- Recomeçando escrita por HungerGames


Capítulo 35
Capítulo 34




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Nós estamos deitados, Katniss com a cabeça apoiada no meu peito, sua mão por cima da minha barriga, seu corpo colado ao meu, meus dedos estão passando pelas suas costas nuas e eu posso sentir nossas respirações sincronizadas.
– Peeta? - sua voz é baixa e eu sinto o movimento dos lábios dela na minha pele, eu murmuro um som como resposta - Eu to com frio! - ela reclama e eu puxo o lençol mas pra cima dela, ela se enrola nele e vira o corpo de lado ficando de frente pra mim, seu braço ainda por cima da minha barriga e sua perna por cima das minhas, eu viro meu rosto pra ela, afasto os fios de cabelo que caem pelo seu rosto e apenas olho pra ela.
– Como você consegue ficar mais linda a cada dia que passa? - eu pergunto fazendo uma cara de confusão, ela sorri tímida e me empurra mas sem muita força.
– Nem você acredita nisso - ela fala enquanto me empurra tentando disfarçar sua timidez, eu seguro a mão dela e inclino meu corpo sobre o dela.
– Pra mim você é a mulher mais linda do mundo - eu afirmo com o rosto a centímetros do dela olhando nos seus olhos, ela apenas deixa os olhos no meu, eu posso sentir a respiração dela mais forte apenas pela nossa proximidade, eu passo meus lábios pelo seu e depois eu escorrego eles pela sua bochecha e pelo seu queixo, as mãos dela sobem pela minhas costas e então eu puxo o lençol e o coloco sobre nós dois, minha mão segura sua cintura e cola nossos corpos, então eu quebro o espaço que ainda tinha e a beijo, nossos lábios se encaixam perfeitamente e todo aquele desejo e vontade aparecem novamente, o beijo avança rapidamente e nossas respirações já estão ofegantes quando o choro começa, o beijo para, minha testa encostada na dela atentos pra confirmar então o som se torna claro, eu caio deitado ao lado dela com o braço sobre o rosto, eu sinto a risada dela e me viro pra olhar pra ela.
– Eu vou - ela fala se sentando enrolada no lençol, ela pega a camisola dela e a coloca, eu observo quando ela sai a passos rápidos do quarto, então eu também me levanto, puxo e visto minha calça e vou pro banheiro, eu encho a mão com a água e jogo no meu rosto, ainda posso sentir o calor do corpo dela no meu e todas as sensações que isso me causa, me molho mais uma vez, quando saio do banheiro Katniss está entrando no quarto com ela, eu me aproximo e Pérola ainda está choramingando, eu a pego no meu colo e inspiro o perfume natural entre seu pescoço, eu ando até a cama e me sento nela.
– Ela tá com fome - eu afirmo enquanto ela suga os próprios dedos, Katniss também se senta na cama, ela se encosta na cabeceira da cama e eu me arrasto até lá e coloco Pérola nos seus braços, mal ela encosta na Katniss e já está procurando esfomeada, eu rio vendo-a e então logo ela já está sendo amamentada, eu fico ali ao lado delas olhando essa cena, até que a minha fome tambem fala mais alto.
– Tá com fome? - eu pergunto pra Katniss que me olha rindo.
– Isso merece mesmo uma resposta? - ela fala erguendo a sobrancelha, eu me levanto e deixo elas lá enquanto desço a vou pra cozinha, eu faço dois sanduíches com queijo e algumas folhas de manjericão, pego ainda um pedaço do bolo que trouxemos, dois copos de leite e subo com a bandeja minutos depois, Pérola já terminou de mamar e Katniss colocou ela deitada no meio da cama onde ela dorme tranquilamente, eu sento na cama com cuidado pra ela nao acordar, coloco a bandeja logo abaixo dela e me sento na ponta da cama, Katniss também se aproxima e nós comemos com os olhos na Pérola que continua dormindo.
– As vezes eu só queria que ela ficasse assim....pra sempre - Katniss fala enquanto olha pra ela com um sorriso triste.
– Dormindo? - eu pergunto meio surpreso e ela me olha rindo.
– Não! Assim - ela fala e olha pra ela novamente - Só um bebê - ela completa e solta o ar - Você não pensa como vai ser quando ela crescer? - ela pergunta me olhando meio curiosa.
– Claro que eu penso! Não vejo a hora de ver ela correndo pela casa! Chamando papai, mamãe! Me perguntando por que o céu é azul e as folhas verdes! - eu falo olhando pra Pérola e sorrindo apenas com esses pensamentos, eu realmente estou ansioso por isso, mas o sorriso da Katniss diminui e ela parece preocupada.
– E quando ela souber sobre tudo... Sobre por que todo mundo conhece a gente? O que aconteceu... - ela para de falar e parece angustiada apenas com esse pensamento, eu afasto a bandeja e me aproximo dela.
– Nós vamos encontrar o melhor jeito de contar o que ela precisar saber - eu falo enquanto seguro sua mão.
– Esse é o problema! Eu não quero que ela saiba...de nada! - ela confessa e por mais que eu também quisesse isso eu não posso fingir que isso não vai acontecer, eu forço um sorriso.
– Eu também não quero! Mas ela vai crescer, e uma hora nós vamos ter que responder as perguntas dela! Mas nós vamos fazer isso juntos! E eu tenho certeza que nós vamos encontrar um jeito de fazer isso - eu falo com toda confiança que consigo, seus olhos estão atentos em mim - Cada coisa no seu tempo! Não adianta você ficar assim agora! Ela ainda é só um bebê, por enquanto a única coisa que ela precisa saber é que nós a amamos! - eu afirmo - Um dia de cada vez lembra? - eu pergunto me lembrando das palavras do Dr. Aurelius, ela confirma mesmo ainda parecendo angustiada, eu seguro sua nuca e a beijo lentamente.
– Agora você precisa dormir um pouco - eu falo e beijo sua testa, ela concorda com um sorriso meio fraco, mas se deita virada pra Pérola, eu me deito do outro lado, de frente pra elas e o olhar da Katniss fica no meu por um bom tempo, eu estico meu braço por cima da cabeça da Pérola e acaricio os cabelos da Katniss, aos poucos ela cai no sono e em algum momento o mesmo acontece comigo.
