Gêmeas Em Chamas. escrita por giovanacanedo


Capítulo 17
Máscaras.


Notas iniciais do capítulo

MYBE E HOTH! ♥



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POV Clove Everdeen:

Aquela conversa me irritou. Finnick Odair me irritava. Creio que toda a ala feminina com cérebro se irrita com suas piadinhas infames e tolas, mas a maioria releva olhando em seu belo sorriso cafajeste.

– Acho que realmente ele se supera a cada dia. - Analisou Annie, que acabara de sair da biblioteca, atrás de mim. Ninguém além de Johanna e Kat teriam tanto saco para aturar as imaturidades desse bandinho chato.

– Me surpreendo sempre mais, para a minha infelicidade! - Ri com o pensamento das evoluções constantes de Finnick e suas piadinhas e provocações tediosas. Como ontem, na aula de história, quando ele insinuou que o vice diretor andou "comendo muito com a inspetora Effie." e o professor de história ficou vermelho. Eles são casados.

– Tá lembrando de ontem?

– Tem como esquecer? - Perguntei. Annie deu uma gargalhada e disse:

– Eles fizeram um barraco por conta de Finnick na saída. Finnick filmou tudo para a sua própria diversão, e benefício próprio. Dizem que ele está vendendo o vídeo secreto por três reais e um segredo. Quem seria o idiota a ponto de vender um segredo pra ele?

– Adoram falar do pavão aqui né? Eu sei que sou demais, mas pro governo de vocês, dizem más línguas que é muito feio ajudar na fofoca alheia com a vida dos outros. - Ele olhou para mim e para Annie de cima a baixo, como se fosse um ser superior. Sorriu de maneira galante, e falou como quem ensina boas maneiras às meninas de mais alta classe social. Ele não tinha jeito mesmo, um narciso total.

– Olha... Vaza. - Annie falou, exasperada. Ele a olhou como quem brinca com um bichinho de estimação, sem entender o porquê. Eu até entendo: Para um cara com o ego inflado ver que duas pessoas não se importam nenhum pouco com o tempo de sua ilustre presença. Mas se bem que sua presença pode ser interessante....

– Olhe só, achei que você era muda. Gatinhas sabem arranhar. - Ele falou, provocativo.

– Ah, eu vou sair daqui. Não sou obrigada a ouvir patifaria! - E revirando os olhos, a ruiva nos deixou em meio ao corredor. Olhei para Finnick, sorrindo maquiavelicamente e ele disse:

– Eu sei que sou muito lindo, mas precisa encarar como se fosse me comer vivo?

– Você e seus amigos saem muito à noite, não é mesmo? - Ele me encarou, surpreso e desgostoso. Eu tinha acertado em cheio. - Eu gosto de caminhar à noite. E vi uma caminhonete vermelha muito cara, com uns bêbados fedidos arruaceiros. Reconheci a sua voz e o tom estúpido das piadas. Vocês são bem ágeis nas lojas, não?

– O que você quer, Clove? - Pude ver sua cor sumir do rosto. Em poucos segundos o Finnick idiota, ignorante e estúpido foi substituído por um Finnick preocupado, receoso e mortal. Ele se protegeria e protegeria os amigos a qualquer custo, eu sei. Mas esse jogo tem mais de cinco jogadores e ele devia saber disso bem. E nesse momento, quem dava as cartas era eu.

– Você não é o único que tem segredos oportunos. - Falei.

– Repito a mesma pergunta de antes, biscatezinha: O que diabos você quer?

– Nas suas condições eu teria mais respeito por mim. - Ele estava vermelho, como quem está prestes a quebrar a minha cara. Posso ser tudo, mas não sou idiota, chega de brincar:

– Fiquem atentos, vão receber ordens minhas. - E saí.

*****

POV Katniss:

A rotina cansa. Não sei qual é o meu problema, o que me faz estar constantemente em movimento mudando sempre que quero, mas é fato: Odeio a mesmice de me limitar a ser o que sou. Os mesmos caras, as mesmas cantadas, o mesmo sexo, nada de orgasmo. Desde os quinze anos fico me limitando a ver tudo novamente e sentir nojo de tudo que há em mim. Aí eu acordo, me olho no espelho e tento me convencer do quanto eu sou maravilhosa e de como tudo isso passou. Meus cabelos loiros caem sob o blazer caro que minha mãe comprou. Tudo em ordem, estou sempre perfeitamente linda, mas minha alma está um caco. O outono da minha alma já chegou e eu não sei lidar com ele ainda. Tudo ainda é uma bagunça e se passaram dois anos.

Saí daquela biblioteca e deixei Johanna a conversar com um cara qualquer. Cansa fingir que sou a rainha da beleza e a princesa da sensualidade, ninguém sabe mas eu sou uma escrava das memórias, como todos à minha volta, imagino. Olho meus olhos verdes e dou um sorriso pro espelho, sei que posso ganhar o que quiser quando quiser, mas não gosto de nada que tenho e tudo que almejo não faz parte de mim, mas de uma Katniss montada para todos. Me olho de novo no reflexo do espelho, sinto meu perfume no ar, tem cheiro de rosas. Um perfume caro com partículas de ouro que meu pai me dá todo ano como uma forma de me mostrar que não abandonou a mim e a Clove. Só eu uso, quero manter as esperanças. Clove só quer que elas morram logo pra ela poder tentar ser feliz. Começo a repensar sobre essa hipótese.

