A semana passou mais rápido do que eu esperava. A sexta feira chegou, e todos só falavam da festa do sábado. Ninguém se concentrava de verdade nas aulas, inclusive eu. Passei a semana toda tentando convencer meus pais a me darem dinheiro mas não funcionou. Eles diziam que eu podia muito bem ir com algo que já tinha. Eu não concordo. É minha primeira festa com o pessoal da nova escola, eu precisava dar uma boa impressão.

– Gente, hoje eu estou querendo ir ao shopping comprar um vestido para a festa. Querem ir comigo ? - Lisse perguntou.

– Ah... foi mal. Estou sem dinheiro. Meus pais não querem me dar dinheiro para comprar uma roupa para a festa. - Respondo, triste.

– Que nada, menina. A gente paga alguma coisa para você. E depois você devolve o dinheiro. - Elize fala dando tapinhas nas minhas costas.

– Ah, gente. Não precisa. Eu vou com algum vestido da minha casa mesmo...

– Por favor, Stee. Amigas são para essas coisas mesmo. - Lisse pede.

Enfim, eu aceito e nós vamos juntas de ônibus para o Shopping. Tomamos um sorvete e depois vamos para as lojas. Entramos em muitas, mas quando nos agradávamos de algo, era muito caro.

Chegamos á uma loja simples e entramos. Lá encontramos três vestidos perfeitos, e com um preço bastante acolhedor. Compramos e voltamos para nossas casas.

***

Depois de estudar, passo horas me vendo no espelho. Coloco e tiro a roupa, escolho sandálias... maquiagens e penteados. Meu cabelo, que é enorme e escorrido, é muito difícil de prender, mas acabo optando por um rabo de cavalo mal feito. Depois de tudo decidido, vou dormir para acordar bem no dia seguinte. Mas um sonho não me deixa em paz.

Uma mulher de cabelos azuis aparece flutuando e pega minha mão. Ela é fria, como gelo, mas seu toque é macio. Eu recuo e puxo a mão bruscamente.

– Não tenha medo, Stella.

Sua voz faz um eco enorme, e a frase fica se repetindo em minha mente. Medo ? De que eu teria medo ?

Uma onda enorme aparece e a engole, fazendo com que eu solte um grito. Acordo apenas no outro dia, suada e com medo. Sento bruscamente na cama e respiro fundo várias vezes. Minha mãe entra no quarto.

– Querida, teve pesadelos ? -Ela pergunta sentando na beira da cama. Eu confirmo com a cabeça.

– Isso não pode ser normal, mamãe. Meus sonhos, eles são sempre os mesmos. E agora uma mulher fica aparecendo para mim. Eu estou com medo.

– Fica aparecendo ? Você quer dizer que ela já apareceu mais vezes ? É algo constante ?

– Bom, eu... pensei que não fosse nada sério mas. Há umas semanas, ela apareceu no reflexo do meu espelho. Você acha que estou ficando louca, mamãe ?

Eu coloco a mão na minha própria testa.

– Não. Você...só, só está estressada. Vá para sua festa, e divirta-se. - Ela responde dando-me um beijo na testa e saindo do quarto.

Por alguns instantes, pensei que tivessem lágrimas em seus olhos. Mas acho que não porque não há motivos para choro. Eu só estou... estressada como ela mesma disse. Não é nada sério.

Ligo para minhas amigas e combinamos de nos encontrar na minha rua. Começo a me vestir. Pego meu vestido, recém-comprado e coloco em minha frente, olhando-me no espelho. Ele é bonito, amarelo com um cinto marrom bem na cintura. Contrasta com meus cabelos loiros, que decidi desistir de prender e deixa-los soltos, caindo pelos ombros, até abaixo da cintura. Eles não param mesmo de crescer.

Coloco umas sandálias rasteiras e passo um pouco de Gloss e Rimel. Pronta, olho-me no espelho. Porque eu sou tão diferente ? Quero dizer... eu não pareço com as outras meninas que conheço. Mas isso não devia me incomodar.

***

Encontro minhas amigas e elas fazem Fiu-Fiu quando me vêem. Eu sorrio para elas e dou uma voltinha. Elas aplaudem.

– Nossa, garota, quem você quer impressionar desse jeito ? - Clarisse pergunta, sorrindo.