Os chutes na minha barriga embora fracos é o que me faz acordar, Pérola está se mexendo enquanto tenta virar na cama, pelos seus olhos atentos e despertos acredito que ela já tenha acordado a alguns minutos, Katniss ainda está dormindo, eu puxo Pérola pra junto de mim e coloco meu rosto no seu pescoço inspirando o que faz ela ri e Katniss logo abre os olhos.
– Bom dia... - eu falo pra Katniss que já está passando a mão pelo rosto - Vamos dar bom dia pra mamãe? - eu pergunto com o rosto próximo do da Pérola e ela tenta agarrar meu nariz, eu viro ela pra Katniss e a aproximo do rosto dela e logo suas mãozinhas tentam agarrar o nariz dela também.
– Bom dia... - Katniss fala sorrindo e então faz o mesmo que eu fiz nela e novamente ela ri.
– Eu preciso de um banho - Katniss reclama enquanto abraça Pérola ainda deitada na cama.
– Eu fico com ela - eu falo e puxo Pérola para os meus braços fazendo ela rir, eu a levanto deitado e com ela acima do meu corpo, a gargalhada dela é contagiante até que ela baba na minha cara e Katniss também começa a ri, eu abaixo ela, colocando sentada na minha barriga enquanto Katniss limpa meu rosto com o lençol rindo - Você babou o papai...- eu brinco com ela enquanto faço cocegas deixando aquele som da risada cada vez mais alto.
– Chega, daqui a pouco ela tá sem ar - Katniss avisa enquanto se levanta da cama - Eu posso mesmo ir? - ela pergunta apontando o banheiro.
– Pode! Nós vamos fazer o café... - eu falo me levantando também então enquanto Katniss vai pra banheiro eu entro no quarto ao lado pra trocar a fralda dela, depois eu desço e vou pra cozinha, logo depois de deixar ela acomodada na sua cadeirinha eu começo a preparar o café da manhã enquanto converso com Pérola que mesmo sem entender o que estou falando me da toda atenção, soltando alguns gritos que dependendo da situação eu interpreto como confirmação ou rejeição, então entre ovos mexidos, chocolate quente e pães eu mantenho nossa estranha porém revigorante conversa.
– Preciso falar com você - Haymitch avisa enquanto entra pela cozinha e tudo me alerta pra algo ruim, primeiro por que ele falou comigo antes de falar com a Pérola, ele nem ao menos falou sobre o café da manhã ou contou uma de suas piadas sobre eu estar na cozinha e não a Katniss, por isso eu já me preparo pra algo ruim mas apenas o encaro esperando a notícia, ele estica a mão pra mim e me entrega um jornal enrolado, a alguns anos essa tem sido a forma onde as notícias se espalham, um jornal, notícias de cada Distrito aparecem nele, mudanças na Capital ou no governo, preços de diferentes coisas, enfim tem de tudo um pouco, eu e Katniss não temos o costume de ler um desses, na verdade nada que venha do governo ou da Capital nos interessa mas Haymitch lê com frequência e as vezes nos conta sobre alguma mudança importante, mas trazer o jornal aqui e entregar na minha mão me diz que é algo realmente importante, por isso eu abro com cuidado e encontro o motivo da minha preocupação na primeira página.
Uma foto. Eu, Katniss e Pérola, ontem, a alguns passos da padaria, eu estou segurando Pérola enquanto ela ri visivelmente contente e animada com Katniss ao meu lado de braço dado comigo e no exato momento que ela beijou a minha bochecha, eu me lembro exatamente desse momento, que deveria ser nosso e não estar na capa de um jornal espalhado não só pelo Distrito mas como pelo país inteiro, a legenda diz:
– " Pérola Everdeen Mellark: A filha da Revolução"
A matéria continua com um pequeno texto que diz que nós os "amantes desafortunados" finalmente saímos de nosso "esconderijo" revelando toda alegria que tem sido esses últimos meses onde recebemos nossa filha, que mesmo ainda um bebê já carrega um sobrenome tão poderoso, a matéria faz ainda uma breve descrição de Pérola: cabelos louros como o pai, olhos cinzentos como os da mãe e uma alegria notável, ver nossa vida ainda exposta desse jeito me pegou de surpresa, então um outro pensamento me atinge, não é só nossa intimidade é mais do que isso, é o rosto da Pérola, sua "identidade revelada" exatamente o que Katniss estava evitando durante todos esses meses.
– Achei melhor falar logo - ele fala enquanto eu ainda encaro o jornal - Você tem que falar com a Katniss - ele avisa e essa é a minha preocupação, Katniss mal saía de casa por medo que isso acontecesse, então por um momento eu não sei como falar isso pra ela.
– Você podia conversar com ela - eu sugiro e ele me olha meio surpreso.
– Nem pensar - ele nega rapidamente - Você fala com ela e fala logo - ele ressalta e já posso ouvir o barulho na escada, ele vai até Pérola e levanta a cadeirinha pela alça que tem, então Katniss chega na porta da cozinha.
– Ela ainda não mamou - ela avisa quando vê ele levando Pérola.
– Quando ela tiver com fome eu volto - ele fala sem dar importância e logo sai, ela vem até a mesa e pega um dos morangos, apoia o joelho na cadeira e pega também um pedaço do queijo, eu continuo olhando pra ela.
– Que foi? Não vai comer? - ela pergunta me encarando ainda de bom humor, eu procuro um jeito de falar mas não há uma maneira boa de se fazer isso, pelo contrário quanto mais direto e rápido melhor, eu dou um passo pra mais perto dela e estico o jornal assim como Haymitch fez comigo, ela pega ele rindo.
– Desde quando você lê jornal? - ela pergunta com um sorriso, eu continuo sério e então ela vira o jornal e o abre, o sorriso que estava no seu rosto some imediatamente e seus olhos quase saltam do rosto quando ela vê a foto, uma espécie de um som como um engasgo escapa da sua boca, os primeiros segundos ela leva lendo a matéria com o olhar cada vez mais horrorizado, então ela sai da cozinha rápido e eu vou atrás dela, ela vai até o sofá pega o controle da televisão e a liga, como se estivesse cronometrado a mesma foto do jornal aparece na tela seguida de mais outras, a sequência quase completa do nosso caminho da padaria para casa, a narração ao fundo basicamente repete o que está escrito no papel acrescentando apenas informações como o aniversário da Katniss e a possível festa que aconteceu na padaria, o choque disso ainda está tão evidente no meu rosto quanto no dela, ela desliga a televisão e arremessa o controle com força, ele desaparece no fim do corredor, apenas o barulho de algo se quebrando pode ser escutado, eu me mantenho atrás dela sem saber o que falar, ela começa a rasgar o jornal com raiva, sua respiração forte e a força nos seus movimentos se mistura com a raiva que ela demonstra, ela começa a fazer sons como se estivesse gritando embora ainda não esteja, eu me aproximo dela e coloco minha mão no seu braço fazendo a parar.