Peguei a minha bolsa, a aula é vaga hoje e eu só quero ficar só. Qualquer lugar serve, de verdade. Se eu pudesse me jogar em meio a uma piscina e ficar lá eternamente de fato eu faria, mas não posso. Morreria. Mas uma parte de mim morreu há dois anos atrás, mesmo eu tentando acreditar que não. Saio do banheiro, todo o terceiro ano está subdividido agora. Vejo as meninas do lado esquerdo da quadra, provavelmente tendo a primeira conversa de amigas. Eu não quero estar lá agora, mas sorri, feliz.

Clove e Annie gargalham muito de uma palhaçada de Johanna sobre algo estúpido que alguém falou, acho que é isso que está acontecendo. Na mais sincera opinião eu não quero saber agora, caminho para o jardim da escola. Gosto do lugar, mas ninguém vai lá porque acham o cheiro enjoativo. Ainda bem! Transformariam o campo de rosas brancas em um motel, com certeza. Começo a andar, e reparo nos meus passos. Eles deixam pegadas na trilha exatamente como naquela noite. Começo a me recordar do rosto dele: Seus olhos, seu cabelo, sua boca e seu senso de humor exótico que tanto me fazia delirar. Ele era lindo, como um deus grego, e maldoso como um mero mortal. A única coisa que o deixava bom era o meu olhar sobre o dele, mas isso acabou quando ele decidiu que ser quem era e fazer a coisa certa para a sua família era mais importante do que vidas. Olho para as árvores, lembro do escuro. Uma noite. Uma barraca, alguns lençóis e um único sentimento: amor. Meus olhos começam a lacrimejar com as lembranças daquela noite maldita aonde eu me entreguei a ele e ele me tratou maravilhosamente. A consequência veio a três meses mais tarde. Morri naquele fim de ano. Finalmente cheguei ao meio do campo de rosas, em lágrimas.

Quando dei por mim, já não controlava as lágrimas, muito menos queria controla-las. Doía falar nisso, então eu me calava até esses raros momentos de memórias. Doía pensar nisso, então eu me ocupava sendo a Miss perfeição. Eu já chorava descontroladamente quando escuto um passo forte e um estalo de tronco. Olhei para o sentido das árvores e vi quem eu menos esperava e desejava ver: Peeta Mellark, irmão de Marvel. O homem que me deixou. Morri de novo, quantas vidas ainda me restam será?

POV Peeta Mellark:

Tudo estava numa calmaria ultimamente para mim, minhas notas melhoraram muito e eu me divertia com os meus amigos. Minha tia fazia bolos quentes e cafés doces, e tomávamos na varanda de casa, enquanto assistíamos o programa favorito da minha Mãe quando ela era viva. Meu pai sumira há alguns anos e não deu notícias desde então. Eu não ligava, estava feliz. Tinha meus amigos, mas havia perdido May. Tinha a dor de cabeça de todo adolescente, mas a vida seguia com isso, estava tudo bem. Até o telefone tocar quando eu estava saindo para a aula vaga.

– Peeta, cara, desliga esse celular! - Pediu Gale. Como vi o número do hospital da cidade, eu fiz um sinal para que eles fossem andando e fui atender no banheiro masculino de funcionários do colégio. Há alguns anos, quando minha mãe levava frequentes surras do meu pai eu me tornei íntimo do médico que fazia a maioria dos plantões da madrugada. Ele me deixava ver minha mãe fora do horário de visita. Ele se tornou um exemplo de homem e pai para mim. O amigo da família.

– Alô, Cinna? - O chamei. Escutei sua familiar suspirada antes de dar alguma notícia.

– Peeta... Precisamos conversar. - Falou ele. Lembro de ouvir essa mesma frase quando fui no hospital num plantão de madrugada. Lembro dele me guiar para uma sala, me deixar brincar com os carrinhos e depois me explicar sobre o corpo humano, suas veias e seus órgãos. Ele me deixou colocar o fígado no lugar do coração, me deixou dizer que ele parecia um médico com o jaleco, mas que quando tirava tinha cara de hippie que vive na mata, me deixou puxar seus fios negros e me deu pudim para comer, e não reclamou quando o pudim acidentalmente caiu em sua calça. Quando a brincadeira acabou ele sentou comigo, me deu chocolate e falou sobre os ciclos da vida. Terminou dizendo que minha mãe falecera, e que se sentia mal por não conseguir salva-la, ela era, aos seus olhos, uma grande mulher. Chorei com Cinna e disse que tinha medo do meu pai, mas ele disse que eu não precisava sentir, já que ele era o meu pai a partir daquele momento.

– Cinna...? - Chamei, desesperado. - Pai...?

