Algum tempo depois

Todos estavam felizes. Parecia que tudo o que acontecera há alguns anos não passava de um pesadelo. Um pesadelo o qual ninguém fazia questão de lembrar.

O jardim da casa dos Pacheco — local onde Lara viveu boa parte de sua vida — estava bem arrumado, com uma mesa enorme, cheia de bolos, pães, tortas, sucos, frutas e outras iguarias. O local estava decorado com muitas flores, desde a própria mesa, até as cadeiras, grades e até mesmo os convidados, que vestiam branco e as garotas combinaram de colocar uma flor atrás da orelha, por questão de charme.

O pequeno Gohan, já com dois anos de idade, corria em meio ao jardim enquanto sua madrinha, Gabriela, o perseguia, o mandando ficar quieto, pois a cerimônia começaria em instantes.

Aliás, os convidados eram poucos: Valeska Soares, juntamente com Isaac Sanchez, arrumavam as flores e davam os retoques finais, enquanto se beijavam e riam apaixonadamente de vez em quando. Maximiliano Torquato, ou Max, cuidava do altar e observava o noivo, Márcio Ferrari, se remoendo de nervosismo, esperando a qualquer momento sua noiva passar por aquele portão e caminhar em sua direção.

— Nervoso? — perguntou Max. Márcio parecia extasiado e hipnotizado. Ele sabia que se tratava apenas de uma comemoração simbólica, mas para ele, significava um marco na sua vida.

— Claro que não estou nervoso. — Maximiliano pôde ver que ele estava mentindo. Márcio Ferrari tremia os dentes enquanto falava. — E você e a Gabi, quando vão assumir o namoro? Afinal, já se passaram dois anos e vocês nesse morde e assopra.

— Gabi não gosta de assumir que gosta de mim. — Max acenou para Gabriela, que corria pelo jardim, brincando com o afilhado. Ela, por sua vez, mostrou o dedo do meio pra o pretendente. — Não faz isso, o Gohan pode aprender a ser malcriado como você, amor! — gritou para ela.

— Vá se danar!

— Também te amo, Gabriela!

Márcio Ferrari voltou a fitar o portão. A qualquer momento Lara Pacheco, sua noiva, sairia dali, e caminharia até os seus braços. Lá eles fariam os votos como se realmente fossem se casar. Maximiliano seria aquele que conduziria a pequena cerimônia.

Enquanto isso, o jogador Isaac Sanchez beliscava as guloseimas da mesa e Valeska o repreendia.

— Para com isso, Isaac! — disse, batendo em sua mão. — O lanche é só pra hora da festa.

— Mas eu tô com fome, amor! — Isaac fez beicinho.

— Não importa. Vambora, daqui a pouco a Lara chega.

Valeska puxou Isaac pelo colarinho de seu terno branco e com seguiu com ele até próximo ao altar. Ficaram em silêncio, esperando a noiva, porém, Isaac disse:

— Eu tenho saudades do Gustavo. Ele era porcalhão, como eu. Acho que Gustavo concordaria em comer as coisas do buffet antes da festa.

Valeska encarou Isaac e felizmente entendeu a brincadeira. Abraçou-o.

— Se você quiser, eu posso ressuscitar o Gustavo e te dar uma surra no futebol. O que acha?

Todos começaram a vaiar Isaac. Até mesmo Gabi, que finalmente conseguiu agarrar Gohan — que estava se tornando uma criança muito brincalhona, diga-se de passagem. Max, por sua vez, desceu do altar, onde estava, e foi ao encontro da garota.

— Não gosto quando você me trata assim. — disse ele. Ela, por sua vez, virou o rosto e fingiu brincar com Gohan.

Silêncio.

— Se continuar em silêncio, quer dizer que gosta de mim e que daqui a alguns meses, eu serei o noivo e será você quem entrará por aquele portão.

Silêncio. Segundos depois, Gabi disse:

— Tá me pedindo em casamento? Tem que ser muito macho pra se casar com Gabi Carvalho.

Max agarrou Gabriela pela cintura, que deixou Gohan escapar e correr novamente pelo jardim. Ela, por sua vez, olhou nos seus olhos e sorriu.

— E quem disse que eu não quero ficar com você?

Gabriela ficou sem jeito e o rapaz, percebendo que a garota estava encabulada, soltou sua cintura e voltou para o altar.

Minutos depois, o vento pareceu ficar mais forte. As folhas das árvores daquele jardim começaram a chacoalhar, assim como algumas flores, as mais delicadas, passaram a perder suas pétalas. Os vestidos brancos das garotas dançavam com o vento e os três rapazes perceberam que alguém se aproximava do portão do jardim.

— Ela chegou! — exclamou Isaac. Max colocou uma música enquanto Márcio se virou e voltou a observar o portão.

Lara, estava vestida num vestido branco. Seus cabelos ruivos acobreados foram moldados numa única trança e em sua cabeça havia uma fina coroa de flores. A garota carregava um buquê de rosas amarelas e caminhava em direção ao altar.

Gohan se juntou à mãe e estendeu sua mãozinha a ela. Seria ele quem conduziria a noiva até o altar.

Enquanto Lara Pacheco andava e fitava os olhos de seu noivo ao longe, se lembrava de tudo o que havia acontecido. E se questionava se ela merecia toda aquela felicidade. Muitas pessoas inocentes perderam suas vidas (como o seu pai Giuseppe e Douglas, o pai do seu filho) e ela pensava que se não fosse a astúcia de todos aqueles que ali estavam presentes, talvez aquele momento não pudesse ser proporcionado.

Porém, ela afastou todas aquelas memórias de um passado um tanto quanto sombrio e começou a pensar no futuro quando finalmente se aproximou de seu amado e tomou suas mãos. Diante do altar, eles se admiraram e trocaram seus votos. Enquanto repetiam tudo o que Max dizia, faziam planos de uma vida feliz.

E eles teriam.

— Lara Pacheco Oliveira, prometo te amar, estar sempre junto de ti, tanto na alegria quanto na tristeza; seja na pobreza ou na riqueza. Sempre, todos os dias da minha vida, até que a morte nos separe.

— Márcio Ribeiro Ferrari, prometo te amar, estar sempre junto de ti, tanto na alegria quanto na tristeza; seja na pobreza ou na riqueza. Sempre, todos os dias da minha vida, até que a morte nos separe.

Os dois trocaram suas alianças.

— Então o noivo pode beijar a noiva.

Lara e Márcio QI se beijaram, como se aquele fosse o primeiro beijo de suas vidas. E talvez aquele fosse o início de uma nova vida. Era um renascimento. E todos, todos eles se amaram, na alegria, na tristeza, na riqueza e na pobreza. Todos os dias de suas vidas.

E a partir daquele momento, nada, nem a morte, poderia os separar.

FIM