Faça Suas Apostas! escrita por Gabriel Campos


Capítulo 17
Entre Linhas Tortas


Notas iniciais do capítulo

Gente eu to atrasado pra caramba nos capítulos, mas prometo não demorar muito a postar. No máximo um dia ou dois.



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PALAVRAS DE VALESKA SOARES

Despertei. Minha vista estava embaçada. O que eu via era uma luz muito forte e algumas pessoas olhando para mim. Ouvia também alguns zumbidos, talvez fossem eles falando. Tentei abrir melhor os olhos e comecei a enxergar mais nitidamente. Era minha mãe e, ao lado dela, um médico.

— Valeska, minha filha! Você acordou! — exclamou minha mãe, dando uma série de beijos no meu rosto. Ela recuou subitamente. Estranhei.

Daí percebi que quem estava numa cama de hospital, naquele momento era eu. Comecei a me lembrar aos poucos dos últimos acontecimentos.

— Mãe, eu... Mãe, cadê o Sr. Giuseppe? A Sheila, cadê a Sheila, aquela... aquela...

Minha mãe começou a ficar com um semblante preocupado. Eu me calei. As notícias que vinham a seguir não eram boas.

— O que aconteceu, exatamente, quando você invadiu o quarto do Sr. Giuseppe, minha filha? — o tom da minha mãe era sério.

— A Sheila, ela estava com uma seringa na mão. Mãe, ela tentou me matar! Ela queria matar o marido dela também!

Minha mãe começou a chorar. Virou de costas para mim. Fiquei assustada.

Comecei a ouvir gritos escandalosos vindos do corredor. O médico que estava no quarto abriu a porta e, de repente, Sheila adentrou no quarto com um policial.

— FOI ELA! FOI ELA QUEM MATOU MEU MARIDO! ESSA DESCONTROLADA MATOU O MEU GIUSEPPE! EU VOU PROCESSAR ESSE HOSPITAL E VOU COLOCAR ESSA ASSASSINA ATRÁS DAS GRADES! ASSASSINA!!! — berrou, apontando para mim. O médico e o policial tentavam apartar aquela gorda que, provavelmente queria ir pra cima de mim.

— DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO, SUA ROLHA DE POÇO? — xinguei-a no mesmo tom. Ela parou com o escândalo e fingiu um choro. O policial, o médico e minha mãe me encararam.

Sheila estava mentindo. Óbvio. Mas as marcas das mãos dela estavam explicitamente espalmadas no meu pescoço. O que quer que fosse, o que levaria aqueles policiais a acreditarem naquela maluca?

Eu estava sendo acusada por um crime que eu não cometi. O policial e até a minha própria mãe pareciam estar acreditando. E, pior ainda: O pai de Lara estava morto!

PALAVRAS DE MÁRCIO FERRARI

Fiquei sem palavras ao saber do ocorrido com Valeska. Apenas ela, Gabi e eu sabíamos das intenções daquela vaca quanto à morte de Giuseppe.

Sheila ficaria impune.

Valeska poderia ser internada numa unidade prisional para infratores.

Eu fiquei pensando em Lara. No meio disso tudo, seu pai foi morto. Morto de uma forma cruel, mesquinha, por causa de dinheiro. E a pobre garota de nada sabia.

***

Giuseppe estava sendo velado naquele dia. Alguns policiais fariam o cortejo fúnebre, pois o pai de Lara fora um policial muito querido quando ativo.

Sheila, ao lado do caixão, vestindo um longo vestido preto, chorava falsamente enquanto alguns familiares tentavam acalmá-la.

— Eu não acredito! ELE SE FOI! Jesus, por quê? Por quê? Eu queria saber por que não me levou no lugar dele! — mais berros — e tudo por culpa daquela desequilibrada. Como podem deixar uma louca daquelas a solta em um hospital, hein? Mas a justiça divina há de puni-la.

Gabi e eu observávamos todo o showzinho da porta da capela onde o corpo estava sendo velado. Minha amiga se segurava, fechando os punhos de tanto ódio. Eu só conseguia chorar por toda injustiça que estava havendo.

— Eu... eu só não pulo em cima dessa gorda imunda por respeito ao pai da Lara. — disse Gabriela, entredentes. — Ela continua falando mal da Valeska pra todo mundo ouvir!

— Bem que você disse pra ficar de olho nessa louca... eu tô com medo do que pode acontecer com a Valeska, e ainda com pena da Lara, que não sabe de nada.

— Ontem eu tentei falar com o cara com quem ela fugiu e ele me bloqueou no Facebook. Disse que eles não estavam mais juntos.

Eu sabia que aquele não era o momento certo, mas senti uma pequena alegria dentro de mim. Gabi continuou a falar:

— Márcio, fica aqui observando essa porca que eu vou nessa. Eu vou visitar a Valeska, saber como ela tá. Mais tarde eu te ligo e conto tudo, ok?

