À Gabriele, minha querida teriantropa escrita por Justine


Capítulo 2
Ódio a primeira vista


Notas iniciais do capítulo

Até que não demorei muito de postar! Divirtam-se!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/483399/chapter/2

Os raios de sol de fevereiro refletiam no velho prédio branco, dando à velha edificação um ar um tanto majestoso. O caminhão em que eu e minha mãe seguíamos parou, nos sacolejando. Eu olhei para o homem gordo e de aparência rude que dirigia o veículo e ele me dirigiu o mesmo olhar rude que dirigia nas poucas vezes que olhava para mim ou para minha mãe, muito embora eu não desse a mínima para isso, apesar de achar um pouco estranho. Bom, talvez fosse o jeito dele mesmo, mas de qualquer forma, não importa. A função dele era só transporta os nossos pertences, mesmo.

Minha mãe abriu a porta e saltou do caminhão. Eu saltei logo em seguida e quando os meus pés tocaram o chão senti um grande choque, como se os meus sentidos estivessem mais aguçados. Apesar disso, estiquei todo o corpo e andei um pouco, aliviada por poder me mexer, já que havia feito o percurso prensada entre minha mãe e o motorista.

Os dois meninos esquálidos que foram obrigados a viajar no baú do caminhão deveriam estar piores do que eu.

Comecei a observar a minha nova morada enquanto o caminhoneiro e seus dois jovens ajudantes começava a descarregar nossa mudança. Tratava-se de um conjunto habitacional simples, composto por quatro prédios, cada um deles com quatro andares. Não era nada mal. Parecia um lugar tranquilo. Despertei-me dele, porém, quando minha mãe chamou o meu nome, pois ela guiaria os rapazes até o nosso apartamento e eu não podia ficar sozinha ali fora. Achei melhor, pois também precisava acomodar a minha sacola de roupas. Atravessamos o saguão no térreo do prédio, que era bem iluminado pelo sol e nos encaminhamos para as escadas. O apartamento ficava no terceiro andar, e eu fiquei com pena dos homens que teriam que subir todos aqueles degraus carregando coisas pesadas como geladeira e fogão.

Apesar de já ter chegado de olhos bem abertos, xeretando tudo, eu me senti mais a vontade para examinar meu novo lar quando toda aquela agonia de transporte de eletrodomésticos e móveis acabou. Os cômodos até que eram arejados, composto por cozinha, um banheiro, sala uma pequena área de serviço e dois quartos. O maior ficou com a minha mãe, mas eu amei o meu: era estreito, mas bem ventilado. Tudo o que eu necessitava. Logo comecei a arrumá-lo conforme o meu gosto, e como eu nunca fui muito atenta a essas coisas de decoração, foi uma tarefa bastante fácil, já que apenas precisei de uma ajudinha de mamãe para posicionar o guarda-roupa e a cama no lugar que queria. O que restou foi a escolha de um dos meus lençóis de cama favoritos, arrumar as minhas roupas no armário e alguns pequenos pertences no criado mudo. Eu nunca tive muitas coisas no meu quarto, mesmo. É uma questão de gosto.

Então, fui ajudar a minha mãe a arrumar o resto da casa e a fazer uma faxina. Eu detesto fazer faxina, mas o esforço valia, por causa de minha mãe. Para falar a verdade, ela sabe dar amor, carinho e atenção como ninguém e eu nunca duvidei que o meu pai fosse um homem muito feliz ao lado dela. É uma mulher bonita, tenho certeza que é, mas um pouco maltratada pelas circunstâncias. Trabalho excessivo e as preocupações de uma mãe de família dedicada fizeram-na um pouco desleixada com a aparência, muito embora às vezes eu a escute dizer que vai frequentar uma academia e voltar a fazer visitas ao cabeleireiro. Só que eu nunca acredito no que ela diz, embora já tenha acreditado muito. Todavia, isso foi antes da morte do meu pai.

Logo na nossa primeira semana na nova casa, eu a pegava chorando, o que me deixava muito desconcertada, pois não sabia como agir. Então ficava parada, observando-a chorar, para alguns minutos depois, ir até ela e abraçá-la. Mas ainda que estivesse sofrendo, era incomparavelmente mais fácil encontrar mamãe em estado de lucidez do que em profunda tristeza. Ela nunca foi de se deixar abalar. Sempre foi forte, uma guerreira. E continuou sendo a mesma mãe atenciosa, mesmo naquela situação difícil. Otimista, acreditava que a dor amenizaria com o tempo, e que aquele apartamento a ajudaria nisso, principalmente por ter uma colega de trabalho achegada como vizinha.