– Katss, calma! Não adianta fazer isso - eu falo com a voz calma tentando fazer ela me ouvir, então ela puxa o braço com força se afastando de mim.
– Claro que não vai adiantar! - ela fala quase gritando - Nada mais vai adiantar - ela reforça com raiva - Sabe o que ia adiantar? - ela pergunta e da um passo na minha direção me encarando irritada - Não sair com ela pelo meio da rua - ela conclui com a voz forte, eu só preciso de alguns segundos pra entender o que ela quer dizer.
– Você acha que a culpa é minha? - eu pergunto apenas para confirmar, ela solta uma daquelas risadas de quando ela está nervosa.
– Eu não acho Peeta, eu tenho certeza! - ela afirma e para com o dedo apontado pra mim - A culpa é sua! É claro que a culpa é sua! Por que você não pode simplesmente me ouvir uma única vez? Você parou pra pensar pelo menos uma vez na consequência do que você ia fazer? - ela pergunta me encarando com raiva.
– Você não pode tá falando sério! - eu estou surpreso com a reação dela, eu sabia que ela agiria mal mas isso.
– Eu passei os últimos três meses evitando que isso acontecesse, eu me sacrifiquei por ela e na primeira oportunidade você jogou isso pela janela - ela me acusa completamente irritada - Sabe por que eu não saía por aí? Pra preservar ela! Pra que ela não fosse exposta como ela está sendo agora! Todos esses dias evitando sair... - ela me encara com raiva e acusação.
– Katniss a culpa não é minha! Eu também não queria que isso acontecesse mas...
– Não queria? - ela repete irônica - Tem certeza Peeta? Você nunca se importou com isso! Nunca se importou em ter nossas vidas expostas, nunca se importou de aparecer pra câmeras ou falar na frente delas, isso nunca foi um problema pra você! É como se você gostasse disso, todas as pessoas amando você por causa delas! Mas você não vai colocar a minha filha no meio disso! Eu não vou deixar você fazer isso! - cada vez menos eu reconheço essa mulher na minha frente, não é só a surpresa pela reação dela mas o modo como ela fala e me olha, eu não consigo ver a minha Katniss ali, é como se fosse outra pessoa, eu me sinto congelado, desnorteado - Não faz essa cara - ela avisa apontando pra mim - Eu te proíbo de se fazer de coitado agora! - ela fala com raiva e por mais que eu tente entendê-la isso já está indo longe demais.
– Eu não estou me fazendo de coitado - eu afirmo mas minha voz ainda está rouca demais enquanto eu tento não me deixar levar pela raiva também - Você não sabe o que tá falando Katniss! Você tá com raiva e eu entendo isso, mas você não tem o direito de descontar isso em mim... - eu falo e ela passa as mãos pelo cabelo e se inclina pra frente como se faz depois de uma corrida e precisa recuperar o fôlego, eu me aproximo dela mas quando eu toco no seu ombro ela se endireita e se afasta de mim.
– Eu tenho todo o direito de descontar em você, por que a culpa disso é sua! Se você não tivesse saído com ela sem se importar com as consequências nada disso estaria acontecendo, o rosto e o nome dela não estariam em todas os jornais e nem na televisão, ela ainda seria só uma bebê, ainda seria só a minha filha e agora ela é .... - ela para de falar parecendo enojada com a situação - Isso - ela fala e aponta pro jornal rasgado no chão.
– Ela é mais do que isso! Você sabe, eu sei - eu falo firme e olhando diretamente pra ela.
– Eu só queria que ela tivesse uma vida normal! - ela confessa angustiada.
– E ela pode ter - eu confirmo e ela ri de forma irônica.
– Não Peeta! Ela não pode! Por que você não pensou nisso antes, agora o país inteiro conhece ela e esse é o tipo de marca que fica pra sempre - ela grita com raiva.
– E o que você queria Katniss? - dessa vez eu também estou gritando mas ela não se intimida apenas me encara - Isso ia acontecer uma hora ou outra! Você não podia manter ela trancada nessa casa pra sempre! Tem um mundo lá fora - eu falo sem conseguir controlar minha voz.
– Um mundo sujo! Um mundo que quase acabou com você e parece que as vezes você esquece isso! Mas eu não esqueço! Esse mundo que você tanto defende e quer mostrar pra ela quase me destruiu e eu não vou deixar isso acontecer com ela - ela fala dessa vez sua voz é mais baixa que a minha.
– Ainda assim... É um mundo! Essa é a vida. Você não vai poder manter ela fora disso! Você não pode impedir ela de viver! Você mesma viu como ela estava feliz ontem, Katniss ontem foi a primeira vez que ela saiu sem estar indo pro Hospital, a primeira vez que ela foi a padaria foi ontem, e ela tava encantada com tudo, você viu isso! Ela estava feliz - eu falo tentando despertar ela mas ela apenas passa a mão pelo cabelo irritada enquanto me olha.
– Ela é só um bebê – ela fala com a voz baixa mas me olhando do mesmo jeito que antes – Ela não sabe nada sobre nada! O que nós deveríamos fazer é proteger ela, é não deixar que nada aconteça com ela e o que você fez pra isso? Você simplesmente entregou ela pra capa de um jornal e pra um programa de televisão – ela conclui ainda me culpando.
– Isso não é verdade! – eu nego balançando a cabeça, não posso aceitar isso, por que não foi isso que aconteceu, eu só estava pensando nela – Katniss era seu aniversário, eles queriam fazer alguma coisa por você! Eu achei melhor que fosse lá pra não te dar mais trabalho enchendo a casa de gente, eu só pensei no que seria melhor pra você! – eu confesso tentando não me abalar com o que ela diz.
– Claro! Você sempre pensa no melhor – ela fala com ironia enquanto ri de um jeito nervoso – A culpa deve ser minha então! Talvez eu esteja errada em não querer pessoas que eu nem conheço olhando e falando da minha filha! Vai ver o erro é meu em não querer que ela carregue um passado como o nosso junto com ela... – ela fala aumentando a voz.
