– Nossa, mas o que carregamos de tão pesado nesses caixotes? - reclamava a menina de cabelos achocolatados passando o caixote para o garoto de cabelos negros.

– Comida, oras. Acha que vamos sobreviver em alto mar de quê? Ar? - ele disse friamente passando o caixote para a próxima pessoa.

– Neji, pare de ser tão rude com a Tenten. Ela só fez uma pergunta. - disse Hinata após passar o caixote para outra pessoa.

– Sinto muito, Capitã. - ele respondeu.

– Não é pra mim que você tem que dizer isso. - ela disse calmamente e o moreno se virou para Tenten.

– Ok... sinto muito, Tenten. - ele disse cabisbaixo.

– N-Não tem problema. - a menina gaguejou um pouco.

Os três continuaram passando os caixotes uns para os outros e para outros e assim continuavam a ajudar a encher o navio com os suprimentos necessários, quando uma sombra caiu sobre os três fazendo a conversa parar de fluir.

– O que ainda faz aí, irmã? - disse a dona da sombra.

– Ajudando, Hanabi. - Hinata respondeu calmamente.

– Mas você é a capitã, tenha dó! Não deveria estar junto dessa... laia!

– Essa 'laia' é a minha tripulação, mas mais do que isso, são meus amigos. Não me admira que você não tenha nenhum.

A Hyuuga mais nova ficou quieta e olhou com desdém para a irmã. Como Hinata podia ser tão boa? Como não tinha nojo de se misturar com aquelas pessoas? As unhas imundas, o hálito terrível, o cheiro ediondo. Não que ela fosse a mais higiênica de todos eles, mas para uma pirata, ela sabia se cuidar. Antes ela era uma madame, recebia tudo o que queria e conseguia todos os homens que cobiçava. Era o orgulho da família, principalmente de seu pai. Mas depois que esse foi declarado como morto, ela teve de se juntar a irmã e aos piratas ou então morreria de fome.

– Tanto faz. - Hanabi falou com raiva - Mas termine isso logo. Não quero que aquele seu noivo cabeça de fósforo nos encontre assim.

– Assim como? - Tenten ousou perguntar.

– Vulneráveis. - ela disse antes de se retirar.

Hinata suspirou. Eram irmãs e mesmo assim tão diferentes. Não era a toa que todos achavam que Hanabi era irmã de Neji. O mesmo temperamento, o mesmo cabelo, tudo neles era parecido. Ela se levantou e foi atrás de Hanabi.

– Você deveria ser mais educada. - repreendeu.

– Eu ainda não me acostumei com essa vida.

– Mas terá de se acostumar, senão você ou irá junto com toda aquela 'laia' limpar o convés ou, pior, irá para fora do meu navio, ser condenada a morrer de fome.

– a Hyuuga mais velha cerrou os olhos.

– Você não ousaria. - Hanabi a encarou.

– Pague pra ver, irmãzinha. - disse Hinata autoritária saindo e voltando ao seu trabalho.

A Hyuuga mais velha sempre foi um doce de menina, esforçada e amável e sempre muito educada, mas ela podia ser rude, desbocada e mal humorada quando bem entendesse, como se ela sofresse de uma crise de bipolaridade. Hinata se sentou no convés e colocou uma das mãos sobre as sobrancelhas tapando o sol que lhe impedia de ver o horizonte e não demorou muito para que um certo capitão de cabelos avermelhados tomasse conta de sua mente. Ela estava arrependida da última batalha, achava que havia passado demais do ponto. Foi pega desprevenida pelo noivo e quase fora capturada. Chegou a ter de fazer uns remendos na proa, por conta dos bombardeios, mas nada de muito alarmante. O navio do ruivo estava a ponto de afundar e ela sabia se isso acontecesse, ele não teria chances. Escolhera para casar um homem destemido, de palavra e que seguia a risca todos os mandamentos que seu pai lhe obrigara a aprender. Se o navio dele afundasse, ele afundaria junto com ele.

Quando estava prestes a se levantar, a jovem capitã deu de cara com uma de suas tripulantes. Tenten apesar de novata estava se destacando muito bem entre os outros empregados.

– Capitã, a âncora foi erguida, as velas foram içadas, o navio carregado e o vento está a nosso favor. Estamos prontos para zarpar em seu comando.

