Faça Suas Apostas! escrita por Gabriel Campos


Capítulo 10
Tentando Desvendar Alguns Mistérios


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora! o



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PALAVRAS DE LARA PACHECO

Alguns dias se passaram e Douglas e eu continuávamos no flat. Raramente eu saía até a rua, apenas ficávamos lá dentro daquele chiquérrimo cubículo. Eu tinha receio de perguntar algumas coisas para ele porque acreditava que cada coisa viria ao seu tempo. Numa dessas, enquanto nos beijávamos no sofá, eu não resisti.

— Douglas, onde estão seus pais?

— Por que isso agora, Lara?

Fiz merda. Continuei fazendo:

— É que sei lá, um cara de dezessete anos, morando sozinho num lugar tão chique desses é um tanto quanto estranho. Você recebe alguma ajuda financeira deles, não é?

Eu tinha certeza de que Douglas Loreto era de uma família rica. Qual era mesmo o segundo sobrenome dele mesmo? Deveria ser bem importante, tipo “Baldacci”, “Zimmerman”. Tentei puxar da memória, mas não consegui.

— Minha mãe é empresária. Viúva. Ela — Douglas olhou no relógio — a essa hora, deve estar em Nova York assistindo ao show de alguma futura celebridade. Ela é uma importantíssima caça-talentos. Sempre me manda uma mesada gorda para que eu me mantenha aqui. Satisfeita?

Acenei levemente com a cabeça, alegando que sim. Silêncio.

— Que bom que você não foi com ela, então. — voltei a beijá-lo, mas ele não quis. — Que foi?

— Às vezes eu sinto que você não confia em mim. — disse ele, com aqueles olhos brilhando, como se fosse um cachorrinho que acabara de ser maltratado. Douglas tinha um jeito tão único e especial que às vezes era preferível medir palavras com ele apenas para não magoá-lo.

Eu não gostava de magoá-lo.

Afastei os cabelos de Douglas que cobriam sua orelha e a mordisquei levemente. Ele revirava os olhos e passava as mãos no meu corpo. Aos poucos ele ia cedendo. Depois eu me senti um lixo por usar sexo como desculpa para arrancar de Douglas respostas para as minhas perguntas.

Dormimos abraçados no sofá.

***

No outro dia, acordei e percebi que Douglas havia saído. E deveria ter saído sorrateiramente, pois não percebi quando ele desagarrara meus braços do seu corpo ao sair do sofá.

Vesti uma camisa dele, calcei minhas havaianas e procurei o Anjo pela casa toda, mas não o encontrei. Vinte minutos depois, ele entrou em casa com uma sacola de plástico nas mãos. Eu tomava café-da-manhã sozinha à mesa.

— Olá, meu amor. Achei que ainda estivesse dormindo! — ele me deu um selinho e pôs o pacote em cima da mesa. — fui comprar alguns ovos.

— Ovos? — questionei — Já tem tanto ovo lá dentro da geladeira. Pra quê mais?

— Sério? — ele abriu a geladeira para conferir.

— Hum... Sério que você acordou tão cedo só pra comprar ovos? — perguntei, de uma maneira até irônica e sutil, enquanto passava margarina numa bolacha de água e sal.

Ele me entendeu mal.

— De novo Lara? Porra, cara! Eu tô tentando ser um cara legal, mas você fica duvidando de mim!

— Douglas, eu não tô duvidando de nada! Calma, só tava brincando. Nossa, velho, que mau humor!

Ele se acalmou e foi tomar banho. Como ele demorava bastante e eu estava apertada, entrei no banheiro e, pela sua sombra no box, pude perceber que Douglas se esfregava com o sabonete mais do que o normal. Parecia que ele queria se livrar de alguma sujeira impregnada há tempos. Qual fosse, eu não havia percebido.

PALAVRAS DE VALESKA SOARES

As aulas normais voltaram algumas semanas depois. Estávamos no segundo ano do ensino médio e logo agora começava o segundo semestre, acompanhando os nossos desesperos e promessas de estudarmos mais.

Pelo mesmo motivo, nós só voltamos a nos falar na escola:

— Minha mãe me deixou sem sair de casa, sem TV, sem telefone e sem internet até o final das férias. Foi um tédio! — falei.

— A minha também. E ainda me fez tomar um banho de álcool e fazer uma bateria de exames pra ver se eu não havia contraído alguma doença enquanto estava no Rio. — disse Márcio Q.I.

Gabi e eu rimos.

— Gente, a minha também. Mas o que importa foi que a gente estava no show do Red Hot e a gente vai poder se mostrar com isso pra todo mundo. Eu nunca fiz uma redação com o tema “Como foram as Minhas Férias” com tanto gosto! — disse Gabi.

— Aquela professora de redação acha que ainda estamos no jardim, mas confesso que eu também gostei de ter escrito. Claro, tirei nota máxima.

— Márcio Q.I, querido, todo mundo da sala tirou. Mas mudando de assunto, notícias da Lara?

Todos se entreolharam. Ainda era um choque falar do que acontecera. Foi algo tão surreal! Não é todo dia que alguém abandona a família e os amigos para viver uma nova vida, mas se tratando da Lara, nada era impossível.

— Bom, pelo que eu sei, Sr. Giuseppe não quer ver a filha nem pintada de ouro. — falei. — Só que a Sheila está no pé do velho pedindo que ele coloque pessoas atrás da Lara para trazê-la de volta pra cá.

