— Droga, eu realmente acho que deveríamos dançar — exclamou Jamie, fazendo uma careta engraçada.

Ri fracamente e arqueei as sobrancelhas, não entendendo minimamente o que ele quis dizer.

— Como? — estreitei meus olhos com um sorriso em meu rosto, me afastando para ver melhor sua expressão.

Ele revirou os olhos e escutei risadas conhecidas atrás de mim. Ian, Peg, Melanie, Jared, Jeb, Trudy, Lily, Kyle e Sunny. Estávamos reunidos na Sala de Jogos, simplesmente lançando conversa fora sentados no chão. Contudo, Jamie me fez essa estranha proposta e eu me vi sem reação na frente de todas aquelas pessoas.

— Como que se dança, Susi? — ele balbuciou, jogando a cabeça para trás.

Ri mais uma vez e balancei a cabeça, corando.

— Eu não sei. Tem muitas maneiras de se dançar.

— Então me mostre alguma.

Ele propôs e se levantou, me estendendo a mão como um cavaleiro. Sem muitas opções, respirei fundo e aceitei a oferta, parando em pé ao seu lado. Ele mandou as pessoas presentes abrirem espaço e me puxou um pouco para o lado. Boquiaberta, peguei em suas duas mãos e falei com os dentes cerrados perto de seu rosto, em um volume que somente ele conseguiria entender.

— O que você está fazendo? — rosnei, apertando a ponta de seus dedos com os olhos arregalados em desespero.

Consegui ver um pequeno sorriso se abrindo em sua face antes de ele sussurrar contra meu rosto.

— Nós devemos fazer essas loucuras algumas vezes.

— Eles vão rir — insisti, encarando o chão nervosamente.

— Por favor, você está realmente pensando nisso?

Encarei-o com as sobrancelhas rentes aos olhos e fiz uma cara zangada para ele, achando ridícula sua maneira de me caçoar. Ele balançou a cabeça, deixando a expressão séria, e soltou uma de minhas mãos com delicadeza. Em seguida, ergueu meu braço para o alto e me fez dar um giro completo lentamente.

— Nós não temos nem música — pronunciei baixinho, aproximando meu rosto do dele mais uma vez e fechando meus olhos enquanto encostava minha testa em seu queixo.

— Quem precisa disso? As músicas não vão tocar nos melhores momentos de nossas vidas.

— Poderiam.

— Essa não é a nossa realidade. Portanto, vamos simplesmente fazer isso valer à pena?

Puxei o ar lentamente pelo nariz e afastei meu rosto do dele, sustentando seu olhar profundo e estreito que sempre me desafiava a desvendá-lo. Soltei o ar pela boca e andei um passo para trás, pensando que talvez ele tivesse um tanto de razão. Tínhamos que fazer a vida valer à pena com o nosso conjunto limitado de opções.

— Sorria — ele pediu com o olhar intenso, segurando firmemente em uma de minhas mãos.

Nosso espetáculo era observado quietamente pelas outras pessoas na sala. Escutei apenas algumas respirações mais aceleradas e isso me deixou nervosa. Contudo, o mundo podia ser apenas nosso se quiséssemos.

— Jamie — resmunguei, girando meus olhos nas órbitas.

— Vamos lá, sorria logo. Quando mais cedo sorrir, mais cedo acaba — ele assentiu em incentivo, com a expressão calculada.

Suspirei e fechei os olhos, deixando que um sentimento inédito me preenchesse por completo. Ele era peculiar. Sorrateiro. Infiltrou-se dentro de mim de maneira lenta e quase imperceptível, no entanto, logo me dominou. Passeou por minhas veias, fazendo-me tremer e ter vontade de me movimentar. Por vontade própria, meus lábios se ergueram nos cantos e, sem tardar, deixaram meus dentes à mostra.