Ah, a colega de trabalho que lhe informou do apartamento desalugado... É impossível não falar dela nessa história.

Justamente na primeira tarde no novo prédio, ocorreu o encontro que mudaria o curso das coisas nos meses seguintes. Eu e minha mãe acabávamos de voltar da padaria, quando, ao passarmos da portaria do prédio, avistamos no saguão uma mulher que fisicamente parecia com a minha mãe, e abraçada a ela, estava uma menina que parecia ter a minha idade. Ao ver a mulher, mamãe sorriu abertamente:

– Cris! – ela gritou.

– Eliane! – a outra respondeu.

Segui minha mãe que ia ao encontro de Cris, que a abraçou. Eu e a garota que acompanhava a outra mulher nos entreolhamos e observamos a cena, atônitas.

– Tudo bom? Quando você chegou? É a sua filha? Tudo bom, gatinha? – perguntou Cris, depois de pousar seu olhar carinhoso em mim.

Eu forcei um sorriso e minha mãe respondeu a tudo que lhe foi perguntando:

– Bem, estou tentando levar adiante, não é? Chegamos ontem, e sim, esta é minha filha, Andressa. Filha, esta é Cristiane, a colega de trabalho de quem te falei. Cris, essa menina não é a sua filha?

– Sim, essa é a minha Gabriele. Aliás, Andressa, quantos anos você tem?

– Treze. – respondi timidamente.

– Oh, que bom! A mesma idade de Gabi!

– É! Podem fazer amizade...

Eu e a garota não respondemos nada. Apenas nos entreolhamos e, só para constar, não foi um olhar nada amigável. É claro que não nos ameaçaríamos de morte com os olhos sendo que nossas mães estavam ali, presentes. Mas que tudo foi de um jeito absolutamente frio, lá isso foi.

As mulheres, porém, nada haviam percebido e Cristiane deu continuidade à conversa:

– Então, Eli? Você já decidiu em que escola vai matriculá-la? Ou ela vai continuar na mesma escola?

– Não, vou colocá-la em outra escola. Você tem alguma sugestão?

– Sim. A escola onde Gabriele estuda. É um pouquinho longe daqui, mas é muito boa, apesar de ser estadual. Em que série Andressa está?

– Vou para o nono ano/oitava série. – respondi, já conseguindo simpatizar um pouco mais com aquela mulher do que com sua filha.

– Que bom! – ela retrucou – Gabi também vai cursar a oitava. Ou o nono ano, como estão chamando agora. Puxa vida, que confusão isto, não acha? Mas me diga... Você também deve estar prestes a completar catorze anos, correto?

A minha vontade era de exibir um sorrisinho bem cínico, mas se algum dia alguém me perguntar, eu jamais saberei responder se o meu sorriso seria para a mãe de Gabriele ou para aquela situação toda, para o mundo, para o destino, mesmo que eu nunca tenha acreditado em destino. Que sorte eu estava tendo, hen? Primeiro meu pai morre, depois eu me vejo forçada a sair do bairro onde já morava há tempos, acabo alugando um apartamento que fica no mesmo prédio de uma garota que com certeza deve ser uma megera e, provavelmente, estudarei no mesmo colégio que ela. A vida estava sendo muito injusta ou eu é que estava sendo muito dramática?

Quando deixamos o saguão e voltamos para o nosso apartamento, minha mãe estava com outra expressão. O rosto estava mais corado, e perto de sua boca concentrava-se uma fina linha facial, uma marca deixada pelos seus risos. Talvez ela estivesse certa durante todo este tempo, e a mudança ajudaria em algo, e este pensamento me deixava realmente feliz. Mas é claro que isso não a faria se esquecer de mim. Após aquele encontro no saguão, ela me fez uma pergunta, assim que pisamos na nossa sala:

– Cris é uma pessoa agradável, não é?

Pergunta fácil de responder, não? Sim, é bem fácil... Se você não estiver com dúvida em relação ao principal assunto da pergunta.

