Another Life escrita por MsNise


Capítulo 5
Aprendendo


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Dessa vez eu não demorei muito também, então não tem como reclamar disso hahahaha
Pensei em começar um padrão: postar todas as sextas-feiras. O próximo capítulo, por exemplo, já está encaminhado. E ideias estão fluindo da minha cabeça o tempo todo.
PORÉM, talvez eu desista disso em algum momento. Eu estudo integralmente e uma de minhas metas é ler pelo menos uma hora por dia, como eu fazia ano passado. Farei o maior esforço possível pra postar toda sexta, mas talvez simplesmente não funcione.
Leiam ouvindo: https://www.youtube.com/watch?v=ulCGu472L90
Até as notas finais :*



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— Onde está me levando, O’Shea? — falei, sendo conduzida pelos corredores da caverna por Ian, que carregava um sorriso esperto em seu rosto.

— Você logo vai descobrir, O’Shea — ele retrucou, abrindo mais ainda seu sorriso.

Gostei de vê-lo sorrir daquela maneira e de agir tão tranquilamente comigo, como se nunca tivéssemos brigado ou nos afastado. Ele realmente tinha me perdoado.

Sorri também.

— Não pode dar nenhuma dica? — lamuriei, fazendo uma cena.

— Se eu te desse, não teria graça alguma.

— E quem disse que precisa ser engraçado?

Ele revirou seus olhos durante a caminhada, sem abandonar a minha mão nem por um segundo.

— Palhaça.

— Vim diretamente do circo. Não sabia?! — continuei encenando, achando a nossa brincadeira leve e adequada. Saudável.

— Uau. Até tinha me esquecido! — ele exclamou.

Não consegui evitar uma fraca risada. Ele não diminuiu seus passos, levando-me até o lugar mais improvável da caverna: o quarto de Kyle e Sunny.

— Por que me trouxe até aqui? — perguntei antes mesmo de ele bater na porta do quarto de Kyle; eu estava com medo.

Ao contrário de Ian, com Kyle eu não tinha uma relação tão boa. Na verdade, ele só me cumprimentava por obrigação. A aceitação de que ele também era meu irmão não chegou até ele e isso prejudicava nossa relação.

— Não acha que merecemos algum momento de irmãos? — ele sugeriu com as sobrancelhas arqueadas.

Franzi o cenho enquanto a porta do quarto era aberta e Ian me arrastava até lá dentro. Eu estava tensa, apertando sua mão mais forte que o necessário. A última vez que eu, Kyle e Ian estivemos juntos em um quarto foi atormentadora, cheia de acusações e explicações. Aquele cenário ainda me apavorava.

Kyle estava sentado relaxadamente em seu colchão, esparramado por uma boa parte dele. Isso deveria ter me tranquilizado, mas eu interpretei como uma ameaça sua posição despreocupada. Procurei pelo olhar calmo de Ian e o encontrei facilmente; entretanto, não modificou em nada a nossa situação.

— Kyle e eu decidimos fazer esse momento de irmãos — Ian disse, sentando-se no colchão ao lado de Kyle. Permaneci em pé, com os braços cruzados. Como eu deveria parecer? Durona, inflexível? Ou gentil? Não sabia o que fazer. Naquele momento, apenas parecia uma menininha amedrontada e eu definitivamente não queria ser aquilo. Eu não era aquilo. — Nós sempre fazíamos. É algum tipo de terapia. Mas agora há um complemento. Você também participará de nossa terapia, Susi.

— É — Kyle concordou, quase sorrindo. — Decidimos incluí-la, afinal você é nossa...

— Irmã — Ian completou ao perceber que Kyle estava tendo dificuldades em pronunciar a palavra.

Quando eu percebi que eles não tinham mais nada para falar, murmurei:

— Tudo bem.

— Sente aqui, Susi — Ian ofereceu, batendo no colchão. — Se você ficar em pé não funciona. Se você ficar em pé deixa de ser uma terapia.

