Faça Suas Apostas! escrita por Gabriel Campos


Capítulo 39
Salve-se Quem Puder


Notas iniciais do capítulo

Galera, eu pretendia ir até o capítulo 40, mas devido ao tamanho dos capítulos (eu gosto de manter na casa das 2000 palavras +/-) talvez ela se estenda no máximo até o 42.
Enfim, como diz o nome do capítulo, Salve-se quem puder!



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PALAVRAS DE MÁRCIO FERRARI

Eu estava com uma dor de cabeça tremenda quando despertei. Meus braços e pernas estavam muito bem amarrados e eu senti vontade de gritar, mas não o fiz por estar amordaçado.

Tentei manter a calma e observar o lugar onde e estava: era uma espécie de barraco de madeira, bem humilde, revestido por lonas que dificultavam tanto a passagem do sol quanto os possíveis respingos de chuva. Havia uma cama de casal, um guarda-roupas caindo aos pedaços, uma TV bem antiga em cima de uma cômoda e um notebook também bastante antigo em cima de uma mesa de plástico.

Eu estava jogado em um dos cantos daquele barraco fétido, sentado em um chão mal cimentado, com os joelhos encolhidos no meu corpo. Minha visão estava um pouco embaçada por eu estar sem meus óculos, mas devido a uma lâmpada de luz amarelada ligada a uma fiação bem barata, eu conseguia enxergar algumas coisas.

Apesar de estar desesperado, minha maior vontade era saber quem havia me levado para aquele lugar e o que essa pessoa queria de mim. E eu tive essa resposta quando eu ouvi a porta de madeira do barraco sendo arrastada vorazmente por uma pessoa. Ou melhor: um casal que, aos amassos, caminhavam rumo a cama.

— Eu vou ser sua Beyoncé e você vai ser o meu Jay-Z! Me beija, Joãozinho, vamos matar as saudades do nosso amor bandido!

Eca. Mil vezes eca! João Paixão estava aos beijos com Sheila, que parecia ter um fogo incontrolável. E então eu me lembrei da grande silhueta pertencente ao meu sequestrador, na noite anterior. Era Sheila, claro. E eu já deveria ter pensando nisso.

— E ele? — João Paixão apontou para mim, interrompendo sua fornicação com a gorda — O que esse garoto está fazendo aqui?

Sheila soltou João Paixão e me fitou com aquela sua cara inchada. Ela estava bem diferente, parecia mais compenetrada em fazer o mal. Talvez os dias em que ela esteve na prisão aguçaram os seus sentidos de baleia assassina. Medo.

— Acordou, bela adormecida? Que bom! — Sheila retirou a mordaça que me impedia de falar e eu cuspi na cara dela imediatamente.

— Porca desgraçada! Me solta! — bradei.

Sheila passou a mão no rosto, removendo o excesso de cuspe. Foi uma bela cuspida a que eu dei nela.

— Se comportando desse jeito você só vai sair daqui direto para o inferno!!! — a gorda levantou a mão e com toda a força que ela tinha, deu com ela na minha cara.

Meu rosto ficou muito dolorido e tão logo senti o gosto de ferro do sangue que escorria pela minha boca. Sheila estava realmente violenta e eu estava brincando com um perigo muito maior do que eu supunha.

— O que você quer de mim? — perguntei.

— Quero que todos vocês paguem por terem entrado no meu caminho e terem destruído os meus sonhos. Vocês não sabem com quem se meteram, não sabem mesmo. Eu passei dias de cão naquela prisão, mas felizmente eu consegui fugir. E eu voltei para cobrar o que vocês me devem!

— E vocês irão pagar bem caro por isso. — João se intrometeu.

— Já não basta ter tirado a vida do Douglas? Você quer matar a gente também, hein sua orca?

— Primeiramente, garoto estranho, minha intenção não foi matar aquele moleque, e sim matar a Lara e o bacorinho¹ que ela estava esperando. A culpa não foi minha se ele se jogou na frente da bala. Mas... até que foi bom a bala não ter acertado Lara e o filhote dela. Tenho outros planos e eles serão bem melhores do que eu havia pensado. "Segundamente", se você continuar me chamando de todos esses nomes, eu vou arrancar todos esses dentinhos, um por um. E aí você vai ser um nerdinho banguela.

