Silent Hill: Sombras do Passado escrita por EddieJJ


Capítulo 27
Encurralada


Notas iniciais do capítulo

"Não serve de nada correr; é preciso partir no momento próprio." - Jean de la Fontaine

PS: O capítulo é um pouco grande, e quando eu digo um pouco, digo que ele é o dobro dos capítulos que eu geralmente faço. Eu até pensei em dividir em duas partes mas seria só enchimento de linguiça então eu coloquei logo tudo, afinal, todo livro tem aquele capítulo bem grande. Foi mal se foi chato :D.



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Emma adentrou a rua deserta em passos calmos e silenciosos e começou a procurar, dentre as casas do lugar, aquela que tinha o número indicado no bilhete deixado ao John. Estava cada vez mais próxima da chave e, consequentemente, do Lakeside Amusement Park.

A rua em questão tinha um design diferente das outras já vistas na zona residencial: enquanto umas, mais afastadas, eram mais estreitas com belas e simples casas conjugadas, outras eram mais largas e arborizadas, cujas casas tinham garagem e até um quintal. As da rua em que Emma se encontrava consistiam em belíssimos sobrados de madeira, todos bem construídos e posicionados no terreno de tal forma que lhe sobrava uma espécie de quintal em todos os lados da casa. Embora estivessem, agora, gastos e destruídos pelo tempo, corroídos pelos insetos, ofuscados pela névoa densa e cercados de vegetação bruta e selvagem, vegetação essa que cobria quase todo os terrenos e que matara sem piedade o que um dia foram aconchegantes campos gramados, os sobrados ainda mantinham sua imponência e deixavam claro para quem olhasse: ali moravam os mais abastados da cidade, os que possuíam condição. Não que as outras casas e ruas não fossem dignas de moradia ou dotadas de beleza, mas aquela, aquela sim, havia sido projetada de forma especial, principalmente em termos estéticos, de forma bela. Beleza essa da qual sobrou apenas um eco no silêncio do que um dia o lugar foi.

– Não me incomodaria em supervisionar pontes por aqui... - ela comentou para si mesma.

Ela prosseguiu olhando os números das casas, esculpidos em letras douradas, já cobertas de ferrugem, nas portas dos sobrados, até que achou o seu número, pendurado à porta de uns dos prédios quase ao fim da rua.

– Número 13! É aqui.

O sobrado, assim como os outros da rua, estava completamente destruído e abandonado. A madeira podre, as janelas vazadas, todas vedadas por tábuas grossas, e as ervas daninhas secas envolvendo os corrimões esculpidos do alpendre faziam daquele um lugar perfeito para a mais perturbadora história de terror.

Emma subiu os poucos degraus que levavam a porta e girou sua maçaneta: não estava aberta, mas o tempo e a umidade haviam desgastado e enferrujado tanto suas trancas que a garota não precisou de mais que um ou dois fortes empurrões para adentrar o lugar e dar de cara com uma enorme sala, de onde partia a escada que levava ao andar de cima e um corredor, que dava para os outros cômodos da casa. Com exceção de alguns velhos móveis espalhados pelos cômodos cobertos com imensos lençóis brancos (nem mais tão brancos), o recinto estava completamente vazio, e até certo ponto repleto da névoa que entrara por causa dos buracos nas janelas quebradas.

A garota suspirou e retirou seus cabelos ondulados do rosto, jogados em sua face por causa do impulso feito para abrir a porta, e os pôs atrás da orelha.

– Por onde começar... por onde começar... - ela pensava em voz alta enquanto passava a vista nos cantos da casa.

Sem pensar em nada melhor, ela, então, saiu pela sala despindo os móveis de seus lençóis e revelando o que havia por baixo deles: sofás, centrinhos, estantes e gavetas, todas repletas de antigos livros e papeis, mas nenhuma guardava a preciosa chave.

Decepcionada, ela se pôs corredor a dentro e chegou até a cozinha, também estava vazia. Apenas um grande balcão de metal corroído ao centro, onde muito possivelmente se faziam atividades culinárias, e pilhas e pilhas de armários cheios de ar.

– Mas que droga... - ela comentou, antes de ser alertada por um súbito barulho atrás de si, vindo do corredor, tal como um passo ou uma batida, de tal leveza que, quem ou o quê estivesse ali, não parecia querer ser percebido.