– É. – respondi evasiva.

– E o que você achou da filha dela? Parece ser uma boa menina.

Não gosto de esconder certas coisas e por isso, fiquei calada, olhando para minha mãe com a minha famosa cara de quem quer negar, mas ao mesmo tempo não quer. Ela percebeu isso, pois caiu na gargalhada.

– Você não achou, não é?

– Bem... Ela parece ser o tipo de garota ideal para estar perto em um dia de calor.

– Por quê? – quis saber minha mãe franzindo o cenho.

– Porque é muito fresca! – eu concluí, fazendo minha mãe rir mais ainda.

– Ai, Andressa... – disse ela, parando de rir e respirando fundo, para logo em seguida adquirir um tom de voz sério, mas carinhoso – Eu sei que você é de poucos amigos...

– Não fala assim porque eu sou da paz!

Minha mãe riu mais um pouco.

– Você entendeu o que eu quis dizer, sua boba! Mas, como eu ia dizendo, tente ser um pouco mais flexível. É bom conhecer pessoas novas, principalmente na sua idade, e além do mais, isso pode lhe ajudar a superar a perda de seu pai. E depois, pode ser que Gabriele seja uma boa garota. Tente conhecê-la, certo?

Em resposta, eu assenti com a cabeça.

*********

– Lápis?

– Está aqui. – disse eu, erguendo o objeto no ar.

– Canetas?

– Já coloquei na mochila.

– Caderno?

Eu puxei um saco plástico que estava ao meu lado e retirei o caderno de capa em listras de vários tons de azul de lá.

– Ótimo! – disse minha mãe, riscando este último item na lista que segurava – Acho que não faltou nada em seu material escolar.

– É. – eu disse, levantando do chão e pegando a mochila azul (eu amo essa cor!) e levando-a para o quarto.

– Ansiosa para amanhã? – eu ouvi minha mãe perguntar da sala.

– Hum... Não exatamente. Apenas um pouco curiosa para conhecer a escola e a minha turma. No mais, estou tranquila.

– Seu pai ficaria tão orgulhoso de vê-la no nono ano!

Eu reapareci na sala justamente quando ela estava concluindo esta frase.

– Mãe, não vamos nos lembrar dele agora, sim?

– Posso te fazer uma pergunta?

– Pode.

– Você tem chorado por ele?

Puxa vida! Minha mãe havia tocado em um assunto de honra. Costumo chamar os assuntos que acho que devem ficar só para mim dessa maneira. O fato é que, por mais justo que seja o motivo, eu não gosto de ficar chorando por aí. E nem admito quando choro. No enterro do meu pai, a emoção foi forte, e eu não consegui me segurar totalmente. Mas também, evitei fazer escândalo. Deixei que umas cinco lágrimas saíssem dos meus olhos e guardei o resto para a noite, quando já estivesse no meu quarto, supostamente dormindo. Ninguém precisava saber, porque ninguém ia amenizar a minha dor. E nem minha mãe, aliás, ela muito menos. Já estava difícil para ela encontrar consolo próprio, imagine o fardo a mais que teria que carregar se eu me mostrasse fraca? Sufocar a tristeza era bem mais prático para mim, até porque além de nunca admitir quando eu choro, eu prefiro que as pessoas acreditem que eu nunca choro ou chorei. E todo mundo pareceu acreditar piamente este tempo todo. Quer dizer, todo mundo, menos minha mãe.

A questão é que ela sempre me conheceu. E eu não estou falando apenas de características físicas. Ela conhece-me a fundo, o meu íntimo. Mesmo que eu minta para ela, eu sei que no fundo ela sabe a verdade. E o mais curioso é que comigo ocorre o mesmo, pelo menos quando o assunto é ela acreditar em minhas mentiras sobre os meus sentimentos. Parece que o que sempre aconteceu foi uma forma de respeitar o meu silêncio. Ela pergunta, eu minto, ela sabe que a história é diferente, mas também não se pronuncia, pois entende que eu não quero falar. E eu sinto que ela sabe, e agradeço no íntimo por me entender, mesmo sabendo que ela sabe de todos os meus passos e vai continuar me observando. Sutilmente presente. Assim é a dona Eliane.

