, a irmã mais velha e uma criança, filho da vítima. E pelo que o laudo médico dizia, morrera devido a uma hemorragia interna na cabeça; causado por um grande golpe de algum objeto ainda não identificado.

Rosella Jaconi... - Giotto murmurou, lendo o nome da falecida. Para ele, era apenas mais uma vítima, sem muita importância, mas pela experiência - e sua Hiper Intuição– sabia que tinha alguma coisa errada com a mulher.

– Hun... - ouviu Alaude atrás de si, sabendo que o mesmo estava espiando o relatório por cima de seu ombro. Pelo visto, o loiro-platinado tinha a mesma opinião e desconfiança que o mais novo.

– Você sabe mais alguma coisa sobre ela, Rosella Jaconi? - perguntou, por fim, Giotto depois de um momento de analisar os papéis. Os olhos alaranjados estavam estreitos em desconfiança, mas não do moreno a frente e sim da própria mulher.

– De fato, eu sei. - começou a dizer Fabian, ao mesmo tempo em que aceitava um copo de vinho que Pablo acabava de trazer; o mesmo sendo oferecido para os convidados. - Enquanto vocês não chegavam, pedi aos meus homens que investigassem mais. - tomou um gole da bebida, olhando o céu azul-roxo lá de fora. - Descobri que essa mulher estava se encontrando com um homem a alguns meses, que acabou por se tornar um cliente seu. Mas após os assassinatos começarem, esses encontros acabaram, além disso Rosella Jaconi parecia fugir do homem.

– E por que disso? - Giotto indagou, sentindo um pouco ansioso para saber mais, sentia algo grande vindo.

– Eu não sei, mas alguns amigos do cabaré relataram que ela parecia com medo. - informou o mais velho, olhando diretamente ao amigo. - Parecia que ela tinha descoberto alguma coisa. Uma coisa perigosa. Pelo menos, era o que ela mesma disse a um amigo.

– E você acha que fora morta por causa disso? Queima de arquivo, basicamente.

– Sim. - concordou o outro, suspirando. - Mas mesmo assim, o assassinato bate com a forma dos outros mais recentes. O que faz a polícia concluir que é a mesma pessoa dos outros assassinatos, descartando essa hipótese.

– Imaginei que eles pensariam algo assim. - Primo passou as mãos nos cabelos, deixando sua bebida em cima da mesinha de vidro a sua frente. - Você sabe quem era esse homem?

Tullio Roman. - contou, e vendo a confusão do loiro, pois sabia que Vongola Primo não conhecia o nome, resolveu adiantar-se e explicar melhor. - O conselheiro do atual líder da famiglia Rosso, Antonello Rosso.

– A Famiglia Rosso?! Tem certeza? - exclamou, começando a encaixar algumas peças em sua cabeça. Cavallone apenas assentiu, atento - e curioso - as ações do amigo. - Então...

– Você descobriu alguma coisa, não foi? - deduziu o moreno, em seguida olhando de relance para o Guardião da Nuvem do Vongola, o mesmo parecendo estar perdido em pensamentos. - Alguma coisa relacionada com a volta de Alaude, eu imagino. - voltou seu olhar ao loiro, vendo este assentir em concordância.

Rapidamente, Giotto explicara o que Alaude havia descoberto em sua busca e de como isso acabara por acarretar nas descobertas feitas por Daemon; ligando-se a antiga missão do ilusionista. O Cavallone logo entendera, e assim como Giotto, estava colocando as peças nos lugares. A famiglia que Daemon investigou havia sido convidada para participar de algo grande, que possivelmente abalaria o mundo mafioso. E pelos dados de Alaude, quem quer que estivesse cometendo as mortes, estava ligado a pessoas da alta sociedade, podendo a mesma participar da elite também. E com a recente descoberta com o assassinato de Rosella Jaconi, os Rosso estavam no topo da lista de suspeitos. Isso está ficando perigoso, pensava Fabian tomando o resto do vinho e deixando a taça na mesinha a frente.

– Antonello Rosso dará uma festa em comemoração de seu aniversário de casamento. - comentara Fabian, trazendo Giotto fora de seus pensamentos. - É daqui a uma semana.

– Precisamos entrar nessa festa e investigar. - concluiu o Vongola, os olhos vagando pelo quarto até pousar na figura de seu Guardião do Trovão, Lampo. Estava certo em trazer o mais jovem, mesmo não entendendo o por que no inicio.

