O tempo... Algo que não se pode parar, não podemos controlá-lo, a não ser se você for um determinado titã, é claro. Mas não é meu caso. Sou uma caçadora de Artemis, tenho meu juramento com ela, mas isso nunca me impediu de estar na compania do meu irmão mais novo, Nico di Angelo.

Eu ainda lembro dele brincando de Mitomagia... Ele sempre acalmou meu coração com aquela inocência, acho que pelo menos até o dia em que descobrimos o mundo dos deuses gregos – e mais tarde dos romanos – quando isso ocorreu, ele ficou mais fechado, principalmente quando aceitei me juntar a caçada.

Sobrevivi há várias loucas aventuras que se eu contasse para alguém na rua, me chamariam de drogada, mas é a mais pura verdade. Sempre que possível eu ia até o Acampamento para ver meu irmão e nós compatilhavamos várias loucuras que ocorriam conosco.

Mais tarde, quando a profecia dos três grandes havia acabado, assim como as do sete. Nico estava como um dos heróis, eu estava bem orgulhosa dele por ter ajudado Reyna. A festa de comemoração estava ocorrendo, aproveitei que Nico não gostava desse tumulto e fui para seu chalé atrás dele.

– E aí, maninha?! – ele disse contente em me ver, então começou a me analisar.
– O que foi? – perguntei estranhando seu olhar sobre mim.
– Eu estou da sua altura! – ele disse demonstrando com a mão no ar que se igualavam indo de uma testa para a outra.
– Finalmente, ein! – digo brincando.
– Finalmente mesmo! Não tem ideia do quanto esperei por esse dia! – ele disse animado e eu caí na gargalhada – N-Não ria tanto assim! – ele disse com certa vergonha.
– Desculpa, não resisti.

Conversa vai, conversa vem, ele chegou em um assunto que ele parecia estar ansioso para chegar, fazer missões comigo.

– Bianca, a eternidade é muito tempo. Eu não passarei nem um terço dela com você. Eu quero passar o máximo de tempo que eu puder com você, para você ter boas memórias depois que eu morrer. – ele disse aquilo com os olhos fixos nos meus.
– Mas... Você pode morrer durante a missão... – digo tristemente e com o tom de voz bem baixo.
– Eu sei. – ele sorriu – Mas teremos criado boas memórias, não é? E você também pode morrer, mas ao menos nossa última visão será nosso irmão.
– Você não é um filho Atena, né? – nós rimos.
– Não se preocupe, eu sei que tenho qualificações para isso, mas não sou! – ele disse “modestamente” e logo caímos novamente na gargalhada.

Desde aquilo, nós fizemos mais e mais missões juntos. Momentos divertidos, momentos problemáticos e difíceis, segredos compartilhados. Nós eramos praticamente o diário de confissões um do outro também. Uma vez ele me contou que outra razão para querer estar longe do Acampamento, era porque gostava de alguém que gostava de outra pessoa e tinha inveja da pessoa que podia ficar com essa que ele gostava.

– Ein, você já gostou de alguém? – ele perguntou enquanto comiamos umas frutas que compramos em uma feira.
– Eu sempre fiquei focada em proteger você, então, a resposta é não. Sem contar que nós estavamos bastante focados em jogos de um cassino.
– Bem, isso é verdade... – ele respondeu sorrindo, um sorriso que ele só mostrava para mim.
– E você?
– Eu o quê? – ele perguntou fingindo não entender.
– Gosta de alguém?
– Acho que sim, mas essa pessoa nunca vai me corresponder.
– E quem seria?
– Percy Jackson. – eu devo ter feito a maior cara de espanto, porque ele ficou super bravo e vermelho – T-Tira essa reação do rosto!
– D-Desculpa... – sorrio torto – Mas ele está namorando a Annabeth, não é?
– Por isso mesmo que eu não gosto de ficar lá. Eu sei que eles estarão agarradinhos.
– Você sempre sentiu ciúmes da Annabeth, né?
– Não sei do que está falando. – ele diz terminando uma maçã.
– Sabe sim! – bato na cabeça dele de leve e levo um olhar de reprovação – Fico feliz que sou de confiança o suficiente para você poder dizer isso.
– Isso irá morrer com você, certo?
– Certo. É uma promessa que eu juro pelo Rio Estige.