– Mas ela vai carregar – eu a interrompo e falo mais alto que ela que para me olhar – Não tem como mudar nosso passado, não tem como separar isso dela! Essa já faz parte da história dela... - eu afirmo e ela para me olhando sem demonstrar nada além de irritação.
– Você nunca mais sai com ela dessa casa sem minha permissão - ela avisa com o dedo apontado pra mim, sua voz é firme mas dessa vez quem não se intimida sou eu.
– Não! - eu falo tão firme quanto ela e isso a pega de surpresa, eu sei que ela está acostumada a me ver cedendo a ela mas não dessa vez, não quando envolve a Pérola - Ela é minha filha tanto quanto é sua! Eu saio dessa casa com ela a hora que eu quiser - eu afirmo com os olhos fixos no dela e posso ver seu olhar duvidoso.
– Eu não estou brincando Peeta!...
– Nem eu Katniss! - eu a interrompo antes que ela continue, por alguns segundos ela apenas me encara e eu devolvo o olhar sem me abalar.
– Não se atreva a sair com ela sem a minha permissão – ela fala com a voz moderada mas com raiva.
– Você não tem esse direito! Ela é minha filha também! – eu devolvo dando um passo a frente parando a centímetros dela, seus olhos me encarando – Você não pode decidir algo assim sem a minha permissão, você não pode trancar ela nessa casa! Eu não vou deixar – eu falo a ultima frase lentamente pra que ela não fique com duvidas, então ela me empurra, suas duas mãos no meu peito me afastando com raiva, ela me pegou de surpresa e eu quase caio mas apoio a mão no sofá.
– Você não vai fazer isso – ela grita ainda me empurrando – Ela é MINHA filha e eu vou proteger ela – ela afirma gritando.
– Proteger ela? – eu me mantenho em pé e firme de novo – Proteger ela de mim? – eu pergunto sem acreditar nisso – Você só pode tá brincando! Eu sou o pai dela – eu afirmo agora com o mesmo tom de voz alto que ela.
– Você devia se lembrar disso antes! Antes de colocar ela nessa situação – ela fala com o dedo no meu peito.
– Droga Katniss – eu grito mais alto do que qualquer outra vez e por um segundo toda postura dela se desfaz, ela me olha um pouco assustada mas dessa vez eu não me importo – EU SOU O PAI DELA! Você não pode me dizer o que fazer ou não com a minha filha! Eu tenho tanto direito quanto você, eu não vou deixar você prender ela nessa casa, não vou deixar você passar a sua loucura pra ela – então a mão dela acerta o meu rosto, o som do tapa parece se ampliar no silencio que se segue, eu fecho os olhos respirando fundo tentando me acalmar, meu rosto arde e eu passo a mão no local onde ela me acertou, ela da um passo pra trás mas não parece arrependida.
– Eu NÃO sou louca! – ela grita enquanto me olha.
– Ei, ei... Já chega! Vocês tem que conversar e não gritar – Haymitch fala entrando no nosso meio segurando a cadeirinha da Pérola que está com os olhos arregalados nos olhando.
– Eu não me importo se é isso que você pensa, desde que você não exponha a minha filha do jeito que você fez – ela fala agora mais baixo.
– Eu não fiz nada – eu falo lentamente com a voz moderada – Você não pode me acusar disso! Eu nunca faria nada que prejudicasse ela e você sabe disso, eu não vou ser acusado de algo assim – eu afirmo e ela se vira de costas pra mim enquanto coloca as mãos na cabeça, Haymitch continua parado e pela primeira vez ele parece não saber como agir, apenas continua nos observando, eu me aproximo dele e pego Pérola que já está assustada de dentro da cadeirinha, eu aproximo ela do meu corpo em um abraço protetor e beijo o alto da cabeça dela, ela continua me olhando um pouco desconfiada.
– Me dá ela – Katniss exige vindo até a mim, mas ao contrario do que eu sempre faço eu envolvo ainda mais meus braços nela e não a ofereço a Katniss – Peeta, deixa de ser ridículo! Me dá ela AGORA – ela fala e vem com os braços esticados pra pegar Pérola, eu viro meu corpo de lado deixando Pérola fora do alcance dela, ela segura meu braço tentando alcança-la.
– Eu não vou deixar ela com você desse jeito – eu aviso dando um passo atrás e seus olhos registram toda a surpresa.
– Que jeito? – ela pergunta me olhando – Peeta, eu não estou brincando... Eu quero ela agora – ela pede numa calma ameaçadora, mas eu não vou mudar de ideia e mantenho a mesma postura, seus olhos parecem furiosos e então ela avança em cima de mim com socos no meu braço, eu protejo o outro lado onde Pérola começa a chorar completamente assustada – Me dá ela! Me dá a minha filha – ela grita enquanto Haymitch segura ela pela cintura afastando ela de mim, ela tenta se soltar balançando as pernas e tentando me alcançar com os braços.
– Sai daqui garoto! – Haymitch avisa por cima dos gritos dela – Anda, sai daqui – ele exige com um esforço exagerado pra manter ela presa, eu pego a bolsa da Pérola que estava na mesa da cozinha e saio de casa, Pérola está gritando e chorando, os gritos da Katniss também podem ser ouvidos enquanto eu me afasto de casa, eu abraço Pérola colocando a cabeça dela no meu ombro.