Os olhos perolados encontraram os achocolatados e Hinata deu um sorriso meigo para a ajudante.
Seguiu até o leme com Tenten ao seu enlaço e proferiu algumas ordens para os empregados, agarrou firme o leme e zarpou confiante atrás de novas fortunas e descobertas na imensidão azul.

.

Já faziam duas horas que estavam navegando e Hinata não se cansava. Aquela brisa salgada tocando-lhe o rosto era sua parte preferida. O barulho das ondas batendo contra o casco de seu corveta(1), as gaivotas desviando dos mastros... navegar era sua paixão e tinha orgulho do que fazia.

Sentira o olhar de Tenten sobre si desde que zarparam e isso já estava começando a incomodá-la. Não entendeu porque a morena decidiu ficar de prontidão ao seu lado mas navegar com alguém a observando estava lhe dando nos nervos.

– Tenten, aconteceu alguma coisa?

A morena foi tirada de seus devaneios, estava focada na cicatriz no dorso da mão de sua superior. A cicatriz redonda e que fizera um belo estrago na pele alva da jovem.

– Eu só...

– Sim? - a Hyuuga mais velha a olhou.

– Estava me perguntando... o porque dessa cicatriz em sua mão. Você é tão renomada, Capitã e não tem nenhum ferimento. Sempre é vitoriosa em batalhas e saques mas mesmo assim possuí uma cicatriz como essa.

Hinata olhou para a sua mão e deu um sorriso triste.

– O amor trouxe isso pra mim.

– O amor?

– Sim. Foi a punição que eu e meu noivo recebemos assim que ele colocou a aliança em meu dedo. - ela sorriu.

Ela jamais esquecera a felicidade que tivera quando o ruivo finalmente se prontificou a ser dela pelo resto de sua vida. Assumir tamanha responsabilidade, ainda mais sendo um pirata, era coisa rara.

Já esperava a devida punição, mas não esperava que fosse tão rápida e tão dolorida. A bala que o sogro lhe atirou, a mesma que perfurara a mão de seu noivo, havia se alojado em sua mão e ela havia passado perrengue para retirar aquela coisa de si correndo o risco de perder os movimentos e possivelmente a própria mão.

– Oh, o velho mandamento... "O homem que não mantiver as suas armas prontas para o combate, que ficar noivo, ou se esquecer da sua função, deve sofrer qualquer punição que o capitão e a tripulação quiserem"... - Tenten disse perfeitamente.

– Isso mesmo. Decidi que seria melhor vivermos separados... não queria trazer mais sofrimento a ele... - ela fez uma pausa - Mas ele insiste em me seguir... - ela não pode conter o sorriso.

Aquele jogo de gato e rato era exaustivo. Mas ela não suportava a ideia de que arrancassem um membro do rapaz ou ele levasse outro tiro ou até mesmo fosse morto só por nutrir sentimentos por ela.

Ela o amava. De todo o coração. Não negara isso a ele quando foi embora, mas também não confirmou para que ele ficasse em duvida se seguiria atrás dela ou não. Não gostava de sempre bombardear o navio do rapaz. Aquele terco era uma relíquia! Havia passado por 3 gerações e ainda assim era algo incrível. Ela ficava mais e mais admirada toda vez que ele aparecia novamente a sua procura sempre com um ou outro remendo a mais.

– O amor tem dessas coisas, Capitã. - ela disse colocando uma das mãos no ombro de Hinata e sorrindo.

Antes que Hinata podesse responder, um grito alto e histérico veio da cozinha do navio. Mas do que depressa, Neji apareceu ao lado da prima relatando o ocorrido.

– Capitã, estamos com problemas. - ele disse preocupado e nervoso com mexas de seu cabelo castanho escuro caindo sobre o seu rosto.

– O que houve?

– Hanabi desmaiou.

Ora essa. Essa gritaria e preocupação toda por conta de um desmaio?

Hinata suspirou indignada. Está certo de que ela é sua irmãzinha mas ela tinha coisas mais importantes para fazer do que ficar de babá de uma pirralhinha mimada. Não sabia mais quanto tempo aturaria Hanabi bancando a madame no meio dos tripulantes, os julgando e detestando de um jeito bem claro.