Meu coração disparou quando ouvi Sheila falar de Gohan. Eu me sentia realmente como se fosse pai dele e saber que estava longe do garoto, sem poder protege-lo, me deixava muito mal.

João Paixão abraçou a cintura de Sheila e junto a ela me fitou, dizendo em seguida:

— Sheila e eu adoraríamos ter um filho. Mas o meu “bombonzinho” tem dificuldades para engravidar. Pensamos em adotar o bastardinho filho da Lara e fugir com ele para bem longe daqui. Começaremos uma vida nova eu, o meu docinho e o nosso filho. O que você acha, Márcio QI?

— Não! Nunca! — berrei — Eu nunca vou deixar vocês pegarem o Gohan! Ele é como se fosse o meu filho e eu o amo como se fosse o seu verdadeiro pai. Eu nunca deixaria vocês o levarem para qualquer que fosse o lugar!

Você vai nos impedir? — Sheila gargalhou, com as duas mãos na sua cintura, como se fosse uma bruxa, o que de fato ela era. — Querido, amarrado aí você não faz mal a nenhuma mosca.

— Sheila, pelo amor de Deus! Você tem uma filha, a Clarinha, e a abandonou pra fugir do país com esse cara depois de ter matado o Sr. Giuseppe. Por que diabos você teria condições pra criar o Gohan?

Sheila pensou na filha dela com o Sr. Giuseppe, a Clarinha que, após a mãe ter sido presa, passou a morar com os tios, irmãos de Sheila. Eu queria que no fundo de toda aquela banha existisse algum sentimento bom, afinal ela era mãe, mas acontece que existem mães boas e mães ruins. Sheila com certeza era uma péssima mãe e eu não queria que ela criasse o Gohan. Isso estaria fora de cogitação.

— Você já falou demais! — Sheila colocou a mordaça de volta na minha boca — João e eu iremos dar uma saidinha, mas prometo que voltamos logo. — a gorda deu uma risada maléfica, típica de quem iria aprontar alguma maldade.

E aquela maldade tinha a ver com Gohan, eu tinha certeza.

Sheila e João Paixão apagaram a luz e saíram. Aproveitei e tentei ficar de pé , mas era um pouco difícil por causa da dor de cabeça devido a pancada que eu havia levado na noite anterior.

Quando consegui me manter em pé, avistei uma espécie de estante de ferro, que ficava no canto do barraco. Nela, havia um pedaço de ferro solto, meio enferrujado e áspero, com uma ponta bem afiada. Com dificuldades, tentei me mover até aquela estante e me posicionei de costas àquele pedaço de ferro.

Comecei a passar no ferro solto da estante a corda que amarrava meus punhos e mesmo ela sendo muito grossa, senti que poderia me soltar antes que Sheila e João Paixão chegassem. Era caso de vida ou morte.

Naquele caso, era a vida do pobre e inocente Gohan estava em risco.

PALAVRAS DE LARA PACHECO

A enfermeira ficara muito feliz quando percebera o meu grande e repentino progresso. Ela correu para avisar o médico que estava cuidando do meu caso e ele logo sugeriu à fisioterapeuta que me trouxesse um andador.

Eu estava sentada na cama e o andador estava na minha frente. Bastava que eu apoiasse as minhas mãos nele e me levantasse.

— Não ... sei ... se ... consigo... — falei, ainda com um pouco de dificuldades.

— Claro que consegue, Lara! Você está progredindo, não vê? Isso é maravilhoso! — disse a fisioterapeuta.

Claro que era. Com toda a força que havia nos meus braços, apoiei-me no andador e segundos depois, tremendo meus braços devido a força que eu estava colocando com eles, consegui ficar de pé. Esbocei um sorriso muito grande e a enfermeira meio que bateu palmas devido a mais aquele progresso. Já a fisioterapeuta, atenta e próxima a mim para evitar qualquer acidente, perguntou:

— Consegue dar alguns passos com o andador?

