Querido John escrita por Wenn Ribeiro


Capítulo 1
Desabafo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :3



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Querido John,

Você lembra, eu costumava a chamar você assim, naquela época que outrora éramos felizes. Naquela época em que nossos sonhos eram grandes e não tínhamos preocupações.

Hoje eu acordei no meio da noite, chamando teu nome, mas depois veio à vontade de chorar, me parte ainda este coração, saber que não podes me ouvir ou me acalmar quando meus demônios aparecem, eu revivi todo aquele tormento novamente.

Nunca lhe abandonarei, Alice”, era o que você costumava me dizer. Oh, mas como eu te odeio por ter me feito acreditar em palavras levianas como essas. Como eu odeio a mim mesma, por odiar a você, você, que eu tanto amo e amei.

Você é capaz de lembrar aquele dia, mesmo de onde você esta, atualmente? Caso não se lembre, deixa-me fazer isso por você.

Éramos adolescentes, apaixonados um pelo outro intensamente. Você sabia meus segredos mais obscuros, assim como eu sabia os teus. Era outono, estávamos sentados em uma cafeteria, nos abrigando do vento gelado que a estação trazia a nos atormentar. Eu estava quieta. Claro, afinal, meus pais haviam dito coisas grosseiras a você.

Verme imundo, tu desonrou minha filha” gritara minha mãe. Meu pai havia acertado sua face, e mesmo assim, você nada fez.

Quanto sofrimento eu estava trazendo a você. Eu me sentia presa em cima do prédio mais alto que havia na cidade, a vista poderia ser linda, se meu coração não estivesse dilacerado. A minha costa estava à queda iminente, seria o fim do nosso sofrimento. Mas eu teria que abrir mãos de você, coisa que nem seria possível em cogitar. A frente estaria a saída do telhado, onde eu teria que sofrer as conseqüências que me aguardariam.

Nunca lhe abandonarei, Alice”, você disse olhando em meus olhos enquanto segurava minha mão tão carinhosamente. Você sabia que havia estado em devaneio novamente ao telhado do prédio, onde eu havia de escolher me jogar à vida tranqüila que meus pais queriam para mim, de costas e sem olhar para trás, abrir mão de você. Ou poderia seguir adiante com tudo o que passávamos. Mas passar pelo inferno, abraçar o Diabo e comer do pão que ele mesmo amassou, valeria à pena, pois estaria ao seu lado.

Nunca lhe abandonarei, Alice”

Havíamos acabado de sair da cafeteria. Você havia me levado até a esquina de casa, me beijou os lábios e afagou meu queixo.

Ei, querida Alice. Não volte mais ao prédio. Te ver sofrer é doloroso para mim. Eu prometo que isso irá acabar”

Oh, John, seu idiota, como eu fui tola por não perceber o que havia afirmado para mim àquela hora. Como você poderia ter tanta certeza de algo assim?

Então aquela noite, após o jantar, batera, na porta. Nathally, minha melhor amiga, pedia a meu pai para que eu pudesse sentar na varanda com ela, como ele gostava de Nathally, autorizou de imediato.

Ela estava inquieta, ajeitava toda hora a barra do vestido preto que usava. Seus cabelos ruivos balançavam ao vento enquanto seus olhos verdes fitavam os meus.

Oh, Alice. Tenho aqui uma carta que não deve trazer boas novas”

“Entregue-me então a carta e saberemos se isso que dizes é verdade”

Ela tirou a carta de um dos bolsos, suas mãos tremendo levemente ao me entregar, e imediatamente, eu abri.

Era uma carta sua, John, seu paspalho.

Querida Alice,

Dói-me ver seu semblante transfigurado em dor e pesar, e o que

mais me dói é saber que essas sensações ocorrem por minha causa,

como eu sou um verme imundo, seu pai esta coberto de razão.

Lembra do que lhe prometi, hoje mais cedo?

Que isso tudo iria acabar, e há de acabar.

Não chores.

Lembre-se dos dias de verão que passamos juntos.

Onde ficávamos deitados à beira do lago, onde eu tocava

meu velho violão e você me presenteava com sua doce voz.

Nunca lhe abandonarei, querida Alice.

Não volte mais ao telhado do prédio mais alto.

Deixe que eu pule por você.

Com amor,

Seu Querido John”

Oh, John, estou chorando novamente ao relembrar aquele maldito dia. Sinto as minhas lágrimas correrem por meu rosto e as vejo borrarem esse papel, minha vista esta turva por causa delas, mas preciso terminar de escrever esse desabafo para livrar-me desse mal que me assolou toda a noite.

Mal havia acabado de ler a carta que Nathally havia me entregado e sai correndo pelas ruas da cidade até o prédio mais alto, como ele é insignificante comparado aos arranha-céus que hoje existem por aqui, mas assim que cheguei, avistei você estava lá, sobre o telhado, de costas para a paisagem, de costas para mim, a multidão demonstrava curiosidade e apreensão.

Eu gritei seu nome, você virou o rosto na minha direção e vi com horror, a dor em teu rosto, eu havia acabado com você. Ter que escolher entre meu pai e você havia sido meu pecado, pois depois, seu rosto se transfigurou em júbilo e pude entender o que se passava em sua mente, e sem avisar, sem nada, você abriu seus braços e inclinou o corpo para trás, a multidão soltou um grito de surpresa e horror ao ver você caindo e se quebrando ao chão.

Oh, maldito John, quão horrendo foi me aproximar, chorosa, de teu corpo, eu teu rosto havia a sombra de um sorriso, mas aquele sorriso não havia como mudar o fato de eu ter feito você querer aliviar minha angustia.

John... sinto como se você estivesse aqui, neste momento, sempre sinto isso quando estou pensando em você, ainda mais ao lembrar daquele maldito dia. Como eu sinto sua falta, querido John, e como eu me odeio por odiar você, alguém que amo e amei.

Dói-me saber que meses mais tarde, você não estava junto comigo para receber a notícia que seria pai. Nosso filho, meu único filho, a quem dei seu nome. Parece tanto com você, o mesmo brilho nos olhos, o mesmo sorriso e o mesmo carinho para com Meredith, sua esposa, que esta esperando já a vinda de mais uma criança.

Oh, meu amado John, queria que estivesse aqui para contemplar a bela família que por acaso acabamos construindo.

Onde estiver, John, saiba que eu nunca deixei de te amar, assim como nunca deixei de me culpar por ter feito você arrancar sua própria vida.

Com amor,

Sua querida Alice.


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Notas finais do capítulo

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