– Ai meu deus! Acho que ela está sangrando! - um grito veio da cozinha fazendo com que Hinata se despertasse de seus pensamentos e uma onda de preocupação tomasse conta de todo o seu corpo.

A jovem capitã saiu correndo aos tropeços pela escada após deixar Neji no comando do leme. Deu de cara com uma Hanabi inconsciente no chão da cozinha e com a cabeça depositada no da jovem tripulante loira.

– Ino, o que houve?

– Não sei ao certo, Capitã. Eu ouvi o grito e quando fui ver o que era, dei de cara com Neji indo avisá-la. Ele pediu para que eu tomasse conta dela, mas quando a coloquei no meu colo, vi que o chão estava com um pouco de sangue e me desesperei.

Hinata olhou para a pequena poça de sangue no chão logo ao lado de Ino, em seguida, levantou devagar o corpo da irmã para analisar os estragos. Descobriu ser um pequeno corte que a incomodaria muito e isso resultaria em mais reclamações vindas de Hanabi as quais Hinata não estava nem um pouco com vontade de ouvir.

– Mas que merda! - gritou - Ino, traga bandagens e água fria pra mim, vou resolver esse curativo logo de uma vez.

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Já haviam se passado algumas horas desde o 'incidente Hanabi'. Hinata havia lhe levado para repousar em uma das redes num nível mais abaixo do navio. A cabeça da Hyuuga mais nova estava agora enfaixada e a mais velha estava sentada numa cadeira de madeira ao seu lado. Hinata escorava as costas da cadeira na parede do barco, estava apoiada apenas com os dois pés traseiros da mesma e com as pernas cruzadas em cima de um caixote. Mascava um pouco de tabaco a espera da irmã acordar.

– Ai... minha cabeça dói... - disse a Hyuuga mais nova tentando se sentar na rede.

– Você ficar bem. - Hinata disse serena - Você nos deu um susto e tanto.

– Susto foi o que aquela maldita barata deu em mim! Como pode aparecer uma criatura Hedionda dessas aqui em alto-mar?

– Uma barata? - a mais velha se irritou - TODO AQUELE ESCÂNDALO POR CAUSA DE UMA MÍSERA BARATA?

– Mas ela era do tamanho de um cachorro e...

– Sua exagerada! Não aguento mais esse seu drama! Desde que você teve que vir pra cá é só reclamação! Julgando e odiando cada centímetro do meu navio e cada um de meus tripulantes. Eu juro pra você, Hanabi. Pode crer que eu juro. Eu estou a um fio de te jogar para os tubarões. Ou você toma jeito ou pode ir tratando de arrumar as suas coisas que te deixarei no porto mais próximo. Não tolerarei mais esse tipo de comportamento. Aqui você não é mais uma madame, você é uma pirata. Conforme-se e aja como tal.

Hinata se levantou com raiva, jogando para longe a cadeira na qual estava sentada a poucos minutos deixando para trás uma Hanabi espantada e incrédula. Ao procurar em suas lembranças, a Hyuuga mais nova concluiu que jamais vira a irmã mais velha irritada daquela forma. Tratou de começar a rever mentalmente cada passo e comentário que já fizera dentro do navio a fim de dar um jeito em si mesma.

No convés, Hinata tratou de tirar uma garrafa de rum das mãos de um empregado qualquer e se sentou em um dos degrais tomando goles generosos e arfando de raiva. Quase no fim da garrafa, a Hyuuga mais velha foi interrompida pelo sino que tocava na vigia.

– Capitã! Navio a vista!

– Navio...? - demorou um pouco a entender, estava escuro e ela não conseguia enxergar o tripulante, já estava começando a ver um pouco embaçado. Fora o fato de que o mar estava ficando agitado, impossibilitando que ela entendesse corretamente o que a diziam.

– Está se aproximando rápido!

Mais do que depressa, a experiente Hyuuga escalou as cordas até a vigia, pegou emprestado a luneta das mãos do tripulante e olhou pela mesma.

A ficha caiu, não podia ser ninguém menos do que ele. Ele se aproximava rápido e na espreita nas horas mais inoportunas.

– Gaara... - ela disse com um sorrindo estampado e com um olhar desafiador. Que ele viesse. Ela sempre estaria pronta.