Obedecendo como um cachorrinho sem dono, sentei-me no colchão de forma insegura. Engoli em seco. Não sabia como agir.

— O que acha de começarmos, Kyle? — Ian sugeriu, usando a parede de areia como encosto e fechando seus olhos.

— Tudo bem — ele disse, dando de ombros. — Pergunta?

— Deixe-me ver... — Ian murmurou, perdido em seus pensamentos. — Qual foi a última vez que você foi gentil, com quem e como?

Eles pareciam conhecer o ritual de cor. Nem oscilaram com a ordem do que tinham que perguntar e de como deviam responder. Tentei acompanhar.

— Hoje. Com Sunny. Limpei os espelhos por ela.

— Muito bem. Aparentemente ela fez uma evolução no seu modo de agir.

— Ela fez — ele concordou; e aquela foi a primeira vez que o vi admitir alguma coisa no sentido. Senti a diferença dele em minha pele. — Ela me mudou muito. Ela... não é a Jodi, mas é alguém que eu também gosto. Que eu aprendi a amar como minha parceira.

— É uma evolução e tanto — Ian exclamou, ainda de olhos fechados. — Sua vez — ele disse e ao que indicava era vez de Kyle.

— Como está seu relacionamento com Peg? — Kyle perguntou prontamente.

— Muito bem, obrigado — Ian respondeu, abrindo um sorriso enorme daqueles que só as pessoas que amam sabem dar. Quase sorri ao olhá-lo. — Susi, como você está com Jamie?

— É só perguntas sobre relacionamentos amorosos? É isso? — exclamei, não que eu me importasse. Estava curiosa.

— Aguarde — Kyle disse com as sobrancelhas levantadas e isso me assustou; o que ainda viria?

Respirei fundo.

— Tudo bem, então — murmurei, desviando o olhar. — Eu estou... feliz com Jamie. Ele me faz sentir segura. E muito bem. E várias outras coisas.

— Você também está bem mudada desde que começou a se relacionar com ele — Ian comentou, dando de ombros.

— O amor muda as pessoas — repliquei. — Ele me libertou. De tudo. De todas as formas. E eu sou muito grata a ele por isso.

— Sunny também me libertou de alguma forma — disse Kyle. — O gelo que eu tinha dentro de mim foi rachado até...

— Desaparecer. Derreter. Quebrar por completo.

— Isso — Kyle concordou, olhando-me com uma expressão suave, bem parecida com a do Ian. Comecei a me acalmar.

— Algumas pessoas simplesmente têm o poder de mudar outras — Ian disse, sorrindo para ele mesmo. Pensei que talvez estivesse observando a minha interação com Kyle como uma evolução, contudo ele parecia extremamente despreocupado conosco. Encarava o fato como normal.

E, de repente, eu entendi. A única que ainda não aceitava a nossa relação interpessoal era eu. Kyle tinha me aceitado, assim como Ian. Porém, ainda havia uma barreira entre nós. Que eu criava. Somente eu. A partir do momento que eu entendesse que essa barreira na verdade não existia e que era uma ilusão de minha cabeça, a minha vida melhoraria.

Não era uma evolução; era o que sempre foi.

Sorri, e foi aquele sorriso de quem sabe amar.

A nossa conversa estendeu-se infinitamente. Falamos sobre milhares de assuntos variados, de besteiras até assuntos sérios. Falamos sobre ganhos e perdas. Sobre lutas. Nós falamos de vida e de amor. E também sobre mudanças.

Nós falamos tantas coisas que até mesmo me perdi; não sabia onde um assunto terminava e o outro começava. Simplesmente fluiu, como tinha de ser.

Eu não estava sendo tratada como a alienígena que sempre pensei que fosse. Estava sendo tratada como uma pessoa real, que tem sentimentos e se arrepende de seus erros. Estava sendo tratada como uma pecadora perdoada.