– Já sei, já sei. - murmurou Lampo, espreguiçando-se em sua poltrona. - Em algumas horas, consigo os convites. - informou, levantando-se.

Grazie, Lampo. - agradeceu Giotto, sorrindo com gentileza ao mais novo, vendo este bagunçar os seus cabelos verdes, andando até a porta.

– Obrigado. Pablo o acompanhará, se não for incomodo. - sugeriu Fabian, olhando um pouco incerto ao Vongola Primo.

– Eu agradeceria. - disse Giotto. Fabian deu instruções ao seu braço direito, e logo Lampo e Pablo saiam.

– Você sabe que daqui pela frente será cada vez mais perigoso, não é, Giotto? - disse o Cavallone, olhando atentamente o loiro de revoltos cabelos.

– Infelizmente, sim. - respondeu o jovem italiano, levantando-se e se aproximando da janela, olhando a lua começar a aparecer na noite escura.

– E mesmo assim, você irá seguir em frente, pelo seu ideal, não? - a voz de Alaude, que se mantivera o tempo todo silencioso, retumbou pelo quarto.

Não havia a necessidade de uma resposta, pois quando esta era bem óbvia para aqueles presentes.

~*O*~

– Bem, aqui é a nossa última parada.

O jovem moreno que falara, parara a carroça que conduzia em frente ao um pequeno mercadinho; bem simples e pequeno, sem movimento. O adolescente desceu, prendendo as rédeas, para então ajudar as crianças que estavam na caçamba. O primeiro fora um pequeno garoto de cabelos revoltos e escuros, usando uma longa capa já gasta. E este ajudara uma garota de cabelos médios e vestidinho amarelo a sair da carroça.

– Rocco, o que mais falta? - perguntou a menina, quando os três adentraram ao estabelecimento.

– Hun, só algumas verduras. - respondeu o mais velho, olhando uma lista e franzindo o cenho. - Aqui, - entregou a lista as crianças, sorrindo. - vocês pegam as verduras e eu olho o resto.

– Tudo bem, irmão. - disse a menina, já puxando o outro menino na direção oposta ao que seu irmão seguiria.

– Hun... Aurora, o que exatamente temos que fazer? - indagou o moreninho que acompanhava Aurora, olhando receoso entre a menina e os legumes e verduras nas bancadas.

– É fácil, - começara a dizer a jovem Serafini, sorrindo com gentileza. - olha o que eu faço, e depois me imite com as outras coisas, tudo bem?

Guilio apenas assentiu, focando sua atenção nos movimentos de Aurora. A menina explicou com paciência em como escolhia as verduras que melhor se apresentavam; para então colocar na cesta de palha que traziam. Guilio rapidamente aprendera, vendo que era uma tarefa relativamente fácil. Logo, as duas crianças se puseram a terminar com as compras.

Guilio, nos últimos dois dias que estivera com a pequena e simples família Serafini, não tivera mais nenhuma lembrança. Apenas aquela que tivera um pouco depois de que acordara, na qual se empenhava todo dia para lembra-la com mais nitidez. E ficara muito agradecido com a ajuda dos Serafini, que o acolheu e o cuidou, oferendo sua residência para ele ficar até que melhorasse. Depois que acordara, a mãe de Aurora, uma senhora muito gentil, pedira que o médico daquele pequeno vilarejo o examinasse; e como suspeitavam, a pancada que sofrera na cabeça lhe rendera uma amnésia. Mas também não sabiam se era temporária ou para sempre, então, por enquanto, Guilio tentaria recordar-se e ficaria com a aquela família até estar tudo resolvido. Também tentariam encontrar algum parente ou amigo do garoto.

E por isso, como forma de retribuição, o moreninho começara a ajudar a família com a fazenda que os mesmo tinham. Descobrindo que aprendia com muita rapidez e mostrava-se um garoto muito inteligente; e também, havia alguns conhecimentos que, apesar de não se lembrar onde aprendera, sabia institivamente. O que muitas vezes facilitava para si. E naquele dia em particular, os irmãos Aurora e Rocco - um adolescente que logo adotara Guilio como um irmãozinho - vieram em busca de mantimentos, tendo que sair do vilarejo e ir para a cidade grande.

