Silent Hill: Sombras do Passado escrita por EddieJJ


Capítulo 24
Desavença no Pátio


Notas iniciais do capítulo

PS: Postei o último capítulo duas vezes, peço desculpas. O erro já foi corrigido. Obrigadinho. ^_^



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Emma levantou-se, após longos minutos de restauração da sua calma e controle, pôs suas roupas e arrumou seu rabo de cavalo. Engatilhou a arma e empunhou a lanterna: já tinha a chave e poderia sair dali.

O elevador, no entanto, não subira e ela precisava de um modo de chegar ao piso superior. Ela chegou a hesitar em tentar empurrar o corpo da criatura para fora mas a última coisa que queria era contato com aquilo. Olhando para o fosso escuro do elevador acima de si, Emma concluiu que a única maneira de sair dali seria escalando os cabos do elevador até o térreo, e assim o fez: passando esforçadamente por entre as grades do teto, ela agarrou o cabo de aço que sustentava o elevador, e começou a escalar. Emma nunca fora uma menina do tipo atleta, mas não era do tipo suave e frágil. Quando mais nova, era umas das poucas meninas, em sua turma de Educação Física na escola, que conseguiam realizar certas atividades, como corridas e escaladas. Por isso, não foi preciso mais que um pouco de esforço e tempo para que ela chegasse ao andar térreo, ela abriu a grade do fosso e pulou dentro do andar. Foi até a porta que levaria à saída e... o grande buraco onde Sebastian caíra lhe recebeu.

Ela relaxou os ombros e reclinou-se na parede olhando para o fundo do buraco, um pedaço de lençol rasgado ainda podia ser visto, pendurado na maçaneta. Uma lágrima rolou pelo seu rosto, contida com um movimento do seu braço.

Respirando fundo, Emma deu as costas ao buraco e voltou ao fosso do elevador, o jeito era escalar até o andar superior, onde havia deixado aquela criatura esperando da outra vez. Ela agarrou-se novamente no cabo e subiu, esticando o máximo que podia seu pescoço para ver, através da grade, se o ser ainda a aguardava: nada. O andar estava completamente vazio. Aliviada, ela abriu a grade e pulou dentro do andar.

Atravessando o corredor, Emma saiu, não sem antes examinar o ambiente, é claro, e andou o pátio até o quarto de Douglas, apertando cada vez mais a chave em sua mão. Ela olhou novamente para a fechadura e para a chave em sua mão: agora podia entrar. Ela engatilhou a arma e pôs a chave na fechadura, girando-a.

Um *click* pôde ser ouvido. Ao mesmo momento em que porta se destrancou, a realidade à volta de Emma voltou a mudar, mas dessa vez não estava se convertendo em algo triste e demoníaco, mas estava retornando ao normal. Assim como a pele reveste um corpo, pedaços de cinza apareciam gradativamente e revestiam as paredes, devolvendo, assim como haviam tirado, sua aparência normal. As grades enferrujadas nas ruas eram resvestidas dessas mesmas cinzas e ganhavam novamente o revestimento de asfalto. O céu antes negro e vazio voltava a sua cor normal e a escuridão foi sendo substituída por uma claridade confortante, as coisas que não pertenciam a realidade normal iam se desfazendo enquanto as que pertenciam ganhavam forma. Após alguns segundos de conversão, Emma olhou em volta assustada e não pôde evitar um sorriso ao perceber que a cidade havia voltado ao normal, isto é, abandonada e repleta de névoa, mas normal.

Ela voltou-se de volta para a porta, mais tranquila, e girou a maçaneta. Não havia nada nem ninguém no quarto, exceto os móveis. Emma entrou desapontada. Esperava encontrar algo grande e revelador que dissesse qual seria sua próxima parada.

– Hum... - ela pôs a mão no queixo enquanto examinava o quarto - Onde foi mesmo que ele disse que deixou os planos... - ela abriu a bolsa e retirou a pasta que Sebastian pegou quando chegaram ali e examinou as anotações - Escrivaninha...