Ela olhou para trás rapidamente com a arma apontada para a direção da qual viera o ruído, mas nada viu, a não ser uma pequena porta, anexada abaixo da escada, entreaberta, balançando suave.

Emma segurou a arma mais forte, cerrou os olhos e andou lentamente até lá, fazendo a madeira ranger.

– HA! - gritou, empurrando a porta e abrindo-a violentamente, apontando a arma em todas as direções.

Logo voltou a baixar a arma e se acovardou ao ver uma longa escada, levando ao andar de baixo, a uma espécie de porão, o qual estava envolvido numa escuridão profunda e de gelar a espinha. Emma temeu pelo que estava lá embaixo.

– Já chega de surpresinhas! - ela disse, tentando arrumar coragem para si mesma, descendo os primeiros degraus da escada, com a arma engatilhada em suas mãos trêmulas.

Aos poucos a escuridão tomou conta de sua visão e, ao chegar ao fim da escada, ela apalpou esperançosa a parede a fim de achar algum interruptor: nada. Lembrando-se então da lanterna que possuía, Emma sacou-a e a ligou, direcionando seu feixe de luz para o centro do porão que, agora visível, se mostrava completamente vazio, isto é, quase completamente, pois em seu centro havia mais um longo lençol branco, cobrindo alguma coisa.

A garota não podia conter a tensão dentro de si, mas estava determinada a surpreender e não a ser surpreendida. Já bastava de surpresas! Movendo a cabeça para alongar o pescoço, Emma se aproximou lentamente do lençol alvo e estendeu sua mão, que tremia pelo inesperado, chegando cada vez mais perto e mais perto... a cada passo dado até o objeto fracamente iluminado pelo feixe da lanterna em meio ao negro ambiente, até agarra-lo com fúria e força, puxando de uma vez por todas, revelando então...

– Uma poltrona?! - ela baixou a arma, franzindo a testa - O único perigo aqui é a breguice dessa estampa... - ela riu um pouco, de forma um tanto forçada, tentando se acalmar e se acostumar a nova realidade inofensiva do que antes parecia ser uma ameaça mortal - Meu Deus... Não acredito que fiz essa piada. - ela pôs a mão na testa, deu meia volta e subiu as escadas.

Do térreo, Emma partiu mais calma direto para o primeiro andar, subindo as escadas da sala, a qual a levava para um pequeno corredor, de papel de parede enegrecido, com algumas poucas portas. Ela entrou na primeira que viu: nada mais havia, senão mais móveis cobertos.

– Um quarto... - ela concluiu após arrancar o lençol de um dos móveis e revelar uma cama – Pode estar por aqui...

Após mais um tempo de procura e lençóis arrancados, revelou-se então, no canto do quarto, um pequeno criado mudo, Emma o abriu e nunca, em toda sua vida, um pequeno objeto de metal a fizera tão feliz: era a chave, presa a um pedaço de papel, também endereçado ao John da ponte, com mais algumas instruções.

Seu brilho metálico foi apreciado por vários instantes pelos olhos da garota, que levantou o item com a ponta dos dedos diante de si.

– Perfeita.

Ela então abriu seu mapa sobre o pequeno criado mudo e, com uma caneta esferográfica velhíssima achada junto a chave e ao pedaço de papel, traçou sua rota de volta a ponte; pelo caminho mais rápido, é claro, pois havia perdido o carro e não podia poupar atalhos e becos.

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– Iremos naquela agora... - Emma ouviu uma voz que assim dizia, em baixo volume, como se estivesse distante.

Ela interrompeu a programação da sua rota, dobrando o mapa e guardando-o novamente em sua bolsa, e correu até a pequena janela do quarto do sobrado, de onde contemplou a rua. "Pessoas...", pensava consigo mesma, esperançosa de que, assim como ela, estivessem perdidas e pudessem oferecer alguma ajuda, ou até mesmo uma companhia.

Haviam cinco delas, saindo do sobrado vizinho. Emma não pôde ver muito por causa da névoa, mas esforçou-se o máximo que conseguiu, esgueirando sua cabeça para fora da janela e apertando os olhos, fazendo o máximo silêncio possível.

Duas eram menores que as outras três, pareciam jovens e usavam uma espécie de capa, semelhantes aquelas capas de irmandades dos filmes que Emma vira quando era fã desse tipo de coisa, essas ainda carregavam uma espécie de emblema singular em seu peito, os quais Emma não conseguiu compreender. Atrás destes, dois homens simples.

