- Recomeçando escrita por HungerGames


Capítulo 25
Capítulo 25




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Depois do casamento do Benny e da Grace os meses pareceram passar rápidos demais, as coisas entre eu e Katniss continuaram como antes, nós temos nossa vida e nossa rotina o assunto dos filhos ficou de lado, eu não esqueci, mas como prometi não vou pressioná-la, por isso seguimos a vida normalmente. Mês passado tivemos que ir até a Capital como fazemos todos os anos e a viagem foi a mesma coisa de sempre, o mais rápida e direta possível, mas pela primeira vez depois de todos esses anos Katniss por mais que ainda estivesse abalada parecia mais conformada que os outros anos, ela ainda não conseguiu falar seu discurso e nem acho que ela conseguirá ou irá querer fazer isso um dia, mas ela não tremeu enquanto estávamos lado a lado na espécie de palco que montam todos os anos, dessa vez sua mão apertada a minha não era apenas desespero era uma espécie de confiança também, ainda é ruim para ela e sempre será, do mesmo jeito que é ruim pra mim também, mas depois de quase dez anos acho que estamos conseguindo controlar e enfrentar isso juntos.
Nós chegamos de viagem no meio da madrugada, o aerodeslizador teve um problema e nós tivemos que vir de trem por que Katniss se recusou a esperar outro e quis entrar no primeiro trem que estivesse saindo, chegamos junto com o vento frio da madrugada, mas confesso que só de estar em casa já é relaxante.
– Você vai pra padaria? – ela me pergunta com a voz baixa e abafada enquanto já está deitada na cama.
– Vou! Tenho um bolo pra fazer hoje – eu afirmo enquanto tiro meu casaco – Você não vai nem tirar a roupa? – eu pergunto olhando ela deitada na cama com a roupa da viagem, ela solta um som abafado e nega com a cabeça – Você vai sair cedo? – eu pergunto terminando de me livrar dos sapatos e depois também caindo na cama.
– Eu.. não sei! – ela fala com a voz embargada e se chega em mim, sua cabeça sobre meu peito e sua perna por cima das minhas, eu aproximo meu rosto do seu cabelo, a viagem foi longa e cansativa, por isso eu pego no sono sem nenhuma dificuldade. Eu acordo apenas algumas horas depois e o sol já pode ser visto, meu corpo ainda está cansado da viagem mas eu realmente tenho que ir pra padaria, por isso ignoro o pedido do meu corpo pra continuar na cama e me espreguiço, me levanto e vou de olhos ainda fechados para o banheiro, eu me livro da minha roupa e entro debaixo do chuveiro, deixo a água cair na minha cabeça e aos poucos o sono começa a se afastar ainda assim fico um pouco mais debaixo da água, até que o barulho da porta abrindo rapidamente me faz abrir os olhos e tirar a cabeça de debaixo da água, Katniss entra e vai direto para o vaso, eu solto uma risada, é engraçado mas depois desses anos essa cena é simplesmente normal, demorou muito tempo para que ela ao menos deixasse a porta destrancada enquanto ela tomava banho e mesmo que eu deixasse aberta quando eu estava ela nunca entrava, mas hoje em dia parece que finalmente ela relaxou quanto a isso, esse é o tipo de coisa que me faz ver o quanto ela já mudou, o quanto cada dia que passa nós temos ainda mais intimidade, não apenas na cama, mas na vida.
– Você pode olhar pro outro lado por favor? – ela pede com a voz meio rouca e me reprovando com o olhar.
– Eu já estava aqui – eu falo rindo.
– Mas eu precisava usar o banheiro – ela fala parecendo se desculpar, eu volto a cabeça para a água e termino meu banho, abro a porta do box e ela está na pia, eu puxo a toalha e começo a me enxugar, sinto o olhar dela acompanhando o caminho da toalha no meu corpo, mas ela disfarça e sai do banheiro, um sorriso volta pro meu rosto, eu saio com a toalha enrolada na cintura e ela já está enrolada no lençol de novo, eu abro a gaveta procurando minha camisa que eu sempre uso na padaria.
– Você viu minha camisa branca? – eu pergunto depois de remexer a gaveta toda.
– Tá aí – ela fala sem se importar.
– Não, não tá – eu nego e fecho a gaveta, me viro pra ela que continua deitada agarrada a um travesseiro – Eu te pedi pra lavar ela, você lavou? – eu pergunto já desconfiando da resposta e quando ela levanta o rosto pra me olhar eu confirmo minha resposta – Obrigado – eu falo com ironia e me viro de costas voltando a procurar por outra camisa.
– Desculpa, mas eu não tive cabeça pra lembrar disso essa semana – ela fala com o tom de voz rude e eu me lembro que semana acabamos de enfrentar e solto o ar derrotado, ela sempre consegue fazer isso comigo, eu pego outra camisa, me visto, a calça jeans pelo menos está limpa, eu volto ao banheiro escovo os dentes e quando saio de lá ela já não está mais deitada, agora está sentada na cama parecendo criar coragem de se levantar, eu me aproximo, apoio e inclino meu corpo sobre a cama até parar o rosto próximo ao dela.
– Eu já vou – eu anuncio e ela vira o rosto de frente pro meu, nossas respirações se misturam – Eu te amo – eu declaro olhando nos olhos dela, depois seguindo o caminho para sua boca, nossos lábios se encontram e se encaixam, quando se separam ela me libera um pequeno sorriso, eu me afasto e saio de casa, pela hora que chegamos será inútil tentar acordar Haymitch, hoje ele só deve acordar na hora do almoço, por isso vou direto pra padaria, tem bastante trabalho como de costume por isso as horas parecem passar voando, a parte da tarde eu me encarrego de terminar o confeito do bolo e levo algumas horas nele, mas consigo terminar a tempo, na verdade alguns minutos antes da pessoa vir buscar, o movimento na padaria ainda é agitado, os pães estão no fim mas como ainda tem algumas fornadas assando, as pessoas aguardam espalhadas pela padaria, quando retiramos do forno e os colocamos na cesta o movimento parece aumentar ainda mais e eu e Rory precisamos ajudar Benny no atendimento por que ele sozinho não estava dando conta, alguns minutos e novamente tudo se acaba mas dessa vez como já passa das cinco nós começamos a fechar a padaria, cada um arruma uma coisa e logo tudo está no lugar, saímos e trancamos tudo, cada um segue seu caminho e em pouco tempo chego a Aldeia, desvio o caminho de casa e vou para a casa do Haymitch, o lugar está silencioso e não o encontro em nenhum lugar, depois de chamar por ele e não receber resposta me convenço que ele não está, saio e dessa vez sigo direto para casa, abro a porta e pelas vozes eu já sei que o encontrei.
– Eu passei na sua casa – eu falo entrando pela casa e indo onde ele e Katniss estão, eu me aproximo dela e nossos lábios se encontram rapidamente.
– Você não trouxe pão de queijo? – ela pergunta quando repara minhas mãos vazias.
– Acabou tudo em minutos! Tava uma loucura lá – eu explico me desculpando e recebo olhares de reprovação dos dois – Pelo menos nisso vocês estão do mesmo lado – eu digo lançando um olhar para eles dois que se ignoram.
– Então você vai fazer agora ou tá esperando alguém pedir por favor? – Haymitch murmura me olhando com a sobrancelha erguida.
– Ninguém espera isso de você – ela devolve encarando ele.
– Eu poderia dizer o mesmo de você queridinha – ele fala com um sorriso amarelo, eu lavo minhas mãos e começo a me ajeitar na cozinha para poder fazer o tal pão antes que eles se matem, quando a massa fica pronta eu coloco no forno.
– Agora é só esperar – eu aviso enquanto guardo as coisas em seus lugares, depois me sento junto com eles e tenho que terminar com a troca de olhares intimidadores que eles insistem em manter, nós nos sentamos no sofá, Haymitch liga a TV e está passando um dos programas novos que agora passam com frequência embora nenhum de nós três tenha costume de ver TV, mesmo assim ela permanece ligada, o pão fica pronto e eu retiro do forno, colocando em cima da mesa, mesmo com a fumaça saindo Haymitch e Katniss não esperam, mais uma coisa que eles concordam, eu já ia pegar um pedaço quando o telefone toca, Katniss me olha e indica que eu atenda, eu me levanto e vou o mais rápido possível consigo atender no quarto toque.
– Alô? Peeta? – a voz é apressada e nervosa mas mesmo assim eu reconheço.
