行かないで escrita por hidechan


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

Título: Não se vá [ikanai de]- Um drama rápido, senti muitas saudades do meu OTP então vim aqui ♥, mas, mais do que isso, sentimentos reais de uma situação que me deixa muito angustiada.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/483734/chapter/1

– Ah, Matt, não se esqueça de fechar a janela da cozinha se chover, hoje o dia promete... _olhou de canto a vidraçaria da sala _estou indo _emendou ao não receber mais do que um resmungo do outro, devido sua atenção ao vídeo game.

O loiro deu um suspiro e girou os calcanhares, iria voltar em breve mesmo, não precisava se importar com despedidas.

“Um sorriso de canto para a mão estendida timidamente, a respiração calma contra os olhos assustados... e fomos assim que nos conhecemos. Mello e eu”.

Braska era o nome que o ruivo parecia ter lido momentos atrás, num katakana quase ilegível devido ao tamanho da tv. 30 polegadas de um modelo antigo, não era muito, mas Mello julgou o suficiente para os jogos que tanto roubavam o outro de si.

Jogos chatos que limitavam seu tempo juntos! Menos quando resolviam transar, pelo menos isso não fora afetado pelo vício.

Matt alcançou as cegas sua xícara de café, depois de quase 9 horas jogando Final Fantasy X, estava exausto e a cafeína de fato era um bom estimulante. Não deixaria Tidus sozinho agora, precisava matar aquela coisa para ser feliz também! E com uma última combinação de botões, colocou ponto final.

– ...ew, que alívio! _relaxou o corpo no tapete, mas não tirou os olhos da tela até a cena final dar espaço para o letreiro.

“Primeiro vinha os estudos, depois as brincadeiras, depois os amigos. Não me lembro bem quando a ordem inverteu... quando será? Uh, Mello?”.

O Playstation foi desligado com um delicado “esticar de dedão” ao botão frontal. Agora deitado, ainda no chão e com os olhos fechados, parou para descansar a visão. Não tinha percebido até então, mas estava frio naquela tarde de sábado, além disso um vento gélido entrava pela janela da cozinha fazendo ranger a porta de madeira. Resmungando, se arrastou para o cômodo vizinho a fim de abater sua fome e parar com aquela corrente de ar, antes de morresse de verdade – afinal, asma também fazia parte da sua extensa lista de doenças acumuladas durante os anos.

Pão, manteiga e pasta de amendoim. Mais uma dose de café com porção extra de açúcar. Janela fechada e trancada. Matt de volta para sala.

– Isso que é o que temos para hoje... _resmungou para o nada procurando seu celular, acionou o botão lateral para ver as horas.

O pão em sua garganta desceu rasgando ao constatar que passavam das 23 horas.

“A vida seguia de forma tão livre, que logo estávamos morando num pequeno apartamento aos arredores de Londres. Você e eu, juntos todos os dias. Acho que nunca tivemos um banquete ou taças de champanhe desde então, mas... bom, quando se tem vontade de viver, qualquer lugar se torna o paraíso”.

A primeira reação, lógico, foi ligar para o celular de Mello, mas como se aquilo já fosse esperado, a ligação fora direto para a caixa de mensagens. O ruivo mordeu um pedaço da unha.

– Ele saiu... uh, ainda estava claro _disse consigo mesmo _fiquei nove horas jogando... ele saiu umas quatro da tarde _fez os cálculos rapidamente.

A segunda reação foi tentar lembrar o que o outro ia fazer fora de casa. Trabalho? Não, hoje era sábado e a loja estava fechada. Mello odiava trabalhar na loja de armas daquele irlandês, jamais faria horas extras. Então, comprar alguma coisa? Talvez, mas o que? Com certeza nada que demorasse mais de sete horas, eram pobres afinal. Viajar? Uh... Matt, não viaje você; se lembraria se fosse algo importante assim.

– O que eu faço? _fez um bico amuado, nem mesmo tinha como rastrear aquele celular antiquado.

Andar de um lado para o outro não era exatamente a sua terceira reação, porém, sair por ai a procura de Mello sem fazer a menor ideia de sua localização parecia ser bem mais idiota. O loiro sabia se cuidar, era um homem de 25 anos – poxa! – de cara amarrada e armado até os dentes.

Alguma boca de fumo, talvez uma entrevista de emprego de ultima hora, um bar barato com litrão na promoção, vadias e um motel barato – arg... isso não! – e aos poucos iam aparecendo várias opções plausíveis. Sim, estava sendo tolo em se preocupar.

“Os pés desajeitados do ruivo tentavam acompanhar a valsa de Mello, da mesma forma, horas mais tarde, a vista semi cerrada do loiro estava concentrada em procurar o personagem do outro na pequena tv no call of duty. Eu te amo, Matt repetia a cada tiro errado, tirando o outro do sério”.

Matt se acomodou no sofá e ligou a tv, qualquer coisa era melhor do que ficar olhando pela janela, pelo menos não começara a chover. No noticiário, apenas algumas informações repetidas e logo o mesmo pegou no sono.

