Faça Suas Apostas! escrita por Gabriel Campos


Capítulo 28
Bem-vindo ao Mundo I


Notas iniciais do capítulo

Bom, gostaria de me desculpar pela demora. Ainda estou tentando conciliar trabalho/estudo/nyah/escrever fics. Ah, no final do capítulo anterior, eu havia prometido uma passagem de tempo, mas decidi fazer essa passagem aos poucos. Como o capítulo ficou maior que o normal, e pra não afetar o tamanho médio dos capítulos, decidi dividi-lo, então provavelmente eu poste o próximo daqui a pouco. Ah, prestem atenção que a passagem de tempo tá rolando de acordo com os meses de gestação da Lara.
Boa leitura!



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Quarto mês de gestação. Dezembro de 2011

PALAVRAS DE LARA PACHECO

Esconder a gravidez ficava mais difícil a medida que o tempo passava. Eu era uma prisioneira, isolada do mundo, sem amigos, sem ter como contar com ninguém. Pelas minhas contas, já estava no quarto mês de gravidez, e sabia que estava correndo riscos, pois eu não estava tendo nenhum cuidado pré-natal com o bebê.

Contudo, faltava cerca de três meses para o meu aniversário e eu jurei para mim mesma, em nome da criança que eu esperava que assim que eu completasse meus dezoito anos eu colocaria os pés para fora daquele lugar e nunca mais voltaria.

Estava decidida a procurar a ajuda de meus amigos e lhes contar tudo o que aconteceu.

Principalmente falar a Márcio QI que, naquele dia, fui obrigada a mentir e magoá-lo.

PALAVRAS DE MÁRCIO FERRARI

Falaram que em 2012 o mundo iria acabar. Estava esperando que as ondas, que os terremotos, que os vulcões, ou que uma explosão súbita acabasse com o planeta e que assim eu pudesse morrer logo.

Depois pensei não estar sendo mesquinho e egoísta. E, claro, acreditando numa coisa impossível.

O meu problema era ainda pensar na Lara. Pensar no jeito que ela me tratou naquele dia, e da frieza como ela falou comigo aquelas coisas. Uma amargura tremenda tomava conta do meu peito, como se fosse uma faca que estivesse dilacerando o meu coração.

“— Vá embora, Márcio QI. Me esqueça! Eu não quero me aproximar de você, nem da Valeska, e nem da Gabriela. Eu odeio vocês! Por isso que eu fugi pro Rio de Janeiro. E eu tô voltando pra lá. Vou ficar com o Douglas. Ele sim é um homem de verdade!”

O jeito que aquelas palavras ecoavam na minha mente só me mostravam o quanto eu estava o tempo todo sendo um imbecil, guardando no meu peito um amor que nunca seria correspondido.

Eu poderia ter continuado guardando aquele sentimento.

PALAVRAS DE GABRIELA CARVALHO

Enquanto Valeska continuava com o time de futebol, lá em Recife, Sheila e João Paixão continuavam presos — para a nossa felicidade — Márcio QI via com toda a empolgação do mundo, só que não, os fogos de artifício cobrirem os céus de nossa cidade anunciando que o ano de 2012 acabava de chegar.

— Que desânimo é esse, Márcio QI? — perguntei, abraçando-o — Feliz ano novo, cara!

O rapaz apenas olhava para os desenhos que os fogos formavam no céu; sem dizer nenhuma palavra ele virou as costas e saiu. Foi para dentro de sua casa.

Olhei ao redor: as pessoas da rua onde morávamos estavam comemorando, bebendo muito, dando abraços falsos. Nada daquilo agradaria a Márcio QI. Ele estava ainda passando por uma decepção amorosa. Talvez sua primeira decepção, talvez o primeiro fora que ele havia levado na sua vida.

Segui também para dentro da casa de Márcio QI, subi as escadas e bati duas vezes na porta de seu quarto. Estava aberta; entrei. O garoto, deitado em sua cama e virado de costas para a porta. Toquei seu ombro.

— QI , vai ficar com isso até quando? Olha, cara, vai começar o ano assim, pra baixo? Isso dá azar.

Virou-se para mim e me encarou.

— Mais azar do que eu tenho, Gabi?

— Você tem azar? Deixa de ser egoísta, cara! — fui firme — enquanto você fica se remoendo, a Lara deve estar lá no Rio, ao lado daquele cara, provavelmente vendo a queima de fogos em uma daquelas praias chiques e com shows ao vivo mais chiques ainda. Para com isso, porra! — dei-lhe um safanão — Se eu tivesse dez por cento da inteligência que você tem, eu seria feliz e não estaria nem um pouco preocupada com o ano de vestibular que está chegando aí. Cara, vai viver a tua vida, ela está vivendo a dela!

Márcio me olhou fixamente.

— Você tem razão, Gabriela... Acho que você foi a pessoa mais sincera que eu encontrei na minha vida até hoje.

Sorri e afaguei seus cabelos de nerd.

— Querido, com Gabi Carvalho é assim: trago seu amor próprio em três tapas na cara. Agora vamos lá pra fora rir das velhas bêbadas dançando forró? É a melhor coisa do réveillon.

— Só se você me prometer que não vai beber. Lembre-se de que não tem idade para isso.

— Márcio QI, sendo Márcio QI... — suspirei — Tá, vamos?

Naquela noite, Márcio QI até dançar forró junto com as beberronas ele dançou. Rimos muito e aquela foi a primeira vez, depois de muito tempo, que o vi se divertindo.