– Philip? O que foi? – eu pergunto preocupado.
– Chegou a hora! Nós estamos no hospital e ela insistiu que eu te avisasse – ele fala apressado e eu mal tenho tempo de responder alguma coisa – Eu tenho que ir, eles vão levar ela... Esperamos vocês aqui – ele avisa e em seguida o sinal da ligação se encerra, eu ainda fico alguns segundos com o fone no ouvido tentando entender, e só depois que um sorriso consegue aparecer.
– Delly vai ter o bebê! Agora! – eu convenço a mim mesmo e então devolvo o telefone para o lugar e saio do escritório rapidamente.
– Que cara é essa? – Katniss pergunta assim que eu apareço na cozinha, pelo visto o sorriso continua no meu rosto.
– Era o Philip! Eles estão no hospital! Delly vai ter o bebê hoje... Agora – eu anuncio.
– Você vai lá? – ela pergunta me observando e eu a olho sem acreditar no que ela perguntou, Delly é minha melhor amiga, quase uma irmã.
– Claro que eu vou – eu afirmo – Você vai levar a gente – eu aviso apontando o Haymitch, por que mesmo já tendo tido algumas aulas no carro ele ainda tem mais experiência.
– Eu to no meio de uma refeição – ele fala pegando mais um pedaço do pão.
– E se quiser ter outra dessa é melhor levantar e nos levar até lá – eu ameaço e mesmo ele me lançando um olhar de indiferença ele se levanta, mas antes eu subo as escadas pra pegar o presente que eu já havia separado no embrulho e na sacola, desço correndo e vejo que Katniss é quem permanece sentada.
– Eu acho que vou esperar aqui! Não tem nada que eu possa fazer lá mesmo – ela fala com a voz meio insegura mas querendo parecer firme.
– Katniss ela espera por nós lá! Nós somos os padrinhos deles lembra? Sem contar que ela gosta mesmo de você, eu tenho certeza que ela vai ficar feliz com a sua presença – eu falo olhando ela que mesmo sem se animar muito concorda.
– Claro! Foi apenas uma sugestão – ela fala forçando um sorriso, e mesmo sabendo que não foi apenas isso eu deixo o assunto passar e nós saímos de casa em direção ao Hospital, chegamos em poucos minutos, não é necessário nos identificarmos mas precisamos parar no balcão para ter informações, a mulher nos indica a sala de espera, entramos e logo viramos o assunto da sala, as poucas pessoas que estavam nos olham e sorriem e por costume sorrio de volta, os minutos passam e Grace e Benny chegam animados trazendo dois balões, um verde e um azul, já que o bebê é menino mas eles discordaram quanto a cor, eles esperam junto conosco e mais minutos passam até que Philip aparece com uma daquelas roupas parecidas com a dos médicos, o sorriso dele pode ser visto mesmo de longe.
– Nasceu! Ele é ... lindo! Perfeito - ele anuncia assim que se aproxima, Benny quase o derruba enquanto comemora sacudindo e abraçando ele, nós o cumprimentamos mas o que todos querem é ver o bebê, ele anuncia que logo eles estarão no quarto mas teremos que esperar um pouco, ele volta lá pra dentro e nós aguardamos até que ele volte com nossa liberação, nós entramos no quarto silencioso e Delly está deitada segurando o pequeno pedaço de gente em seus braços e mesmo com o semblante cansado ela sorri animada, Grace é a primeira a se aproximar, mas Delly logo chama por Katniss também, mostrando orgulhosa o seu filho, Benny também se aproxima e eu deixo para ser o último, quando vejo o pequeno pedaço deles ali embora a felicidade seja verdadeira novamente aquele sentimento volta em mim e eu sinto uma espécie de inveja deles, e percebo o quanto eu quero um dia passar por essa mesma emoção sendo um filho meu e da Katniss, o pequeno Júnior, já que eles escolheram o mesmo nome do pai, é realmente um lindo bebê, gordinho com aquelas dobrinhas nos bracinhos, os olhinhos fechados e a cabeça com poucos fios de cabelo loiros como da Delly, ele parece bem aconchegado na manta azul que está envolvido, ficamos apenas alguns minutos e a enfermeira avisa que eles tem que descansar e nós somos convidados a nos retirar do quarto, saímos sem problemas e logo depois de parabenizar novamente o Philip nos despedimos e vamos pra casa, Katniss faz o caminho inteiro em silêncio apenas olhando pela janela, na verdade ela mal falou lá no hospital também, as poucas vezes em que ela disse algo foi para parabenizar os novos papais e quando Delly perguntou se ela queria pegar o bebê no colo, ela negou tentando manter a voz o menos apavorada que conseguisse, eles se convenceram, eu não.
Nós chegamos em casa novamente quase na madrugada, ela entra em casa rapidamente e eu ainda estava com Haymitch do lado de fora me certificando que ele ia pra casa.
– Você devia estar preocupado com ela não comigo! - ele falou antes de bater a porta na minha cara, eu me viro na direção de casa e a luz do quarto está acesa, eu paro em frente a porta, tomo um ar e entro, subo as escadas e entro no quarto, ela está no banheiro, a porta aberta mas eu apenas vou na direção da cama e me sento, tiro meus sapatos e os empurro para debaixo da cama, depois me jogo deitado de costas na cama, eu me lembro da alegria deles e do pequeno garoto nos braços da Delly e é impossível não ficar feliz por eles, assim como eu, Delly perdeu a família e agora está começando a dela, eu fico muito feliz por ela, os passos fortes que me distraem dos meus pensamentos, Katniss saiu do banheiro e vem na direção da cama, eu me sento novamente olhando pra ela, mas ela desvia o olhar do meu.
– Por que você tá assim? - eu pergunto por que se tratando dela pode ser qualquer coisa.
– Você queria que fosse você no lugar do Philip! - ela afirma mas me encara como se estivesse esperando uma resposta, eu entendo o que ela quis dizer.
– Queria! - eu confirmo e posso ver a surpresa e o espanto no rosto dela - Mas também queria que fosse você no lugar da Delly! - eu completo e mesmo o espanto saindo do seu rosto ela ainda parece nervosa - Katniss eu nunca te escondi isso, nós conversamos! É claro que eu queria passar por isso, é claro que eu quero ter um filho, NOSSO filho! - eu esclareço enfatizando a palavra "nosso", ela desvia o olhar do meu e encara a janela - Você me prometeu que ia pensar! - eu relembro com a voz baixa mas suficiente para que ela me escute, ela volta a me olhar.
– E você acha isso justo? - ela pergunta com a voz rude.
– Eu sei que você tem medo...
– Isso não é sobre mim Peeta... e nem sobre você - ela me corta com a voz ainda mais firme, ela passa a mão pelos cabelos e se senta me dando as costas, ela parece decidir o que falar e eu espero que ela continue - É sobre essa criança Peeta! - ela fala mais calma, ela me olha e deve ter percebido minha confusão - Você acha que é justo fazer isso com uma criança? - ela pergunta me olhando.
– Fazer o que Katniss? Amar? Cuidar? Eu nunca vou deixar faltar nada pra ela - eu afirmo tentando me manter calmo.
– E quanto ao resto? - ela pergunta e se levanta - Você acha justo dar a essa criança pais como nós? - ela fala me encarando e apontando nós dois - Uma mãe que tem pesadelos quase toda noite, que as vezes pensa que não vai conseguir levantar da cama, que tem medo de que o pouco que ela tem possa ser destruído a qualquer momento, que tem medo de ficar sozinha nessa casa por que parece que todos os seus pesadelos vão virar realidade... Essa é a mãe que você quer pro seu filho? - ela se exalta e eu posso ver as lágrimas brilhando em seus olhos, mas ela a segura bravamente, eu penso no que dizer mas ainda estou em choque, Katniss nunca fala sobre como se sente e ela acaba de fazer isso, quando eu ia falar ela continua - Ou um pai que ainda precisa se convencer que a mãe não é uma bestante que quer matá-lo, um pai que ainda precisa ir pro porão e descarregar todas as suas dúvidas lá, um pai que precisa se trancar lá ate os flashes passarem, é esse pai que você quer dar pra essa criança? - as palavras dela me atingem da forma mais profunda que ela podia conseguir, ela não parece arrependida de ter dito mas posso sentir uma certa tristeza em seu olhar - Eu sei que você vai amar essa criança Peeta! Mas nem sempre só amor é suficiente - ela completa com a voz baixa e angustiada, eu ainda não consigo ter o que falar - Nós não estamos preparados - ela afirma com a voz baixa parecendo lamentar, eu queria poder desmentir todas as palavras que ela me disse, queria que nada disso fosse verdade e que não doesse tanto mas talvez ela esteja certa, talvez eu nunca esteja pronto pra isso. Mas ao mesmo tempo se isso fosse mesmo verdade essa dor deveria passar e eu deveria me convencer disso mas é impossível. Eu quero esse filho. Eu preciso. E eu não viu abrir mão dele.