Sicília, era uma cidade grandiosa, que estava crescendo mais a cada ano, principalmente por influência de estrangeiros. Guilio ficara surpreso com a riqueza do lugar, com suas construções e detalhes em que apresentavam. Mas apesar de uma cidade encantadora, o ar que pairava na cidade era, no mínimo, triste. E logo os três viajantes souberam o 'por que'. Eles haviam chegado bem na hora em que a polícia cuidava de um caso de assassinato. Os cidadãos estavam todos exasperados, com medo. Pelo que haviam dito a Guilio, fazia algumas semanas que esses casos estavam acontecendo ao redor da cidade. Por tal coisa, o horário de recolher havia sido adiantado, visando pela segurança das pessoas.

Mas, por algum motivo inexplicável, Guilio se sentiu com uma sensação estranha em relação a esses acontecimentos. Para não falar, do repentino sentimento de culpa que o abateu, mas que era sem razão para si. O que lhe fez muito pensar, que por falta de sua memória, talvez, e só talvez, ele pudesse saber algo dos assassinatos e não se lembrasse. Se perguntava se sua caída no rio naquela noite pudesse ter alguma relação. De repente, sentia-se em perigo, crescendo no seu estômago e subindo até sua garganta, o sufocando e deixando sua respiração pesada. A visão começava a embaçar, e o mercadinho ao seu redor começar a rodar, tonto, tropeçava chamando a atenção de Aurora.

Guilio?– chamou a menina, olhando preocupada o garoto que suava e parecia etéreo. - Guilio? Tudo bem?

Aurora se aproximou soltando o cesto de palha, colocando uma das mãos pequenas na testa do moreno, vendo que estava quente. Rápida, chamou o irmão Rocco, que estava do outro lado do estabelecimento. O mesmo, viera depressa, preocupado. Chegara a tempo de ver Guilio desmaiar e Aurora soltar um grito, assustada. Rocco logo tomou o menino nos braços, ao vê-lo tremer, ardendo em febre.

– O que fazemos, Rocco? - perguntou uma assustada Aurora, meio lagrimosa.

– Vamos, vamos pra casa. Depressa! - respondeu Rocco, levantando-se com Guilio em seus braços, ao mesmo tempo que tentava tirar um pequeno saquinho do bolso da calça. - Tome, pague as compras, vou levar Guilio para a carroça. Espero-te lá. - disse o mais velho, entregando o saquinho a irmã.

– Tu-tudo bem.

Rocco logo saiu dali, indo para fora, enquanto Aurora ia até o balcão, onde um senhor olhava a cena apreensivo. Pagando as coisas que compraram, saíra indo até o irmão, sendo ajudada a subir na carroça que Rocco guiava, mesmo com cuidado, havia pressa em suas ações. Já a Serafini, ficara junto ao menino, cuidando do mesmo, deveras preocupada. Perguntava-se se era algo haver com a falta de memória do menor, ou se era algum dos ferimentos que poderia ter infeccionado, já que não estavam totalmente curados.

As divagações da morena continuavam, sem saber que naquele momento, Guilio mergulhava em uma lembrança que dificilmente iria se esquecer tão cedo.

Era escuro a maior parte do quarto em que se estava, as poucas luzes vinham de cilíndricas luminárias estranhas ao garoto. E este estava deitado em uma mesa metálica e fria, com seus pulsos e tornozelos presos por ligas de couro que machucavam sua pele sensível; notando só agora que era mais jovem do que quando encontrara a família Serafini.

Seus olhos vagaram assustados pelo cômodo, vendo que não havia janelas, e que havia muitos instrumentos metálicos que nunca vira antes. Reconhecia também alguns instrumentos cirúrgicos, que para seu horror, eram cobertos por sangue, alguns já secos, outros como se foram acabados de se usarem. Engolindo em seco, desviou o olhar par a outro lado, e com todas as forças, queria poder não ter feito tal coisa.

A meio metro de si, era uma outra maca de metal, e estava também ocupada. Devia ser uma criança por volta de uns dez anos, assim como ele, vestindo roupas brancas hospitalares. Os cabelos loiros eram longos e sujos, espalhados pela maca, os seus pulsos e tornozelos estavam soltos; mas percebia-se marcas avermelhadas e alguns cortes no local. Todavia, o que mais fizera a bile subir na sua garganta e seus olhos lacrimejarem, foram as grandes manchas rubras que cercavam o outro. O sangue escorria de algum ferimento que vinha de seu estomago, pingando no chão em um barulho que se tornava irritante. Havia ainda, tubos ligados aos braços da criança, e um que saia direto de sua garganta, passando um líquido viscoso e arroxeado.

