POV Finnick:

Todos me acham... na verdade têm a maravilhosa certeza de que sou um idiota. Infelizmente, eu também tenho essa certeza. Eu gostaria de ser diferente, sim, mas não por causa do pensamento e fofoca alheia, e sim por causa de mim, dos meus pensamentos. Eu podia ser um cara legal sem essa máscara de palhaço. Acontece que, essa máscara é mais forte do que eu. É a porcaria do instinto. Eu sei, que resposta de merda, mas essa é a única que vem na minha cabeça. Tá, tá. Vou parar com esse papo emo e voltar para a real situação: Estou dentro de um armário, literalmente - só pra constar. Estou dormindo com essa garota há mais ou menos cinco dias seguidos na casa dela, e escondido por causa do paizinho dela que na cabeça dela não pode me ver. Guria fresca do caramba, puxou com o bocó do pai. Nem um rango antes de ir pra escola, porra. Preciso de algo dentro do estômago pra ter fibra lá... ao menos aproveitei, ela enrolou pra cacete, mas valeu. Não é todo dia que uma virgenzinha do tipo dela que libera. Só que já deu.

– Filha, não vai tomar café?

– Não pai, como na escola.

Eu quero. Puta vontade de sair daqui e aparecer pra esse bocó. ''Bom dia, senhor, comi bastante a noite, mas sabe como é, a fome nunca acaba, entende, né? Tem pão com geleia?'', haha, só não faço isso porque eu ainda tenho um bom coração e sei ser legal com quem mereceu.

– Finnick, já pode sair daí. Desce rápido pela janela, meu pai já vai me levar a escola. Vai! depressa! - disse baixinho.

– Nos vemos na escola.

– E mais tarde?

– Hahaha, não né. Cinco dias me escondendo e ainda sem café da manhã. Há pais de outras garotas bem melhores e mais anfitriões.

– Finnick, eu te disse como é por aqui...

– Relaxa gatinha, você não vai ficar mais com medo de manhã e nem eu sem café da manhã.

– Pensei que estávamos namor...

– Escondido? Hahaha!

– Tá, eu conto pra ele, só me dá uns dias e...

– Não. Nós não vamos namorar. E o bocó do seu pai já te chamou duas vezes. Não banque a rebelde porque você não é assim, vai obedecê-lo, anda!

– Finnick, eu te provei...

– Eu também te provei. Foi ótimo, mas eu cansei de você. Agora, por favor, volte a ser a filhinha perfeita do papai e me deixa. Tchau.

Acho que estou amolecendo muito meu coração, ou está se formando um, porque até que fui melhor do que de costume. Nada cruel pra quem vai ficar sem café da manhã pela quinta vez na semana. Muito amor.

POV Annie:

O que foi aquilo que a Johanna me disse ontem? Ok, a Johanna sempre foi meio imprevisível, mas... o que estava se passando na cabeça dela naquela hora? Ela bebeu demais... ou aquelas duas, Kat e Clove estão realmente a ajudando, coisa que nunca fiz muito bem por ela e pior ainda, nem por mim. Katniss, Clove e Johanna combinam bastante. Johanna sempre foi muito forte, apesar de tudo. Por vezes, no meio das três me sinto menor. Sou muito impotente, mesmo que tentem me ajustar...

Eu as vi pegando maços de maconha. Mas eu ignorei e fingi que não havia visto nada. Era a primeira vez que ia num ambiente desses, e não gostei. Eram muitos sons desconhecidos e overdose. Eram muitos desconhecidos, na verdade, todos se tornaram desconhecidos ali, até mesmo a Johanna. A única conhecida ali era eu. Eu, por mim, sozinha. Mesmo com um maço de falsa felicidade, Johanna notou, mesmo que tenha sido imperceptível, involuntário, tudo o que havia aqui dentro e disse aquilo justo a mim. Uma reverência, a mim. Uma referência, a nós. Ao dizer aquilo, Johanna me deu esperança, aquilo que eu mais precisava. Um presente eternizado na minha massa cinzenta que agora nem está mais tão cinza assim. A criança está indo.