– Você tá certa! - eu afirmo e ela se surpreende mas não se anima parece tão angustiada como antes - Talvez isso nunca passe, talvez esse é o máximo que eu consigo ser... mesmo que isso seja assim tão ruim... - eu tenho que forçar minha voz a sair.
– Não é isso que eu disse - ela tenta consertar.
– Foi exatamente isso! - eu afirmo e me levanto parando de frente pra ela - E mesmo que essa seja verdade, ainda assim eu não vou desistir disso! Eu quero ser pai! - eu afirmo olhando ela nos olhos que balança a cabeça parecendo frustrada - E a única coisa que eu posso garantir é que eu vou amar essa criança da forma mais intensa possível - eu afirmo.
– Isso é lindo... só que uma criança não precisa só de amor, precisa de segurança - ela fala diretamente.
– Eu vou fazer isso! Eu vou proteger essa criança! - eu afirmo com toda verdade que tenho - Os tempos mudaram Katniss, dez anos se passaram e você não percebeu isso? Os riscos que nós corríamos essa criança não corre! E mesmo que corresse eu a protegeria! Você tem alguma dúvida disso? - eu pergunto olhando ela nos olhos.
– Nenhuma - ela afirma sem precisar pensar, ela suspira cansada e seus dedos encontram meu rosto - Nenhuma - ela repete e eu apenas mantenho meu olhar no dela - Eu preciso de um tempo! Eu... - ela solta o ar lentamente, é nítido o quanto ela está angustiada e mexida com isso, o modo como ela me olha não esconde isso, mas ao contrário do que eu faria em outra situação eu não consigo acalma-la ou conforta-la por que eu mesmo me sinto quebrado, eu não quero mais ouvir nada, ela já me disse o suficiente.
– Tudo bem! - eu falo depois de alguns minutos em silêncio, minha voz sai mais baixa do que eu imaginei. Um tempo. É o que ela pede, como se eu já não tivesse dado 10 anos pra ela, será que não é tempo suficiente? - Eu vou tomar um banho - eu afirmo e me afasto dela deixando ela parada no mesmo lugar, eu entro no banheiro, fecho a porta e deixo meu corpo escorregar pela parede, eu me sento olhando a parede a frente, minha cabeça dói e meu peito parece queimar ainda pelas palavras dela, por que por pior que tenham sido elas não eram inteiramente falsas, talvez eu esteja errado e ela esteja certa, talvez eu esteja sendo egoísta demais apenas querendo realizar o meu desejo sem pensar em todo o resto, nas consequências que isso terá principalmente pra essa criança, será que eu estou sendo tão egoísta assim? Eu só quero ser pai! Eu sinto que essa é a única coisa que falta na minha vida. Um filho. Uma família. Como eu nunca tive, por que mesmo quando eles estavam vivos ainda assim não éramos exatamente uma família, minha mãe passava mais tempo reclamando, brigando e nos batendo, principalmente em mim, que mal tínhamos tempo de lembrar que éramos uma família, e agora quando eu tenho a chance de ter a minha família de verdade, talvez isso nunca seja possível. Eu não sei quanto tempo eu passo sentado aqui nesse chão frio encarando o teto e as paredes mas a única coisa que me desperta são as batidas na porta.
– Peeta? - a princípio a voz é baixa e as batidas são leves mas como eu não respondo logo elas se tornam mais fortes e insistentes - Peeta! - agora ela parece nervosa enquanto força a maçaneta, eu não quero ter que falar, apenas apoio a cabeça entre os joelhos e espero ela desistir - Peeta! Por favor, fala comigo - ela não vai desistir sua voz começa a se exaltar e independente do que eu esteja sentindo eu não consigo e nem quero tortura-la dessa maneira.
– Eu tô bem - eu falo com a cabeça apoiada nos joelhos, as batidas param e ela já não força mais a porta.
– Você tá tomando banho? - ela pergunta com a voz meio receosa, eu ignoro - Eu não tô ouvindo o barulho da água! - ela fala e espera eu dizer algo - Você tá bem? - ela insiste e eu sei que ela não irá desistir, me levanto e abro a porta, ela estava tão colada na porta que quase cai dentro do banheiro, ela me olha preocupada e envergonhada, volta um passo atrás e eu passo por ela indo na direção da porta, sinto seu olhar em mim mas não olho pra trás, desço as escadas e sigo pelo corredor até o porão, eu não estou tendo flashes e nem lembranças ruins mas aqui eu sei que ela não vai entrar, eu nunca achei que fosse querer isso mas hoje eu não quero vê-la, não agora, eu só quero e preciso ficar sozinho, preciso pensar, o lugar está escuro, silencioso, na maioria das vezes eu odiaria um lugar assim mas hoje é exatamente o que eu preciso, me sento em um canto e encaro a escuridão deixando meus olhos se acostumarem e meus pensamentos se perderem, o lugar é frio e apenas alguns fechos de luz entram pela pequena janela logo acima da minha cabeça, eu apoio minha cabeça pra trás encostado na parede e fecho os olhos, não sei se dormi ou se apenas me desliguei do mundo real mas quando minha consciência parece voltar já não está naquela escuridão total, a luz do sol começa a entrar e mesmo que de maneira precária ilumina um pouco mais o espaço, mesmo assim eu permaneço onde estou, meu corpo todo dói, minha cabeça parece incrivelmente pesada assim como meus olhos, é como se eu tivesse passado noite inteira acordado em movimento por que meu corpo está exausto, eu me movo esticando as pernas e os braços e o movimento me lembra de algo enferrujado.
– Isso que acontece quando se passa a noite inteira sentado no porão - eu concluo em pensamento, passo as mãos no cabelo e no rosto, solto a respiração lentamente e movo a cabeça para um lado e para o outra tentando amenizar o incomodo na minha nuca, eu levo a mão ate o local e pressiono.
– Eu tô ficando velho - eu sussurro pra mim mesmo e solto uma pequena risada mas ela logo para quando eu me lembro do por que estou aqui e do por que eu gostaria de continuar aqui, mas eu não posso, não adianta continuar aqui por que nada irá mudar, absolutamente nada. Durante as horas que eu ainda tinha alguma consciência eu cheguei a conclusão que, acabou. Um sonho de ter uma família, uma família de verdade, está acabando, por que eu não posso ter isso sozinho e não posso e nem quero obrigar Katniss a fazer isso e já ficou mais do que claro que ela não quer e talvez não tenha condições de aceitar meu sonho, então mesmo que isso me doa, mesmo que uma parte minha precise ser sufocada todo dia, mesmo assim eu a escolho, por que é ela que eu amo e quando eu repassei todos os nossos momentos juntos, toda nossa vida, o quanto avançamos e nos conhecemos ainda mais nesses dez anos de casados, a verdade é que valeu a pena, mesmo que continue a ser apenas nós dois. Eu me levanto, bato as mãos na minha roupa pra me livrar da poeira que deveria ter no chão e me levanto, estico meus braços mais uma vez e saio do porão, vou até a cozinha lavo minhas mãos na pia e depois lavo meu rosto, olho para minha roupa, tirando algumas manchas de poeira que estão pela calça e o amassado da camisa, e ao invés de subir as escadas eu pego as chaves da padaria e saio de casa, passar pelo Haymitch nem ao menos é uma opção, a última coisa que quero agora é ouvir algumas de suas ironias ou conselhos idiotas, por isso sigo o caminho de cabeça baixa evitando olhar pra qualquer pessoa no caminho, não estou a fim de devolver sorrisos ou ser simpático, a calçada em frente a padaria que chama atenção para a minha chegada, eu abro a porta e entro, o calor acolhedor me aquece e só então eu percebo como meus braços e meu rosto estão gelados, o sol ainda fraco não conseguiu acabar com a pequena brisa gelada, eu vou direto para o escritório e entro no banheiro, não quis ir em casa por que não sabia se Katniss estaria acordada e não queria encontrar ela. Eu não menti quando disse que a amava e ainda amo tanto quanto antes, mas não sou hipócrita pra fingir que nada aconteceu, que ela não me magoou. Eu só preciso de ao menos um tempo. Eu paro em frente a mesa e o porta retrato com uma foto minha e da Katniss me chama atenção, ela odeia ter fotos dela espalhada em casa por isso as que eu tenho eu trago para padaria, meus dedos passam pelo seu rosto, um pequeno sorriso está em seus lábios e meus dedos passam sobre o vidro gelado tentando de alguma maneira a sentir ali, nessa hora algo em mim me diz que a continuação dessa história não será algo tão difícil, afinal passamos esses anos apenas nós dois e tudo deu certo mesmo com Katniss discutindo comigo por algo ou eu reclamando pela bagunça no escritório, mas no final ela sempre sorri quando eu me desculpo e eu sempre fraquejo ao ver seu sorriso, apenas essas lembranças me fazem sorrir e eu tenho a certeza que seja como for tudo continuará certo.