— Qual a última lembrança que você tem dela? — perguntou Kyle, deitado na cama.

Eu também estava relaxada, deitada de costas em seu colchão no espaço limitado que eu tinha. Meus olhos estavam fechados.

— Quem? — murmurei sonolenta.

— A nossa mãe — ele esclareceu.

Finalmente. O assunto proibido. O assunto que tínhamos evitado tocar durante toda a nossa conversa tinha chegado; e eu estremeci. Se dissesse alguma coisa errada, poderia comprometer toda a nossa relação amigável. Poderia comprometer tudo o que construímos juntos.

Era um campo perigoso. Um campo minado. Se pisasse no local errado, explodiria tudo. Estragaria tudo.

Respirei fundo antes de responder vacilante.

— É dolorosa — comecei. — Eu simplesmente me lembro de ouvi-la gritando: “Vá logo, Susan” e eu perguntando se ela iria atrás de mim. Ela costumava me dizer que sempre estaria atrás de mim, onde quer que eu estivesse. Ela me prometeu que conseguiria, que escaparia e me encontraria. E eu acreditei — minha voz se perdeu. Havia lágrimas em meus olhos. — Ela nunca me procurou ou me encontrou; e por anos eu me culpei. Pensei que tivesse ido longe demais para ela me encontrar, mas no fundo eu sempre soube que quando ela me gritou aquelas palavras já era muito tarde. Nossa mãe já tinha se entregado. Ela nunca mais voltaria.

O silêncio se estabeleceu no local. Senti que eu não tivesse mais o que dizer.

— Qual foi o último olhar que ela te deu? — Ian perguntou serenamente.

— Desistente — funguei. — E corajoso. Muito corajoso. É preciso ter coragem para desistir. Ela lutou tanto durante toda a sua vida, que desistir parecia ser o ato mais corajoso. Abandonar tudo. Jogar tudo para o alto. Ela pensou em si mesma uma vez na vida quando se entregou. Quando estava presa nos braços daqueles vermes e gritava para eu fugir. Ela tinha me criado como uma sobrevivente, para eu saber o que fazer naquele momento. Ela já tinha planejado cada detalhe.

— Sinto muito a sua falta — sussurrei, com os lábios trêmulos por conta do choro. — Ela era minha heroína. Sem ela... não sei o que teria sido de mim. Mas eu consigo entendê-la. Nossa mãe estava cansada. Não tinha mais suporte para lutar — respirei fundo. — Vocês conseguem entendê-la? Perdoá-la?

Ian e Kyle responderam em uníssono, mesmo que com a voz fraca, e havia uma verdade inquestionável na única palavra que proferiram: — Sim.

E então abri meus olhos. E foi para eu registrar aquele momento, os dois me olhando e dizendo tudo o que eu precisava ouvir deles. Queria que nossa mãe estivesse junto conosco para ouvi-los, mas eu sabia que ela havia escutado. Onde quer que estivesse, tenho certeza que ela sentiu um alívio do tamanho do universo em seu coração; e então ela soube.

Não queria chorar ou parecer ridiculamente emocional, mas a minha primeira reação foi me levantar e olhá-los bem firme. Interpretá-los. Ambos sorriram fracamente, contudo foi um momento extremamente real. Lancei-me nos seus braços, ganhando um abraço apertado e delicioso. Daqueles firmes e seguros. Cheios de amor de irmão.

Foi o único abraço em grupo que eu tive na vida; contudo, se eu tivesse tido mais de um, tenho certeza que esse seria o melhor.

Afinal, estava no melhor lugar do mundo.


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Notas finais do capítulo

E entããããão? O que acharam do momento amável dos irmãos O'Shea? Eu amei escrevê-lo e espero que vocês tenham amado lê-lo também s2
Enfim, enfim. Digam-me suas opiniões, amo ter conhecimento delas!
E é isso. Até o próximo capítulo :*