– Tá tudo bem! O papai tá aqui, tá tudo bem – eu falo no ouvido dela enquanto a embalo tentando parar o seu choro que começa a diminuir mas ainda persiste os soluços, eu começo a andar com ela e ela se acalma, agora eu que preciso me acalmar, Katniss está completamente descontrolada, eu sabia que ela não queria isso mas era inevitável, eu achei que ela soubesse disso, por mais que eu quisesse não poderia manter Pérola presa pra sempre, ignorando um mundo ao qual nós fazemos parte, por mais que eu entenda os medos dela eu não posso concordar com isso, não posso permitir que ela faça isso com a minha filha e nem que me proíba de sair com ela, Pérola é minha filha também e eu esperei ela tempo demais pra abrir mão do meu contato com ela ou pra deixar que ela tenha a vida tão privada assim, ela ainda é um bebê e Katniss já quer proibir ela de tudo, ontem foi a primeira vez que ela realmente saiu de casa, depois de três meses, eu não posso permitir isso, não é saudável pra ela nem pra Katniss. Eu paro de andar quando alcanço a Campina, as flores já estão colorindo todo o espaço e se minha cabeça não estivesse tão cheia eu conseguiria apreciar a beleza do lugar, ao invés disso eu me sento encostado em uma arvore e solto o ar devagar, Pérola está mais calma mas ainda me olha parecendo assustada – Vai ficar tudo bem – eu falo parando o rosto dela de frente pro meu mas na verdade essas palavras são mais para mim do que pra ela, eu preciso me convencer que tudo ficará bem mas acontece que eu não posso simplesmente esquecer o que Katniss me disse, o que ela me acusou, como se eu quisesse colocar minha filha no meio dessa sujeira e eu nunca quis isso se eu pudesse mudar eu mudaria mas não posso, esse é o meu passado, nosso passado e Katniss melhor do que ninguém deveria saber que isso não se pode mudar e qu muitas vezes você não controla o mundo a sua volta por mais que você tente coisas acontecem sem que você queira, essa é a vida e ela está me acusando de algo que eu não tive culpa, eu jamais faria algo que pudesse prejudicar ou expor a minha filha – O papai te ama tá? Muito!Muito – eu falo e como se entendesse e acreditasse nisso ela sorri e essa é a única coisa que consegue me aliviar e me fazer sorrir também, a inocência dela e a sua alegria natural são uma espécie de antídoto para qualquer mal que eu esteja enfrentando, ela se joga pra frente e encosta o rosto no meu, tentando morder meu nariz, e mesmo com a minha cabeça ainda confusa, mesmo com os pensamentos ainda no que Katniss me disse eu consigo rir e me permito apreciar o momento com ela, ainda não deve ser nem nove horas da manhã e tanta coisa já aconteceu, Pérola nunca veio até a campina e o dia hoje parece ainda mais bonito que o normal, nós estamos na sombra mas o sol da manhã está completamente a vista, o céu com apenas algumas nuvens brancas, eu junto os joelhos e coloco ela sentada no meu colo encostada nas minhas pernas, enquanto balanço um chocalho colorido que estava dentro da bolsa dela, ela tenta agarra-lo sorrindo e tentando se manter sentada sem apoio mas ainda não consegue o que gera uma certa irritação nela e ela começa a reclamar naquele idioma que inclui pequenos gritos e balanços de cabeça, eu entrego o chocalho na mão dela que tenta balançá-lo assim como eu mas parece pesado demais pra ela e eu preciso ajudá-la, até que depois de alguns minutos ela perde o interesse pelo brinquedo e começa a resmungar enquanto chupa os dedos como ela faz quando está com fome, então eu me lembro que não tem nenhuma mamadeira na bolsa, mesmo assim eu abro na esperança mesmo que remota de ter alguma mas assim como eu previ não tem, Perola começa a ficar inquieta e só agora que me passa pela cabeça que isso foi um erro, trazer ela comigo por mais que parece o certo na hora da confusão agora parece idiota, eu não posso amamentar ela, nessas horas ela precisa muito mais da Katniss do que de mim e pelo bem dela eu vou ter que engolir qualquer orgulho que ainda reste em mim e voltar pra casa, mas só o pensamento de ter que encontrar com Katniss e entregar ela me dá um sentimento que eu não achei possível ter um dia, é um sentimento de frustração, por que por mais cruel que ela tenha sido comigo ela estava certa quando diz que Pérola precisa muito mais dela do que de mim, eu não posso negar isso por mais que eu queira ter razão, ela é mais necessária do que eu, eu beijo a testa da Pérola que continua irritada e já estava me preparando pra levantar e voltar pra casa quando o olhar da Pérola se prende a algo atrás de mim, o som dos passos me alerta e então ela para ao meu lado, mesmo sem me virar pra olhar pra ela eu a reconheço por que já está gravado em mim reconhecê-la em qualquer situação, ela se abaixa e se senta ao meu lado mas sem encostar em mim, Pérola se joga pra ela e ela a pega enquanto Pérola continua a reclamar, eu evito olhar pra ela mas entrego-a, então volto a olhar pra frente colocando os braços em volta dos meus joelhos, eu apoio a testa no meu joelho e encaro o chão entre as minhas pernas.
– Eu não devia ter falado daquele jeito – a voz dela é baixa e parece arrependida mas eu só consigo ouvir ela gritando dizendo que eu sou o culpado – Você só precisa entender que...
– Eu não preciso entender mais nada – eu a corto olhando pra ela que se assusta quando eu falo – Eu já entendi muita coisa Katniss, mas isso... Eu realmente não tenho que entender – eu completo e ela parece surpresa pela minha reação mas seu olhar parece envergonhado, ela olha pra Pérola que já está mamando.
– Eu só queria proteger ela – ela confessa com a voz baixa demais.
– E você acha que não é o que eu quero? Você não acha que é nisso que eu penso todo dia? Que esse é o meu maior medo? Que ela sofra consequências do que NÓS fizemos? – eu pergunto com aquele sentimento de irritação surgindo novamente – Você acha que só você se preocupa, mas não! Eu também me preocupo com ela, com o futuro dela e se eu pudesse u mudaria tudo pra garantir que ela nunca sofra com nada disso mas infelizmente eu não tenho esse poder – eu falo e ela me olha com angustia nos seus olhos.
– Aquelas coisas que eu disse, eu... eu estava com raiva, eu não sabia o que estava falando – ela fala parecendo insegura disso.
– Você sabia Katniss, você sabia exatamente o que estava falando! Assuma isso! – eu falo e ela paralisa, posso ver pelos seus olhos que ela tenta administrar o que eu disse, eu desvio meu olhar dela e volto a olhar pra frente por que eu simplesmente não consigo olhar pra ela.
– Eu só espero que você me entenda, eu não esperava por isso, eu não queria ela exposta desse jeito, eu só... me descontrolei! Eu sei que você nunca faria isso mas na hora eu não coseguia pensar direito, eu só pensava que ela estava ali na televisão – ela fala parecendo angustiada – Não era isso que eu queria! – ela confessa.