Abracei Gabi (coisa que eu raramente fazia) e ela saiu. Voltei minha atenção à capela e ao show que Sheila fazia ao lado do caixão. De repente, alguém tocou meu ombro. Virei e me assustei quando vi o rosto da pessoa que eu menos esperaria encontrar naquele dia.

— Você?

Lara Pacheco jogou no chão a mochila que carregava e, instintivamente me abraçou, pousando sua cabeça no meu ombro. Ela não berrava, mas chorava a morte do pai.

— E-eu... eu não sei o que dizer, Lara...

— Só me abraça. Me abraça e diz que isso não tá acontecendo. Márcio, me diz que tudo isso não passa de um pesadelo! — sua voz, chorosa, soava com dificuldade.

Eu estava surpreso, triste, um pouco contente, chateado, com ódio, tudo isso ao mesmo tempo. Deus me perdoaria se eu dissesse que estava gostando de sentir o corpo de Lara contra o meu? Logo ela, que nunca foi tão minha fã?

Por outro lado, eu sabia que aquela garota só tinha a mim. Ela precisava de alguém que a apoiasse, que a consolasse. Eu tinha as minhas dúvidas se eu seria a pessoa certa para tal feito. Por que a vida é tão difícil?

Deixei que ela chorasse no meu ombro. Apoiei meu queixo em sua cabeça e fechei os olhos. Choraria um pouco com ela até que parte da dor que ela estava sentido passasse.

PALAVRAS DE GABRIELA CARVALHO

Pelo que soube, Valeska seria submetida a uma avaliação psicológica antes de ser enviada a um internato. Meu desespero era não de poder falar com a minha amiga antes e pedir explicações.

Ela estava em um sanatório. Um hospício. Certo que Valeska tinha seus ataques de “Valesquices”, mas isso não lhe dava o direito de ser chamada de louca.

Dona Sílvia, mãe de Valeska, se encontrava do lado de fora do sanatório, andando de um lado para o outro, talvez esperando por alguém.

— Dona Sílvia! Eu soube do que aconteceu...

— Gabi! — ela me abraçou, triste — Eu não sei mais o que fazer, menina! Eu tô com medo, minha filha, daqui, vai ser transferida pra um reformatório. Você acredita em todas essas acusações que fizeram? Eu não sei o que pensar mais... Eu só queria saber qual o motivo por ela ter invadido o hospital e...

— D. Sílvia, a senhora precisa acreditar na sua filha! Valeska não faria mal nem a uma mosca, quanto mais matar um homem. Olha, eu vou contar a verdade pra senhora — ela me fitou, curiosa — a gente vem seguindo os passos da Sheila desde o dia em que ela demonstrou lamentar por Lara ter ficado no Rio de Janeiro.

— Eu também estranhei isso. Lara e Sheila nunca se deram bem.

— Isso, Dona Sílvia! A gente também ficou encafifado com isso. Bom, pulando a história toda, nós um dia fomos até a casa dos Pachecos e nos deparamos com Sheila tentando sufocar Giuseppe com o próprio corpo. E nós escutamos uma ligação. Ela falava com alguém, talvez um amante, dizendo que queria acabar com o “plano” logo. Ela queria mesmo matar o marido pra ficar com o dinheiro!

— Eu não sei nem o que falar...

— Valeska ter aparecido no hospital, provavelmente pra ficar de olho em Giuseppe, foi como uma mão na roda praquela porca da Sheila. Dona Sílvia, a senhora precisa acreditar em nós!

***

Quando finalmente pude entrar no recinto onde Valeska estava internada, quase me espantei. Minha amiga estava sentada diante de uma mesa, a qual suas algemas estavam fixadas. Um segurança me vigiava do portão da sala.

— V-Valeska! — quando corri para abraça-la, o segurança me impediu:

— Epa! Nada de abraços. Mantenha-se longe da internada. Motivos de segurança.

Recuei, me sentando na outra cadeira que havia diante da mesa. Segurei suas mãos, presas por aquelas algemas as quais eu tinha certeza que eram inúteis.

— Gabi... eles acham que eu sou maluca. — sussurrou.

Fiquei com pena. Valeska foi dar uma de inteligente e acabou fazendo burrices. Em todo caso, era tarde pra dar broncas. Minha amiga precisava de ajuda. Ela precisava sair dali.

— Eu... eu não sei nem o que falar. — balbuciei, observando sua pele, que estava pálida. — Eu sei que você não está sendo bem tratada aqui, sua mãe me falou. Mas eu quero que saiba que a Sheila vai pagar pelo que ela faz.

— Gabriela, se eu for diagnosticada como louca, eu vou continuar aqui. Agora se estiver provado que eu não tenho problema mental algum, o que é verdade, eu vou pra um internato. Eu não sei o que fazer. O resultado dos exames sai hoje.

Apertei forte as mãos dela.

— Eu e o Márcio vamos dar um jeito de te livrar dessa. Aguenta, só um pouquinho, tá? Vai dar certo.

Ela sorriu. Ouvimos um sinal sonoro e logo após, dois homens tiraram Valeska da sala e a levaram pra cela.


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