As Cronicas de Um Mundo sem Nome escrita por Armamudi


Capítulo 1
Capítulo 1




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- Vinte mil peças de ouro pela armadura do lendário guerreiro de Amondar! Somente vinte mil peças senhoras e senhores e vocês levarão para casa esse esplendido tesouro.


Os gritos das pessoas ofertando sobre a armadura prateada cravejada de jóias era ensurdecedor no grande salão em Amiraz, terra de grandes guerreiros e conflitos.


– Eu dou trinta mil peças pela armadura! Gritava um homem atarracado, barbudo e olhos tortos; - eu dou quarenta mil peças! Respondeu outro que levantava um cetro com um enorme rubi na ponta. Vestia-se bem, de certo era um lorde das terras do sul; - eu dou cem mil peças de ouro pela armadura! E todos se viraram ao ver uma jovem dama sentada á frente erguendo um lenço branco para o alto. A multidão de homens se calou ao ouvir a oferta da jovem que aparentava ter grandes posses...mas o que essa menina fazia em um leilão onde o que se via era uma balburdia de homens e o cheiro forte de bebidas e suor?


- Eu ouvi cem mil peças de ouro da jovem donzela. Alguém dá mais pela armadura? O leiloeiro ficou esperando mais algum comprador se pronunciar até que disse...dou-lhe uma, dou-lhe duas...e ele demorou mais um pouco afim de que alguém mais cobrisse a oferta da moça.


 – Eu dou duzentas mil peças de ouro pela armadura! E novamente o garboso homem com o cetro de rubi dera um novo lance. O que se ouviu no salão foram brados de espanto, euforia, nervosismo. - Nunca em toda minha vida de mercenário eu poderia comprar por algo tão caro! Duzentas mil peças por uma lataria daquela! Faça bom proveito, prefiro gastar meu surrado dinheiro com bebida.


- Duzentas mil peças para o senhor de cetro com rubi na ponta. O leiloeiro estava radiante por dentro, pois ele teria dez por cento do valor do que venderia pela armadura, o que daria uma pequena fortuna naquele momento. Precisava atiçar mais a vontade dos compradores. Vejam bem senhores, essa armadura foi usada na batalha de Ravena, onde seu dono o famoso Amondar, foi crucial para a vitória do exército de Rúmina. Vejam bem, e ele foi em direção à armadura, o brilho que ela irradia, não há marcas de riscos de espadas ou amassados de golpes. Dizem que foi forjada pelo maldito ferreiro das Terras Negras, o misterioso Nergal ao qual, que os deuses me livrem, dizem ter feito um pacto com forças das trevas sem ter o direito de morrer.


 


Os homens no salão se benziam ao que o leiloeiro tinha dito sobre Nergal, o maldito ferreiro que forjava belas armas e armaduras. Um dos homens que estava sentado no chão, próximo à entrada, e levemente alterado pela bebida que tomava de um pequeno barril, disse: - Então essa armadura só pode ser amaldiçoada! A multidão ficou agitada ao constatar a idéia do homem, que lutava consigo mesmo para permanecer acordado. Forjada por quem foi, e me corrijam se eu estiver errado,um artefato forjado nas Terras Negras só poder muito amaldiçoado! – A armadura só pode ser amaldiçoada mesmo, dizia uns para os outros, então o valor a se pagar por ela deve ser menor! Gritou um dos compradores. É isso mesmo, o preço por artefatos amaldiçoados deve ser vendido pela metade do preço! Disse um homem alto e moreno que segurava na bainha de sua espada. E isso está explicito no código de venda dos leilões do reino! E novamente o coro se levantou com os homens pedindo o preço de dez mil peças pela armadura, preço mais do que justo pela armadura maldita.


- Senhores, por favor acalmem-se! Gritou o leiloeiro pedindo ordem. Ele balançava os braços pedindo a atenção de todos no salão. - Senhores, e olhando em volta acrescentou: e senhora. É verdade que a lei do leilão nesse reino prevê que artefatos amaldiçoados devem ser vendidos pela metade do preço. Contudo, as ofertas que estão sendo oferecidas não podem ser cobradas pela maioria de vocês, a não ser que os compradores tenham a intenção de voltar atrás com suas ofertas. O semblante do leiloeiro era de infelicidade nesse momento e ele sabia que, se eles voltassem atrás, as peças de ouro que estavam saltando em sua mente, ficariam somente nela. – pobre de mim que só queria um pouco de conforto e algumas terras, pensou. O lorde bem vestido se adiantou e disse: - Não pretendo voltar atrás com minha oferta, e olhando para trás, ele viu quase todos os homens do salão com olhares raivosos.


 - Eu também não pretendo voltar atrás com a minha oferta nobre leiloeiro, disse a bela dama que retocava o rosto com um pó branco que nenhum dos homens daquele salão, com exceção do lorde saberia do que se tratava. E aproveito para oferecer duzentas e cinqüenta mil peças pela armadura!


 Os homens gritavam no salão ao escutar a oferta que a dama havia feito novamente. Uma mulher tão jovem, disposta a comprar uma armadura daquele preço, e ainda amaldiçoada, certamente tinha segundas intenções para possuí-la. O leiloeiro mudou o semblante de descrença para uma alegria deslavada. Agora ele poderia sonhar novamente com suas terras e uma casa confortável. E ainda, daria para comprar mais algumas peças no mercado negro lá em Foles, pensou malicioso.