– Nem eu – eu admito e continuo olhando pra frente, os segundos passam e eu não consigo mais ficar assim, perto dela eu não consigo pensar direito, não consigo afastar o que ela me disse, eu solto minhas pernas e me levanto, antes eu inclino e beijo a testa da Pérola que par de mamar e sorri pra mim, eu sorrio de volta e ela logo está mamando de novo, eu me levanto – Eu vou pra padaria e não precisa me esperar pro almoço – eu aviso e não dou tempo dela falar nada, apenas me viro e começo a andar me afastando delas, eu queria poder ignorar o que ela me disse e como sempre voltar e ficar com ela numa boa, mas acontece que dessa vez as palavras dela continuam ecoando na minha cabeça e eu não consigo ignorar isso, quando chego na padaria o movimento dela está razoável, eu falo rapidamente com o pessoal e vou pro escritório, eu entro no banheiro e lavo o rosto e molho minha nuca tentando me acalmar, me encaro no espelho e respiro fundo .
– Patrão – a voz do Benny me desperta e eu saio do banheiro, ele está parado no meio do escritório – Nós recebemos uma encomenda grande – ele avisa animada.
– Grande quanto? – eu pergunto tentando parecer animado.
– Grande, tipo, grande mesmo – ele fala exagerado – Pães, biscoitos, bolo! Tudo! Daqui a dois dias e o melhor, pela pressa eles estão pagando a mais e já deixaram metade do dinheiro – ele fala rindo.
– Então temos muito trabalho – eu tento parecer interessado e animado mas não é o suficiente.
– Tá tudo bem? – ele pergunta me olhando curioso.
– Tá – eu minto enquanto me sento na minha cadeira.
– Ah eu vi o jornal hoje! Foi uma bela foto pelo menos – ele fala dando de ombros como se fosse normal.
– É! – eu falo passando a mão pelo cabelo.
– Tem certeza que tá tudo bem? – ele pergunta me olhando com atenção, eu forço um sorriso.
– Tá tudo bem, melhor você voltar pra lá – eu falo apontando pra porta, ele concorda e apenas acena com a cabeça antes de sair me deixando sozinho na sala, eu afundo na cadeira e jogo minha cabeça pra trás, encarando o teto, não sei quanto tempo eu passo assim mas não parece ter adiantado muita coisa por que minha cabeça continua tão cheia quanto antes, por isso eu decido ocupar minha mente, eu saio do escritório e vou pra cozinha, todos estão empenhados trabalhando e eu me encaixo no meio das atividades, as conversas sobre o casamento do Rory e ansiedade dele me faz esquecer por um tempo sobre a briga com Katniss, a manhã termina e antes que eles saiam pro almoço comunico sobre a encomenda e sobre a quantidade de trabalho que teremos, eles comemoram e depois nós eu os libero, mas continuo pela padaria, ainda não estou pronto pra ir pra casa, eu faço um sanduiche mesmo que não esteja com fome, pego um copo de leite e me sento na bancada mesmo, eu como mais por obrigação e tento pensar no que falar pra Katniss quando voltar pra casa e descubro que ainda não sei o que quero falar, na verdade eu não sei mais nada, por que por um lado eu estou magoado com o que ela disse mas por outro eu entendo o desespero dela, o medo por ter que ver Pérola exposta dessa maneira e eu realmente entendo ela mas infelizmente ela escolheu a pior forma de reagir a isso, eu termino de comer e volto pro escritório, revejo o trabalho que tenho, assino alguns papéis e ligo pra fazer pedidos, quando os outros chegam eu já estou na cozinha trabalhando de novo, nós continuamos a trabalhar e sem nenhum imprevisto a tarde também passa, quando a tarde começa a cair nós arrumamos as coisas e fechamos a padaria, eu sigo o caminho de casa enquanto tento pensar no que fazer e no que falar quando chegar em casa, e quando chego a Aldeia encontro Haymitch saindo lá de casa.
– Aí está você – ele fala parando na minha frente e me observando com atenção, eu paro no caminho e então vejo o curativo no braço dele.
– Que foi isso? – eu pergunto apontando logo para o curativo, ele força um sorriso.
– Você achou que ia ser fácil segurar aquela garota? – ele fala dando de ombros tentando parecer não se importar, eu coloco as mãos no bolso encaro a porta logo atrás dele e respiro fundo – Posso falar com você, antes... de você entrar aí? – ele pergunta me encarando de forma preocupada, eu olho pra ele e sei que é a melhor opção mesmo, por que ainda estou tentando não me deixar levar por tudo que aconteceu, eu concordo com a cabeça e ele anda passando por mim na direção da casa dele, eu o sigo, ele entra em casa e vai até a cozinha, pega uma garrafa e coloca em cima da mesa, ele deixa um copo em ao lado e enche o dele, ele vira o copo de uma só vez e parece procurar as palavras – Isso é difícil pra ela – ele finalmente fala.
– E é fácil pra mim? – eu revido cansado de escutar isso, ela disse e eu entendo mas por que tem de ser mais fácil pra mim? Não é!
– Não foi isso que eu disse – ele se defende e puxa uma cadeira se sentando eu continuo em pé olhando pra ele – É só que... Ela não sabe como lhe dar com isso – ele tenta explicar, e eu solto uma risada nervosa enquanto passo a mão pelo cabelo e me viro de costas pra ele – Olha só, ela é descontrolada você sabe disso! Ela não é o tipo inteligente ou moderada! Não estou dizendo que pra você é fácil mas você sabe lhe dar com essa coisa toda enquanto ela nunca soube! Ela só conseguiu até agora por sua causa – ele fala e eu volto a olhar pra ele – Ver a foto da Pérola espalhada era o maior medo dela! Você não pode culpá-la por isso – ele avisa.
– E ela pode me culpar por isso? Eu NÃO tive culpa! – eu estouro mas ele apenas me ouve – Eu não podia imaginar que isso fosse acontecer, eu só quis sair de casa um pouco, era aniversario dela, eu não vi problema nisso e ela me culpa pelo que aconteceu! Como se eu tivesse planejado tudo isso! E EU NÃO PLANEJEI – eu concluo e ele leva alguns segundos como se pra se certificar que eu acabei.
– Eu sei disso! Ela sabe disso! Mas como eu disse ela não é do tipo inteligente – ele fala enquanto enche mais um copo e dá um gole – Ela só está sendo mãe! Não era isso que você queria? – ele fala me olhando e por um segundo eu realmente entendo isso, Katniss não queria ter filhos, apenas o pensamento a paralisava e agora depois de todos esses anos nós finalmente temos nossa filha e eu sei o quanto foi dificl pra ela aceitar isso e se permitir ser mãe, por isso o pensamento de alguma coisa fazer mal a Pérola a deixa tão desesperada, eu realmente entendo isso mas não posso aceitar tudo.