Mas o que realmente chamou a atenção da garota foi o quinto homem, que estava à frente de todos. Ele andava de forma imponente e firme, e guiava os outros quatro. Usava uma capa semelhante às dos outros dois menores e carregava uma espécie de cetro, cuja ponta era piramidal, de cor alaranjada. Este também carregava um símbolo, mas este, Emma reconheceu.

– Merda... - ela disse. Aquele era o mesmo símbolo encontrado por ela e por Sebastian na casa da floresta e na fotografia do Hospital Alchemilla. – Então esse culto... tudo aquilo de dor e sacrifício... era mesmo real?! - ela sussurrou para si mesma, não acreditando no que estava vendo.

– Não desanimem! Não revistamos nem metade desse lugar! - disse o homem do cetro - Vamos para a próxima! Temos que acha-la. - ele apontou para o sobrado onde Emma estava, e todos se puseram em direção a ele.

– Droga! Droga! Droga! - ela saiu às pressas do quarto e desceu as escadas em pulos.

Devia sair dali o mais rápido possível, por isso, veloz como um foguete, se dirigiu até a porta da frente, mas era tarde demais. Pela pequena vidraria quebrada, ao lado do arco de madeira trabalhado onde estava a porta, ela viu que eles já estavam perto e não havia como sair sem ser notada.

– Droga! Droga! Droga! – ela repetia cada vez mais frenética essas palavras, que exprimiam cada vez mais desespero à medida que os membros do culto se aproximavam.

Olhando para um lado e para o outro, Emma não viu solução. Sem saber o que fazer ela decidiu pôr em prática a primeira ideia que veio em sua cabeça: arrastou com toda força que tinha uma pesada estante de madeira maciça, posicionada ao lado da porta, para frente da mesma, barrando qualquer entrada... e qualquer saída.

– Droga! Droga... – ela calou-se gradativamente e recolheu-se agachada ao pé da escada, observando a ação do inimigo e esperando pelo pior.

– Está trancada. – disse um dos homens, ao subir os degraus do alpendre do sobrado e girar a maçaneta – Teremos que procurar outro jeito de entrar.

– Não há outro jeito! – disse um dos menores – As janelas estão todas lacradas!

– Não importa! – o homem do cetro interrompeu, empurrando-os para os lados – Terá de ser aberta de qualquer forma! – ele deu alguns empurrões, porém não conseguiu derrubar a estante.

– Não está trancada! - disse o outro dos menores, que, pela tonalidade aguda da voz, Emma concluiu ser uma menina – Está barrada! – ela olhava pela vidraria quebrada e via claramente a estante – Parece que alguém não quer nos deixar entrar. – cantarolou aos outros, em um tom sugestivo.

– Então você pode estar aí... – disse o homem do cetro, sorrindo e acariciando a porta com a mão – Finalmente te achamos...

– Acharam? Acharam quem? – Emma sussurrou.

– Ela está próxima! – o homem do cetro gritou, em tom alegre, abrindo seus braços para os outros em o que parecia ser um convite para que estes se alegrassem junto a ele.

Os outros aplaudiram.

– Otto, Monroe! Derrubem essa porta! – disse a menor, comandando os dois homens mais simples.

Eles assentiram com a cabeça e, juntos, passaram a dar fortes empurrões sincronizados na porta. A estante começara a balançar.

– Não... não... – Emma dizia para si mesma apreensiva, tentando manter a calma, porém a cada empurrão dado, mais a estante balançava e maior era sua instabilidade. Era só uma questão de tempo até que eles derrubassem o móvel e entrassem ali. Mas... o que Emma faria se eles entrassem? Os mataria? Talvez não, afinal, eram pessoas e não seria a mesma coisa que matar aquelas criaturas demoníacas das ruas de Silent Hill. Ela se esconderia? Mas onde? O sobrado não era tão grande e os móveis eram insuficientes para proporcionar um bom esconderijo. Era deveria fugir? Era impossível! Aquela era a única porta, o resto eram janelas todas vedadas por tábuas e Emma sabia que não faria pouco barulho para arrombá-las. Nenhuma ideia parecia ser válida naquele momento, estava sem opções, estava encurralada.

O desespero a fez agir sem pensar duas vezes, Emma atravessou a sala em passos rápidos e se jogou contra a estantes, contra forçando-a.

– Mas o quê? – um dos homens havia notado o peso extra por detrás da porta – Mestre, alguém está tentando nos impedir!