– O que aconteceu com você? - Grace fala parecendo assustada quando eu saio do escritório e dou de cara com ela e Benny chegando.
– Tá tão ruim assim? - eu pergunto me olhando, ela nega com a cabeça e se aproxima de mim.
– Tá péssimo - ela afirma colocando a mão no meu ombro e me olhando com desdém.
– Tá ruim mesmo - Benny concorda fazendo uma cara ruim.
– Minha noite foi... longa - eu falo sem querer explicar.
– Isso não precisava nem falar - Grace continua me olhando como se eu estivesse destruído, de certa forma eu estava.
– Meu Deus! O que houve com você! - Marie chega junto com Rory e se junta ao comitê que se forma a minha volta.
– Foi uma noite longa ok? Agora... Acho que vocês ainda trabalham por aqui certo? - eu encerro o assunto e tento dispensa-los.
– Xii ... Boa sorte pra vocês - Grace fala fazendo uma careta então se aproxima de Benny e o beija, o que era pra ser um beijo rápido se estende.
– Ei... Se controlem - Rory avisa e joga o avental em cima do Benny que agarra enquanto inclina Grace pra trás e aumenta o beijo.
– Belo show - eu falo com tom de reprovação mas não consigo segurar o riso.
Eles terminam o espetáculo e ela segue seu caminho enquanto nós seguimos com o trabalho, eu assumo o lugar do Philip e mantenho toda minha atenção nisso, eles conversam entre eles mas eu me mantenho apenas ali concentrado, mal percebo as horas passando e quando eles vão pro almoço eu continuo pela cozinha adiantando tudo, o telefone toca e eu paro indo até ele e pra minha surpresa do outro lado está uma voz que eu já não ouvia a anos.
– Sra Everdeen - eu a reconheço imediatamente mesmo sem falar com ela a tanto tempo, logo depois de sua desastrosa visita apenas falei com ela uma vez quando ela quis se desculpar, depois disso ela não ligou mais e eu não tinha o por que ligar, devo confessar que havia até me esquecido dela, Katniss não fala da mãe, é como se ela tivesse morta mas agora eu me lembro que isso não é verdade, após a minha surpresa nós conversamos, ela disse que ela apenas queria poder falar comigo, confessou que durante esses anos que ela não ligou lá pra casa e nem pra padaria ela nunca deixou de saber sobre Katniss e que ao menos uma vez no mês ela ligava para o Haymitch.
– Tomara que Katniss nunca saiba disso - eu penso quando ela diz, os dois já brigam demais pra ter mais um motivo.
Ela explica que está ficando velha e que mesmo tendo errado muito com Katniss e tendo consciência disso ela não pode mais simplesmente saber dela de longe, ela quer de alguma maneira se aproximar dela, a princípio eu não aprovo mas quando ela menciona que tem se sentindo mais culpada a cada dia e começa a chorar eu não consigo me manter indiferente a ela mas não posso prometer muita coisa, não depois da reação que Katniss ao tocar nesse assunto, mas eu garanto que posso entregar uma carta e garantir que ela lerá, ela agradece emocionada e nos despedimos, saio do escritório e o pessoal começa a voltar do almoço, nós nos ocupamos novamente e o relógio não para, fechamos a padaria quando a tarde cai, arrumamos as coisas e depois que eles saem eu continuo no escritório, eu relaxo meu corpo na cadeira, minha cabeça jogada pra trás, os olhos fechados e então eu pego no sono, o mesmo que pareceu fugir essa madrugada, uma sensação engraçada surge como se um arrepio atravessasse meu corpo, ainda de olhos fechados eu identifico essa sensação, o leve toque passa pela minha testa e escorrega pelo contorno do meu rosto, eu abro os olhos e um par de olhos cinzentos encontram o meu, seu rosto é sério e preocupado.
– Oi - ela fala com receio e sua voz falha, eu me endireito na cadeira e ela continua encostada na mesa de frente pra mim.
– Oi! - eu falo passando as mãos pelo cabelo e pelo meu rosto.
– Não tem mais ninguém lá fora - ela parece não saber o que falar, eu confirmo com a cabeça.
– Eu sei! Eu já ia sair também, eu só... me distrai - eu falo e minha boca se abre de sono, eu me levanto e ela também fica de pé, deixando nossos corpos próximos demais.
– O que eu falei ontem... - ela começa a falar mas eu levanto a mão indicando que ela pare e ela para.
– Eu tô cansado! - eu falo com a voz realmente cansada e é verdade, mas o cansaço não é só físico, eu tô cansado de lutar por algo sozinho, ela concorda e continua me olhando como se quisesse falar algo - Vamos? - eu pergunto e coloco minha mão no nosso meio esperando, ela olha pra minha mão e coloca a sua por cima da minha, nossos olhares se encontram e quando isso acontece eu confirmo mais uma vez o quanto eu a amo, mesmo se ela nunca concordar comigo, mesmo que a gente brigue outra vez, ainda assim eu a amo, por isso quando eu quebro nosso espaço e minha boca encontra a sua eu sei que estou no lugar certo, que é aqui onde eu sempre quero estar, minha mão segura sua cintura e a cola ainda mais em mim, ela corresponde ao beijo e quando sua língua invade minha boca eu sinto que nada nunca vai conseguir substituir o que eu sinto quando estou com ela, apenas ela tem o poder de me despertar todas essas coisas ao mesmo tempo, o beijo avança a cada segundo e apenas quando estamos sem ar que ele para, ela está apoiada na mesa e meu corpo próximo demais quase se fundindo ao dela, eu passo meus dedos pelos cabelo e coloco uma mecha atrás da sua orelha, meus lábios encontram o dela mas dessa vez é rápido.
– Nós temos que ir - eu aviso com um sorriso já querendo aparecer, ela sorri e pega minha mão, entrelaçando nossos dedos.
– Vamos! - ela afirma e nós saímos da padaria e seguimos o nosso caminho, chegamos em casa em poucos minutos, eu subo pra tomar um banho, depois de passar a noite no porão e o dia inteiro trabalhando o mínimo que eu preciso é um banho, eu demoro mais do que de costume e quando eu saio de lá Katniss está entrando no quarto ela traz algumas roupas e quando me vê ela pega algo e joga em cima de mim.
– Lavada! - ela fala e eu levanto o pano pra ter certeza, é a minha camisa branca.
– Antes tarde do que nunca - eu brinco com ela e ela me ignora depois de dar de ombros, ela vem ate a gaveta e guarda algumas peças.
– Você devia comer alguma coisa - ela sugere ainda em sua tarefa.
– Essa fala é minha - eu falo por que afinal sempre sou eu que devo lembrar que ela deve comer, mas não posso negar que esteja com fome, mal comi alguma coisa hoje por isso ela nem precisa repetir, eu desço e logo ela também aparece, nós jantamos e então eu me lembro do telefonema de hoje.
– Sua mãe ligou - eu falo diretamente e ela quase derruba o prato que levava pra pia, ela se vira e me olha surpresa.
– O que ela queria? - ela pergunta com a voz rouca.
– Saber de você! - eu falo o óbvio - Ela disse que tá ficando velha e... não quer morrer sem ao menos conversar com você - talvez eu tenha exagerado um pouco mas nesse assunto quanto mais direto melhor, talvez ela se comova, ela apenas me olha e depois segue até a pia e deixa o prato lá.
– Eu já falei tudo que tinha que falar - ela garante.