— Sim. — soltei a palavra, confiante que eu conseguiria. E eu só queria que Márcio QI estivesse ali para me ver andando.

Comecei a dar alguns passos e eles pareciam os primeiros da minha vida. Nós ouvimos alguns passos vindos do corredor do hospital. Pensei que fosse Márcio QI e Gohan que estavam se aproximando à porta do quarto, mas se tratava de Gabi e um rapaz magro de cabelo encaracolado que acabavam de chegar.

Gabriela estava com os olhos inchados e vermelhos, parecia ter chorado muito e também parecia bastante estressada. O que quer que fosse, ela tentou disfarçar quando me viu de pé e andando com a ajuda da fisioterapeuta e do andador.

PALAVRAS DE GABRIELA CARVALHO

Já fazia muito tempo que eu não ia ver Lara no hospital e, quando Max e eu chegamos ao quarto onde ela estava, tomei um susto quando a vi tão bem.

— Lara! — exclamei. Tratei de disfarçar o desespero que eu estava sentindo devido ao desaparecimento de Márcio.

— Eu tô andando, Gabi! — ela falou aquilo com um suspiro de fraqueza. Eu via na face de Lara a consequência do esforço que ela estava tendo.

A fisioterapeuta e a enfermeira que ali estavam viram que Lara já estava muito cansada e colocaram ela sentada em uma cadeira de rodas. Max e eu nos aproximamos e nos agachamos. Abracei Lara como nunca eu tinha abraçado antes e eu sei que ela achou aquilo estranho.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou ela, ofegante.

— A Sheila fez alguma coisa com o Márcio. Ele sumiu. — respondi. As palavras tinham um pouco de dificuldades para sair da minha boca.

— Nós achamos isso — Max disse e retirou do bolso os óculos e o celular quebrado de Márcio QI — aqui perto. Cremos que se ele realmente tiver sido sequestrado, foi ontem à noite, quando ele saiu do hospital.

Lara ficou com os olhos arregalados.

— Você deve ter ficado sabendo que a Lara e o João Paixão foram presos e ela conseguiu fugir da prisão. — Lara entrava em choque enquanto eu dava a notícia a ela, mas eu não tinha como parar — Ela tentou me matar, tentou matar a Valeska, e é claro que ela viria atrás do Márcio.

— Ela tentou ... me matar também. — Lara disse e enquanto ela falava as lágrimas caíam e desciam pela sua face — Mas Douglas acabou indo no meu lugar.

Tentei acalmar a garota segurando bem forte a sua mão.

— Calma, a gente vai dar um jeito.

— Cadê o Gohan? — Lara perguntou pelo filho ao se lembrar que Márcio sempre esteve com ele.

— Ele está com os pais do Márcio, lá na casa dos Ferrari. Eu pedi pra que a Valeska e o namorado dela fossem até lá, pra dar algum apoio, pois os pais do QI são muito apegados ao filho e é claro que eles estão abalados com o desaparecimento do garoto.

— Já procuraram a polícia?

— A polícia já tá sabendo que a Sheila está na área porque Max — apontei para o garoto, que apenas observava a minha conversa com Lara — e eu fomos até uma delegacia prestar queixa quando Sheila tentou me matar.

— E, quanto ao desaparecimento, do amigo de vocês, o delegado disse aos pais do Márcio que só podiam fazer alguma coisa passadas quarenta e oito horas após o ocorrido. — disse Max.

Eu alisei um pouco os cabelos de Lara e tentei fazer com que ela ficasse mais calma. Eu estava desesperada pensando no que fazer, mas Max e eu decidimos ficar com a garota pelo menos até ela dormir. Depois, pensaríamos em mais algum plano.

Desejei que Márcio QI estivesse bem, onde quer que ele estivesse.

PALAVRAS DE VALESKA SOARES

Gabi havia me ligado anteriormente me informando sobre o desaparecimento do Márcio QI. Segui com Isaac até a casa da família Ferrari que já estavam estranhando o fato do garoto não ter dormido em casa naquela noite e já haviam procurado a polícia.