– Seria um tal de Luke Pride ? - Eliza pergunta, cruzando os braços.

– Bom... talvez.... - Respondo.

Elas fazem sinal de desaprovação com a cabeça.

– Quando você vai meter na cabeça, que esse Luke não merece uma garota com você ? - Liz pergunta batendo o pé direito com força no chão.

– Até que eu tenha certeza disso. - Minha resposta sai mais atrevida do que eu esperava, mas era verdade. Luke Pride não parecia fazer o tipo falso...e , ele foi tão simpático comigo na semana passada.

– Bom... só espero que você não se machuque no final. - Lisse fala, suspirando.

– Vamos ? - Pergunto, encerrando o assunto Luke.

Elas confirmam com a cabeça e nós seguimos.

***

A festa já estava bobando. Decoração perfeita, comidas deliciosas e pessoas alegres tomavam conta do lugar. Nós ficamos juntas, dançando até que dois meninos vem ao encontro de minhas amigas.

– Max, Charlie ! Que bom ver vocês. - Elas falam ao mesmo tempo.

Eles se distanciam de mim e eu acabo ficando de canto. Até que um garoto chega até mim. Luke. Vestindo uma camiseta estampada e uma bermuda.

– Stellinha, você veio.- Ele fala. Eu coro. Stellinha. Ninguém me chama assim.

– Hmm... eu prefiro Stee ou simplesmente Stella. - Respondo.

– Tudo bem, Stee. - Luke responde. - Você vai dançar ou ficar ai de canto mesmo ? - Pergunta.

Eu penso.

– Talvez eu prefira ficar aqui mesmo. - Respondo. Ele coloca a mão no queixo com se estivesse pensando.

– Ah, Não. Vamos, venha comigo. - Ele responde então, já estendendo o braço e me puxando para apequena pista de dança.

Ele começa a se sacudir e eu abafo um sorriso.

– Vamos lá, garota. Mexa esse esqueleto. - Ele fala enquanto sacode a cabeça de um lado para o outro, ao ritmo da música. Eu nego.

Então ele se aproxima e coloca a mão na minha cintura. Dessa vez eu fico paralisada. Pisco várias vezes e sinto um embrulho no estomago. Ele começa a rodar minha cintura fazendo com que eu me mexa. Relaxo um pouco mais.

– Ah, pare com isso. - Digo.

Ele balança a cabeça. E dessa vez me roda no ar. Começo a me mexer por conta própria, e quando menos espero já estou dançando.

– Está vendo, você morreu por acaso ? - Luke brinca.

Eu emburro a cara, de brincadeira. Luke aponta para um local mais vazio e pergunta se eu quero sentar. Confirmo com a cabeça e nós vamos para lá, onde a música está mais baixa e as pessoas não estão tão aglomeradas. Meus pés agradecem quando sento.

– Então Stella, conte-me mais sobre você. Eu só a conheço há uma semana, mas já estou encantado. - Luke Pride fala, fazendo meu rosto ficar quente e vermelho. Eu abaixo a cabeça, na esperança de que ele não perceba que estou virando um tomate humano. Ali estava eu, uma menina novata e tímida, conversando com o garoto mais popular e querido da escola. Quem diria.

– Bom... eu, eu sou bem comum. Você já deve ser percebido. Sou bem tímida, não gosto de pessoas que falam muito e que se acham. - Falo. Ele sorri. Percebo que eu acabei de descreve-lo na categoria pessoas que eu não gosto.

Eu sorrio, tentando apagar o que acabei de dizer.

– Não que eu não goste de você... - Digo, acabo me enrolando mais. Dessa vez ele fica vermelho e se aproxima mais. Fico nervosa e começo a enrolar a bainha do vestido com as mãos.

– Eu gosto de você, Stella. - Ele fala sorrindo.

O que quis dizer ? Ele gosta de mim. Como ? Um simples... "eu gosto de você" pode dizer muitas coisas. Mas não devo me apegar ao que ele diz. Como disseram Liz e Lisse, ele diz isso para todas as garotas da escola. Mas não posso evitar. Eu senti algo por ele sim, e olha que eu só o conheço há uma semana.

– Também gosto de você, Luke. - Respondo. - Você foi muito gentil comigo nos primeiros dias de aula. - Completo.