Abri meus olhos, capturando um sorridente Jamie. Eu sabia que sentimento era aquele. Era a felicidade. O melhor sentimento que alguém poderia sentir. Era a vontade de viver. A capacidade de sorrir. Assenti para Jamie, soltando um som fraco e maravilhado por minha boca.

Ele ergueu meu braço novamente e me fez dar outra volta completa e, em seguida, apoiou-me por minha cintura. Em momento algum deixei de sorrir fascinada, olhando para seus olhos estreitos e indecifráveis. Ele se balançou, arrastando-me com ele e logo dando ritmo aos nossos passos suaves. Pousei minha mão em seu ombro delicadamente e me deixei ser guiada, sentindo-me completa e segura.

Por algum tempo, apenas nos balançamos suavemente, embalados por um ritmo calmo e inabalável. Contudo, isso não durou muito. Jared se levantou, puxando Mel consigo. Paramos em uma passada, analisando-os minuciosamente na tentativa de descobrir o que estavam pensando em fazer.

— Poxa, Jamie — resmungou Jared em um tom decepcionado, estendendo a mão para Melanie com um sorriso torto em seu rosto. — Eu te ensinei melhor que isso.

Franzi o cenho e recuei alguns passos com Jamie, dando espaço para o outro casal na pista de dança. Ambos se prepararam, segurando-se pelas mãos e ficando alguns centímetros afastados de frente um para o outro. Eles sorriram se olhando fixamente e percebi que respiraram fundo.

— Prepare-se para ser humilhada — sussurrou Jamie em meu ouvido, balançando alguns fios de meu cabelo e me arrepiando. Cruzei meu braços, totalmente cética.

Os movimentos eram demasiadamente rápidos para que eu conseguisse acompanhá-los com precisão. Vi que ele puxou um dos braços de Melanie, girando-a rapidamente ao seu encontro e pegando a outra mão dela no meio do passo. Ele a desvirou em seus braços com destreza e a lançou novamente para frente, puxando-a no mesmo impulso. Depois disso, ambos deram voltas extravagantes e difíceis de acompanhar no emaranhado de braços e pernas em movimento e, para finalizar, ele a pegou nos braços para girá-la no ar, contudo o teto era excessivamente baixo e eles se atrapalharam no meio da etapa, caindo no chão com um baque e levantando uma baixa nuvem de poeira púrpura.

— Ai — reclamou Jared quando Melanie caiu por cima dele.

Por um instante, o silêncio dominou o lugar. Todos ficaram paralisados de susto e incompreensão. Com as bocas entreabertas, trocaram olhares chocados. E, então, eu não consegui me conter. Um ruído estranho escapou de minha garganta e me curvou um tanto para frente.

Percebi que vários olhares se direcionaram para mim e isso fez toda a situação ficar ainda mais engraçada do que ela realmente era. Barulhos engasgados irromperam pela minha boca, balançando todo o meu corpo e me obrigando a fechar os olhos com lágrimas salgadas de alegria escorrendo por meu rosto.

Estava gargalhando. Estava chorando de rir.

Sem tardar, ouvi ruídos parecidos ecoando pela sala me acompanhando. Jamie envolveu minha cintura com um sorriso, resguardando-me de minhas próprias risadas.

— O que vale é a intenção — murmurou perto do meu rosto enquanto eu pousava meus antebraços nos seus braços.

— E qual era a sua intenção? — balbuciei mexendo com a camiseta dele, ainda me balançando fracamente com um sorriso em meu rosto e a respiração ofegante.

— Fazer você feliz — ele sussurrou, aproximando perigosamente nossos rostos e nos deixando alheios ao resto do mundo mais uma vez. Sorri maravilhada e soltei todo o ar comprimido de dentro dos meus pulmões. Encarei-o demoradamente, tentando desvendar seus olhos tingidos com aquele incrível tom marrom-chocolate, que, em uma falsa ilusão, pareceu se derreter e me convidar a adentrá-lo

— Você conseguiu. Com certeza sim.