Mas agora ela tinha levantado aquela questão. Por força do hábito eu poderia mentir novamente, todavia dizer não me parecia uma resposta um tanto fria, sendo o tema da conversa o meu falecido pai, sangue do meu sangue. Então, simplesmente respondi:

– Eu sinto muita falta dele.

No dia seguinte, eu coloquei a minha mochila nas costas, e dei um beijo de despedida em minha mãe. Ela insistiu para que, no dia anterior, eu combinasse um horário com Gabriele para irmos juntas ao colégio, mas eu logicamente neguei, sob o pretexto de que se eu fizesse o primeiro trajeto sozinha, o aprenderia mais rápido. Então, fui até o ponto de ônibus mais próximo do prédio sob o agradável solzinho que brilhava naquela manhã de início de segunda-feira. Por sorte, o transporte coletivo não demorou muito e logo eu estava falando com a cobradora, que depois de uma rápida explicação, se comprometeu em me indicar em qual ponto eu deveria saltar.

– Depois que descer, entre naquela rua ali e siga direto. É o único colégio que tem lá. – ela disse, quando meu ponto se aproximou.

Eu agradeci com um sorriso.

Encontrar o colégio não foi difícil, pois minha mãe havia me orientado antes de eu sair (inclusive sobre qual ônibus pegar), e além do mais, contei com as dicas da atenciosa cobradora.

A escola não tinha um aspecto muito diferente dos lugares que já estudei. Na frente dela, vários alunos se reuniam, esperando a abertura dos portões, inquietos. Diferenciar os novatos dos veteranos era fácil: enquanto este último grupo se envolviam em abraços, risadas e gestos que remetiam à saudade que provavelmente sentiram de seus colegas nas férias, sem a presença de qualquer adulto por perto, o primeiro olhava de um lado para outro, deslocados, e acompanhados de adultos que com certeza deviam ser seus responsáveis. Se eu não fosse a única, talvez fosse uma dos poucos que ousavam a desbravar o território desconhecido, que é a escola nova, sem a minha mãe por perto. Neste ponto, para uma filha única, até que sou bem independente.

Quando os portões abriram, a correria dos estudantes em direção aos vários murais começou. Eu procurei o mural do nono ano e, após vencer uma multidão barulhenta, cheguei até ele. Procurei o meu nome em várias listas, mas só o achei na lista do 9º ano E. Por que eu sempre estou nas últimas salas?

Antes de me dirigir a minha sala de aula, me ocorreu verificar mais uma coisa na lista e assim o fiz. Os meus olhos percorreram a folha procurando algum nome que iniciasse com G... E eu só achei um: Gabriele de Assis Moreira. Não, não pode ser ela, eu pensei inicialmente, mas depois deixei a lista de lado e fui procurar a minha sala, com um pensamento otimista na cabeça. Afinal de contas, eu não sabia qual era o sobrenome da menina. E quantas “Gabrieles” não existem neste mundo?

Ao chegar à sala de aula, que eu consegui encontra graças a uma zeladora, escolhi me sentar no meio da sala, acomodei minha mochila na cadeira e, com o olhar, comecei a fazer o reconhecimento da área. Alguns alunos se abraçavam, outros conversavam, o que me fez ter a ideia de que eu era a única novata. Uns me olhavam com curiosidade e outros amigavelmente, Porém, como nada neste mundo é perfeito, e perfeição era algo que minha vida com certamente desconhecia naquela época, percebi que atraia a atenção um tanto hostil de uma dupla nada agradável. Tratava-se de duas meninas mal-encaradas, corpos pesados, jeito grosseiro. Volta e meia as flagrava lançando olhares de desprezo para mim. Eu, é claro, tentei fingir que não via, muito embora aquela situação já estivesse me deixando bem desconfortável.

Foi exatamente quando eu tentava esquecer a indesejada atenção que estava recebendo que eu vi entrar, toda sorridente na sala, nada mais nada menos que Gabriele. Mas o pior de tudo mesmo foi ver as mal-encaradas garotas correndo para abraçá-la! A sorte, sem sombra de dúvidas, não estava ao meu lado. Seria mesmo possível que a menina que odiei na primeira vez que vi andava com duas garotas de quem conquistei a inimizade de graça? É, parecia que sim. Provavelmente, eu teria um difícil ano letivo pela frente.

