Até As Últimas Consequências escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 8
Vida & Morte em um tabuleiro de xadrez


Notas iniciais do capítulo

Olá, vai aí mais um capítulo (tenso) da fanfic! Espero que goste!



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Sugestão de trilha: Track 8 (Another – OST)

Hell levantou-se lânguida e olhou para os presentes com certo desinteresse. Era uma mulher alta, magra com uma feição ossuda. Mas um detalhe chamou a atenção de Lydia: metade de sua face era de uma belíssima mulher e a outra, de um cadáver em decomposição.

— Boa-noite! O que querem de mim?

A fairy doctor ficou em silêncio, insegura do que iria falar. E assim várias dúvidas a perturbavam. “O que vou dizer? ‘Quero trazer Edgar de volta… Isso se ele estiver com a senhora e se a senhora permitir’?”. Brigando com as lágrimas que estavam prestes a rolarem, a condessa esforçou-se para falar:

— Saudações, senhora! Vim porque… “E agora? Não seria egoísmo da minha parte solicitar a alma de um morto que nem sei se está aqui? Seria um capricho? Ou tenho medo de enfrentar a solidão?”.

— Não, não é capricho de sua parte! E por que seria? – indagou Hell.

Ela aproximou-se mais e ainda desafiou Lydia: – É o homem que você ama, não é? Pois bem, tenho uma pergunta para você. Quem você quer de volta: o Edgar, o conde ou Edgar, o homem?

— Não importa, só o quero de volta!! Senão… – respondeu Lydia quase que gritando e disparou um choro que não conseguia mais segurar.

— Então vamos fazer o seguinte? Que tal uma boa partida de xadrez?

Raven engoliu a seco. Afinal, ele sabia que quem era bom nesse tipo de esporte era Edgar. Lydia tinha mais habilidade no jogo de cartas. Por sua vez, ela, cansada e pálida, quase deu uma resposta ríspida, do tipo “O que tem a ver um jogo de xadrez com a alma do Edgar?”.

— Tem e muito! – respondeu Hell, sem transparecer raiva. E continuou: – Você, mocinho! – referindo-se a Raven – Por favor, sente-se no sofá. Agora, minha boa menina, que tal dirigir-se àquela mesa?

Lydia viu uma mesa de vidro, espetacularmente trabalhada. As pernas da mesa foram esculpidas em forma de serpentes. “Tinham a ver com kundalini?”.

— E não é que você é mais que uma fairy doctor? – brincou a Senhora dos Mortos. – Pois bem, não é qualquer mulher do seu tempo que sabe um dos segredos da vida…

Lydia a encarou e seguiu até a mesa como estivesse indo para a forca.

— Querido Tomte, por favor, traga-nos o tabuleiro e as peças.

— Pois não, minha senhora!

Hell voltou-se para ela e tornou a falar:

— Lydia, querida, morte e sexo no fim andam juntos, não é?

E a condessa lembrou-se que na noite anterior que Edgar foi morto tinha feito amor com ele de forma apaixonada, quase visceral.

— Acho que… que… sim! – respondeu abaixando a cabeça.

— Ora, ora! Não precisa ficar envergonhada, não é? Isso é tão natural entre casais que se amam. Mas fique tranquila… – deu um sorriso malicioso – isso não mataria um homem como Edgar!

Lydia retribuiu com um sorriso tímido, mas não conseguiu encará-la nos olhos.

Tomte retornou com o tabuleiro que era feito provavelmente de mármore e as peças de ossos de animais ou algo parecido. Hell as disponibilizou e explicou para Lydia:

— Sabia que em uma partida de xadrez podemos conhecer como a pessoa pensa e age na vida?

— Sei que ele é usado para montar estratégias de guerras…

— Ah, bobagens entre homens, não é Lydia? Então vejamos, por que quero jogar xadrez com você? Sabe por quê?

Lydia deixou a respiração quase suspensa. Tinha consciência que não era boa o suficiente no jogo, sabia que Edgar possuía mais destreza para jogá-lo.

— Oras não se subestime! E não estamos num campeonato! – disse Hell com a intenção de acalmá-la.

Sugestão de trilha: The Story of Yomiyama (Another – OST)

A Senhora dos Mortos tirou uma moeda do seu vestido negro de veludo, todo bordado em ouro, e falou:

— Vamos definir com qual cor cada uma irá ficar. Como você sabe, as brancas começam. Então vejamos, cara é para as peças brancas, coroa para as negras. Vamos lá? O que você escolhe: cara ou coroa?

Lydia respirou fundo e escolheu:

— Coroa!

Hell jogou a moeda para cima e anunciou:

— Hum… caiu cara! Lydia, você começa!

Lydia moveu o primeiro Peão que se encontrava na frente da Rainha em duas casas. Hell fez o mesmo com um gesto rápido. A condessa então escolheu o Cavalo do seu lado direito e fez o movimento de L. Hell fez o mesmo, só com o esquerdo. “Tenho que dominar o centro”, pensou apreensiva, “só assim posso ganhar o jogo”.

— Hum… não é interessante que o Rei é a peça que menos participa no jogo e é o que nos mais dá trabalho? Caso ele seja ameaçado ou encurralado, de nada adiantará o empenho de todas as peças…

“Será que ela estava falando de Edgar?”

— Não, Lydia. Na verdade, Edgar está nesse estado. Isso não significa que ele seja assim.

A fairy doctor mexeu mais um Peão e que foi novamente bloqueado pelo de Hell. Ela pensou e decidiu que escolher a Rainha era um plano audacioso, porém…

— Eu não faria isso… – alertou Hell.

