À Gabriele, minha querida teriantropa escrita por Justine


Capítulo 1
BAM! Tudo mudou de repente!


Notas iniciais do capítulo

Bom pessoal, depois de escrever A Mansão Subterrânea, estou de volta com mais esta história. Curtam!



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Antes de me apresentar, gostaria de informar que este não é o livro mais indicado para quem gosta de ler histórias repletas de luxo, glamour e recheadas de nomes e sobrenomes estrangeiros, com cenários internacionais. Se estiver procurando algo do tipo, acho melhor fechar este livro rapidinho e procurar a história correta. Por favor, não me interpretem mal! Não quero ser grosseira com ninguém. E, aliás, quero deixar bem claro que não tenho nada contra ao gosto pelo luxo, pelas riquezas e pelo exterior. Mas é que esta história é sobre duas garotas que viviam uma vida bem real, e cujas vidas se cruzaram em um dia fatídico, envolvendo-as em uma série de acontecimentos que de tão absurdos pareciam irreais. Bem, agora posso me apresentar.

Meu nome é Andressa. Andressa Santos. Nome comum, não é? Eu sei. Quer dizer, gosto do meu nome e apesar de não ter nada contra ao meu sobrenome, tenho que admitir que ele é bem repetitivo. Tenho quinze anos, estatura média, cabelos crespos, sou parda e bem magrinha. Moro com a minha mãe, gosto de ouvir música, estudo, faço tarefas domésticas para ajudar mamãe... Poderia perfeitamente dizer que levo uma vida normal, e sim, eu diria se estivesse escrevendo isso há uns anos atrás. Mas minha vida jamais foi a mesma depois de um acontecimento banal, mas muito, muito triste...

Tudo começou há dois anos, quando certa manhã, enquanto eu assistia a uma aula chata de história, a porta da sala de aula se abriu, revelando a imagem baixinha de uma zeladora do colégio. Como era de se esperar, a professora interrompeu o seu horrível discurso sobre feudalismo ou qualquer coisa do tipo e os alunos olharam para a funcionária, curiosos. Esta, após desculpar-se com a professora e pedir licença para falar, perguntou em voz alta:

– Esta é a sala da turma da sétima série D, correto?

– Sim. – responderam a professora e os alunos, quase ao mesmo tempo.

– Aqui tem alguma Andressa Santos?

Eu fiquei tão surpresa que ao levantar a mão, quase bati em um colega que ocupava a carteira vizinha e minha voz saiu aguda quando eu anunciei:

– Sou eu.

A zeladora então disse:

– Sua mãe te aguarda na diretoria.

Confesso que naquela hora me senti a pessoa mais nervosa do mundo. Minha mãe nunca apareceu no colégio sem aviso prévio, ainda mais sabendo que eu estava em aula, o que significava que um motivo de força maior havia levado-a até lá. Então, comecei a revisar em minha mente o que havia feito no colégio nas últimas semanas. Não tinha feito nenhuma travessura. Oh, céus, cheguei a pensar, será que estou sendo acusada de algo que não fiz? Não, são as notas. É isso. A diretora resolveu chamar minha mãe para conversar sobre minhas notas. Tropeçando, levantei da cadeira e saí da sala sob as brincadeiras dos meus colegas. “A casa caiu”, escutei um deles dizer antes de seguir a zeladora pelo corredor. Mal sabia eu que naquele momento, estava indo receber uma das notícias mais tristes que já recebi na minha vida.

Ao chegar à diretoria, encontrei minha mãe e a diretora. As expressões faciais delas me assustaram um pouco. A diretora me olhava como se sentisse pena, e minha mãe estava com os olhos avermelhados, como se estivesse chorado durante horas. Olhei de uma para outra, completamente assustada, e a diretora disse:

– Andressa, sua mãe precisa te contar uma coisa... Não é uma notícia agradável.

– O que aconteceu, mãe? – perguntei, sentindo um desconfortável frio na barriga.

A resposta veio numa voz baixa, triste e entrecortada:

– Minha filha... Eu recebi uma ligação do trabalho do seu pai hoje pela manhã...

Estas palavras foram o suficiente para que eu sentisse o chão desaparecer sob os meus pés.

– Aconteceu alguma coisa com ele? – indaguei trêmula.

Mamãe sacudiu a cabeça afirmativamente e as lágrimas rolaram fartas em seu rosto, que ela escondeu entre as mãos.

– Mãe... Por favor, fala! O que aconteceu com meu pai?

– Enfarto, Andressa... Chamaram os médicos, mas não puderam fazer nada...

A única reação que tive naquele momento foi colocar as mãos sobre a boca, enquanto as lágrimas rolavam silenciosas no meu rosto. Senti-me tão mal... Incapaz, e até mesmo culpada. Antes de sair para o trabalho naquela manhã, meu pai me deu um beijo no rosto e me desejou uma boa manhã na escola. E agora eu estava ali, recebendo a notícia de que nunca mais ouviria sua voz, nem olharia em seus olhos. Aquilo tudo era doloroso demais. Minha mãe e eu nos abraçamos, e continuamos a chorar copiosamente. Eu voltei para a minha sala de aula, apanhei meus materiais e saí. Retornei para casa com minha mãe, e eu a ajudei a organizar um enterro barato. A cerimônia fúnebre aconteceu pela tarde e após isso, nós passamos os dias vivendo nosso luto.

