As Cronicas de Um Mundo sem Nome escrita por Armamudi


Capítulo 2
Capítulo 2




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A tarde ia caindo sobre a antiga cidade de Nam, e as tochas começavam a aparecer por todas as ruas, iluminando pardamente as casas e mercados, onde uma multidão se apertava para comprar os produtos que haviam chegado no mesmo dia. Eram alimentos, roupas, peles e animais que vinham de vária partes de Rumina, abastecendo a maior cidade do reino.

 

Mirla, após conversar com o leiloeiro sobre a morte de seu marido e de Amondar, se dirigiu para a taberna de Badras, que tinha quartos aconchegantes no andar de cima,  e um serviço de criadagem amplo, porém pouco eficiente. Mas isso não importava para ela no momento. O que ela queria era completar o negócio e voltar para seu castelo em Acalania, onde colocaria a armadura a salvo em uma sala especial, selada por feitiços poderosos, longe das ameaças que viriam.

 - Não posso perder muito tempo nessa cidade, disse pra si mesma, enquanto penteava os cabelos em frente ao espelho meio limpo. - Tenho que partir no mais tardar amanhã para Acalania.

 

Um barulho batendo na porta ecoou pelo quarto, e uma voz de mulher veio em seguida: - Senhora Mirla?

- Sim, quem é?

- Aqui é Bia, sua criada e tenho uma mensagem para a senhora.

- Ah claro! Entre por favor.

 

A criada entrou rapidamente e trajava um vestido de algodão pardo e seus cabelos estavam amarrados, cobertos por uma touca encardida. A moça aparentava ser mais velha poucos anos em comparação a Mirla. Uma bela mulher, pensou, se estivesse devidamente aprumada.

 - Senhora, tenho uma carta endereçada diretamente à sua pessoa. Um homem de manto marrom mandou lhe entregar agora a pouco. Disse que é de grande importância para senhora.

 Ela olhou para as mãos surradas da pobre empregada e pegando o envelope estendido no ar ela agradeceu pela entrega. Mas a moça ficou parada frente a ela, esperando algo.

 - Pois não? E Mirla a encarou com um sorriso ingênuo, esperando resposta.

 - Bom senhora, os hóspedes têm o costume de nos dar moedas em troca de pequenos favores como esse que eu fiz para a senhora, e a moça abaixou a cabeça envergonhada com o que dissera.

 - Ah sim, mas que indelicadeza a minha! E imediatamente ela foi até a caixa de jóias que trazia, retirando duas moedas de prata. Aqui está minha cara criada, pegue.

 - Muito obrigada senhora, muito obrigada mesmo! E seus olhos ficaram marejados de lágrimas. - Qualquer coisa estou à suas ordens, é só me chamar! E ela reverenciava a jovem dama furiosamente, quase batendo a cabeça nos próprios joelhos.

 - Fico agradecida, disse, levando a criada em direção a porta. Agora eu quero repousar um pouco, porque estou muito cansada. Se me dá licença.

 

A moça foi indo em direção a porta, e quando Mirla já ia fechando a mesma, ela girou novamente para trás, assustando a dama.

 - Já ia me esquecendo! E ela bateu a mão direita na testa. - O senhor Badras, o dono desta hospedaria e da taberna abaixo, lhe convida a comparecer hoje à noite, para uma apresentação do famoso bardo de nosso reino, o jovem Esclatos. Os olhos da criada brilharam quando ela disse o nome do bardo, vislumbrando em pensamento o homem rodeado de ninfas sussurrando segredos em seus ouvidos. Mirla ficou olhando para a criada que estava estática, como em transe, até que voltou bruscamente do mesmo.

- Oh, me perdoe senhora! E ela novamente começou o ataque de reverencia frenético. – As vezes me perco em pensamentos bobos.

- Não se preocupe minha cara. Mas se me dá licença tenho que descansar agora.

- Com certeza senhora. Novamente perdão por ser inoportuna. E a criada saiu pelo corredor empoeirado da hospedaria em direção à uma sala no fim do mesmo.

 

Mirla voltou para o quarto, sentando na cama recém arrumada, com lençóis tão encardidos que pareciam panos de chão da sua mansão em Acalania, e pegando o envelope em cima da cômoda, abriu e se espantou com a letra medonha do escritor. – Céus, será que foi mesmo um humano que escreveu isso? Disse ela, retirando os óculos de uma bolsa de mão, e começou a ler a carta.

 

Na porta da cidade, no lado sul dela pra ser mais exato, uma comitiva com grandes carruagens adentrava os portões, trazidas por cavalos negros poderosos e condutores mal-encarados que olhavam somente para a estrada. Nunca as pessoas haviam visto tantas carruagens negras em Nam, ainda mais imensas daquele jeito. Devem ser de algum nobre excêntrico, diziam uns, ou os malditos guerreiros das Terras Negras ressuscitaram para espalhar o horror novamente. As carruagens não traziam brasões em suas portas, sinal de que não pertenciam a nenhum senhor ou lorde de Rúmina. Estranho, muito estranho.