 - Alguém disposto a cobrir a oferta? Ele olhou ao redor do salão, e não vendo ninguém se pronunciar, abriu novamente a contagem para o fechamento do negocio. – Dou-lhe uma, dou-lhe duas! E novamente ele segurou a ultima contagem esperando alguém dar uma oferta desesperada. Dou-lhe três! Vendido para a jovem dama aqui à frente.


 O que se seguiu foram os homens comemorando a venda para a dama, como se fossem eles que tivessem comprado a armadura. De certo ficaram encantados com a beleza da mulher, que devia pertencer à uma família de grande renome. Os homens começaram a se retirar do salão, indo em direção a rua e conseqüentemente para a taverna do velho Badras, a mais antiga taverna da cidade de Nam.


 O leiloeiro foi na direção da dama afim de tratar da entrega e do recebimento do negócio. – Bom senhora...eu posso chamá-la assim? Ele fez uma reverencia, aguardando a resposta da mulher. Ela, de uma elegância ímpar, retribuiu o gesto e disse: - Mas é claro que o senhor pode me chamar de senhora! Me chamo Mirla Paetrias, um prazer conhecê-lo senhor...


- Ah quanta rudeza de minha parte, queira me desculpa senhora Paetrias. Eu sou o leiloeiro Zingo Ferios, às suas ordens. E novamente ele arqueou o seu corpo magro e rígido para frente. Perdoe-me a indelicadeza senhora, mas nunca ouvi falar do nome de sua família por essa bandas. E Zingo, tentou arrumar os óculos velhos no rosto, que não tendo sucesso, deixou como estava: sujo, torto e sem uma perna.


 Ela olhou para ele com uma expressão solta, como senão tivesse ninguém à sua frente. Sua beleza era incrível para uma mulher, dando a impressão de ainda ser uma jovem dama. – Ah nobre Zingo, e ela o encarou nos olhos tirando o fôlego do velho, minha família está fixada nas terras do Sul, pra ser mais exato no reino de Acalania, onde as praias e as montanhas são brilhantes, e o povo é muito hospitaleiro. Ela pigarreou, e continuou: - Minha família tem negócios com minas de jóias, plantações e criação de gado e ovelhas.


 - Hum, interessante. Interessante senhora, disse por fim o leiloeiro. Sua família deve ser proeminente, pelo o que está me relatando.


 - Ah sim é sim, senhor Zingo, disse dando uma risadinha. Mas a família de meu marido é mais influente pois ele é conde em Acalania.


 - Ele é conde? E arregalou os olhos ao descobrir que aquela jovem dama, era na verdade condessa de um reino.


 - Sim senhor! Disse ela. Bom, ele era, até que ele foi morto há dois anos, na batalha de Rumina. E seu semblante mudou de uma alegria recatada, para uma tristeza vaga.


 - Eu lamento profundamente senhora, e ele fechou os olhos, curvando novamente o corpo esquelético.


- Obrigada, e passando o lenço nos olhos, ela disse: - Além de ser um nobre, ele também era o líder da academia do exercito de Acalania. Suas habilidades como cavaleiro eram inegáveis, e o próprio rei de Acalania, Rasmur, o condecorou como Cavaleiro do Reino, dando-lhe uma armadura, e uma espada encantada nos salões místicos dos magos de Canaz. O seu nome era Ermom Paetrias.


 - Entendi. De certo ele foi um grande homem para o seu reino não é verdade Condessa? E ele fez um gesto com as mãos tentando pegar algo no ar. Mas espere! E ele tomou outro sobressalto. Se o que a senhora me disse é verdade, e isso eu não nego, seu marido deve ter lutado ao lado de Amondar, na batalha contra o Reino Negro de Ebanus! E isso fez dele uma lenda também em seu reino, creio eu.


 Mirla viu os olhos do velho encarquilhado em sua frente brilharem ao que ele mesmo havia suposto. Sua inteligência dizia que eles brilhavam por outro motivo que e breve ela iria descobrir.


 - Sim ele se tornou uma lenda em nosso reino, e antes mesmo dele morrer, dizem, o Deus das Batalhas o agraciou com uma grande luta. Ela percebeu que Zingo escutava atentamente o relato, ora tentado ajeitar o óculos ridículo no rosto, ora coçando a cabeça com poucos cabelos.


 - Sim, sim prossiga Condessa, o seu relato é muito interessante, pois acresce os registros de uma batalha que foi crucial para a libertação de vários reinos.


 - Sim senhor Zingo isso é verdade. Mas o que o senhor ouvirá de mim poderá desagradá-lo um pouco. Pois o que foi relatado para todos, é que Amondar fora encontrado morto próximo as Cavernas Profundas, bem distante onde acontecera a batalha. Bom, o que todos souberam é que Amondar fora emboscado e morto por uma horda de ferozes feiticeiros, resguardados por cavaleiros negros, e que ele lutou bravamente por sua vida. Mas ele tombou por poderosos feitiços desferidos e pelos golpes dos cavaleiros. Mas essa não é a verdade. Zingo tentava absorver a história da melhor forma possível, mesmo o seu ouvido esquerdo teimando em falhar ao escutar o relato.


 Ermom teve a gratidão de ser morto pelo maior guerreiro de Rúmina senhor Zingo. Ele morreu pelas mãos de Amondar, o cavaleiro supremo de Rúmina.


Zingo ficou estupefato em saber sobre Amondar. Porquê eles esconderam a verdade sobre a morte de Amondar? E agora surgia esse novo trecho na história da guerra negra, colocando um embate entre os maiores guerreiros da época. Seria verdade o que a Condessa estava falando?


 


 


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