No fim, descobri que esse segredo iria morrer comigo e com o filho de Júpiter, Jason Grace.

A altura dele foi aumentando mais, sua voz também mudou, ele havia se tornado um homem bonito, porém, nunca ficou com ninguém. Ele disse que nunca se interessou por ninguém, eu sempre discutia com ele por isso, porque era divertido, mas ele sempre respondia:

“Eu pretendo passar a minha vida na compania da minha irmã, e realmente não me interessa a ideia de ter uma vida diferente dessa.”

Eu lembro, que eu sempre contava algumas loucuras da caçada rindo e ele não expressava nenhuma reação, eu ficava chateada, mas ele sempre ria dizendo:

“Você realmente odeia que te ignorem”

E eu sempre caia nessa...

De repente eu vi o primeiro fio de cabelo branco no meio de uma cabeleira preta.

– Nico! Você está com um fio branco! Deuses, como você está velho! – digo brincando.
– Se você não tivesse feito certo juramento, você estaria pior! – ele disse bagunçando meu cabelo e eu tive que refazer minha trança.

Aqueles fios brancos só foram aumentando, para minha tristeza, e quando eu me dei conta, ele estava em uma cama de hospital, nos seus oitenta cinco anos, ligado a fios que o ajudavam a se manter vivo, eu pedi permissão a Lady Arty para passar os útimos dias do meu irmão ao seu lado, ela permitiu sabendo do meu sofrimento. Eu passava o dia inteiro ao lado dele, ele costumava me pedir que lesse algum livro para ele, apenas para distrai-lo.

– Fim. – digo fechando o livro.
– Foi uma boa história, “neta”. – ele diz brincando.
– Você realmente gostou desse negócio de eu ter de passar por sua neta, né?
– É um ideia interessante. – ele murmura.
– Nico, quanto tempo você acha que tem de vida?
– Não sei, mas...E se eu morresse hoje a noite?
– Lamentaria sua morte, mas infelizmente, eu preciso seguir em frente.

E de repente, as lembranças de quando ele queria começar a fazer missões comigo preencheram minha mente.

– Vejo que alcancei meu objetivo. Lembra do que eu disse?
– “ A eternidade é muito tempo. Eu não passarei nem um terço dela com você. Eu quero passar o máximo de tempo que eu puder com você, para você ter boas memórias depois que eu morrer.” – repito lembrando.
– Isso mesmo. Espero que eu tenha alcançado esse objetivo... – abraço ele.
– Sim, Nico. Você alcançou. Eu nunca vou esquecer essas memórias que tenho de e com você. – digo começando a chorar.
– Isso soa como uma música para meus ouvidos. – nós rimos em meio a lágrimas.

Quando eu fui embora do hospital, não imaginava que ele pretendia partir naquela madrugada.

Agora ele está sendo enterrado e aqui estou eu entregando flores a seu túmulo.

– Obrigada pelas ótimas memórias, Nico. Lembre-se, você será meu único pequeno irmãozinho. – sussuro para o vento que carregou cada letra para o fim do horizonte.

“Mas lembre-se, Bianca. Somos filhos de Hades, ainda poderemos nos ver de vez em quando. Eu estarei te esperando para sermos irmãos novamente. Em uma próxima vida.”

Essas foram as últimas palavras que ele disse antes de eu realmente deixar aquele hospital com ele com vida.

Eu ainda tive uma longa vida até morrer em uma missão. Quando eu senti que estava prestes a morrer, eu lembro de ter visto todo o meu passado em um piscar de olhos e a deusa a quem servi me dizer:

“Tenho orgulho de você,minha guerreira.”

Talvez ela tenha dito mais alguma coisa, mas eu realmente não lembro, eu estava bem atordoada de partir naquele momento para o submundo.

Agora? Eu e Nico estamos partindo para uma nova vida, novamente como irmãos. Talvez seja nosso destino sermos melhores amigos de sangue. Não sei..., mas de uma coisa eu tenho certeza. Eu vou criar mais memórias inesquecíveis ao seu lado, novamente.