Decidimos não falar a eles sobre Sheila. Eles poderiam surtar.

Isaac estava com Gohan nos braços enquanto eu fazia com que a Sra. Ferrari tomasse pelo menos um gole de água com açúcar, mas ela parecia muito alterada.

— Eu quero meu filho de volta, Valeska! Ele é um menino tão ingênuo, não quero nem pensar no que podem fazer com ele. — ela enxugou as lágrimas com um lenço de papel.

— E aqueles malditos policiais dizem que não podem fazer nada — Sr. Ferrari tinha uma espingarda em mãos, daquelas que utilizadas para caçar. Ele começou a colocar balas na arma.

— Querido, o que está fazendo? — perguntou a mãe de QI, com a voz embargada.

— Vou procurar o meu filho. — ele mexeu na trava de segurança da espingarda e ela fez um clique. Em seguida o Sr. Ferrari rumou até o portão e saiu com a arma em mãos no meio da rua.

— Meu Deus! — a mãe de Márcio colocou a mão na testa, sinalizando sua preocupação — Ele vai fazer uma besteira.

— Calma, Sra. Ferrari. Daqui a pouco o Márcio estará aí, a senhora vai ver. — eu sorri, mas por dentro eu sabia que aquilo não era verdade.

— Tomara que sim. — finalmente ela bebeu o copo de água com açúcar que eu havia preparado.

Isaac continuava nanando Gohan, mas o bebê não parava de chorar. Tomei Gohan nos meus braços e, minutos depois, ouvimos alguém mexer no portão.

— Márcio! É ele! — a mãe de QI se levantou do sofá e correu até o portão, mas recuou, um pouco com amedrontada.

Fui ver do que se tratava e me assustei quando vi Sheila e João Paixão invadindo a residência, ambos armados e dispostos a tocar o terror.

— Vim buscar algo que me pertence. — disse Sheila — E é melhor cooperarem ou as consequências poderão ser as piores possíveis. — após isso, mostrou a arma para mim. Tentei correr para me esconder e manter Gohan protegido, mas Sheila deu um tiro para um dos cantos da casa, quebrando um vaso de flores, o que me fez ficar parada.

Sheila se aproximou e tomou Gohan dos meus braços. O pobre bebê começou a chorar.

Enquanto isso, Isaac avançou em João Paixão, que outrora ameaçava a mãe de Márcio QI com o seu revólver. Os dois trocavam muitos socos e rolavam pelo chão da casa. Sheila segurava Gohan com seu braço esquerdo e com o direito mirava sua arma para os Isaac e João, mas não atirava por medo em acertar em João, aposto.

João conseguiu se soltar de Isaac e correu até mim, me segurando pelo pescoço e agora me mantendo como refém. E eu vi quando Sheila saiu correndo com Gohan nos braços. Ouvi o barulho do carro saindo: era ela que estava indo embora e levando o nosso bebê consigo.

— Por favor, não façam isso! — gritou a mãe de Márcio. Isaac, por sua vez, ficou com as mãos levantadas, alegando a João que não iria fazer nada se ele me soltasse.

João Paixão foi caminhando comigo em direção à saída da casa, mas antes mesmo de chegarmos ao portão, ouvimos um barulho de tiro. Eu senti a pressão do cúmplice de Sheila contra o meu corpo e, em seguida, senti quando lentamente João Paixão retirou suas mãos do meu pescoço. Ele foi caindo no chão e em sua cabeça havia um buraco de onde jorrava muito sangue.

Apavorada, olhei para trás para ver quem havia dado aquele tiro. Era o pai de Márcio que, com sua espingarda, ainda estava chocado com o que ele mesmo havia acabado de fazer.


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Notas finais do capítulo

¹ - Bacorinho: Porquinho.

Tem como isso ficar pior, gente? '-'
Comemorando as 100 pessoas que estão acompanhando a fic *--*
Espero que vocês comentem, só pra dizer um oi :3



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