– Acho que ela não! Ela vai mandar uma carta - eu anuncio e ela se vira pra mim.
– Claro que vai! É o que ela sempre faz não é? Mandar uma carta, pedir desculpas - ela fala e mesmo com a ironia eu sinto sua tristeza - Foi o que ela fez depois de saber que eu ia ter que ficar aqui sozinha! Ela mandou uma carta - ela repete com desprezo, eu me levanto e vou até ela.
– Você não tá mais sozinha - eu garanto deixando nossos olhos se encontrarem e dizerem o resto.
– Eu sei - ela confirma e abre um pequeno sorriso quando sua mão encontra minha nuca e a puxa pra ela, nossas bocas se encontram e se encaixam perfeitamente, depois de limpar e guardar os pratos nós subimos e logo nos deitamos, meu corpo relaxa assim que eu sinto o calor do corpo dela em mim, sua cabeça sobre meu peito e nossas pernas entrelaçadas, o cansaço vence em poucos minutos e eu durmo direto. No outro dia segue normal, quando a tarde cai e a padaria fecha Katniss me encontra lá para nós irmos visitar Delly que já esta em casa com o mesmo sorriso estampado de ontem, Philip também parece tão feliz quanto ontem e o pequeno Júnior dorme um sono calmo e profundo, depois da visita nós vamos direto pra casa, não tocamos no assunto e eu agradeço mentalmente por que não sei se iria conseguir falar nisso, por que por mais que eu tenha decidido "abandonar" temporariamente a ideia, apenas darei tempo ao tempo.
Duas semanas depois de falar com a Sra Everdeen a carta que ela se referia chega, sou eu quem pego junto com as outras correspondências e entrego a Katniss, ela já ia juntar a pilha que ela nunca lê.
– Só leia - eu peço e ela me olha surpresa - Por favor... só leia - eu peço novamente e ela segura a carta pensando, então depois de alguns minutos ela abre o envelope, retira o papel que parecia ter sido escrito cuidadosamente e o abre, seus olhos desviam do papel e me encontram, eu passo meus dedos no cabelo dela, beijo sua testa e levanto da cama saindo do quarto, ela não me impede, eu acho que assim como eu ela entende que ela deve fazer isso sozinha, apenas ela e a "mãe", eu aproveito pra resolver alguns papéis no escritório e depois de vários minutos eu volto ao quarto, ela não está na cama, eu espero sentado e ela sai do banheiro com os olhos levemente vermelhos, ela passa a mão nos cabelos, eu me levanto e ela se aproxima de mim e me abraça, seus braços envolvem meu corpo em um aperto forte e desesperado, eu devolvo de forma protetora e não digo e nem pergunto nada apenas ficamos assim.
– Eu ainda não quero ver ela! - ela sussurra me olhando, as lágrimas estão presas em seus olhos e fica claro o quanto isso ainda a machuca.
– Tudo bem! - eu confirmo e volto a abraça-lá.
Os dois assuntos, filhos e a reconciliação dela com a mãe voltam para seus lugares, intocáveis e é lá que eles ficam conforme o tempo passa e ele passa cada dia mais rápido, um dia seguido do outro. Um mês seguido do outro. Um ano seguido do outro. E quando eu me deito toda noite junto com Katniss, quando eu sinto seu calor, seu corpo, quando eu a vejo ali junto de mim, tudo faz sentido, tudo vale a pena.
Eu estava tirando um bolo do forno quando a inconfundível voz surge.
– Tio Peeta - é a típica mistura de grito com a animação que ele sempre tem quando chega aqui, eu sorrio antes mesmo de vê-lo, tenho cuidado pra colocar o tabuleiro sobre a bancada e então me viro de frente pra ele que pula do colo do pai em minha direção.
– Júnior! - eu falo seu nome sorrindo e me abaixo pegando ela no colo, o pequeno bebê que eu vi assim que nasceu hoje entra correndo pela padaria e gritando meu nome, ele esta com cinco anos e cada dia se parece mais com Delly, os olhos azuis, cabelos loiros que fazem uma franja na sua testa e o sorriso que assim como o da manhã nunca abandonam seu rosto - Você cresceu de ontem pra hoje - eu brinco com ele olhando pra ele com uma cara surpresa, ele ri satisfeito.
– Eu posso comer bolo? - ele pede apontando o que eu acabei de tirar do forno.
– Esse não! - Philip o adverte e ele olha pro pai com uma cara triste.
– Por favor papai! - ele pede olhando pro Philip e essas palavras me atingem. Será que um dia eu terei alguém me fazendo o mesmo pedido? - eu penso mas logo empurro o pensamento pro canto.
– Que tal um doce? - eu pergunto e ele sorri mas antes de dizer sim Delly e Katniss entram na cozinha, Delly arrastando os pés enquanto sustenta novamente o peso de uma grande barriga, ela está com oito meses e espera ansiosa o segundo filho, isso mesmo mais um menino, Ian.
– Nem pensar... Ele tem que almoçar - ela fala reprovando.
– Ah não! - ele murmura e eu o coloco no chão, ele vai até Delly tentar negociar e eu dou alguns passos até Katniss, nossos lábios se encontram rapidamente.
– E aí como foi? - eu pergunto e ela faz uma rápida careta mas não parece tão entediada, elas foram comprar algumas coisas que faltam para o nascimento do bebê, Delly ficou por dias pedindo que Katniss a acompanhasse e ela não teve mais como fugir.
– Ela não parou um minuto - ela falou e Delly ouviu e riu.
– Bom, eu não tenho muito tempo né? - ela revidou passando a mão na enorme barriga - Ah nós encontramos Liesel ela também já está nas compras - ela lembra e Katniss me olha com um sorriso forçado, Liesel também está grávida embora de seis meses, recebemos a notícia no durante a festa de aniversário do Gale, eles anunciaram tão animados quanto poderiam estar.
– Você não vai almoçar? - Katniss pergunta querendo evitar o assunto, antes que eu pudesse responder o puxão na minha calça me chama atenção.
– Tio... me dá um doce! – ele pede me olhando com os olhos cheios de lagrimas.
– Eu não posso! – eu falo lamentando e pego ele no colo – Se não sua mãe briga comigo! – eu falo e ele começa a chorar – Mas... eu deixou você me ajudar! Pode ser? – eu pergunto e ele para o choro e me olha meio desconfiado – Vai ser legal – eu falo querendo animar ele.
Ele parece avaliar minha proposta.
– Tá bom! - ele fala conformado.
– Mas outro dia! A gente tem que ir - ela fala e ele volta a chorar, pede o colo do pai e Philip tenta convencê-lo a ir com a Delly mas é inútil.
– Eu levo ele daqui a pouco - a sugestão faz todos pararem, na verdade não a sugestão mas quente falou, até Delly parece surpresa quando percebe o que Katniss disse - Eu ia ficar mais um pouco mesmo... então... quer dizer... vocês que sabem - ela se enrola e Delly me olha sorrindo.
– Seria ótimo - Delly fala sorrindo e Katniss força um sorriso.
– Pronto, você vai ficar! - Philip e Delly falam com Júnior e ele para de chorar - Mas você vai ter que obedecer a tia Katniss - ela avisa enquanto ela enxuga as lágrimas.
– Tá! - ele fala pedindo pra ir pro chão.
– Obrigada Katniss! - Delly agradece e Katniss parece um pouco sem graça.
– Eu só não posso demorar muito! Eu ainda tenho uma reunião - ela avisa e Delly concorda dizendo que nem ele pode demorar muito mesmo, ela vai embora junto com Philip que irá acompanha-la já que tem que entregar uma encomenda e nós ficamos na padaria, enquanto os outros seguem fazendo suas tarefas eu coloco Júnior sentado na bancada enquanto ele me observa na montagem e confeito do bolo, deixo que ele misture um pouco da massa com corante, transformando o branco em azul e isso deixa ele encantado, rindo e mostrando o dedo sujo pra todo mundo, Katniss permanece a alguns passos olhando nós dois, nossos olhares se encontram e ela me dá um sorriso fraco e um pouco triste.
– Pronto! – eu falo quando o bolo está pronto e ele comemora.
– Pode comer? – ele pergunta com o dedo pronto pra furar o bolo.
– Não! – Philip o pega na hora e ele começa a rir – Já ta na hora de você ir... – ele fala enquanto faz cócegas nele que rir cada vez mais.