Por que há quem acredita que dormir é remédio para tudo.

A noite passou cheia de pesadelos, pesadelos aumentados pela preocupação que resultaram numa intensa dor de cabeça. A madrugada não fora agradável, acordou duas da manhã para verificar se Mello chegara – nada – e tomar aspirina. Acordou as três e meia para ir ao banheiro. Acordou as cinco em ponto, assustado, tateando o colchão de casal. Acordou de vez, as sete e quinze, agora a ponto de chorar.

– Não faça isso sei imbecil, babaca, filho da puta! _xingou alto, batendo o punho contra a parede da sala.

Matt deixou um bilhete simples sobre a mesa: “Saí para te procurar, se voltar, me espere em casa”.

Vestiu o casaco habitual e saiu. Ficar em casa também era tão idiota quanto sair, então iria tentar a outra opção mesmo.

As mãos ficaram o tempo todo cerradas dentro do bolso da blusa, os olhos verdes paravam vez ou outra em algum boteco de esquina e porta de motel barato. Ele não queria admitir para não instalar auto pânico, porém as horas corriam e nada de seu amado.

Aquela aflição estava o matando!

– Com licença _adentrou a loja ao lado da que Mello trabalhava _a loja de armas ao lado abriu ontem?

– ...não, só abre de segunda a sexta _respondeu a moça do balcão _quer um café? Temos almoço hoje por 11,90, parmegiana _emendou com tédio.

– Não obrigado... você por acaso viu um homem loiro... sabe, cabelo Chanel, o que trabalha-

– Pois não, senhor? _interrompeu o ruivo atendendo o cliente atrás do mesmo.

– Obrigado _resmungou, por isso e outras, detestava sair de casa. Por que todos eram tão mal educados?

“Eu nem sou tão feio, ou mal vestido” _pensou_ “aliás, eu sou BEM bonito”.

Matt tentou em algumas padarias nas ruas acima, alguns bares nas ruas abaixo; bom, não parou nos motéis por bom senso. Quando o sol ameaçava esconder, girou os calcanhares e se pôs de volta para casa.

“Consegui um emprego na loja de armas, pelo menos entendo do assunto... melhor do qeu uma farmácia ou padaria _Mello fez uma careta _mesmo assim, detesto trabalhar. Ri baixo do seu comentário, apesar disso também precisava arrumar alguma forma de ganhar uns trocados, talvez fizesse algo pela internet mesmo. Deixamos o assunto de lado, lembra Mello? Foi a nossa primeira noite no apartamento”.

O prédio tinha seis andares, sem elevador, demorou mais de 15 minutos até chegar no número 51. A maçaneta girou em falso, procurou as chaves no fundo do casaco; Mello sempre abria a porta para si quando estava na sala... isso significa que seu desespero continuaria.

O bilhete estava na mesma posição de oito horas atrás. Apenas com o café da manhã no estômago, caçou um pacote de bolachas para amenizar a dor incomoda – a essa hora, ontem, ainda estava jogando e seu mundo era feliz.

Mais uma vez Matt ligou a tv e consultou o celular, em 20 minutos, novamente seriam 23 horas, agora do domingo.

Os pensamentos viajaram lhe escapando do bom senso; o sentimento de estar só, então seria assim caso Mello morresse antes de si? O que faria de sua vida, agarrado a tristeza? Faria dela sua companhia. As cicatrizes seriam então suas medalhas de guerra.

“Isso não faz... o menor sentido” _fechou os olhos, agora se entregando ao desespero.

E então as lágrimas vieram, como uma criança, como a muito tempo não chorava. E ele não queria entender o porque de tantas, só queria chorá-las.

“O céu, o mar, as mãos dadas e pés na areia. Andar na praia é tão clichê quanto o nosso amor... mas quem liga? Eu te amo, amo tanto... mesmo essas palavras parecem tão banais para o que sinto. Mello”.

– Ei, por que está chorando? Perdeu no jogo é?

O susto e preocupação vieram mascarados pela frase divertida, Mello deu passos largos em direção ao outro e agachou ao seu lado, no sofá.

– Matt, o que aconteceu?... Matt, me desculpe, olhe pra mim, ei, olhe...

O ruivo ergueu os olhos vermelhos e recebeu o abraço sem se afastar, pode enfim respirar aliviado.

– ...onde... estava? _perguntou entre soluços.

O loiro abriu um sorriso, enquanto pensava por dois segundos inteiros.

– Entregando armas na capital, eu te avisei.

– Seu idiota, seu celular n-

– Acabou a bateria, o transporte público demorou muito, desculpe _atropelou o outro.

Matt foi beijado e Mello foi desculpado. Mais tarde talvez Matt pedisse para que explicasse melhor. Para ele, bastava resolver o problema, sempre fora assim.

...

O que o ruivo não tomaria conhecimento naquela noite de domingo era que, no bolso do casaco de Mello, havia um pequeno papel. Nele, um diagnóstico: Leucemia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

- Obrigada :)