A morte, quando começa? escrita por Rosi Rosa


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Sei que uns não vão gostar do enredo, da fic em si, ela não tem um final feliz. Apenas isso, ou tudo isso.



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Ele estava impecável em seu terno preto novo, as flores nas mãos deixava um perfume sútil por onde passava, o caminho de pedra ladeado por pequenas árvores formavam uma imagem sublime e tranquila. Mas ele não estava tranquilo. A brisa pairava no ar, o silêncio era quebrado pelos cantos dos pássaros, a melodia entoada parecia de adeus, de partida ou de chegada, ele não sabia. Pra ele era simplesmente um canto triste.

Ele alisou a roupa com as mãos nervosas, a passos lentos ele chegava até ela, um nó se formou em sua garganta, queria gritar, acabar com aquela paz do lugar, mostrar a todos o tormento em que estava. Inspirou profundamente buscando equilíbrio, ela não gostaria que ele perdesse o controle. E ele não perderia, por ela.


Fechou uma das mãos em punho ao lado do corpo quando a viu, tão longe e tão frágil. Aproximou-se devagar, um soluço escapou de seus lábios, ajoelhou passando a mão em sua superfície fria e áspera, desenhou com os dedos o nome gravado: Felicity Smoak. Depositou as flores, beijou a lápide e chorou. Um pranto doído, convulsionado, desesperado. Sombrio. Interminável.

Rasgava a alma em pedaços ver sua garota ali, sem vida. Hoje seu coração batia por dois, mas sem ter ninguém pra ouvir. Com os olhos vermelhos de chorar, as lágrimas formavam um rastro úmido de dor pelo seu rosto, olhou novamente pra lápide, sufocando um grito de desespero. Quando falou, sua voz era apenas um rasgo rouco:


—Oi Felicity, meu amor! Tem sido difícil os dias sem você, sem a sua alegria, sua voz, seu humor, seu sorriso... Tem sido horrível as noites em que passo revirando na cama, o sono nunca vem e quando chega é um pesadelo que me faz acordar sobressaltado e suado, sem esperanças, sem você. Vazio. — Nesse instante Oliver piscou algumas lágrimas, a voz embargou e quase falhou. As palavras tremiam nos seus lábios. Respirou com dificuldades. Uma pesada nuvem de tristeza e abatimento pairou sobre ele. Sentia-se cansado, fraco.Vivo e Amargurado. Sozinho.

— Eu ainda fecho os olhos e tento imaginar que tudo não passa de um sonho ruim, mas quando os abro, você não está comigo, tento não desmoronar, tento ser o homem que você queria que eu fosse, mas eu não estou conseguindo. O sofrimento, a solidão, a dor... são companhias constantes em minha vida. Restou-me apenas o silêncio e a amargura de viver sem você. Éramos uma só vida, uma só alma, e hoje eu sou apenas metade. Despedaçado em vida. —A raiva que ele sentia era sufocante, cruel. Era um amor perdido que não podia se encontrar, era um amor morto a quem ainda podia se amar.

Eternamente.


As palavras perderam-se ao vento e ele chorou com a cabeça apoiada na lápide, o corpo tremia em soluços abafados. As pessoas não sabiam, mas ele também havia morrido naquela tarde quando Felicity deixou de respirar. Agora ele era um riso triste, um olhar apagado, oco, morto em vida com o coração ainda batendo. Morto de esperanças, de amor, de compaixão. Morto... caído em um túmulo aberto em que sua vida se tornou, sem ela.

Sepultado em vida. Mergulhado em dor. Enterrado em lembranças.


"Não consigo entender

O tempo

A morte

(...)

O tempo, quando é que cessa?

A morte, quando começa?

(...)"

Paulo Mendes Campos

Levantou-se, lágrimas escorriam de seus olhos, molhando as flores, mais uma vez beijou a lápide, o nome, prometeu voltar em breve — vivo ou morto—, caminhou alguns passos lentamente, parou, suspirou e olhou novamente pra ela, apenas um murmúrio saiu de seus lábios, era quase um gemido silencioso: "— Eu amo você, Felicity." e partiu, sentindo o vento fustigar sua pele, secar suas lágrimas, apenas naquele momento com ela, ele se permitia ser fraco, vulnerável... longe, ele despia de seus sentimentos e vestia sua máscara de homem forte e guerreiro, ele se escondia na pele do Arqueiro, fugindo da dor que perseguia seu coração e castigava a sua alma. Com a alma dilacerada, todas as noites ele ia de encontro a morte, e todas as noites, ele falhava miseravelmente. As pisadas esmagavam as pedras pelo caminho querendo esmagar a dor em seu peito — mais uma noite, dizia pra si mesmo — mais uma noite. E talvez, ele encontraria o que procurava com desespero e avidez.

Talvez...




E se não fosse essa noite, outras noites viriam e outras e mais outras. Desistir não era uma opção. Não agora, não depois de perder seu amor pra morte.

Uma lápide, um choro, muita dor e um homem quase morto. Quebrado. Esse era Oliver Jonas Queen desde que perdeu sua garota, sua Felicity, sua outra metade. Sua vida!


Logo anoiteceria e ele talvez encontrasse a paz que buscava e que merecia.


Talvez...


"(...) Que aceitei a queda, que aceitei a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Tenho me carregado tão perdido e pesado pelos dias afora. E ninguém vê que estou morto."

Caio Fernando Abreu




*Fim


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Notas finais do capítulo

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