Ele se aproxima mais ainda de mim. Respiro fundo. Não vá fazer papel de boba na frente do garoto, Stella digo á mim mesma.

– Gentileza é comigo mesmo. - Luke responde pegando meu rosto com as mãos e aproximando-o do seu.

Fecho os olhos e mergulho em um beijo demorado. Ele tira uma mecha de cabelo do meu rosto e olha para mim.

– Tudo bem ? - Pergunta.

Eu apenas confirmo com a cabeça, sem palavras. Luke Pride havia me beijado. Ah, que isso Stee, Luke Pride já deve ter beijado muitas garotas.

Então ele me puxa par mais perto e me beija novamente. Ficamos ali por um longo tempo, nem sei quanto tempo. Mas uma hora nos afastamos.

– Eu vou pegar um suco de laranja, quer ? - Luke pergunta. Eu confirmo com a cabeça. Onde foi parar a minha voz ?

Fico sozinha, mas em seguida minhas amigas chegam perto de mim.

– Diga que eu estou enxergando demais, diga que você não beijou o Luke ! - Clarisse fala. Eu sorrio.

– Não, você não está enxergando demais. O que há de errado, meninas ? E aproposito, foi ele quem me beijou. - Respondo, calmamente.

– Isso não vai dar certo. Não mesmo, Stee. Ouça suas amigas. - Eliza pede.

Eu saio andando, elas me seguem. Vou para perto do mar, o mar que meus pais tanto temem. De repente uma onda chega perto de mim, e toca meus pés. A água está gelada, mas mesmo assim parecia estar me chamando a entrar mais.

Fecho os olhos, mas meus pensamentos são interrompidos por um grito.

– Vejam ! Vejam, o cabelo da Stella está azul !

Volto bruscamente para a realidade, sentindo um calafrio percorrer meu corpo.

– Stee ? - Lisse chama, colocando as mãos sobre a boca.

Uma menina loira chega perto de mim ás gargalhadas e me mostra um espelho. Ela ri, fazendo seu corpo se retorcer e sinto as lágrimas começarem a brotar em meus olhos. Que humilhação ! O que estava acontecendo comigo ?

Saio correndo, na intenção de encontrar Luke, e pedir para ele me levar em casa, sem que ninguém mais me veja. Ele não iria rir de mim. O que quer que estivesse acontecendo, ele me ajudaria.

– Procurando o Luke ? - Um menino moreno pergunta.

– Si-sim. - Respondo com a voz arrastada, engolindo um choro.

Ele aponta com o dedo para uma casinha, provavelmente de salva vidas, e vou até lá. O que o Luke está fazendo ali ?

Abro a porta rapidamente e vejo o garoto que me beijou há minutos atrás, aos beijos com uma menina de cabelos vermelhos. Ela está sentada em seu colo, e ele a beija da mesma forma que fez comigo há alguns instantes. Mais lágrimas começam a escorrer. Minhas amigas estavam certas. Ele me vê, e praticamente joga a menina para o lado.

– Stella. Eu...

– Não precisa se explicar. Já entendi tudo. Eu era só mais uma na sua listinha idiota de garotas para "pegar"– Falo fazendo aspas com os dedos, e limpando o nariz, com raiva.

– Você achou mesmo que ele gostava de você ? - Pergunta a menina, se recompondo

– Cala a boca, Celeste. - Luke fala, chegando perto de mim. - Ouça, eu sinto muito.

– Sente, é ? Você não sente nada além do seu orgulho, Luke Pride. Nunca mais fale comigo, ouviu ?

Saio correndo e volto para casa a pé. Meus cabelos, voltaram ao tom original e eu ainda não sei o que aconteceu comigo. Mas quando a água do mar me tocou, foi como se uma conexão acontece e meu cabelo foi prova disso. Meus pais já estão dormindo quando entro em casa, e vou direto para o quarto. Chorando.

Minhas amigas deixaram mensagens no meu celular, mas prefiro não lê-las. Elas me avisaram. E eu preferi confiram em um menino idiota, do que ouvir minhas amigas.

Que idiota eu sou.

Durmo, e sonho com a mesma mulher dos cabelos azuis, cantando uma canção de ninar para mim. Eu fico mais tranquila no sonho. E mesmo sem saber quem é a tal mulher, ela me conforta.