– Ela queria me proibir de sair com a minha filha – eu falo me lembrando dela dizendo isso e tentando tirar Pérola dos meus braços.
– Ela estava com raiva – ele fala sem se importar.
– Ela nunca faria isso de verdade! Todo mundo vê que você é o melhor pai, Pérola ama você e ela nunca levaria isso a frente – ele conclui e por mais que eu acredite nisso o pensamento de ser proibido de sair com a minha filha me apavora, eu pego o copo da mesa, encho e viro de uma só vez, ele me olha preocupado.
– Eu to cansado! – eu admito e ele me observo – Eu vou pra casa – eu falo e me viro, ele não tenta me impedir, eu saio e vou direto pra casa, quanto antes acabar com isso melhor.
Eu entro em casa e o andar debaixo está vazio, eu subo as escadas e encontro Katniss saindo do nosso quarto com Pérola nos braços adormecida, eu paro na porta e ela para a centímetros a minha frente, nossos olhares se encontram mas eu os desvio olhando pra Pérola,, eu passo a mão pelos cabelos loiros que crescem cada vez mais e beijo sua testa, ela se mexe um pouquinho mas não acorda.
– Eu vou colocar ela no berço – ela fala com a voz rouca e fraca, eu apenas libero a passagem e ela passa por mim, eu entro no banheiro e me livro da minha roupa, deixo a água morna cair na minha cabeça na esperança de me relaxar, fecho os olhos e fico assim por alguns minutos, quando saio do banho, me enrolo na toalha e saio do banheiro, Katniss está guardando algumas roupas na gaveta e quando olho ao lado da cômoda vejo a gaveta quebrada, é estranho pensar que isso aconteceu a dois dias e agora esse clima está entre nós, eu vou até a gaveta onde ela está mexendo e ela me estica a calça de moletom, eu pego e a visto.
– Obrigado – eu falo com a voz distante e me viro saindo do quarto, eu entro no quarto da Pérola e a observo enquanto dorme tão tranquila, eu paro na porta e apenas a observo, depois de alguns minutos eu saio e desço as escadas, vou até o porão e quando entro me lembro que preciso me livrar dessas telas, não é o tipo de coisa que se guarda com uma criança em casa, eu pego a maleta de ferramenta e saio de lá, volto pro quarto onde Katniss agora está tomando banho e me abaixo na frente da cômoda e começo o conserto da gaveta, quando ela sai do banheiro eu já estou colocando a gaveta no lugar, fecho a maleta e a coloco no canto, sinto o olhar dela em mim parada a poucos passos de distancia.
– A gente precisa conversar – ela fala com a voz tentando se manter firme, eu concordo e paro de frente pra ela esperando que ela continue, ela respira fundo cruzando os braços e olhando para os pés como se não soubesse como começar a falar – Eu... Eu não deveria ter falado com você daquele jeito – ela começa sem me olhar.
– Você já disse isso – eu falo na defensiva sem conseguir manter a minha voz neutra.
– Eu sei, mas eu realmente não devia ter falado daquele jeito! Eu sei que você se importa com ela tanto quanto eu – ela admite tentando se explicar – Você é o melhor pai do mundo e eu nunca deveria ter te acusado de algo assim, não tinha como você saber e você está certo eu não posso prender ela nessa casa pra sempre... só que ao mesmo tempo é tão difícil... tão difícil, ver ela exposta assim – ela confessa e posso ver que ela segura as lagrimas – Ela é só um bebê e já está exposta assim! Não foi isso que eu quis pra ela! – ela explica e me olha pela primeira vez desde que começou a falar seu olhar é perdido e desesperado – Talvez você esteja certo e eu esteja ficando louca, é só que... eu não consigo aceitar isso – ela fala e a lagrima escorre pelo seu rosto, ela enxuga com a mão rapidamente e olha pra cima tentando não chorar – Eu não consigo aceitar que ela vai carregar o meu passado – ela fala e aperta os braços em volta dela como se estivesse se segurando, ela me olha e a lagrima escorre, por mais que eu esteja magoado, nunca vou conseguir me manter indiferente a ela assim.
– Você não está louca – eu nego e ela apenas me olha – Eu entendo você, entendo mesmo! Por que eu também nunca quis isso, o que eu não entendo é você ter me acusado de fazer isso de caso pensado, por querer aparecer! Eu NUNCA faria isso – eu falo esclarecendo.
– Eu sei que não! Eu só... só... estava confusa – ela fala gaguejando.
– Você disse que eu sempre gostei disso, mas não é verdade! – eu nego e ela concorda com a cabeça – Katniss eu não sou como você, nem nunca fui! Você é forte e dura, você entra na briga disposta a lutar com as próprias mãos, essa é você, seu espírito! Tá no seu sangue ser assim e eu admiro isso em você! Mas eu não sou igual você, eu não tenho o espírito de caça da floresta! Me manter na frente de uma câmera era o único jeito que eu tinha de manter a minha segurança, da minha família e principalmente a sua! Ali, na frente de uma câmera era o único momento que eu sabia o que fazer, onde eu sentia que podia controlar alguma coisa! E se esse era o único jeito de garantir que você estivesse segura então foi esse jeito que eu me apeguei! – eu explico e ela está concentrada em mim – Não por gostar, foi por precisar! E agora eu não preciso mais! E mesmo que precisasse eu nunca ia colocar a Pérola nisso! Nunca ia fazer qualquer coisa que a expusesse – eu concluo e ela se aproxima de mim, sua mão na minha nuca e ela encosta a testa na minha.
– Me desculpa! Me desculpa – ela pede com os olhos fechados mas posso ver as lagrimas ainda rolando, ela abre os olhos e me encara – Me perdoa! Eu nunca devia ter falado aquilo – ela fala mas eu apenas a encaro de volta – Tudo que você fez... eu entendo! Nós estávamos nos mantendo vivos, eu sei disso! E mesmo que eu não mereça eu te agradeço! Eu fui injusta com você e eu me odeio por isso! Você e a Pérola são as únicas coisas boas que eu tenho, eu não posso e não quero perder nenhum dos dois – ela admite e então começa a chorar, as lagrimas descem rapidamente e seu corpo treme – Eu não posso perder você Peeta! Não posso – ela repete chorando, eu respiro fundo e a abraço, seu corpo treme quando eu faço isso e ela encosto o rosto no meu peito deixando o choro tomar conta dela, eu acaricio suas costas e seu cabelo, embalando ela no meu abraço, quando o choro diminui ela afasta o rosto e me olha – Me perdoa – ela pede mais uma vez e eu só preciso esclarecer mais uma coisa, eu seguro seu rosto com as mãos e paro seu rosto de frente pro meu olhando diretamente para os olhos dela.