Mas, talvez, a expressão que a pobre criança tinha marcada no rosto, fora que o mais o horrorizou. Os olhos do outro, de um azul vívido e que outrora poderiam ser considerados bonitos, estavam arregalados; sem vida, sem brilho, apenas vazios. Olhando para cima, como se visse o pior de seus pesadelos em sua frente. Sua boca, de lábios carnudos, rachados e machucados, estava aberta em um grito silencioso. Com sua pele pálida ao extremo, as veias azuladas apareciam, esticavam no rosto cadavérico. Morto. A criança pequena e de magreza esquelética, estava morta.

A criança exalava o cheiro característico de morte, impregnando todo o ambiente. Pele em decomposição, desaparecendo da existência humana. Sem vida.

Não sabia quanto tempo passara a observar, vidrado, aquela cena. Estava lhe causando nojo. Seus braços começaram a se mexer, tentando sair das amarras, sentindo a pele cortar e o sangue escorrer ardente. Os soluços começavam a escapar de seus lábios, desesperado para sair daquele local tenebroso.

Mas suas ações pararam abruptamente quando ouvira uma porta atrás de si ser aberta. Os olhos se arregalaram, enquanto o corpo tremia, quase convulsionando. Os passos cada vez mais se aproximavam, fazendo seu coração disparar e o sangue congelar em suas veias. Manteve os olhos fechados com força, pedindo em sua mente, que tudo isso fosse um pesadelo e que logo acordaria. Contudo, ao sentir o som dos passos sessarem, uma presença ao seu lado sentira, e uma mão aveludada tocara sua testa com suavidade.

– Abra os olhos, bambino. - a voz vinha abafada, mas pode facilmente ser reconhecida como a de um homem.

Mesmo com a ordem, mantivera os olhos muito bem fechados, temeroso. Mas não durando muito tempo, abrindo os olhos em alarme, ao sentir uma pressão em seu pescoço, impossibilitando sua respiração. O homem ao seu lado usava jaleco branco, da mesma cor que sua máscara médica. Os olhos afiados mostravam diversão ao ver o pequeno lutar por oxigênio.

– Quando eu mando, você me obedece, estamos entendido? - a pergunta viera acompanhada por um riso que lhe causava arrepios e uma ânsia; mesmo assim, assentiu. - Ótimo. - e logo, seu pescoço era solto, podendo tomar longas arfadas de ar, necessitado.

O homem não se pronunciara novamente, andando até uma bancada a frente, onde se encontravam vidrinhos cilíndricos, com líquidos de cores variadas; agulhas, bisturis e compressas havia também. Enquanto trabalhava em algo que Guilio não conseguia ver direito o que era, ignorava totalmente a criança - ou o cheiro - morta próxima de si. E o moreno menor tentava fazer o mesmo, mas parecia cada vez mais uma tarefa difícil de se fazer. Principalmente, quando o ar parecia mais denso e insuportável a cada minuto que passava; se sentindo afogar naquele meio de podridão, como se grudasse em sua pele, deixando-o tonto.

– Você está bem, bambino? - a pergunta lhe pegara de surpresa, sentindo a ironia e prazer na voz do homem, que agora estava ao seu lado. - Gostou de seu companheiro? - os olhos do homem vagaram para o corpo flácido ao lado, soltando uma risada ao olhar novamente Guilio. - Acho que não...

– Você... Você... - tentava dizer, mas sua voz saía falha e quebradiça, com sua garganta ardendo.

Eu. - o outro assentiu, levantando a mão e mostrando uma seringa contendo um liquido esverdeado, com uma longa agulha. - Seu mestre. - os olhos de Guilio se arregalaram, não só pela afirmação que o outro fizera, mas também ao ver a seringa se direcionar ao seu pulso esquerdo, sentindo a picada característica. - Seu dono. - o liquido desconhecido entrava em sua corrente sanguínea, ardendo como um fogo, fazendo Guilio soltar gemidos de dor que aos poucos se transformavam em urros. - Seu amante. - o moreno não escutava mais nada além de seus gritos histéricos de dor, as lágrimas escorrendo por seu rosto, o corpo convulsionando. - Seu pai.