– É uma garota! – a menor exclamou, expiando através da mesma vidraria pela qual vira a estante momentos antes.

– É muita coragem sua nos enfrentar de cara depois de fugir, Mãe Sagrada! – o homem do cetro gritou.

– Não! Não é a Mãe! – a menor o corrigiu.

– Não... Não é a Mãe?! – estava surpreso – Mas e... quem é?

– Não sei! É uma estranha!

– Mais um estranho?! O que está acontecendo com esse lugar? – ele bateu o cetro fortemente no chão – EMPURREM MAIS FORTE! Não Quero que a deixem escapar como fizeram com o outro!

– O outro? – Emma se perguntou, em baixo tom, mas seus pensamentos logo foram interrompidos quando o homem do cetro tentou começar um diálogo.

– Diga seu nome estranho! O que está fazendo aqui? – o homem do cetro ordenou.

– Vai se ferrar, idiota! – Emma gritou de dentro da casa.

– Insolente! Sabe, por acaso, com quem está falando?

– Sim! Estou falando com um louco local! Vocês fazem parte daquela droga de culto.

– Então reconheça a autoridade suprema do Mestre da Ordem e saia daí, agora!

– Eu não vou SAIR!

– Então NÓS iremos entrar! EMPURREM!

– Não acho que queiram fazer isso! Eu estou armada e juro por Deus que vou explodir a cabeça de cada um de vocês! – Emma, na verdade, nem sabia se possuía balas suficientes parra matar todos eles caso fosse necessário, isso se ela usasse apenas um tiro, o que dificilmente aconteceria. Porém, tentar pôr um pouco de medo no inimigo não custava nada.

– Suas balas não podem perfurar a missão de deus!

“Esses caras são mesmo loucos...”, ela pensou.

– Evan! – ele continuou, dirigindo-se a um dos menores, o menino – Ajude-os a empurrar a porta!

– Sim! – o garoto assentiu e logo passou a empurrar também.

O peso contra Emma era cada vez maior e ela sabia que não ia aguentar por muito mais tempo.

– Já pretende desistir?

– Não!
– Ora, vamos! Saia daí agor... – o homem do cetro baixou gradativamente o som de sua voz até calar-se. Ele observava atentamente alguma coisa no fim da rua, quase oculta através da névoa.

– O que houve, Mestre? – a menor perguntou.

– Oh, grandioso deus... Isso só pode ser alguma espécie de piada. MONROE! – a autoridade exprimida em seu grito assustou a todos no local.

– Sim, Mestre! – o homem parou de empurrar e ajoelhou-se.

– CORRA ATÉ A CATEDRAL E TRAGA REFORÇOS! O caso é pior do que eu imaginei. – o homem assentiu com a cabeça e desapareceu às pressas na névoa.

– EMILLY! – dirigiu-se para a menor – Ajude Otto a parar a estranha! Não a deixe escapar!

– Sim, meu Lord!

– E EVAN! Siga-me. – ele já descia rapidamente os degraus.

– Mas... – o garoto se preparou para retrucar, ou pelo menos perguntar qual o motivo de tamanho alvoroço, mas foi interrompido.

– SIGA-ME! É UMA ORDEM, NÃO A QUESTIONE! – o garoto assentiu e o seguiu, e ambos desapareceram na névoa.

– Otto! Também iremos a catedral! - falou Emilly, logo que o Mestre desapareceu na névoa.

– Mas o Mestre mandou que ficássemos aqui e pegássemos a garota!

– Mas EU... - ela enfatizou - ...digo que iremos para a catedral!

Os empurrões na porta logo cessaram, Emma ouviu alguns sons de passos e logo o silêncio voltou a preencher a casa. Um silêncio um tanto suspeito! Um tanto mais calma e descansada, ela baixou a guarda da porta e dirigiu-se lentamente até a vidraria quebrada, a fim de ver o que se passava do lado de fora.

– AGORA OTTO! – gritou Emilly, ao ver o rosto de Emma pela vidraria e concluir que ela havia abandonado seu posto ante a porta.

Ambos jogaram-se, literalmente, contra a porta do sobrado com toda força que tinham antes que Emma pudesse retomar o seu lugar, levando a estante abaixo e escancarando a porta.

– Não acreditando que realmente tenha caído nessa... – Emilly entrou rindo, limpando de sua capa a poeira que a queda da estante levantou – Você não é muito inteligente, não é mesmo?