A manhã transcorreu como uma típica manhã de primeiro de aula, e como todos dizem, este dia é desafiante, principalmente quando se é novato. Bem, desafio mesmo eu passaria após a aula de Educação Física.

O nosso professor, Pedro, era um jovem musculoso e por isso, nem é preciso dizer que uma boa parte das meninas da sala foi à loucura quando viram que ele ministraria a esportiva aula. As mais ousadas lhe atiravam indiretas e se insinuavam, principalmente as duas garotas que logo me detestaram, que eu já sabia se chamarem Juliana e Poliana. O professor, apesar de simpático, não dava ouvidos para nenhuma delas e até refurtavam algumas coisas que lhe diziam. Apesar de jovem, parecia ser equilibrado e não parecia disposto a se envolver com nenhum tipo de jogo por parte das alunas. Enquanto isso, eu debochava mentalmente do atrevimento de minhas colegas, sobretudo da dupla pesadelo. Aquelas duas não tinham espelho, não?

Olhei para o lado e vi Gabriele admirando o professor, mas não fazia nada mais que observá-lo. Bem, ao menos isso.

Aconteceu que, como sabia que este era o primeiro dia de aula, Pedro sugeriu uma aula mais relaxante, como um jogo de handball. Ofereceu-nos uma bola e separou a turma em duas equipes. Eu fiquei na equipe que era adversária do time de Gabriele (que eu já havia descoberto ser muito querida pela turma) e da dupla pesadelo. Filipe, um garoto de pele bem clara, magro e alto bateu par ou ímpar com Paulo, que era moreno e baixinho perto dele. Foi assim que decidiram qual equipe começaria com a posse da bola, que foi a do Paulo.

Eu nunca fui de praticar esportes, talvez por falta de um local apropriado, ou de companhia, mas nas aulas de Educação Física sempre tive um desempenho razoável. E este mesmo desempenho me levou a roubar a bola das mãos da dupla pesadelo, ou irmãs metralha, uma, duas, três... Quatro vezes! Esse foi um dos motivos que levou o meu time a finalizar a aula como campeão e que me fez cair nas graças dos meus companheiros de jogo. Mas é claro que não se conquista a admiração de várias pessoas sem conquistar o ódio de uma. No meu caso, reforçar o ódio de duas. E eu não sabia o tamanho da briga que estava comprando.

Infelizmente, aquela aula foi a última do dia e, devido a um problema na lista de chamadas, eu fui a última a deixar a quadra. Para ter acesso ao portão da escola, eu tinha que passar por um corredor que estava vazio. E, foi justamente ali que eu senti os braços violentos de Juliana e Poliana me envolverem em um abraço de ira.

– Aí está a magrelinha que ficou tirando sarro da gente na quadra. - disse Poliana.

– É... Estava se achando, não é não, garota? Agora somos só nós três!

Confesso que fiquei apreensiva ao imaginar o que aquelas duas meninas monstruosas poderiam fazer comigo. Mas ainda assim, não me intimidei e tentei desvencilhar-me daqueles braços, me contorcendo e tentando mordê-las. Enquanto isso, porém, ouvimos passos no corredor, que pareciam estar se aproximando cada vez mais. Juliana arregalou os olhos:

– Parece que vem vindo alguém!

– Vamos deixá-la aí. Depois nos entendemos com ela. – Poliana aconselhou.

E dizendo isso, me empurraram, me fazendo cair no chão e sumiram no corredor. Eu me levantei e saí dali como se nada tivesse acontecido, passando por uma mulher que parecia ser a coordenadora e que por sinal, era a autora do som dos passos que escutei minutos atrás.

Ao passar pelo portão, lá estavam elas, em frente ao colégio. Encarei-as sem medo e, de peito estufado, preparei-me para fazer o meu percurso para o ponto de ônibus. Contudo, antes de deixar a rua do colégio, ouvi a ameaça produzida pela voz grossa de Poliana:

– Você pode até ser marrenta, sua nojenta. Pode não ter medo de nada, mas nessa escola você não fica. Enquanto estiver estudando aqui, nós não vamos deixar você em paz! Sua vida vai ser um inferno!

A primeira (e última) tentativa não tardaria a acontecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Em breve postarei o segundo. Quero rewiews!!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "À Gabriele, minha querida teriantropa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.