— Mas…

— Hum, má escolha, Lydia… Ora, ora, vai desperdiçar sua peça mais valiosa assim logo de cara? Afinal…

— A Rainha é a peça mais valiosa do jogo, a que vale mais pontos e a que…

— Muito bem! Ela que protege o reino e é o “escudo” do Rei. Não te lembra de alguém?

— Eu não sou assim!

— É, Lydia!! Quem está aqui tentando recuperar a alma da pessoa que ama? Você ou o Edgar?

— Mas…

— Sim, você está aqui para recuperá-lo e não teve medo nenhum vir aqui para falar comigo. Só por isso já ganhou pontos! – e terminou a fala com um leve sorriso.

A condessa então escolheu o Bispo, Hell colocou a Torre próxima ao Rei. A Rainha dos Mortos encarava o semblante sério da fairy doctor olhando para as peças.

— Engraçado, aqui estou pensando… No tarô, a carta da Torre representa a queda de um determinado setor da sua vida. Uma catástrofe que geralmente é para você reconstruir sob as ruínas.

“E o que tem a ver isso com a minha situação?”, Lydia pensou irritada, enquanto fazia mais um movimento de peças, desta vez era, justamente, a Torre.

— Muito! Talvez foi bom você ter perdido Edgar…

— Senhora, perdoe-me! Não acredito que a senhora esteja falando iss..

— Lydia, Edgar nunca foi o monstro que você acredita antes de ter te conhecido...

A fairy doctor a encarou assustada.

Ok, ok! – continuou Hell a esclarecer seu pensamento: — Ele abusou um pouco do seu charme, seu carisma e a sua bela voz. Mas digamos que você entendeu a real problemática que ele viveu durante certo tempo da sua vida?

— Sobre os tempos negros que ele foi submetido aos comandos do Príncipe? Claro que sim! – defendeu-se indignada.

O jogo começou a ficar tão tenso quanto à conversa.

— E por que você acha que ele virou um playboy, um mulherengo antes de te conhecer?

“Verdade, esse aspecto de Edgar me irrita tanto que até escondi de mim mesma!”

— Lydia, conheço alguém que é muito, mais muito pior que é Edgar nos seus áureos tempos de…desculpe o perdão da palavra, putaria! E olha que ele manda no Olimpo!

— Mas Edgar era exagerado!

— Haha! Então temos uma esposa que fica brava com o passado do marido! E por isso você pensa que ele está aqui?

“Preste atenção no jogo e ignore essa afirmação!”, obrigava a si mesma.

— Lydia, nem um cão ou um inseto merecia ser tratado como ele foi! Sem contar que …

Ok, ele perdeu a adolescência dele! Escutou do próprio pai que nunca deveria ter nascido! E viu seus pais serem mortos! – completou irônica.

— E foi torturado de tão forma que pensou que se morresse seria melhor para ele. Mas ele desistiu? – questionou a Senhora dos Mortos.

— Mas ele foi atrás da Espada Merrow justamente para fazer vingança para o Príncipe. Sem contar que ele me sequestrou, forçou-me a ajudá-lo e não me deu nenhuma escolha! Quantas e quantas vezes, ele me usou como isca! E o resto da história a senhora conhece, não é? – disse Lydia dando um soco na mesa e levantou-se bruscamente.

As peças dançaram sobre o tabuleiro e Hell continuou impassível com um sorriso misterioso, encarando Lydia, com uma das mãos apoiando o rosto.

— No entanto, você está aqui, atrás dele. Não sou eu que estou choramingando por todos os lados onde passo. Essa é você!

Os olhos de Lydia tinha um brilho faiscante de raiva.

— Sabe como você pode recuperá-lo? – indagou Hell.

— Como? – indagou Lydia, agora mais provocativa.

Hell sorriu de uma forma tão enigmática quanto assustadora e disse:

— Perdoando, querida condessa. E quer saber mais uma?

— E tem mais?

— Tem, Lydia! Ele te venera loucamente! E isso o salvou, sabe o por quê? Foi você que devolveu a esperança que o menino Edgar perdeu…

A postura da fairy doctor que se encontrava de pé, inclinada e apoiada na mesa, mais parecendo uma leoa olhando para sua presa, se desfez. Ela levou a mão à boca para reter um soluço doloroso.

— E para terminar, Lydia… Ele não está aqui… E isso é muito bom!

— Por quê? – indagou ainda meio às lágrimas.

— Ele realmente pode voltar para você! – afirmou Hell.


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Notas finais do capítulo

Gostou da Hell? Deusa de origem nórdica, é da mesma turma Loki (aliás, ela é irmã dele. Ah, ele é o Deus dos Ladrões ^^), Freya (que é a Deusa do Amor) e Thor, o Senhor do Trovão. Ela possui uma visão muito peculiar de nossas vidas, através da morte... o/
Vale dar uma conferida se quer saber mais sobre essa Senhora Misteriosa.
Quanto à partida de xadrez tem uma leve referência a um filme muito antigo, chamado "O Sétimo Selo", onde o principal joga xadrez com a Morte. Não gosto muito do filme em si, mas achei a ideia tão boa, que queria usá-la em algum momento. E diga-se de passagem, para mim, Hell tem cara que joga xadrez conosco o tempo todo! Para transcrever a partida aqui, tive que rever as regras, jogá-lo seja pessoalmente, seja online. Foi um bocado trabalhoso (e divertido), mas valeu o esforço^^
Ah, iria comentar sobre a palavra kundalini, mas estou vendo aqui que as minhas notas estão ficando enormes XD Pesquise, é algo mágico, viu?
E no próximo capítulo...Hell revela algo integrante para Lydia... Para onde irá a nossa corajosa fairy doctor? Isso, só semana que vem... Até lá!