Emma permaneceu em silêncio, estática, parada, olhando para a garota.

– Que foi? Porque não manda eu ir me ferrar também? Ah... - ela fez um gesto, como quem acaba de lembrar de alguma coisa - Deve ser isso que as pessoas chamam de medo, não é mais tão brava sem estar escondida, não é? – Emma estava odiando ser motivo de piada e odiando ainda mais ver o medo desconstruir a imagem forte que sempre tivera de si mesma - O jogo acabou para você garota, porque não se rende logo e...

– Porque não se rende você?! – Emma sacou e engatilhou a arma, apontada para a cabeça da adversária.

Emilly parou no mesmo instante em meio a sala e levantou os braços, rendida. Achava que aquela história de estar armada da qual Emma falou era apenas um blefe para afastar os outros, mas obviamente estava errada.

– Que foi? – Emma riu com o canto do rosto - Ah... deve ser isso que chamam de medo.

– Não faça nada! – Emilly preveniu Otto, ao ver que ele se preparava para avançar sobre Emma – Não queremos que isso acabe em tragédia.

– Concordo plenamente... – Emma assentiu - Então porque não dá meia volta e finge que eu não existo?

Emilly permaneceu parada, negando claramente a proposta.

– Vou contar até três! Um...

– É nosso dever dar a vida por deus!

– Dois...

– Não deixarei você escapar. Prometi ao Mestre.

– Como quiser... – Emma apertou o gatilho.

“CLICK”. A arma estava sem munição. “CLICK”, “CLICK”. Emma ainda apertou mais uma ou duas vezes, esperançosa, mas nada aconteceu.

– Opa... – Emilly ironizou e riu da situação da garota.

– É... – Emma levou, sem que Emilly percebesse, sua mão paulatinamente a um pedaço de madeira solto sobre uma poltrona atrás de si e o agarrou. - OPA! – gritou, avançando sobre sua oponente, pronta para acertar-lhe violentamente.

A garota, mais rápida, agarrou a outra ponta do pedaço de madeira e o girou, jogando Emma sobre o corpo de Otto, que a agarrou.

– Me larga! – ela pisou no pé do homem e jogou sua cabeça contra o rosto dele, atordoando-o e fazendo-o soltá-la.

Sem ideias, Emma correu para as escadas e subiu para o primeiro andar, seguida de Emilly.

– EU vou atrás dela! Ela não vai a lugar nenhum mesmo. Você guarda a porta, caso ela tente alguma gracinha. – gritou desaparecendo no topo das escadas, Otto assentiu.

– Porque não para de correr?! – Emilly gritou.

Emma parou no meio do corredor e a olhou, pondo o cabelo do rosto atrás da orelha e limpando o suor do rosto com a manga.

– Otto está lá embaixo! Ainda que consiga me vencer, você não vai derrubá-lo. Viu o tamanho dele? Ele é enorme! Só está desperdiçando fôlego. Sem sua arma... ou melhor... armas... – ela referia-se ao pedaço de madeira que arrancara de Emma no andar de baixo e que agora o tinha em mãos - ... você está indefesa.

– Olha... Emilly... não é? Eu não tenho nada a ver com vocês, nem com esse culto, OK?

– Você entrou nisso quando adentrou Silent Hill. Não permitiremos que infiéis pisem sobre nosso solo e profanem nosso ambiente.

– Acredite, eu gostaria de estar fora daqui tanto quanto você gostaria que eu estivesse. Afinal, vocês estão procurando uma "Mãe" não estão?... – estava ofegante pelo esforço - Estão perdendo tempo aqui... Eu não sou essa Mãe, você mesma disse... Eu só... só quero seguir meu caminho... porque você não pode simplesmente me deixar ir?

– Tão patética... Implorando pela própria vida... quando nem deus quer salvá-la... - o olhar de Emilly foi de irônico a furioso em frações de segundos - A Ordem não pode permitir que infiéis atrapalhem nossos planos.

– Eu não quero atrapalhar ninguém! - Emma gritou.

– Nós preferimos ter garantia de que não vai! – a garota andou lentamente em direção a Emma, batendo o pedaço de madeira no chão compassadamente.

– DEIXA ELA EM PAZ! – alguém gritou.

Um vulto saiu rapidamente de uma das portas do corredor com uma espécie de bandeja de metal em mãos e atingiu Emilly pelas costas, com uma forte pancada na cabeça, fazendo-a cair de joelhos, prostrada.

