Tudo estava escuro e ninguém atendia. Mas eu sabia que ela estava lá, não havia outro lugar. A porta estava aberta e nós entramos. Aquilo parecia cena de filme de terror, a casa escura, o vento forte tentando quebrar a janela...  Assustador.

 Subimos as escadas e ouvimos um ruído.

 - O que foi isso, Su? Eu to ficando com medo!- Bill disse agarrando minha blusa.

 - Calma deve ser só, sei lá... O Jason... O Fred Krugger.. Esse povo todo aí...- Ele apertou minha blusa ainda mais e eu ri.

 - Você não ta com medo?

 - Claro que eu to! E se a gente ta com medo, imagine a Nadine... Sozinha.. Com a Samantha, a Yakako, ou o Toshio... Ai, tadinha dela!

 - Não fala assim, ou eu morro...- Percebi que ele havia ficado triste com a brincadeira, então resolvi parar de rir. Ouvimos outro ruído, dessa vez mais grave vindo da última porta. Entramos e Nadine estava amarrada na cama, sem a camisa, amordaçada e chorando.

 - Nadi!- Bill gritou e foi soltá-la. Livrei a boca dela e peguei sua camisa.- O que aconteceu?

 - Bill! Eu não queria, Bill! Eu... Ele me obrigou!- Ela chorava desesperada abraçada a Bill. Passei a mão em seus cabelos.

 - Quem te obrigou? O Gustav?- Perguntei ajudando-a a vestir a blusa. Pelo jeito, ela estava fraca, já que não conseguia se mexer direito e estava muito pálida. Parecia que ficou o dia inteiro sem comer.

 - Não, Su, não foi ele! Não foi ele! Foi o...- Ela desmaiou de tão fraca que estava.

 - Como nós vamos tirá-la daqui?- Perguntei assustada com a possibilidade de sair na rua carregando alguém desmaiado nos ombros.

 -Liga pro Tom e pede pra ele vir ajudar a gente.- Liguei e em menos de vinte minutos ele já estava lá.

 - Espero que tenham um bom motivo pra me tirar da cama a meia noite.-Disse ele bocejando.

 - A Nadi foi... meio que... sequestrada ... E a gente não pode carregar ela. Somos fracos.- Bill disse não querendo admitir.

 - Eu falo pra você se alimentar, Bill Kaulitz! Praticar esportes... Mas ninguém me ouve!- Tom colocou Nadine em seu ombro como um saco de batatas e desceu as escadas correndo.

 - TOM! TOMA CUIDADO!- Gritei. Ele se virou e bateu o corpo da menina com tudo na parede.

 - Fica calma, Suze!- Ele colocou-a deitada no carro e Bill foi atrás com Nadine. Arrependo-me de ter escolhido shorts. Sentia o olhar de Tom em minhas pernas.

 - Hãan?- Nadine acordou e se assustou.

 - Nadi, que bom que você acordou! Agora diz: Quem te fez aquilo?- Perguntei.

 - Aquilo o que?- Ela perguntou se levantando e olhando em volta.- Quem são vocês? O que eu to fazendo aqui? Qual é meu nome mesmo?

 - Nadi, meu amor, você não lembra da gente?- Bill perguntou carinhosamente.

 - Meu amor? Quem é você?- Ela se afastou de Bill como se estivesse com medo e gritou para que a deixássemos em paz.

  - Ela perdeu a memória?- Tom perguntou como se não fosse óbvio. Olhei pra Bill e seus olhos estavam cheios de lágrimas. Eu não me conformo em quanto a Nadine já o fez sofrer, mesmo que inconscientemente, e ele continua fazendo tudo por ela.

 - Cadê ele? O que vocês vão fazer comigo? Cadê o Gustav?- Bill e eu paralisamos. Ela só se lembrava do Gustav? Nem de mim, que sou melhor amiga dela, nem do Bill, que ela gosta de verdade.

 - Primeiro: O Gustav não está aqui, e nem vai aparecer por um bom tempo! Segundo: Estamos indo pro hospital!- Disse Tom bruscamente, fazendo Nadine se encolher no banco. Dei um tapa muito forte em seu ombro e ele sorriu pedindo desculpas. Fomos para o hospital e Bill ficou com Nadine fazendo exames. Fiquei com o Tom na sala. A minha sorte é que eu consegui a blusa da Nadine emprestada e pude cobrir as pernas.

 - Então... Estamos maqui... Sozinhos, num hospital...

 - Tom, nem vem! A Nadine ta lá fazendo exames, perdeu a memória, seu irmão ta super triste com isso, e você só pensa em sexo?

 - Quer que eu pense no quê? É a única coisa que eu sei pensar!Ah, fica quieta.- Ele tirou o casaco de Nadine do meu colo, se deitou e se cobriu com blusa.- Da pra você fazer carinho em mim, Suzana? Ou ta difícil?

 - Grosso! Folgado!- Coloquei a mão em seu rosto e comecei a acariciá-lo delicadamente. Em menos de cinco minutos ele já estava dormindo. Peguei o celular e olhei no relógio. Uma hora da manhã. Era a hora de ligar para meus pais, mãe de Tom e Bill e pais da Nadine.

 Após ligar para todos e explicar em que ala do hospital nós estávamos, além de fazer a mãe de Nadine desmaiar, suspirei e peguei no sono.

 - Suzana acorda!- Me acordaram uma meia hora depois. Olhei pras três figuras a minha frente e dei um muxoxo de raiva.

 - Cadê ela?- Minha madrinha, a mãe de Nadine perguntou chorando.

 - Ela ta naquela sala ali.- Apontei para a esquerda. A mãe de Tom o acordou e mandou que ele sentasse, me pedindo desculpas. Lutei para não olhar para Nanda, mas não consegui. Ela me olhava com tanto ódio, que eu enxerguei minha mãe me espancando.

 - Quer dizer que deu pra fugir de casa agora?- Abri a boca pra responder, mas ela ergueu a mão e fechei os olhos esperando o pior.- Eu não estou brava com você por que fugiu, eu também fazia isso! Estou brava por que nossos pais me ligaram e acabaram com um momento perfeito!

 - Ah, vocês estavam... Desculpa, não sabia!

 - Não! Eu acabei de contar pro Gab que estou grávida!- Olhei bem pra ela sem acreditar. Bebê? Abracei-a mais não pude sorrir. Por que minha melhor amiga não lembrava de mim, e por que eu estava dormindo com Tom em meu colo e fui atrapalhada.

 Um médico apareceu com Bill e minha madrinha atrás dele chorando. Fiquei com tanta dó de Bill, com a maquiagem toda borrada, que meu coração amoleceu e tive que me segurar para não chorar. Meu anjinho, sofrendo com o anjo dele.