***

Quinto mês de gestação. Janeiro de 2012

PALAVRAS DE LARA PACHECO

Eu ficava muito enjoada e não conseguia controlar as ânsias de vômito, que poderiam vir a qualquer momento. A comida que serviam no convento já não atendia às minhas necessidades e então irmã Carolina – a única que ainda possuía algum contato com o lado exterior àquele antro – dava um jeito de me trazer alguns alimentos com mais sustância, os quais eu deveria comer escondida.

Tomar banho nas minhas condições e no lugar onde eu estava era uma das coisas mais difíceis, pois aquele convento mais parecia um quartel general. Precisávamos ficar nuas uma frente as outras. De início, eu levava aquilo na boa, mas a barriga estava explícita e ficar vestida com um hábito frouxo era a única solução.

Eu tomava banho quando não havia mais nenhuma irmã acordada.

Era contra as regras andar pelos corredores do convento pela madrugada.

PALAVRAS DE VALESKA SOARES

Quando o árbitro apitou, soube que era o início do jogo. Era o último jogo que eu jogaria antes de voltar para casa. O time estava unido, mais unido do que antes.

O Regatas Futebol Clube, pela primeira vez em décadas, estava na final de um campeonato. E por minha causa!

Tudo isso foi resultado de muito treinamento e muito esforço. Esforço em dobro, porque me disfarçar de garoto não estava sendo fácil, principalmente nos vestiários.

Suspirei. A bola começava com Isaac. Ele estava mais bonito naquele dia, eu não sabia o porquê. Parecia um pouco mais confiante do que de costume, acho que aquilo melhorou o seu semblante. Piter, por sua vez, piscava para mim sempre. Eu era a única – o único, no caso – que sabia do seu “segredo” mais profundo.

Isaac tocou a bola para mim. A torcida gritava por “meu nome”: “Vai, Gustavo!” Aquelas pessoas acreditavam em mim. Eles queriam que eu ganhasse. E aquele coro, aquelas palavras me deram forças, agilidade e eu pude driblar aqueles jogadores adversários.

Toquei a bola para Piter enquanto os outros jogadores do nosso time se posicionavam e já se preparavam para um possível gol.

E haveria gol sim!

Corri mais um pouco, estava perto da trave. Piter chutou a bola e eu a cabeceei. Estufei a rede e a galera foi à loucura. Os jogadores me colocaram para cima e comemoraram por alguns segundos, até a partida ser retomada.

***

Minutos depois, todos os jogadores, inclusive eu, o craque do time, entraram no vestiário carregando a taça. RFC nunca havia ganhado uma taça num campeonato. Foi a maior festa!

Técnico Eriberto estourou um champanhe enquanto nós jogadores pegávamos nossas taças. Isaac propôs um brinde:

— Proponho um brinde em agradecimento ao Gustavo, que foi uma das melhores coisas que aconteceram nesse time em tempos!

Após dizer isso, Isaac sorriu pra mim. Virei o rosto, um pouco sem graça. O jeito que ele me tratava, me deixava encabulada. Ele era tão gentil! Parecia que ele sabia realmente que eu, Gustavo, era uma garota o tempo todo. Pois, por mais que eu me mostrasse forte, talvez eu ainda demonstrasse que, no fundo, eu era frágil e precisava de alguém que me protegesse.

E Isaac parecia realmente saber disso.

Após as comemorações, como de costume, esperei que todos saíssem do vestiário para que eu pudesse tomar um banho sossegada. Quando me certifiquei que não havia mais ninguém, entrei em uma das cabines, retirei o uniforme suado, os panos que eu enrolava no meu corpo para deixa-lo o mais reto possível, livrando-me também daquele calor terrível e liguei o chuveiro.

Minutos depois, perdi a concentração do meu banho quando ouvi passos dentro do vestiário. Desliguei rapidamente o chuveiro, abri minha bolsa e vesti rapidamente uma daquelas – confesso que – complicadas roupas masculinas e abri aos poucos a porta da cabine.

— Poxa, cara! Você molhou o vestiário todo! — era Isaac que, brincando, ria, observando a inundação que eu acabara de fazer no local. — você não ouviu os caras dizendo que não pode deixar o chuveiro ligado no máximo?

— Desculpa! — falei aquilo com minha voz fina, de Valeska, o que percebi depois. — Quer dizer, Foi mal, velho — engrossei a voz, abri a cabine do chuveiro e, cobrindo-me com a toalha, pois eu acabei por vestir-me molhada e deixando a roupa transparente, aproximei-me de Isaac. — É que eu não sabia mesmo.

Dei mais dois passos e me desequilibrei e escorreguei naquele chão liso. Quando achei que iria dar com as minhas fuças masculinas no chão, eis que ele, rápido, me segura. Fico em seus braços, olhando em seus verdes olhos por alguns segundos. Uma troca de olhares que mais pareceu uma eternidade e eu não queria que aquela eternidade tivesse fim.

Boiolagem no vestiário? Quando dei por mim que estava rolando um clima, tentei me soltar, mas ele continuou olhando para mim. Isaac jogava no mesmo time que Piter, literalmente? Ou então parecia, realmente que ele sabia que eu não era um homem, e sim uma garota, uma garota que entrou ali naquela confusão por causa dele, por uma admiração boba, que foi se transformando em amor. E por ele eu continuaria ali.

Sem graça, Isaac finalmente me soltou.

— Err... Gustavo, vamos? Eriberto e os outros jogadores nos esperam no ônibus pra voltar pro hotel e, finalmente pra Fortaleza. COM A NOSSA TAÇA! — sacudiu meus ombros e saiu.


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Notas finais do capítulo

Postarei o próximo em breve (em breve mesmo kkk)



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