— A Sheila? Que mentira é essa?! Aquele saco de banha nunca gostou da Lara, por que agora ela tá com essa simpatia toda?

— Gabi, eu não sei, mas a Sheila fez o maior escândalo quando o Sr. Giuseppe disse que a Lara não era mais filha dele. Parecia até a Maria do Bairro chorando... Minha mãe conversou com ela e tudo o mais. Parece que o Giuseppe não vai aceitar mais a filha caso ela volte.

Gabi se levantou do banco do pátio da escola, onde estávamos, e ficou pensativa.

— Estranho... — suspirou ela, fazendo com que eu e Márcio ficássemos curiosos.

— O que é estranho?

— Márcio, tipo... tá na cara que essa ceninha da Sheila é por alguma razão. A gente conhece aquilo ali. Vocês sabem que ela sempre procura vantagem em tudo. Todo mundo sabe que ela se casou com o pai da Lara porque ele estava montado no dinheiro. E talvez ter a Lara de volta traga algum benefício pra essa biscate.

— Gabi, aonde você quer chegar com tudo isso?

— Valeska, menina, põe essa cachola pra funcionar! — Gabi deu três batidinhas leves na minha cabeça — Quem topa seguir a vaca da Sheila depois da aula? Vocês sabem que ela trabalha aqui perto naquela facção.

— Credo, ela é bandida?

Gabi me deu um cascudo.

— Menina, mostra que esse teu último neurônio tem serventia! Facção de costureiras, mulher! O marido acha que ela passa o dia todo em frente a uma máquina de costuras naquela fábrica de lingeries, mas vocês sabem muito bem que essa louca é cheia de podres. Bom... quem tá comigo?

Gabi estendeu a mão e eu coloquei a minha mão em cima da dela. Ficamos olhando para Márcio esperando alguma reação.

— Tá certo! Mas saibam que eu não gosto dessa história.

Márcio pousou sua mão direita em cima das nossas. Estávamos prontos para desvendar aquele mistério.

PALAVRAS DE LARA PACHECO

Naquela tarde, enquanto Douglas dormia no sofá, resolvi sair do flat para dar uma volta. Li num cartaz fixado num poste em frente ao nosso prédio que uma livraria estava precisando de moças que pudessem trabalhar. O salário era ruim, porém a ideia de sair e fazer alguma coisa para distrair a minha cabeça já me animava um pouco. Só que havia alguns “poréns”: Eu não estava com todos os meus documentos, apenas minha identidade. Além disso, o dono da livraria pedira que eu levasse uma declaração da escola em que eu estava matriculada para comprovar que eu estava estudando. Qual?

— Você é uma moça muito simpática. — disse o proprietário, um homem que tinha por volta de trinta anos — Seria uma honra tê-la aqui como uma de nossas funcionárias.

O lugar era bem legal e as outras funcionárias também eram muito simpáticas. Confesso que nunca fui uma devoradora de livros, mas alguns tipos de literatura me interessavam bastante e trabalhar ali talvez me despertasse algum tipo de conhecimento.

— Bom, Lara Pacheco Oliveira, quanto à declaração da sua escola, traga quando puder. Você me parece uma moça muito estudiosa, mas já que é menor de idade, é preciso ter esse comprovante. Sabe como são essas coisas de trabalho infantil...

— Muito obrigada! Eu vou trazer assim que a direção da minha escola me der. — menti —Estou contratada? — perguntei.

— Contratadíssima. — ele respondeu, esticando a mão para que eu a apertasse. Despedimo-nos depois de combinar os horários e fui embora.

***

Ao saber que eu havia conseguido um emprego, Douglas apoiou totalmente a ideia.

— Nossa, que legal, meu amor! — ele me beijou — Eu também preciso voltar a trabalhar, pois minha folga infelizmente acabou.

Será que eu deveria fazer essa mesma pergunta que você está pensando? Que fosse.

— E... você trabalha onde?

Douglas me olhou fixamente por algum tempo e enfim respondeu.

— Sou operador de telemarketing. É um trampo legal, não pagam bem, mas eu só vou mesmo pra me distrair, já que dinheiro pra mim não é problema. Ah, e no próximo fim de semana eu vou te levar pra conhecer a minha galera. O que acha, Lara? — ele me perguntou, abraçando-me em seguida.

— Seria uma ótima ideia, meu anjo.

PALAVRAS DE GABRIELA CARVALHO

Assim que o sinal tocou (aleluia, que aula chata), Márcio, Valeska e eu pegamos nossas mochilas e nos reunimos no pátio do colégio para repassar todo o plano.

— Bom, pessoal, o plano é o seguinte: a gente fica de guarda em frente a fábrica e espera a Rasputia sair. Ops, espera a Sheila sair. Entendidos?

— Por que Rasputia?

— Por causa daquela personagem do filme Norbit. Ah, esquece, Valeska. Vamos?


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Notas finais do capítulo

Eles vão seguir a Sheila. Será que vão descobrir algum podre? :O

Ps.: Pra quem não conhece a Rasputia, ela é uma personagem do filme Norbit. Ela lembra muito a Sheila.
Foto: http://thecleezereport.com/wp-content/uploads/2013/04/norbit-norbit-04-04-2007-09-02-2007-2-g.jpg

Gata, né? Ah, pra quem ainda não viu, estou montando na página do Facebook um álbum com o perfil dos personagens. Passa lá. Beijo!
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