Clove

O despertador do meu celular toca alto as seis da manha. Resmungo ao alcança-lo para desligar o irritante som. Não demora muito para eu escutar os passos agitados no quarto de minha mãe.

Levanto-me e me arrumo para a escola. Tento arrumar meu cabelo, mas assim como nos outros dias, ele continua bagunçado e com pontas para todas as partes, decido prende-lo de uma vez. Um rabo de cavalo careta, pronto. Pego minha mochila jogada no chão ao pé de minha cama e desço.

Minha mãe estava na cozinha, com alguns bobs na cabeça, uma camisola e suas pantufas felpudas. Ela coloca ovos e bacon e um dos pratos e sorri pra mim enquanto coloca-o na minha frente.

-Bom dia, querida. Dormiu bem?

-Claro. –dou de ombros.

Escuto os passos de John e logo ele entra na cozinha, dando um nó em sua gravata.

-Bom dia, garotas. –ele da um selinho em minha mãe e apenas sorri para mim, como sempre, hesitante.

Engulo o resto de meu café da manha e subo novamente para escovar meus dentes. Depois desço pego minha mochila e grito um adeus para minha mãe, pego seu carro e dirijo até a escola.

Estaciono o carro no estacionamento do colégio e ando preguiçosamente para meu armário. Ele estava uma nojeira. Papeis velhos, livros ameaçados, papeis de bala, lições de casa não feitas e tampas de canetas mordidas. Poderia fazer igual as garotas arrumadinha e colar um post-it em minha agenda cor-de-rosa avisando para eu arruma-lo mais tarde. Mas eu não tinha uma agenda cor-de-rosa, muito menos post-it coloridos.

Sigo para a sala de minha primeira aula xingando o mundo. Hoje eu realmente não queria ter acordado, e ver Glimmer se esfregando em um garoto qualquer na frente da porta da sala só me deixa mais irritada.

-Oi, Clove. –ela sorri para mim com toda a falsidade que o mundo tinha a oferecer.

Mostro o dedo do meio para ela sorrindo com a mesma simpatia e entro na sala e me sento na ultima carteira jogando meu livro em cima dela. Os alunos começavam entrar e se sentar, a maioria estavam como eu, ainda semi acordados, como zumbis ou algo do tipo, havia alguns apenas que estavam animados e conversando com seus amigos como se o mundo fosse o lugar fosse o lugar mais legal que existe. Pior, como se a escola fosse o lugar mais legal que existe.

Nossa professora de geografia, eu a chamava de Dona Poof , entra na sala. Deixa sua bolsa na mesa, pego um giz branco e segue em direção ao quadro negro.

-Bom dia, alunos. Abram na pagina duzentos e nove, e leiam o parágrafo que fala sobre a gestão política... –a porta se abre e o diretor Snow entra na sala, seguido por um garoto.

Ele era alto, os músculos dos braços eram bem definidos. Seus cabelos loiros estavam arrumados em um tipo de topete bagunçado, ele tinha olhos azuis que passavam do diretor para Dona Poof.

-Desculpe atrapalhar, Sandra. –diz Snow. O primeiro nome da Dona Poof era Sandra? –Trouxe um aluno novo. Cato esta começando hoje conosco.

-Seja bem vindo, Cato. –Dona Poof diz com um sorriso. Cato apenas olha para ele com o rosto vazio. Ela fica sem graça. –Bom, pode se sentar, tenho certeza que será muito bem recebido aqui na Capitol High School.

Vejo Glimmer dar uma risadinha com uma amiga que estava sentada ao seu lado, e acena para Cato quando ele passa ao seu lado. Cato as ignora e se senta em uma carteira perto da janela, o mais afastado possível de qualquer um. Mas a sala era muito pequena para que ele conseguisse se afastar muito.

-Não irei mais atrapalhar sua aula, professora. –e Snow deixa a sala, e Dona Poof continua a falar alguma coisa sobre gestão política, mas eu não presto mais atenção.

Meus olhos acidentalmente pousam no garoto novo sentado há varias carteiras de distancia. Muitas garotas faziam o mesmo. Tentava desviar o olhar para o quadro, mas Cato era bem mais interessante do que a Dona Poof. Muito mais. Ele não prestava atenção em ninguém que olhava. E quando noto vejo que eu novamente estava mordendo a tampa de minha caneta. E vejo os olhos de Cato olhando em minha direção.

Largo a caneta e quando ia desviar o olhar do dele, noto seu olhar de desprezo e tento entender o porquê. Não sei quanto tempo passa até ele desviar o olhar ainda com o desprezo em seu rosto.

Afundo a cabeça no livro e espero o sinal bater.

...

Meus passos eram rápidos, pois queria chegar na sala da próxima aula antes que o resto dos macacos do colégio tivessem a mesma ideia. Quando já estava há alguns centímetros da porta, lembro-me que meu livro estava no armário. Trinco os dentes.

Era tudo que eu precisava.

Corro em direção ao meu armário e para melhorar ainda mais meu dia, encontra Glimmer junto de Cato no meio do caminho. Como sempre ela me lança um olhar venenoso.

Abro a porta do armário com força e sem querer escuto o que ela falava.

-De onde você veio então? Canada? –pergunta ela com a voz sexy que usava para falar com qualquer ser vivo do sexo masculino.

-É. –ele dá de ombros tentando, aparentemente, se livrar da loira.

-E o que o vez vir para os Estado Unidos?

-Não entendo por que se interessa. –viro-me e olho disfarçadamente para a cena.

Glimmer finge que não se importa com o que ele acabou de falar, na verdade parece se fingir de desentendida.

-O que?

-Se você não quisesse transar comigo estaria realmente interessada?

Eu não aguento, e rio. Glimmer olha para mim com o olhar mais mortal que consegue fazer, depois olha incrédula para Cato e se finge que estava muito ofendida.

-Olha aqui, se imbecil, eu só queria te ajudar a se enturmar! –ela coloca a mão no peito como se ela tivesse se machucado. –Não acredito que acha isso de mim. O que acha que sou? Um tipo de vadia burra? Olha realmente vá se foder garoto.

Cato da uma leve risada a fazendo bufar, inda “magoada” e se vira bruscamente batendo seus saltos altos forte no chão. E percebe que eu ainda olha fixamente para a cena. Cato olha para mim, e percebo que o olhar de desprezo que achei que ele estivesse mandando para mim na aula de geografia, sempre estava lá.