A escrivaninha estava localizada no canto do quarto. Velha e apodrecida, a madeira com a qual fora construída parecia ter sobrevivido ao tempo por um milagre. Emma abriu uma pequena gavetinha e achou os papeis que a anotação citara e uma pequena chave. Por cima de todos, uma pasta amarelada, semelhante a que encontraram no carro, repousava, sobre a qual estava escrito: "Para minha querida Heather".

– Esse deve ser o tal "caderno revelador" que Harry deixou para ela... - disse, apanhando o caderno entre as mãos.

Emma sentou-se na cama e abriu a pasta, dentro, entre algumas fotos e papéis, estava uma extensa carta. Ela passou a ler.

"Heather, minha amada filhinha

Se está lendo esta carta então algo deve ter acontecido comigo, e muito provavelmente foi por parte da Ordem, o culto de Silent Hill. Através desta carta, querida, quero esclarecer algumas coisas sobre você, coisas sobre as quais nunca falamos abertamente, para que você saiba o que está enfrentando e achar um jeito de se cuidar. Bom, acho que o melhor a se fazer é começar do mais remoto princípio, há 24 anos atrás. Como você sabe, sua mãe e eu nunca conseguimos ter filhos, os médicos diziam que ela possuia uma rara doença que não podia lhe dar este prazer. Nossas vidas seguiram, mesmo com isso, porém certo dia, em uma viagem nos arredores de Silent Hill, recebemos um presente que mudou nossas vidas: um pequeno bebezinho jogado a beira da estrada que chorava desconsoladamente. Sua mãe e eu então pegamos a linda menininha e a criamos como se fosse nossa, seu nome era Cheryl. Cheryl infelizmente não chegou a conhecer sua mãe, pois ela morreu da doença que tinha e não pôde ve-la crescer. A partir daí, eu passei a amar a criança ainda mais, era tudo que eu tinha. Quando fez 7 anos, Cheryl e eu decidimos sair de férias e ir a Silent Hill: o erro que custou nossas vidas. Um acidente de carro fez eu me separar da Cheryl ela perdeu-se na cidade. Procurando-a, descobri coisas horríveis sobre a cidade e sobre a minha criança. Aparentemente a Cheryl era a peça restante para a consumação de um ritual que que traria o deus do culto à esse mundo, ela era a outra metade de uma pobre garotinha de apenas 14 anos, Alessa Gillespie, filha de Dahlia Gillespie, a líder do culto. De alguma forma, Alessa não poderia trazer o deus a esse mundo se não estivesse completa com Cheryl. Eu tentei com todas as minhas forças salva-la, mas não consegui... Dahlia pegou minha Cheryl e a juntou de volta em Alessa, completando-a. Eu vi tudo. A Alessa completa transformou-se em uma linda mulher brilhante e vestida de branco, a quem Dahlia se referiu como "Mãe de Deus". Eu, no entanto, por meio de uma substância totalmente nociva ao deus, também chamada Aglaophotis, abortei o deus de sua mãe e ela deu a luz ele prematuramente. Dahlia riu e falou que sua missão estava completa, pouco antes de ser queimada e morta pelo próprio deus. Como ainda não estava na sua forma definitiva, eu pude matá-lo e dar um fim àquele pesadelo, a cidade também pareceu sofrer com a morte do deus, pois começou a chover fogo. A "Mãe de Deus" chamou-me e de alguma forma ejetou-se de seu corpo em um novo para não morrer na cidade, no corpo de um bebê, que me foi dado. Eu então fugi, e criei esse novo bebê. Ele era você, Heather. Eu, ingenuo, achei que tudo havia acabado. Nós vivemos anos de paz e tranquilidade, mas, quando você tinha 9 anos, o passado voltou para nos assombrar. Lembra daquele homem que tentou sequestrar você? Aquele que eu matei e aleguei legítima defesa para a polícia? Ele era não era um simples sequestrador, ele era um membro da Ordem enviado para te levar de volta à Silent Hill. Foi quando eu me toquei: você ainda é a completa, você é Cheryl, e Alessa, e a "Mãe de Deus", e por causa disso o culto te quer de volta, por causa disso eles nos perseguem, por causa disso vivemos essa vida de fugitivos que eu sei que nunca te fez feliz como deveria. E agora... eu preciso que você corra. Se me pegaram não quero que venha atrás de mim, apenas corra, meu amor. Eles querem você e eu te protegi o quanto pude, agora você deve decidir o que fazer, você deve dar um jeito na sua vida. Você é tudo que eu tenho. Você é tudo o que importa. Você é minha filha e nada vai mudar isso. Adeus, Heather. Eu te amo.