Guilio abrira os olhos, soltando urros agonizantes.

~*O*~

Os corredores eram preenchidos com poucas pessoas. Mas havia uma grande movimentação, como tivera todo dia no Hospital de Namimori. Por tal coisa, não havia uma atenção voltada para o garoto que andava, com o rosto amassado em apreensão, pelos corredores, que na sua opinião eram todos iguais. E por assim, se encontrava naquela situação, perdido. Tentando se acalmar, Tsunayoshi parou na pequena saleta de espera, que quase estava vazia, se não fosse por uma pequena família chorosa presente no local.

Encostando-se na parede próxima, se concentrou ao máximo para lembrar qual o quarto que viera visitar tão rapidamente quanto possível. Depois da luta com a criatura disforme no dia anterior, tanto ele quanto Yamamoto foram depressa para o hospital afim de socorrer o amigo de temperamento explosivo. Tiveram ainda que esperar alguns minutos até que algum médico aparecesse e informasse a situação de Gokudera. O moreno não sabia se deveria se sentir aliviado ou mais preocupado ao saber da condição do outro. Ao que parecia, as garras do animal - muito estranho - estavam carregadas de veneno de cobra, e se não fosse tratado com rapidez, poderia ter sido fatal.

Gokudera ainda ficou internado recebendo o antidoto, e para demais observações, apenas por precaução. E hoje, no dia seguinte, Tsunayoshi se prontificara em visitar o amigo querido, pois ainda estava preocupado com o mesmo, e por saber também que o grisalho queria discutir sobre o ataque. Tsuna admitia para si mesmo, também estava muito curioso sobre o acontecido, muito preocupado também, pois só confirmava o fato de algo estar muito errado e que estava sendo mantido no escuro. Isso é frustrante, pensara o moreno enquanto andava até o elevador para poder ir ao andar em que se encontrava o quarto de Gokudera.

Assim que as portas se abriram no quarto andar, Tsuna não pode conter a exclamação de surpresa ao ver o rosto moreno de Yamamoto; e este, por um momento, mostrara-se surpreendido até soltar uma pequena risada animada.

Haha, que surpresa te ver, Tsuna. - dissera Yamamoto quando o menor saíra do elevador, se juntando ao esportista no corredor vazio. - Como vai? Veio ver também Gokudera?

H-hey, Yamamoto. - respondera, depois que se recuperara do susto. - Vou bem. Você já viu Gokudera-kun? Sabe se ele está bem?

– Não sei de nada. - balançou a cabeça, e depois coçou a nuca, parecendo um pouco constrangido. - Eu ia ver Gokudera, mas acabei me perdendo. - riu no final, divertindo.

– Hun... Imaginei... - resmungou Sawada, suspirando. - Eu estou indo para lá, vamos juntos?

Haha, por que não?

Assentindo, o mais alto se pusera a seguir Sawada, que guiava por entre os corredores, muito atento aos números dos quartos que passavam. O silêncio entre eles era agradável, na verdade, Tsunayoshi pensava, quando estar com o Yamamoto mais jovem não era estar em um clima calmo? E mais de uma vez, agradecia por tal coisa, pois seus nervos estavam a flor da pele, e estava começando a preocupar as pessoas ao seu redor. Suspirando, parara em frente a porta que deveria ser de seu amigo Gokudera, e pela segunda vez naquele dia, se surpreendera. Ao ir tocar a maçaneta, a porta fora aberta e de lá passara uma mulher bonita, de cabelos longos e ruivos.

– Oh, Bi-Bianchi! - exclamou Tsuna, surpreso e vendo a mais velha lhe oferecer um sorriso.

Kon'nichiwa Tsuna, Yamamoto. - cumprimentou a hitman, dando passagem para os garotos entrarem no quarto. - Meu irmão vai ficar feliz com sua visita.

– Ele está melhor? - quis saber o moreno mais alto, deixando por um momento o sorriso cair de seus lábios.

Hai, receberá alta hoje, no final da tarde. - contou Bianchi, parecendo feliz e aliviada. - Podem entrar, terei que sair por um momento.

Arigatō.– dissera o Decimo, sorrindo sereno.