 

Zingo estava radiante pelo negócio feito com a dama de Acalania, e já pensava em lugares para comprar suas terras em Rúmina. – Com esse dinheiro, poderei comprar uma boa fazenda lá pelas terras do norte do reino, onde não há muito senhores e lordes antipáticos, ria enquanto empilhava o resto dos artefatos que foram expostos no leilão. O barulho das peças omitiram a entrada de algo no salão que Zingo não pode escutar, preso em seus devaneios muquiranas e itens raros.

 - E com o resto do dinheiro, eu poderei ir até o mercado negro de Foles e comprar mais peças amaldiçoadas por preços bem baixos e revende-las por um bom dinheiro, ria ele limpando uma taça de cristal com um brasão de pássaro dourado.

 De repente um barulho alto foi ouvido por ele vindo da entrada do grande salão branco, que agora estava com uma luz fraca dos candelabros suspensos no teto, e que via-se pardamente alguma coisa ao longe.

 - Quem está aí? Mas sua pergunta não teve resposta, o que ele já esperava. Deve ser o pobre Ebom, pensou, como sempre ele anda atrasado pra me ajudar a guardar os artefatos.

- É você Ebom? E entre as cadeiras, vindo pelo corredor central, um vulto alto e imenso caminhava a passos largos, mas lentamente. Espero que esteja disposto a carregar todo o material para a carruagem.

- Sim senhor, sou eu meu mestre, e uma voz gutural ecoou pelo salão reverberando até as paredes. Me perdoe pela demora.

 Um homenzarrão apareceu ao sopé do palco, com um rosto moreno, enrubescido e de semblante duvidoso. Ele tinha braços enormes, barriga saliente e de expressão calma.

- Céus, Ebom por onde você andou o dia todo? Eu estava aqui trabalhando feito um louco e você fica bebendo nas tabernas do reino! Acaso vai trabalhar nas tabernas experimentando qual delas tem o melhor rum é? E ele olhou com uma expressão de reprovação para o servo.

- Peço desculpas senhor Zingo, e de sua boca vinha um hálito, que nem mesmo os dragões antigos deviam ter. É que eu perdi a noção do tempo, conversando com alguns homens na taberna do velho Badras. E ele começou a soluçar repentinamente, o que deixou Zingo ainda mais irritado.

- Tá bem Ebom, agora me ajude a levar essas caixas pra carruagem, porque tenho que preparar a armadura para a compradora dela. E Zingo foi em direção da armadura que estava montada ao lado.

- Sim senhor. E colocando quatro grandes caixas umas sobre as outras, ele levou praticamente todo o material para a carruagem. E caminhando lentamente como sempre, ele se dirigiu para a saída do salão, e tentando lembrar de algo que sua mente teimava em não lhe revelar ele lembrou: - Senhor Zingo, quando eu estava vindo pra cá, vi uma fila de grandes carruagens negras passando pela rua principal, indo em direção do castelo de Nam. O senhor sabe do que se trata?

 Zingo parou imediatamente de desmontar a armadura e começou a tremer violentamente, sem que Ebom percebesse o que estava acontecendo.

 - Carruagens negras você disse? E sua voz saiu entrecortada, quase um gaguejo.

 - Sim senhor. Achei estranho porque eu olhei nas portas de quase todas e não vi nenhum brasão que identificasse de quem são.

 - Ora Ebom, e eu vou lá saber de quem são essas carruagens! E ele respondeu rápido, e voltou a desmontar a armadura, mais apressado agora.

- Bom, se o senhor não sabe de quem se trata, eu nem vou me preocupar em saber de quem são. O coitado do Ebom, carregando as caixas estava mais preocupado com o que iria acontecer a noite na taverna de Bradas, do que com carruagens negras.

O velho leiloeiro estava preocupado. Aonde tinha visto mesmo tantas carruagens negras das que Ebom havia dito? Sua mente trabalha rápida tentando retirar da memória algo parecido  com o que foi descrito. Logo, veio a lembrança dessas mesmas carruagens em um dia de chuva forte e nuvens negras, que cobriam a cidade de Foles.

- Não pode ser, e ele levou a mão a testa que estava coberta de suor. Essas carruagens só podem pertencer a uma única pessoa! Agora sem duvida tenho que ir embora o mais rápido possível dessa cidade. E num sobressalto, Zingo juntou as partes da armadura como um raio, e colocou-as na caixa de madeira forrada com um pano grosso e verde, indo a passos largos para fora do salão.


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