-TONIGHT MY HEART´S SOME LOSE... PAM RAM PAM PAM PAM.

Nico e eu caímos no tapete fofinho da minha sala de estar, ofegantes e ainda com o microfone na mão, esperando a nota do karaokê.

-SUA NOTA FOOI... - a voz metálica do aparelho exclamou- TRÊS... MAIS SORTE DA PRÓXIMA VEZ!

-Ah, cara, três?! – Nico perguntou, indignado enquanto eu ria da sua careta. - Como três?

-Fala sério, Nic. Você imitou a bateria e eu a guitarra ENQUANTO cantávamos. Três foi uma vitória.

Ele riu, deitando-se ao meu lado de novo, pegando uma mecha azul do meu cabelo.

- Sabe, eu não passei aqui só por acaso...

Respirei fundo, aguardando suas próximas palavras. Desde que eu me mudara de Nova York não havia conversado muito com Nico. Apenas palavras casuais, como se tudo que eu tinha vivido com ele me deixasse... Constrangida? Bem, eu sabia que tinha sentimentos mais fortes que de um amigo por ele, mas sempre consegui guardar isso. Meu maior medo era Nico descobrir e a nossa amizade ficar, no mínimo, estranha. E era o que parecia estar acontecendo agora.

Tentei não pensar nisso.

-É claro, Gasparzinho. Ninguém vai de Nova York até Londres por acaso, ainda mais com uma nevasca dessas.

-Ha ha, Cara de Pinheiro. Bem, sabe quando eu era mais novo?

Franzi as sobrancelhas.

-Sim?

Nico riu nervoso.

-Bem, quando eu era mais novo e tals, eu meio que tinha uma queda por você, sabe?

-E você veio a Londres falar isso? Bem, a maioria das pessoas tem uma queda por mim, Nico. É normal.

-Meus deuses, Grace, você vai me deixar falar?

Fechei minha boca com um zíper imaginário.

-Bom. Eu... Eu entendo que você ficou machucada por causa do Luke e, bem, eu tentei te consertar, tentei te colocar pra cima.

-E conseguiu- sussurrei, pegando sua mão, enquanto um sorriso se espalhava por seu rosto.

-É, consegui... Sabe, no começo eu achava que consegui te ajudar porque eu sabia o que era ser solitário...o que era ter medo de se decepcionar de novo. E, depois, eu soube que não era nada disso. Era porque você estava me consertando também, com cada sorriso e cada barreira que vencia... Eu estava sem amargura, mas sem amor também. E, dentre todas as coisas que eu fiz, missões que eu completei, inimigos que eu derrotei, a mais considerável, a mais nobre... É amar você, Thalia.

-Nico...

-Eu sei, é muita coisa pra digerir, mas eu...

Atirei- o ao chão, pressionando meus lábios contra os dele. Nico me amava, e essa era a única coisa que importava agora. Ele segurou meu rosto entre as mãos, seu hálito de menta estava toda parte e a pele fria me esquentava mais do que o casaco que eu usava agora, maios do que a lareira... mais que tudo.

-Eu te amo também, Nico. Há muito tempo, mas eu tinha medo de que nossa amizade estaria, sabe, comprometida.

-Eu também pensei nisso. Mas podemos derrubar e montar de novo.

-Como uma casa de lego.

-Como uma casa de lego- ele concordou.

Sorri e me aconcheguei a ele. Antes de fechar os olhos, vi a neve de dezembro, cair pela janela. Meu sorriso se alargou . Agora eu tinha Nico para me aquecer, não só por fora, mas por dentro também.

I think I love you better now