Bianchi se despediu deles, sumindo pela curva do corredor. Yamamoto e Tsuna entraram no quarto quase totalmente branco, se não fosse pelas tulipas em um vaso na mesinha ao lado da cama; a mesma tendo uma colcha azul. Gokudera se encontrava deitado, com as costas apoiadas nos travesseiros, usava os óculos de aro fino, enquanto se mantera concentrado em sua leitura. Havia ainda um soro ligado a sua veia.

Hey, Gokudera. - chamou Yamamoto, aproximando-se da cama, junto a Tsuna.

– Che, Yakyū baka...– Gokudera fez uma careta, enquanto tirava os óculos e fechava o livro, deixando-os na mesinha ao lado - Jyuudaime!!– exclamou, um demasiado feliz, Gokudera ao ver o Dame atrás do Guardião da Chuva.

– Olá Gokudera-kun, como você está? - indagou o de cabelos revoltos, sentando-se na cadeira ao lado do prateado.

– Estou ótimo, Jyuudaime! - respondeu, logo fazendo uma careta. - Só queria sair logo daqui... - murmurou, rabugento.

Ha-hah, só espere mais um pouco. - pedira Takeshi, sentado ao pé da cama, risonho.

Tsc...

– Ele está certo, Gokudera-kun. - concordou Tsunayoshi, tentando acalmar um pouco o amigo.

– Se Jyuudaime diz... - murmurou, dando de ombros. - Mas, já que estamos aqui, queria falar sobre o que aconteceu. - dissera, depois de um momento em silêncio, os olhos verdes estreitando-se.

Hai. - Tsuna concordou, querendo o mesmo, sentindo-se apreensivo. - Foi estranho o que aconteceu ontem.

– Mais estranho era aquela criatura. - comentou Takeshi, coçando o queixo, pensativo.

– Era uma quimera. - informou Hayato, recostando-se melhor nos travesseiros. - Quimeras, são, em suma, o cruzamento não-natural de várias espécies de animais, no final resultando em cada uma obter uma parte dos animais usados. Como o que nos atacou ontem.

– En-então, aquilo fora feito, bem, por cientistas? - arriscou o jovem chefe, franzindo os cenho. Seu autoproclamado braço direito assentiu. - A-acham que estava ali, para nos atacar de propósito?

– Com certeza, Jyuudaime!

– Haha, parece que sim, Tsuna.

– Achei que sim...- murmurou o Vongola Decimo suspirando, passando a mão pelos fios castanhos, sentindo o metal de seu Vongola Gear roçar em seu couro cabeludo.

Jyuudai- antes que Hayato pudesse continuar com sua frase, a porta do quarto abrira-se.

Dino Cavallone adentrava, com um sorriso amarelo, carregando em seus braços um buque de flores com um cartão. Atrás de si, vinha Romário, com balões com dizeres de 'Desejo Melhoras' ou 'Fique Bem'. Tsuna sentiu Gokudera ao seu lado ficar rígido, com um de seus olhos se contrair, em um tique. Estava claro para o Decimo, que o seu Guardião da Tempestade não havia gostado muito dos presentes chamativos que recebia.

Kon'nichiwa, minna-san!– cumprimentou o loiro, aproximando-se dos demais e entregando as flores e os balões ao prateado. - Isso é pra você Gokudera. Espero que melhore logo. - desejou, sorrindo.

Hãn... - Hayato olhou as flores e os balões por um momento, antes de fazer uma careta. - Obrigado, eu acho...

– Tudo bem, tudo bem. - Dino acenou com as mãos, não dando muito a atenção.

– Hun, Dino-san, - chamou Tsuna, olhando meio incerto para o Cavallone, pois jurava que o mesmo estava na Itália, a negócios. - quando você voltou?

– Oh, algumas horinhas atrás. - respondeu o mais velho, coçando a nuca, acanhado.

– Haha, é bom vê-lo. - dissera Yamamoto, colocando as mãos atrás da cabeça, mostrando-se relaxado. - Pretende ficar quanto tempo agora?

– Hun, se possível, até a manhã. - respondeu Cavollone Decimo, adotando uma postura séria, que rapidamente alertou os mais jovens que algo estava errado.

– A-aconteceu algo, Dino-san? - indagou Tsuna, apreensivo, engolindo em seco, sentindo suas mãos começarem a suar de nervosismo.