– NUNCA MAIS tenta me proibir de sair com ela – eu falo firme e sem desviar o olhar – NUNCA MAIS tenta tirar ela de mim! – eu reforço e seus olhos estão atentos – Essa é a única coisa que eu não vou perdoar! – eu falo pra que não restem duvidas, ela concorda com a cabeça.
– Eu não vou fazer isso! - ela fala com a voz embargada – NUNCA MAIS – ela reforça e eu afirmo com a cabeça, eu beijo sua testa e volto a abraçar ela, seus braços envolvem meu corpo e eu deixo que ela se acalme e quando ela finalmente se recompõe, se separa de mim e vai até o banheiro, ela sai de lá com o rosto ainda vermelho mas parecendo melhor e mesmo depois disso quando ela se deita ao meu lado e encosta seu corpo no meu eu ainda me sinto em casa aqui, eu passo meus braços em volta dela e beijo o topo da sua cabeça, aos poucos o corpo dela relaxa e eu sinto esse clima se desfazendo. Com o passar dos dias essa história foi ficando mais distante e cada dia era mais fácil pra ela se acostumar com isso, ela ainda não ficava contente com a ideia mas depois de dois dias ela apareceu na padaria com a Pérola dentro do carrinho, quando eu a vi entrando demorei alguns segundos pra acreditar na cena mas era verdade e foi quando eu vi que ela realmente estava tentando, algumas pessoas que estavam na padaria se aproximaram do carrinho pra ver Pérola, os olhos assustados de Katniss também mostraram uma certa força, ela pegou Pérola nos braços e a manteve perto de si enquanto uma senhora sorria e a parabenizava por uma filha tão bonita, o orgulho me fez sorrir enquanto me aproximava delas, a mulher também me parabenizou e então eu levei elas para dentro, ela passou o restante da tarde por lá e na hora de ir embora Katniss ainda parecia desconfortável mas estava lutando com isso e eu só podia me sentir orgulhoso por ela. Duas semanas depois estávamos dentro do carro indo até a Estação, Senhora Everdeen chegou pela manhã, Katniss e eu fomos buscá-la, ela nos viu e logo veio sorrindo na nossa direção, o abraço delas ainda era rápido e distante mas já era um bom sinal, ela também me abraçou rapidamente.
– Onde está Perola? – ela pergunta assim que não a vê conosco.
– Está na caminhada – Katniss fala enquanto eu carrego a mala dela que parece um pouco confusa.
– Toda manhã ela e o Haymitch fazem uma caminhada matinal – eu explico e ela concorda com um sorriso.
Nós entramos no carro e fomos direto pra casa, eu levo a mala dela pra dentro e logo elas entram também, poucos minutos se passam quando Haymitch chega carregando uma Pérola animada batendo palmas e gritando.
– Aí está minha princesa – eu falo indo até eles e pegando Perola que se joga pra mim com um sorriso contagiante, ela agarra meu pescoço enquanto tenta morder minha bochecha, todos parecem hipnotizados nela, Senhora Everdeen parece encantada.
– Eu posso pegar ela? – ela pergunta tímida e eu me aproximo entregando Pérola pra ela, mas Pérola parece assustada e se agarra no meu pescoço.
– Vai com a vóvó – eu falo tentando parecer animado e a coloco quase a força no colo dela, que parece um pouco sem graça enquanto Perola se joga pra mim de novo.
– Ela não vai com estranhos – Haymitch fala e não foi de forma casual, ele sabia exatamente o que estava falando, mas Katniss apenas fica em silencio e por mais cruel que seja infelizmente é a verdade.
– Ela só não quer se separar do papai né! – eu falo tentando quebrar o clima, ela sorri um pouco afetada com esse comentário e tenta me entregar Perola.
– Eu preciso ir até a cozinha! – eu minto pra que ela não se sinta mal e aos poucos Pérola se acostuma com ela, eu saio arrastando Haymitch comigo.
– Você pode parar com isso? – eu peço assim que entro na cozinha falando baixo.
– Por que? Ele ta certo! – Katniss entra logo atrás de nós – Ela É uma estranha – ela conclui passando por nós.
– Ela é a avó dela – eu relembro e ela faz uma cara ruim mas não nega apenas pega um copo de água e volta pra sala.
– Ela não é nada dela – Haymitch fala segurando meu braço.
– Você pode aceitar ou não mas ela é! Então por favor pelo menos uma vez haja como um adulto e para de fazer esse tipo de coisa! – eu exijo encarando ele de volta – O seu lugar na vida dela já está garantido, você não precisa fazer isso – eu aviso e seu olhar suaviza, ele solta o meu braço, eu não espero ele falar nada até por que ele não falaria, eu volto pra sala. Depois disso ele para de implicar com ela e Pérola embora ainda não fique muito empolgada no seu colo também parou de tentar sair e aos poucos se acostuma com a presença dela, nós a instalamos no quarto de hóspedes e eu vou pra padaria logo depois, as três passam o restante do dia juntas e quando eu chego em casa no fim da tarde Sra Everdeen está na cozinha enquanto Katniss está dando banho em Pérola, nós jantamos juntos e Haymitch não tenta mais deixar ela sem graça o que faz o jantar seguir sem nenhum momento ruim, embora ainda tenha no ar aquele clima de desconforto, no outro dia tenho que acordar cedo e correr pra padaria pra terminar de acertar as coisas para a noite por que temos o casamento do Rory, Sra Everdeen vai conosco, a festa é muito bonita e os noivos parecem extremamente apaixonados e felizes, na festa Sra. Everdeen passa a maior parte com Hazelle que está orgulhosa e feliz pelo filho, são nesses momentos que eu vejo o quanto nossas vidas mudaram e o quanto nós já conquistamos, ver todos ali com as vidas seguindo me faz enxergar que ainda podem acontecer muitas coisas boas e cada dia eu me sinto mais ansioso por continuar vivendo essas surpresas da vida.


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