– Vamos? – Katniss pergunta esticando a mão pra ele, que aceita sem pensar muito, eles dão as mãos e ela se aproxima de mim e me beija rapidamente – Tchau – ela fala com um pequeno sorriso.
– Tchau – eu falo também sorrindo, ver ela nessa situação me dá uma certa esperança e sendo ela mesma que se ofereceu é ainda melhor.
Eles dois se vão e eu tenho que continuar meu trabalho afastando esse sentimento que começa a crescer em mim mas é inútil. As horas parecem passar lenta e torturantemente e quando eu fecho tudo e chego em casa, subo as escadas e Katniss está terminando de guardar algumas roupas, eu a beijo rapidamente e entro no banheiro, depois que eu tomo banho desço e encontro ela e Haymitch conversando na sala, mas pra minha surpresa as vozes altas não eram briga e sim uma conversa mais animada.
– Aí está ele! - Haymitch levanta os braços ainda jogado no sofá e com os pés na mesinha e Katniss não diz nada.
– Não tinha uma regra sobre não colocar os pés nos móveis? - eu pergunto curioso e indicando os pés dele, Katniss apenas da de ombro - Ok? O que tá acontecendo aqui? - eu pergunto com a mão no coração fingindo espanto, na verdade a um certo espanto verdadeiro.
– Você perdeu garoto! Hoje nós tivemos a nossa velha Katniss de volta - ele fala rindo e tirando os pés da mesa mas apenas para se.inclinar e contar a história.
– O único velho aqui é você! Um velho abusado e fofoqueiro - ela revida e ele a ignora.
– Katniss expulsou um dos nossos doadores - ele fala rindo e ela se afunda no sofá de braços cruzados.
– Como assim? - eu pergunto me sentando também.
– O Sr. Berlani, dono do açougue! - ele fala rindo - Ele veio questionar algumas coisas e Katniss o pôs pra fora!Sorte dele ela não ter um arco - ele fala e Katniss nega com a cabeça, eu ainda estou surpreso tentando entender.
– Ele queria questionar o dinheiro que o governo nos manda pra repassar pra eles! Ele disse que segundo suas "informações" - ela falou fazendo um aspas com os dedos - Num projeto desse tamanho e com tanto tempo o governo deve mandar mais dinheiro mas talvez alguém... estivesse desviando esse dinheiro! - ela fala irritada e se inclinando também - Aquele filho da mãe, desgraçado, praticamente disse que a gente rouba o dinheiro do projeto - ela fala se exaltando, eu fico ainda mais surpreso e Haymitch apenas ri.
– Então Katniss se levantou apontou o dedo na cara dele e disse que antes dele falar merda, e ela disse a palavra merda mesmo! - Haymitch ressalta rindo e Katniss prende um sorriso - Ele deveria parar de subir os preços do açougue de forma ilegal e parar de gastar o dinheiro com aquelas roupas ridículas que deixam ele com cara de ... Como foi que você disse mesmo? - ele pergunta se virando pra ela.
– Um velho patético e desesperado - ela fala tentando não rir, mas Haymitch cai na gargalhada.
– Então ela pegou a ficha dele e rasgou...disse que já que ele estava tão insatisfeito não precisava mais voltar - ele fala rindo.
– Eu... tô... impressionado - eu tento não rir mas é impossível.
– Ele quase implorou pra voltar - ele completa.
– E você vai deixar? - eu pergunto olhando pra Katniss que faz uma cara de pensativa.
– Talvez - ela fala e eu pulo do.meu lado do sofá para o lado dela, eu a puxo pra perto de mim e beijo logo abaixo da sua orelha - Essa é a minha esposa - eu falo apertando meu braço em volta dela que ri.
– Foi uma boa cena! - Haymitch fala colocando os pés na mesinha.
– Tira os pés daí! - ela chuta a perna dele e logo temos a velha rotina de volta, ainda ficamos um tempo sentado no sofá ouvindo a versão do Haymitch da reação do Velho Berline, depois jantamos e ele vai embora, nós subimos as escadas e Katniss se joga na cama enquanto eu vou escovar os dentes, saio de lá e vou pra cama enquanto ela assume meu lugar no banheiro.
– Como foi lá com o Júnior? - eu pergunto sem conseguir esperar mais pra tocar nesse assunto, ainda não sei o que fez ela se oferecer pra levá-lo.
– Tudo bem! - ela fala enquanto vem em direção a cama - Ele é um bom garoto - ela afirma e se senta puxando o lençol pra ela.
– É, ele é! - eu concordo me lembrando do jeito dele hoje na padaria.
– Eu só acho que ele merecia algo melhor que... Júnior! - ela fala fazendo uma careta, eu rio.
– Não é tão ruim - eu falo tentando parecer sério.
– Claro que é! Júnior? Fala sério! - ela fala refazendo a careta.
– Eu acho que deve ser legal ter um filho que carrega o seu nome - eu confesso e ela me olha mas não parece surpresa - Então... Você não saiu correndo? - eu pergunto sorrindo tentando manter o clima.
– Parece que não - ela fala me olhando.
– Talvez tenha sido um bom... treinamento - eu falo avaliando sua reação, ela morde o lábio do mesmo jeito que ela faz quando procura o que falar, eu sinto meu coração acelerar.
– Peeta... Eu... eu pensei nisso! - ela começa olhando para as próprias mãos, eu aguardo ansioso - E...eu ainda tô pensando! - ela conclui com a voz baixa e o olhar nervoso.
– Eu sei! - eu pego a mão dela e nossos olhares se encontram, eu sei que ela está tentando - Eu quero te propor uma coisa - eu tento e ela me olha curiosa - Durante todos esses anos você nunca quis ter filhos e se cuidava pra isso certo? - eu pergunto sabendo a resposta, ela toma remédio e acho que essa é a única coisa que ela nunca esquece de fazer, ela concorda - E se nós apenas parecemos de evitar? - eu sugiro e ela parece surpresa com isso - Só... Vamos deixar acontecer! Na hora que tiver que ser - eu falo e ela desvia o olhar para nossas mãos e ela parece pensar antes de me olhar novamente.
– E se nunca acontecer? - ela pergunta nervosa.
– Então não era pra ser! - eu falo mas sinto as palavras saírem queimando da minha boca.
– Vai acontecer! Eu sei que vai - eu penso mas me limito a passar meus dedos pelo seu cabelo.
– Vamos apenas deixar acontecer - eu repito com a voz mais confiante possível, ela não parece muito certa disso mas força um sorriso e meu sorriso também aparece assim como a minha boca se juntando a dela, minha mão na sua nuca puxando-a para mim, minha língua invade sua boca e ela corresponde enquanto aperta meus braços cada vez mais, meus lábios descem pelo seu pescoço e ela ergue e retira minha camisa, quando nossas peles se encostam o calor dos nossos corpos se misturam e não demora muito para que nós estejamos encaixados e completos, como um só.
A esperança daquele "acordo" amanheceu comigo a cada dia depois daquela noite, eu sei que disse que deixaríamos as coisas acontecerem naturalmente mas é impossível controlar essa ansiedade, como se a qualquer momento eu pudesse receber a notícia que esperei durante todos esses anos, a qualquer sinal de mudança na Katniss eu me mantenho alerta, seja a falta de fome ou a fome excessiva qualquer coisa me chama a atenção, ao passo que Katniss não parece estar tão preocupada quanto eu achei que ela fosse ficar, aliás no começo ela ficou mas não agora, talvez seja por que o tempo está passando e ou ela se acostumou com a ideia ou acha que não irá acontecer, já faz cinco meses desde a tal conversa e até agora nada, eu tento não ficar ansioso e nem pensar que pode haver algum problema comigo ou com ela, eu apenas devo deixar o tempo se encarregar e tudo que tiver que acontecer, acontecerá.
Delly teve o bebê, Ian, um garoto forte e muito calmo, ao contrario de Júnior ele puxou o pai, a cabeça coberta de fios negros e a pele não é tão branca quanto a da Delly ou do Júnior, ele é bem maior mas não tão gordinho, o importante é que ele é um belo e saudável garoto. O filho do Gale também nasceu mas é uma menina, Hazel, em homenagem a Hazelle, nós fomos visitá-los também, afinal mesmo com uma certa distância ainda temos contato e não podíamos ignorar algo assim, Liesel estava muito contente e Gale sorria orgulhoso enquanto segurava a filha nos braços, não demoramos muito por lá, por que ainda teria que ir pra padaria, Katniss segue pra casa e eu sigo para o trabalho. Benny vem me receber apressado e ansioso.