– Você?! – Emma estava totalmente confusa, não sabia se dava lugar ao alívio ou ao choque diante do que viu: era a garota misteriosa, a mesma que havia ficado no Jacks.Inn, ou que pelos menos achava-se, até aquele momento, que havia ficado – O... o que... que você está fazendo aqui?!

Emilly levantou desorientada e, com as mãos sobre a cabeça, virou-se para ver seu agressor. Um sorriso psicótico abriu-se em seu rosto.

– Você... – ela gargalhou, muito desorientada, olhando para a menina – Te achei... Eu sabia que... estava... por aqui... – ela estendeu os braços para a menina mas caiu inconsciente aos seus pés, devido à violência da pancada.

Longos instantes de silêncio se passaram. Emma contemplava a cena totalmente perplexa.

– Mas o que diabos aconteceu?! – ela gritou, querendo ter ao menos uma ideia vaga do ocorrido.

– Emilly?! – Otto gritou do andar de baixo, ao perceber o alvoroço no primeiro andar – Emilly?! – ele gritou de novo, ao não receber resposta.

– Não importa! Temos que sair logo daqui. – com uma mão Emma apanhou o pedaço de madeiras das mãos de Emilly e com a outras agarrou o braço da menina, puxando-a.

Empunhando sua arma improvisada, Emma certou o rosto de Otto, que subia as escadas, jogando-o escada abaixo. Ambas saltaram sobre seu corpo caído ao pé da escada e lançaram-se rua a fora, correndo em meio a névoa.

– Como... como me achou?!

– Eu estava seguindo você!

– Desde de quando?

– Desde o Jacks.Inn!

– Desde o Jacks.Inn?!

– Sim, eu me escondi no porta malas do carro quando você entrou no quarto para pegar a chave.

– Então quer dizer... que o vulto na zona residencial, o barulho no porão... era...

– Eu, sim, era eu!

Emma pensou um pouco enquanto corria.

– Obrigado... – ela disse, um tanto sem jeito.

–Por nada... é isso que fazem os amigos. – ela sorriu.

– Eu... não sou sua amiga.

– É claro que é....

– Eu pus uma arma na sua cabeça e por pouco não te matei, que ótima amiga você tem...

– Mas você não matou, não é mesmo?

– Isso não quer dizer nada, também não matei aqueles desgraçados da Ordem...

– Não matou porque não tinha balas no seu revolver, mas teria matado.

– Como sabe disso?

– Eu ouvi tudo.

– E daí? Isso ainda não faz de mim sua amiga... Só sou grata por salvar minha vida, só isso!

– Como você quiser... aliás... porque estavam atrás de você?

– Eu sei lá. Não eram bem de mim que estavam atrás... era de uma tal de Mãe ou seja lá como eles chamem ela... espera aí... – Emma parou.

“Te achei... Eu sabia que... estava... por aqui...”, a frase de Emilly referindo-se à menina ecoava na mente de Emma.

– O que Emilly quis dizer com “Te achei...” quando te viu?

– Eu não sei... Nem conheço aquela garota.

– Interessante... – Emma cruzou os braços, tentando não expor as milhares de dúvidas que chegavam a ela naquele instante.

– Não vai dar outro chilique, vai? Porque sua arma está descarregada e não vai poder “atirar”... – ela fez aspas com os dedos - ... na minha cabeça.

– Não... não... eu estou bem...

– Ótimo. Vamos continuar andando, temos que ficar o mais longe possível daqueles malucos. – a garota partiu na frente enquanto Emma permaneceu parada.

– Não sabe e nem conhece, não é? – Emma sussurrou para si mesma para que a outra não a a ouvisse– Não importa quantas vezes salvou minha vida, garota, ainda não confio em você... Mas seria realmente ótimo, pra o seu próprio bem, que não tivesse nada a ver com isso.


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Notas finais do capítulo

Emma acha a chave da ponte levadiça na casa da Holloway Street. Porém, antes que de poder deixar o lugar, foi encurralada na casa pelos membros da Ordem. Após um longo desentendimento, Emma é salva pela garota misteriosa das mãos de Emilly, serva da Ordem, esta por sua vez, deixa brechas para que dúvidas entrem na mente de Emma sobre a veracidade do que a garota misteriosa diz sobre si mesma e sobre sua relação com a cidade.



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