– Peeta, fique calmo, por favor. Está emotivo. - Anos se passaram, e o médico Cinna que tinha trinta e três anos agora está sambando na meia idade. Meio cansado, meio abatido, mas cheio de amor e me enche de orgulho. - Peeta, prometa que vai ir direto para a casa do pai. Tenho uma cirurgia de emergência para fazer agora. Prometa que vai ficar lá me esperando. Você tem as chaves. Eu sei que você tem suas teorias sobre o que aconteceu, mas me deixe te contar. Por favor.

– Tudo bem. Eu... Prometo. - Falei.

– Você sabe que eu te amo sob todas as circunstâncias Peeta. Não nasceu de mim, mas Deus sabe como eu desejo que tivesse.

– Eu também Pai. - E desliguei. Bati as costas na parede. Tinha que sair de lá, não quero chorar em grupo, quero ser forte como May seria. Levantei a cabeça, com todo o resto de honra que eu tinha. Procurei algum lugar deserto em minhas lembranças na escola. Lembrei do jardim, era pra lá que eu iria.

****

POV Terceira Pessoa:

– Katniss? Desculpa, eu... Hã... - Falou o garoto sem jeito a loira. Ele nunca a vira assim: Sua blusa justa fazia uma dobra de gordura na barriga, sua maquiagem estava borrada e seu cabelo, desgrenhado. Ela estava sentada em meio a rosas que a diretora mandou podar os espinhos, lugar mais belo de se estar na escola. A luz refletia nela, e pela primeira vez o garoto reparou que ela parecia estar viva de verdade, não somente ser um robô programado para ser lindo e sedutor. Ela sorriu minimamente e encarou o garoto, sujo devido à queda para chegar no ponto desejado. Uma trilha dentro da área do colégio que ele não fazia desde os dez anos de idade, quando achou o lugar e escondeu um presente que May deu a ele. Ela disse que ela era uma fada e que iria protege-lo se enterrasse o presente bem no meio de um campo bonito. E ele fez isso. E o presente estava bem aonde Katniss, a garota barbie da escola estava sentada. Peeta estava soado, abatido e cansado. Ela notara o quanto ele parecia bonito assim, sem sua carranca mal-humorada e sem todo aquele achísmo que ele insistia em carregar com ele. Era quase como um rei abatido. Ele tinha porte de realeza. Ela se perguntou como não tinha visto isso antes, e teve como resposta que talvez ele já tenha notado e por isso decidiu esconder. Ela perguntou, se esquecendo de quem ele era por um segundo:

– Quer... Dividir? - Ele a analisou. O que ela queria agora? Não sabia, mas queria desabafar com alguém. Então foi até a zona de perigo caminhando, quando chegou perto dela a garota fez sinal para que ele se sentasse, mas ele se deitou no chão. Ela repetiu o ato no mesmo segundo, olharam pro céu enquanto mil coisas passavam pela cabeça e ele, por fim disse, sério.:

– Meu passado voltou.

– O meu também. - Ela respondeu. - Dói né? A gente tenta fugir, mas isso pega a gente pelo pescoço e enforca, até que tudo o que a gente consiga fazer é chorar e se perguntar o que fez pra merecer isso.

– Se é. Fico pensando se não seria melhor ir embora pro distrito dois, ser policial. Mas aí lembro que não tenho porte pra salvador da pátria. Sou um demolidor de moralidade. - Concluiu, pensativo.

– Não precisa se rotular tanto...

– Pior que eu sei, mas é o que faço pra... Sobreviver aqui. Creio que também faça isso. - Virou para a garota, que já o encarava. Olhou a menina nos olhos e soube que acertara em cheio.

– Queria te olhar e não morrer. - Sussurrou a ele, como uma garotinha que conta um segredo. Ele a encarou, perplexo e ela começou a chorar. Sem saber o que fazer, o garoto se sentou, e puxou a garota para sentar também e a puxou para um abraço. Ela o apertava sem saber se o matava, se o culpava, se aceitava ou se ia embora. Decidiu ficar e perceber que o cheiro podia ser o mesmo, mas o abraço não era familiar. O coração dela se partiu novamente, mas dessa vez ela teve a impressão bem leve de que alguém começou a catar os cacos. Ele olhou para a loira que há algumas horas o irritava com seu jeito estúpido de garota superior e fútil, e sentiu algo que passava de compaixão, talvez fosse... Carinho? Talvez. Soube pena primeira vez que a garota era de verdade, e não um fantoche de maquiagem. Ela olhou para ele, agora mais firme e mais forte e se soltou de seus braços. Ele ficou feliz ao olhar para ela e perceber que a dor havia sumido sob aquela plantação de rosas. Ela sorriu, percebendo a mesma coisa. Ela agradeceu, envergonhada e como todo bom rapaz ele disse que não foi nada. Se despediram e ela saiu, provavelmente voltaria a ser a idiota que sempre foi, Peeta sabia disso, mas gostou daquela Katniss, gostou daquele cheiro, gostou daquela faísca.

– Talvez você realmente estivesse certa May, e fosse uma fada. Talvez você realmente esteja me protegendo com seus poderes ou sei lá. Esse chão tem magia, pirralha. E ela também deve ter quando não é tão comum.

As máscaras começaram a cair, afinal?


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