– Boas noticias – ele anuncia quando eu me aproximo, eu espero ele falar – Nós recebemos uma encomenda especial! – ele fala fazendo mistério.
– O que seria uma encomenda especial? – eu pergunto sem me animar muito.
– De outro Distrito – ele fala vindo atrás de mim, já que Rory também está no atendimento.
– Que Distrito? – eu pergunto realmente surpreso.
– Sete – ele fala e eu estranho, nunca recebemos encomendas de fora.
– Não tem padaria lá – eu falo entrando no escritório.
– Não sobre os comandos de Peeta Mellark – ele fala fazendo sinal com as mãos.
– Não sei... – eu penso em descartar a possibilidade.
– Fala sério! Eles tão pagando quase o triplo do normal! E é apenas um bolo.. Tá é um bolo de quatro andares mas ainda assim é uma boa oportunidade! – ele tenta me convencer.
– Pra quando? – eu repenso e ele sorri mas logo depois faz uma careta.
– Depois de amanhã! – ele fala diretamente.
– Quê? Sem chance! Muito em cima – eu discordo na hora.
– E o dinheiro? Eles comentaram alguma coisa sobre uma parceria, se tudo der certo claro...– ele repete e eu penso.
– Parceria? – eu pergunto confuso.
– É, eles estão bem interessados e já ouviram falar do sucesso da padaria, então... sei lá acho que seria uma boa! – ele fala me olhando com atenção.
– Eu achei que eu fosse o patrão – eu falo implicando com ele, que ri.
– Eu tenho alma de negociante, não posso negar – ele fala fazendo cara de desdém.
– Eles mandam alguém buscar? – eu pergunto considerando.
– Esse é o problema – ele começa e eu me sento esperando o que é – A gente tem que ir pra lá – ele fala eu solto uma risada negando com a cabeça – Mas eles vão ter pessoal pra ajudar em qualquer coisa, só precisamos mandar pelo menos uma pessoa, a gente pode manda a Marie, ela é boa nisso! – ele sugere.
– Eu não sei! Primeiro tenho que falar com ela! – eu aviso e ele concorda.
– Eu posso chamar ela – ele fala e eu percebo sua alegria nisso.
– Por que você tá tão animado? – eu pergunto curioso.
– Não me leva a mal patrão, mas o dinheiro é bom e eu to precisando de algum – ele fala dando de ombros, ele está certo, eu tenho empregados que dependem do salário daqui, quanto mais dinheiro entra melhor eles ficam.
– Chama ela! – eu aviso e ele pula pra fora do escritório, Marie logo entra e quando eu pergunto se haveria algum problema ela nega e parece até animada, não só pelo dinheiro mas por poder sair um pouco segundo ela, então eu espero o telefonema pra confirmar e no fim da tarde quando eles ligam eu confirmo, Marie terá uma cozinha completa, todo equipamento e espaço que precisar, além de mais dois ajudantes que estarão disponíveis, o dinheiro realmente é bom, como Benny disse eles irão pagar o triplo do que a gente pede normalmente e se tratando do dinheiro do governo, afinal esse bolo é para a inauguração de um Hangar, haverá uma espécie de cerimônia de abertura e discurso, enfim alguma dessas coisas onde o governo adora mostrar serviço, por isso eu não me importo em aceitar todo dinheiro. Nós fechamos a padaria e eu vou pra casa ansioso pra contar pra Katniss sobre esse grande negócio e a possibilidade de uma parceria fora do Distrito, o sol já está no fim quando eu chego em casa, não escuto nenhum barulho no andar debaixo e subo as escadas, Katniss está no quarto saindo do banho.
– Você não vai acreditar – eu falo misterioso e ela me olha curiosa – Ligaram do Distrito Sete, vai haver uma inauguração de um Hangar lá e ... eles fizeram a encomenda de um bolo estão até pensando em formar alguma espécie de pareceria conosco, ainda é apenas uma proposta mas quem sabe... Nós só temos que mandar alguém! A Marie vai e parece animada, tomara que dê certo mesmo! O dinheiro é ótimo e acho que dá pra dar um bom extra pra cada um– eu falo e ela sorri animada.
– Isso é bom – ela fala e vem até a mim, seus lábios encontram o meu e eu a beijo com paixão, meus braços envolvem ela que sorri.
– Vou tomar um banho – eu aviso quando me separo dela.
– Não demora que eu to com fome – ela pede e eu vou pro banheiro – Você pode vir comigo... sabe, pra me vigiar – eu falo com ironia e um sorriso malicioso, ela ri.
– Eu confio em você – ela fala e vai até a gaveta, eu entro no banheiro, tiro minha camisa e a deixo no canto, já estava tirando minha calça quando algo no chão me chamou atenção, perto da lixeira uma cartela prateada quase brilhava refletindo a luz, eu abaixei e peguei a cartela, virei pra ver o que era e minhas mãos paralisaram, assim como minha respiração.
– Não pode ser – eu peço desesperadamente em pensamento, meus olhos relendo o nome na esperança de ter lido errado mas o nome ‘’anticoncepcional’’ saltava para os meus olhos, eu virei a cartela novamente e estava na metade, peças se encaixam. Já se passaram cinco meses que Katniss prometeu não evitar e nada aconteceu poderia ser normal, mas ela não parecia preocupada ou ansiosa como eu achei que ela estaria e ela não estava por que sabia que seria impossível acontecer, por que ela nunca parou de tomar os remédios, eu forço meu corpo a me responder, até que a porta do banheiro logo atrás de mim se abre.
– Esqueceu a toalha – ela fala e sinto quando ela coloca a toalha sobre meu ombro, eu levanto o rosto e encaro o espelho, nossos olhares se encontram pelo espelho – O que aconteceu? – ela pergunta preocupada colocando a mão no meu ombro, só agora percebi as lagrimas escorrendo do meu rosto, eu me viro lentamente olhando para a cartela nas minhas mãos e quando meus olhos a encontram a cor parece fugir do seu rosto, ela recua um passo e arregala os olhos nervosa.
– Há quanto tempo? – eu pergunto lentamente e ela me olha assustada.
– Peeta... eu posso explicar.. eu... – ela gagueja.
– Há quanto tempo você tá me fazendo de idiota? – eu repito mais forte encarando ela que recua, eu saio do banheiro esbarrando nela, paro no meio do quarto, minha cabeça girando, eu passo as mãos no cabelo e tento manter alguma calma ela me olha sem saber o que falar e esse silêncio só me irrita ainda mais.
– Então esse era o seu plano? Me fazer de palhaço? - eu insisto.
– Não é isso! - ela fala baixo.
– Não é isso? - eu repito jogando a cartela na direção dela - Então você tem coragem de olhar na minha cara e dizer que não mentiu pra mim? - eu pergunto dando um passo na direção dela.
– Não! Quer dizer... eu... não menti o tempo todo - ela fala tentando se explicar, eu solto uma risada nervosa.
– Então me explica como você me fez de idiota esses meses, sonhando com uma coisa impossível, ansioso por algo que não tinha como acontecer e você sabia disso o tempo todo.. Como isso não é mentir? - eu pergunto encarando ela seriamente.
– Eu sinto muito... - ela fala lamentando.
– Não sente não... - eu nego - Você não se importou quando me deixou criar esperanças! Não se importou quando me prometeu parar de tomar essa porcaria - eu falo apontando a cartela no chão - Você...Não...Se...importou - eu afirmo pausando a cada palavra, posso ver as lágrimas brilhando nos olhos dela mas agora isso não me importa - Por que você me enganou? - eu peço com uma voz baixa mas ainda sinto a traição dela pulsando na minha cabeça.
– Eu... eu realmente parei... - ela começa e eu a olho sem acreditar - Por algumas semanas ... Mas eu não consegui! - ela confessa - Eu não conseguia Peeta, não conseguia dormir com essa possibilidade, não conseguia deixar você me tocar pensando no que isso podia gerar... Eu não consegui - ela repete angustiada e por mais que esteja tentando segurar, suas lágrimas descem.
– Então você preferiu me esconder isso! - eu afirmo quase como um sussurro - E até quando você ia fazer isso? - eu pergunto e ela desvia o olhar - Até quando? - eu repito com a voz mais firme.
– Eu não sei tá! Eu...não...sei - ela sai do seu lugar e anda pelo quarto inquieta - Eu não sabia o que fazer, o que falar! Eu sabia que você ia agir desse jeito ... eu só... não soube o que fazer - ela admite com as mãos na cabeça.