Papai..."

Emma fechou a pasta lentamente.

– Pobre Harry... morreu para proteger a filha... - ela disse, apertando a pasta com força - Mas no que foi que essa Heather se meteu?... - Emma deitou-se de costas na cama com os braços abertos - Então esse culto é mesmo real?... - ela pensava consigo mesma enquanto olhava o ventilador de teto empoeirado no teto, sobre a cama. - Essa Claudia das anotações... vingança de 17 anos... o sequestro... - ela ligava os pontos - Ela deveria fazer parte do culto... e usou Douglas para trazê-la aqui... mas como ela pôde ter coragem de vir aqui depois de ler isso?

Ela levantou-se e pegou um outro papel, ela reconheceu a escrita: era de Douglas. Ela começou a ler.

"Não fazemos ideia de como encontrar Claudia, não existe ninguém nessa maldita cidade. Eu desistiria de procurar se não devesse isso a Heather. Decidimos então nos separar, Heather irá ao Hospital Brookhaven, eu irei ao Lakeside Amusement Park, um antigo parque de diversões da cidade. Esses pontos se encontram nos dois extremos dessa zona da cidade, teremos a oportunidade de passar por vários lugares e ter uma abrangência maior na procura. Apenas descansaremos um pouco da viagem exaustiva e depois vamos nos por a caminho."

– E esse o "plano"... - ela disse - Muito bem... Lakeside Amusement Park, não é? - ela abriu o mapa e viu que não ficava tão longe dali, cerca de 10 minutos de carro, passando pela ponte que atravessava o lago chamado pelo mapa de Toluca.

Pondo a pasta e o papel na bolsa de couro, Emma levantou-se da cama e limpou a poeira que sua roupa acumulara no pouco tempo que passou ali. Indo em direção a porta, a garota ouviu um assovio vindo do lado de fora. Ela parou. Quem poderia ser? Milhões de ideias passavam pela sua cabeça. Ela apertou a arma em sua mão e a apontou para a frente, com a outra mão ela girou a maçaneta, abrindo a porta.

– Emma! - uma voz suave e calma exclamou seu nome.

Era a tal garota sem nome. Reaparecida, assoviava tranquila sentada no capô do carro de Douglas, onde Sebastian quase fora morto.

– Você... - Emma pronunciou essa simples palavra rangendo furiosamente os dentes - Você! - ela falou em um tom tão intimidador que fez a garota parar de assoviar e olhar tensa para seu rosto.

– Emma... o que... o que houve?

– Você! - Emma se aproximava com passos violentos.

A garota levantou -se.

– Emma, por que está chateada... eu... fiz algo de errado?

– Errado?! - Emma ergueu a mão e socou o rosto da garota, que caiu de costas na terra do pátio. - Você deve ser a responsável por tudo que aconteceu de errado aqui!

– Emma, calma!

– Já tive paciência demais! - ela disse, avançando novamente sobre a garota.

A garota levantou com a mão no rosto, assustada.

– Seb... Sebastian!!! - ela gritou, olhando para o quarto de onde Emma saíra, na esperança de que o rapaz também estivesse lá dentro, para socorrê-la.

