Algo que se puede empezar. escrita por Mia Castle


Capítulo 16
Nem tudo está tão perdido assim.


Notas iniciais do capítulo

Vamos ajeitar um pouco as coisas.
Love you... ((:



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Eu tinha ido parar bem longe, já que eu levei quase uma hora e meia caminhando de volta ao hospital, e para completar começou a chover, aquelas chuvas que parecem que vem na hora certa sabe? Desde pequena sou apaixonada por chuva, eu me sentia bem quando chovia, e hoje não foi diferente, eu caminhava devagar enquanto sentia os pingos grossos contra minha pele, eu já não chorava mais, não conseguia mais chorar, então eu apenas caminhei, deixando a chuva lavar minha alma. Cheguei ao hospital encharcada, meu cabelo grudava na minha testa e minhas roupas pingavam, fui impedida de entrar por estar completamente encharcada.

–Pode me arrumar uma toalha então? Ou qualquer coisa que eu possa tirar o excesso da água, minha filha está internada ai moço. -Eu disse para o moço que me olhava dos pés a cabeça na entrada, devia estar me chamando de louca mentalmente.

–Espere aqui. -Ele disse e saiu. Esperei cerca de 5 minutos até vê-lo saindo com uma toalha em mãos.

–Obrigada senhor. -Eu disse .

–Não agradeça, sei como é ter um filho doente. -Ele disse e me sorriu compreensivo.

–Seu filho está internado aqui também? -Perguntei.

–Meu filho morreu querida, ele tinha problemas no coração, ele viveu bem até certa idade, mas depois ele tinha que viver ligado a máquinas para se manter vivo, ele nunca parou de sorrir, e era o que me dava forças, hoje eu acredito que ele esteja melhor do que aqui -Ele me disse.

–Nossa, me desculpa. -Eu disse.

–Não por isso, quantos anos tem a sua filhinha? -Ele perguntou.

–Ela tem 4, descobri que ela está com hepatite e talvez precise de um transplante de fígado. -Eu disse.

–Não se preocupe, você vai ver que tudo vai ficar bem, crianças tem o anjo da guarda forte querida, logo vai ter sua anjinha de volta. -Ele disse sorrindo.

–Admiro o senhor, tem uma história tão triste e não deixa um minuto de sorrir, como faz? -Perguntei.

–Acredite menina, eu já chorei muito, noites e dias incontáveis, mas eu percebi que chorar não ia me trazer ele de volta, e além do mais eu não tenho motivos, tenho 52 anos, uma saúde de ferro, um emprego, uma casa e comida, se nem meu filho lutando contra uma doença que o debilitava cada dia mais deixou de sorrir, porque eu não o faria. -Ele disse.

–Obrigada, por tudo. -Eu disse entregando a toalha em suas mãos e entrando no hospital.

Avistei o meu pai andando de um lado para o outro nervoso, e León sentado em uma das cadeiras batendo os pés freneticamente, será que aconteceu alguma coisa?

–Papai? O que houve. -Perguntei me aproximando.

–Violetta, meu Deus que susto você me deu, por que está toda molhada? Onde estava? -Ele perguntava enquanto esfregava a mão em meus braços com a intenção de me esquentar.

–Eu estava no parque papai, precisava espairecer um pouco. -Eu disse.

–Tem que trocar essa roupa filha, se não vai acabar pegando um resfriado. -Ele disse.

–Não me importo. -Eu disse.

–Tem que estar saudável se a Elena precisar do transplante. -A voz de León me pegou de surpresa.

–Eu tenho que esperar o resultado do exame para saber se sou compatível. -Eu disse sem encará-lo.

–Você é, o Doutor Miguel veio avisar mas você não estava aqui, disse que era para te deixar ciente pois ao que tudo indica ela vai precisar mesmo. -Ele disse sério.

–Ela piorou? -Perguntei.

–Infelizmente. -Ele disse.

–Ele deixou você vê-la? -Perguntei.

–Não, ela estava dormindo, eles deram remédio por causa da dor. -Ele disse, por incrível que fosse León não tinha o tom de voz frio, como ele costumava usar quando estava chateado.

–Papai ela está sentindo dor, meu bebê. -Eu disse. -

–Violetta precisa trocar suas roupas. -Ele disse me olhando.

–Não vou sair daqui. -Disse e me sentei.

–Não seja tão teimosa querida, por favor. -Meu pai disse me olhando.

–Não vou papai, minha filha pode precisar de mim. -Eu disse.

–Tudo bem, então eu vou em casa pegar uma roupa para você tudo bem? -Ele disse.

–Tudo bem. -Respondi.

–Cuida dela para mim? -Meu pai se virou para León.

–Vai tranquilo. -O mesmo respondeu e meu pai se foi.