Mas uma hora teríamos que levar a vida adiante.

A veracidade dessas palavras foi comprovada quando em uma tarde quente de início de dezembro, algo que é bastante típico na capital baiana, minha mãe chegou do trabalho e anunciou:

– Vamos nos mudar.

Esta pequena frase me causou uma sensação tão estranha que por um momento, eu achei que fosse entrar em transe. Todavia voltei a mim muito rapidamente e respondi:

– Tudo bem. Para onde vamos?

Eu devia ter me mostrado realmente insatisfeita com a notícia, pois ela sentou-se ao meu lado, no nosso sofá absolutamente velho e disse:

– Minha querida, eu sei que você mora aqui desde que nasceu e está mais do que adaptada. Afinal de contas, catorze anos não são catorze dias. Mas me entenda, Dê: para mim esta casa está impregnada com as lembranças do seu pai. Cristiane, uma colega de trabalho minha, mora em um prédio onde estão alugando um apartamento. O preço do aluguel é bom, cabe no nosso orçamento. O apartamento tem dois quartos, uma sala, uma cozinha e um banheiro, não é muito luxuoso, mas é o suficiente para nós duas – ela disse isso como se eu estivesse acostumada a luxos – E tem uma boa localização... Fica no bairro de São Rafael.

Outro baque! São Rafael... Nada contra ao lugar, mas seu nome só me faz pensar em estresse e em engarrafamento. Todavia, eu não podia continuar me opondo aquele esforço que minha mãe fazia para superar a tragédia que aconteceu a um período de tempo relativamente curto na época. Então, lhe dirigi um sorriso compreensivo e recebi outro, cheio de carinho, dela.

– Você vai gostar meu amor. Aliás, essa minha colega de trabalho tem uma filha da sua idade. Quem sabe você não faz uma amizade nova?

Puxa vida! A morte do meu pai, além de ter sido um acontecimento horrível, estava desencadeando tanta coisa na minha vida que qualquer novidade era, sem exageros, impactante. No dia em que a notícia chegou aos meus ouvidos, eu tive que me acostumar a dividir o teto com uma pessoa a menos. Na nossa primeira noite sem ele, eu tive que me adaptar a dormir com minha mãe, que estava sentindo um vazio deprimente na cama e não conseguia dormir. Logo pela manhã, eu me toquei que, de alguma forma, minhas responsabilidades dobrariam. Nos dias que se passaram, descobri rapidamente que o pior de tudo seria aguentar o falso olhar de compaixão das vizinhas fofoqueiras, que ao me ver passar, aproximavam-se umas das outras e em vozes supostamente baixas, sussurravam entre si, um lamento cujo objetivo era transmitir pena:

– Coitadinha! Ela é órfã! - e, até hoje, eu acho que apesar de elas murmurarem coisas deste tipo, o objetivo principal era que eu ouvisse tudo.

Ah! Esqueci-me de falar também dos cortes de gastos que passamos a fazer em casa.

Só que agora a coisa parecia estar piorando: eu ia mudar de casa e provavelmente ganharia uma nova amiga. Bem, você pode até achar que tem algo de anormal comigo. Afinal, todo mundo gosta de fazer amigos, não é verdade? Só que isso não se aplica a mim.

O fato é que o perfil que criam para filhas únicas é de meninas delicadas, porém bastante amadas e por isso muito mimadas, mas aí está o ponto que as fazem ser admiradas por todos. Não sou mimada. E delicada, muito menos. E o único amor que encontrei foi o dos meus pais.

Sempre fiz o tipo caladona. Alguns têm até um pouco de medo de mim, muito embora eu nunca agredisse alguém. Algumas meninas me achavam, e ainda acham estranha. Para falar a verdade, meninos também. Bem, interpretações alheias à parte, o fato é que eu sou de poucos amigos. Só me lembro de ter tido mesmo um único amigo antes da oitava série. Era um garotinho de cabelos castanho-claros e cacheados. O nome dele era Gustavo... Ou seria Vitor? Bom, eu não lembro. Enfim, eu nunca gostei de ter um monte de gente comigo. Mas agora, com certeza eu ia encarar uma garota que até entender que eu não estava aberta à amizades, ia testar minha paciência até desistir de tentar alguma coisa. Era sempre desafiador... Mas sempre obtive bons resultados. Basta deixar claro que não se importa, que não está interessada. Mas para minha mãe, ter uma vizinha da minha idade seria ótimo, pois poderia me servir como uma terapia, para superar rápido o que eu estava passando. Por isso, respondi a ela com um sim, tentando disfarçar a minha desanimação.

Portanto, logo depois do Ano-Novo, obtivemos a ajuda de alguns vizinhos mais achegados para colocar nossas coisas em um caminhão de mudanças e partimos do bairro de Cajazeiras. Minha mãe, toda animada, esperava uma vida nova.

E eu não esperava nada, mas não fazia nem ideia da reviravolta que minha vida estava prestes a sofrer.


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Notas finais do capítulo

Então, galera, sei que é chato, mas por enquanto teremos este capítulo. Mas juro para vocês que, apesar da correria, tentarei escrever o segundo mais rápido possível. Curtam!



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