– Ele morreu!! - ela gritou; os olhos da menina se arregalaram - E a culpa... - ela a agarrou pela gola do moletom - ... é sua! - Emma a jogou a garota em terra novamente - Se não... tivesse gritado feito uma louca e... e... trazido a... droga daquele inferno... ele ainda estaria aqui!

A menina permaneceu imóvel no chão.

– E eu... - Emma continuou - ... tem... tem uma coisa lá embaixo que... tentou me matar!!! - ela apontou para o prédio principal da pousada.

– Ele... morreu...? - a garota perguntou perplexa, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir.

Ela levantou-se do chão, de costas para Emma, expondo um detalhe que chamou a sua atenção.

– Ei... - Emma apontou para a parte posterior do pescoço da menina - O que... o que é isso?

Emma não havia percebido por causa dos longos cabelos da menina, mas naquele momento, enquanto ela se levantava do chão, um estranho símbolo fora revelado, gravado na parte de trás do seu pescoço.

– Por que você está fazendo isso comigo Emma?

– Responda! O que é isso?!

– Isso... Isso o quê?

– Atrás do seu pescoço? - Emma virou a menina e jogou seus cabelos por cima do ombro.

Uma estranha gravação circular estava marcada na menina, Emma passou a mão sobre o símbolo e teve certeza: havia sido gravado com fogo, ferro quente, para ser mais exato.

– O... o que tem aí? - a menina perguntou.

– Você é mesmo uma vadia... se fingindo de inocente... - Emma acertou um golpe com a arma na cabeça da menina que caiu no chão, gemendo de dor.

– O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?! - a menina começou a chorar, amedrontada.

– É isso que eu pergunto a você!

Silêncio.

– Você faz parte do culto... Tem que fazer... Isso aí não parece menos que uma prova fanática de devoção...- Emma havia reparado que aquele não era o mesmo símbolo que ela viu no chão da casa da floresta ou na foto do hospital, o mesmo referido ao culto. Mas para ela, aquilo não podia possuir outra explicação.

– ISSO O QUÊ?!

– Essa marca atrás do seu pescoço! Vai me dizer que você nasceu com ela, ou melhor, que simplesmente não se lembra do seu aparecimento?

A menina passou a mão sobre o símbolo e sentiu as marcas na sua pele.

– Mas eu... eu não me lembro... - ela disse, ajoelhada, tentando convencer Emma de tal verdade.

– Acho que já deu pra mim...,

– O que quer dizer?

– Quero dizer que vou te dar três segundos. E depois desses três segundos, você vai me dizer seu nome, quem é você, o que é isso no seu pescoço e o que está fazendo aqui.

– Emma...

– Um... Dois...

– Emma, me escuta.

– Três. Pode falar.

– Emma, eu não sei... eu não posso responder, tudo que me lembro é de ter acordado aqui!

– Quero dizer que é uma pena mas... não consigo acreditar em você. - ela sorriu ironicamente - Acho que nem você pode ser tão idiota.

– Mas... mas Emma!

Emma apontou a arma para o rosto da menina.

– Sabe... embora aparente ser inocente e atue muito bem nesse papel... você trouxe uma porção de problemas depois que chegou... como seus surtos estranhos... como aquela realidade estranha, dentro da qual você sempre some, não é mesmo...? como a morte de Sebastian... e eu, realmente, gostaria de te deixar viva... de acreditar que você não faz parte disso, mas você não está ajudando. E eu quero me certificar de que isso vai parar...

– E... Emma... - a menina fazia que não com a cabeça.

– Adeus... - engatilhou a arma - Seja você quem for...


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Notas finais do capítulo

Emma abre o quarto 206 com chave que conseguiu na cozinha e a realidade volta ao seu estado normal. No quarto, ela acha o caderno revelador deixado para Heather por seu pai e um comunicado de Douglas, no qual ele diz estar indo para o Lakeside Amusement Park. Emma decide ir para lá, mas na saída reencontra a garota misteriosa que desapareceu quando a cidade foi imersa em trevas, elas discutem e Emma decide matá-la se ela não conta-la toda a verdade.



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