Eu fiquei alguns segundos reparando nas pessoas que estavam ali, cada um compartilhava uma dor, mães, pais, filhos todos eles tinham o mesmo tom preocupado no rosto que não devia ser muito diferente do meu. Questões como, quanto tempo eles deviam estar ali, e o que será que seus familiares tinham me rondavam. Um médico se aproximou de uma família que estava algumas cadeiras ao meu lado e disse alguma coisa, a que deveria ser a mãe começou a gritar e chorar desesperadamente, e o que parecia o pai a abraçou chorando também, com certeza a dor deles era maior que a minha.

–Violetta. -Senti uma mão pousar de leve sobre o meu ombro e olhei para a pessoa que me chamava, era ele.

–Hey. -Eu disse, ou pelo menos tentei já que não passou de um sussurro.

–Eu queria te pedir desculpas pelo que te disse mais cedo, eu estava de cabeça quente e não medi as palavras. Acho que não é uma boa hora para estarmos brigados. -Ele disse.

–Tudo bem, me desculpe também. -Eu disse e ele me olhou com ternura.

–Tira esse casaco que você está usando, quanto menos roupa molhada tiver, menos chances você tem de ficar doente. -Ele disse pegando na barra do meu casaco e o puxando para cima, levantei os braços para ajudá-lo. Ele colocou o meu casaco na cadeira ao seu lado e voltou a me olhar.

–Que foi? -Perguntei.

–Nada, está com frio? -Ele perguntou passando as mãos pelos meus braços.

–Só um pouco, logo meu pai chega. -Eu disse e o vi tirar seu casaco e me envolver com ele.

–Só enquanto ele não vem. -Ele disse.

Meu pai chegou uns minutos depois com uma mochila pequena, ele trazia também um saco plástico nas mãos.

–Querida aqui está, se troque por favor. -Ele disse e eu me dirigi até o banehiro, depois de substituir minhas roupas molhadas pelas que meu pai trouxe, voltei para junto deles, deixei minha mochila junto com o casaco que León havia deixado lá e me sentei.

–Vilu, a Olga mandou esse pedaço de bolo de chocolate para você está uma delícia. -Ele disse.

–Não quero. -Respondi.

–Violetta, por favor, eu não quero que você fiquei doente também. -Ele disse me olhando com carinho.

–Não tenho fome papai. -Disse.

–Mas precisa comer, como espera poder ajudar sua filha se não puder parar em pé? -Ele disse e tinha razão, me forcei a comer alguns pedaços de bolo mas o pouco que comi me deixou enjoada, meu pai resolveu não insistir, já que eu tinha feito muito em comer aquele pouco. Eram nove e meia da noite, a chuva ainda caia e o tempo tinha esfriado, nem Miguel nem ninguém veio falar nada sobre Elena, eu podia ter um treco a qualquer momento.

–Por que não tenta dormir um pouco? -León disse se sentando ao meu lado.

–Sabe que nem se eu quisesse muito conseguiria. -Eu disse, eu estava com sono, meus olhos pesavam e ardiam mas eu não conseguiria dormir.

–Deixa eu tentar te ajudar. -Ele me puxou fazendo com que eu me deitasse sobre ele, encostei minha cabeça em seu ombro e senti León pousar sua mão em minha cintura, e a outra começar um carinho em meus cabelos.

–Canta para mim? -Perguntei.

–Cantar? Tudo bem. -Ele disse.

Nothing unusual, nothing strange

(Nada incomum, nada estranho.)

Close to nothing at all

(Perto de nada)

The same old scenario, the same old rain

(O mesmo velho cenário, a mesma velha chuva)

And there's no explosions here

(E não há explosões aqui)

Then something unusual, something strange

(Então algo em comum, algo estranho)

Comes from nothing at all

(Vem do nada)

I saw a spaceship fly by your window

(Eu vi uma nave espacial voar pela sua janela)

Did you see it disappear?

(Você a viu desaparecer?)

Amie come sit on my wall

(Amie, venha sentar-se no meu muro)

And read me the story of O

(E leia a história de O para mim)

And tell it like you still believe

(E conte como se você ainda acreditasse)

That the end of the century

(Que o fim do século)

Brings a change for you and me

(Traz uma mudança para nós dois)

Nothing unusual, nothing's changed

(Nada incomum, nada mudou)

Just a little older that's all

(Apenas um pouco mais velho, só isso)

You know when you've found it

(Você sabe quando encontrou isso)

There's something I've learned

(Há algo que eu aprendi)

'Cause you feel it when they take it away

(Porque você sente, quando eles o levam embora)

Eu senti falta da voz dele, tinha mudado um pouco estava mais firme e um pouco mais grossa, mas continuava melodiosa sem dúvidas digna de ser ouvida com o coração, meus olhos foram se fechando automaticamente enquanto eu prestava atenção na letra daquela música, de repente nem tudo estava tão perdido assim, e então eu adormeci.





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Notas finais do capítulo

Gente, ouçam essa música e venham chorar comigo. Se chama Amie, é do Damien Rice.
To abalada. Me digam o que acharam. Beijos.