– Quinze anos Katniss! Quinze anos e eu nunca te exigi nada! Eu.nunca...te pedi nada! A única coisa que eu peço pra você, você faz isso! - eu falo enquanto apoio minhas mãos na cômoda.
– Mas eu disse que não tava pronta - ela quase grita.
– E eu podia aceitar isso! - eu afirmo também alto demais e me viro pra ela - Eu não aceitei todas as outras vezes? Eu aceitaria de novo!Era só você ter falado, mas você mentiu pra mim, você me deixou acreditar que estava comigo nessa quando na verdade você tava do outro lado! - eu falo e sinto uma dor na cabeça que me obriga a pressionar minhas mãos nela.
– Eu sinto muito - ela lamenta.
– Para de falar que sente muito - eu peço dando as costas pra ela, eu vou até a parede encosto minha testa na parede fria fico em silêncio, eu sinto o sangue pulsando na minha veia e tento manter a calma, o silêncio cresce no quarto, até nossas reparações parecem controladas - Eu nunca te obriguei Katniss! Nunca! - minha voz sai tão baixa que não tenho certeza se ela ouviu - Eu sempre tentei fazer o melhor! Eu... não consigo entender por que você precisou fazer isso! - eu falo sinceramente e me viro pra ela que está parada no meio do quarto me olhando.
– É claro que você não entende – ela fala baixo demais talvez apenas como um pensamento alto - Eu não queria te decepcionar! – ela confessa e me olha com lagrimas escorrendo - Você é sempre bom e paciente, abre mão de tudo! Você nunca vai entender alguém como eu - ela fala meio irritada e decepcionada - Eu nunca vou conseguir ser assim Peeta! Você é... Perfeito! - ela conclui e cada vez que eu escuto essas palavras eu sinto algo horrível.
– Eu... não sou... perfeito - eu afirmo com raiva.
– Você é! Eu vejo isso todo dia! - ela afirma me olhando nos olhos - Eu achei que também pudesse ser assim... Mas eu não posso! - ela garante.
– Você nem ao menos tentou - eu falo sem me abalar com suas lágrimas - Você sempre faz isso! Sempre consegue o que você quer! É sempre assim! - eu afirmo e sinto minhas veias pulsarem mais forte, alguns flashes passam pela minha cabeça - Eu não sei por que pensei que seria diferente dessa vez - eu falo como um pensamento alto - A culpa não é sua! – eu confesso tentando me acalmar - É minha! Eu pensei que estávamos juntos nessa! Eu achei que você pudesse fazer isso, que finalmente tivesse decidido! Eu acreditei que talvez tudo que nós passamos te fizesse querer algo mais forte! A culpa é minha de ter projetado o meu sonho de ter uma família... Eu deveria saber que não ia dar certo! Que nunca daria certo - eu desabafo.
– Eu tentei- ela fala baixo demais e eu solto uma risada.
– Não Katniss, você não tentou! Você só...Fingiu! - eu falo e o tom magoado mão consegue me abandonar - Se você tivesse me contado a verdade eu teria entendido - eu declaro.
– É você quem tá mentindo agora - ela afirma me olhando - Você nunca ia desistir Peeta! Nunca! Você ia insistir de novo e de novo - ela fala nervosa.
– É, eu ia! Eu te disse isso! Eu não podia simplesmente abrir mão do meu sonho! - eu confesso - Mas você era mais importante! Se você dissesse não eu ia ter que aceitar! - eu completo sinceramente e ela me olha surpresa.
– Era? - ela pergunta com a voz rouca, eu não respondo nada apenas a encaro ali na minha frente, ela se aproxima mas quando sua mão toca meu rosto eu a impeço segurando seu pulso, minha mão o aperta com força e eu sinto seu olhar apavorado.
Ela está com medo. Com medo de mim.
– O que eu tô fazendo? - eu pergunto pra mim mesmo, então solto seu braço, ela recua um passo e não desvia o olhar do meu, sua mão esfrega o local onde eu apertei e eu me afasto dela.
– Eu cansei - eu admito abrindo os braços - Eu não quero e não consigo mais fazer isso! - eu confesso me sentindo derrotado e sinto as lágrimas quentes escorrendo dos meus olhos novamente - Eu tô cansado de lutar sozinho, de sonhar sozinho, de querer sozinho! Você não tem mais que se preocupar com isso! Não tem mais que mentir pra mim! Acabou!- eu afirmo e depois de lançar um olhar nela eu me viro e vou na direção da porta.
– Você vai embora? - ela pergunta com a voz embargada, eu paro no caminho - Você tá me deixando? É isso? - ela pergunta novamente e eu me viro pra ela, as lágrimas correm rapidamente pelo seu rosto enquanto ela tenta evitar, posso ver a força que ela faz pra evitar, ela enxuga o rosto com força esfregando as costas das mãos - Você tá indo embora de casa? - ela repete com os olhos no meu e quando a lágrima insiste em cair ela desvia o olhar. Por mais que eu esteja me sentindo traído, enganado e extremamente machucado com ela, eu odeio vê-la nesse estado, o instinto de protegê-la parece gravado em cada célula do meu corpo, eu não suporto ver ela assim, ela está com medo que eu a deixe, que eu vá embora, mas por pior que tudo tenha sido eu não posso ir, nunca conseguiria abandona-la principalmente sabendo o quanto já fizeram isso com ela, mesmo magoado eu não serei mais um, as vezes é como se eu não tivesse escolha a não ser ama-la, esse sentimento é maior do que qualquer outro, mas agora eu preciso ficar sozinho.
– Eu preciso sair... tomar um ar - eu respondo quando vejo sei choro aumentar, ela se surpreende.
– Você volta? - ela pergunta surpresa.
Minha resposta normal seria dizer que "sim, é claro que eu voltaria, por que meu lugar era ali" mas dessa vez eu apenas me limitei a confirmar com a cabeça e dizer um baixo e quase inaudível "Sim". Eu saí do quarto e desci as escadas, parei na porta e me olhei sem camisa, puxei o casaco perdurado ao lado e o coloquei fechando o zíper, peguei as chaves e sai apressado, os únicos sons eram o vento passando entre as árvores e as casas e meus pés se arrastam pelo caminho, a rua estava vazia e eu parei olhando ao redor, as casas agora coloridas que passam a sensação de vida e não de medo e morte como antes, eu continuo andando e paro em frente a padaria, eu fico alguns minutos ali parado do lado de fora e só quando um vento frio aparece que eu entro, meus dedos passam pelos móveis no caminho, as cadeiras almofadadas, as mesas envernizadas, o balcão gelado, as paredes frias, eu paro na entrada da cozinha e observo o local, avanço para dentro da cozinha e me encosto na bancada.
Eu passei quinze anos acreditando que um dia eu teria um filho, passei os últimos cinco meses com essa certeza, mas era tudo mentira. Não era real! Só que eu queria tanto que fosse que eu me ceguei, era óbvio que Katniss não estava pronta.
– Nem nunca vai estar - eu falo em voz alta pra me convencer que essa é a verdade e dessa vez é pra valer, eu não vou conseguir passar por tudo isso de novo.


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Notas finais do capítulo

Oi, gentee...
Alguns pontos a esclarecer aqui...
1° Capítulo Grande e com passagem de tempo por que eu mesma já estou ansiosa pra essa nova fase... Onde ainda tem muitos pontos a acontecer.
2° Agora eu estou mega enrolada com os estudos, mas não consigo nem pensar em abandonar a fic, por isso tive que refazer meus horarios, postagens agora serão terças/quintas e domingos mas vou tentar fazer capitulos grandes pra compensar
3° Ainda pela coisa do tempo corrido vou ter que mudar a formatação do texto! Nada de negrito nas frases! Por que dá muito trabalho e exige tempo coisa que eu to ficando sem...
4° Já me perguntaram várias vezes de quantos capítulos é a fic, a resposta é : Não faço ideia! rsrs Mas é que eu apenas vou escrevendo, vai rolando, eu viajo nos meus pensamentos, releio o livro e as coisas vão indo, então eu realmente não sei, acho que vou levando, até não ter mais o que escrever ou ficar chato, daí vocês me falam e eu acabo com a fic, ok? Combinados?
Bom, é isso.... Muito obrigda por quem comenta e acompanha, isso faz valer a pena, você são demais!
PS: to com internet ÊÊÊÊÊ