– Eu queria dizer que não, mas não posso. - veio a resposta que tanto o jovem Vongola temia. Respirando fundo, Dino proferiu as palavras que assustariam Tsunayoshi por um par de horas. - Vongola Nono pede a presença da Famiglia Vongola Decimo na Itália.

~*O*~

O céu era obscuro naquele fim de tarde, cinzento com grossas camadas de nuvens, uma previsão de chuva forte era esperada. Mas o pequeno cortejo que seguia por entre a grama morta e as pedras grandes, e algumas com detalhes mais caprichosos, estava alheio ao clima frio. O ar envolta daquelas pessoas com vestimentas em preto, era sombrio, cheio de tristeza. A frente deles, seguia um caixão de madeira e simples, carregado por quatro homens. Houve uma parada para então o caixão abaixar até a terra, desaparecendo dentro de um buraco pré-feito.

Ao longe do enterro, um vulto se escondia discretamente atrás de uma árvore velha e sem folhas. O casaco grosso e negro do homem esvoaçava com o vento gelado, os cabelos em sintonia, enquanto em seu rosto, um sorriso se desenhava. Os olhos se estreitaram, divertidos, presenciando a cena a alguns metros de si. A alegria se espalhava pelo seu ser, pois tudo havia seguido conforme o plano, agora só faltando um pequeno detalhe. E por tal, estava para se concluir em poucos minutos, vendo que um dos homens da pequeno multidão se aproximava de uma mulher junto com uma criança. Bem, só resta esperar, pensara o homem misterioso, andando para longe do enterro e seguindo para a saída do cemitério.

Quando já estava perto dos portões de ferro corroído, uma outra figura aparecera. Usando um longo vestido negro e um véu de igual cor, passava a imagem de uma mulher assustadoramente graciosa. Que como um fantasma, andava em sua direção, e mesmo o homem de cabelos escuros não podendo ver direito o rosto da jovem dama; sabia que a mesma lhe mandava um olhar predatório.

Buon pomeriggio. - cumprimentou a mulher, parando ao lado do mais velho, com a voz suave.

Buon pomeriggio, signorina. - respondeu o homem, curvando-se um pouco e tomando a mão aveludada da mulher e depositando um cálido beijo. - Veio ao enterro, imagino.

– Ora, mais que pergunta inoportuna. - dissera ela, soltando sua mão e deixando que a mesma passasse por entre os fios negros do outro. Um sorriso nos lábios carnudos, deixando uma baixa risada escapar ao abaixar a mão.

– Perdoe-me a minha ousadia. - a ironia era demasiadamente presente no tom do moreno, deixando por um momento seus olhos vagarem para o buque de flores de lírio laranja com hortênsias. - Belas flores.

– Obrigada. Escolhi especialmente para esta ocasião. - agradeceu, estreitando os olhos e alargando o sorriso, sabendo muito bem o que havia por detrás daquelas palavras do outro, e de sua própria.

– Devo dizer, - começara a falar, aproximando-se mais da mulher até estar em um nível considerável para que se alguém os visse, pensasse coisas indecentes. - que vê-la assim, tão... dedicada, quase me iluda a pensar que você não é alguém tão terrível quanto deixa transparecer.

– Oh, tomarei isso como um elogio, vindo de um homem como você. - apenas respondera, começando a voltar a andar em passos mansos.

– Nos veremos em dois dias, signorina. Até lá, cuidado com suas lamentações. - se despedira, andando também para longe.

Desejo igualmente.

Falara, mas ao virar-se para trás, o homem já se fora. Bufou, um pouco irritada, porém não deixaria aquilo abalar seu estado de espírito. Continuou a andar, com o vento balançando seus vestido e véu, os primeiros pingos de chuva começavam a cair.


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Notas finais do capítulo

Olá~!
Depois de muito tempo, voltei!!!
Espero que tenham gostado do capítulo...
Hun, Rosso, onde vocês já viram esse nome? E a morte desse capítulo?? shushsu alguns mistérios pertos do seu fim, outros não... shsihishsi
Oh, as flores: Hortência - Frieza, indiferença, vaidade; Lírio Laranja - Ódio, desdém, orgulho;
Deixei dicas nesse capítulo, espero que vocês tenham as capturados... shjihsihsi

Até logo,
Kunimitsu.