Naquela noite, todos voltaram ao estacionamento para correr ou assistir às corridas. Porém, os únicos que iam correr eram DK e Lin, não um contra o outro. Na garagem, como de costume, arrumaram os carros. Somente Twinkie não estava lá.

No estacionamento, tudo estava igual: Han comendo chips cercado de marias-gasolina, DK e Morimoto olhando os outros com cara feia e toda aquela agitação de sempre. Neela ainda não havia chegado, então Lin estava conversando algo com Earl e Reiko. Algum tempo depois, Twinkie chegou, mas não era ele quem dirigia seu carro. Era um garoto diferente, que Lin nunca havia visto. Tinha jeito de americano e era mais jovem que ela. Provavelmente era de idade colegial, mas ela não tinha certeza. Daria dezoito anos para aquele garoto, no máximo.

O garoto saiu do carro e deu uma volta pelo estacionamento. Bem nessa hora, Neela chegou. Earl e Reiko foram até ela para ajustar seu carro. Lin pensou em ir falar com Neela, mas o garoto estava se aproximando dela enquanto Earl e Reiko saíram de cara amarrada.

–Ei, o que aconteceu com vocês dois? - Perguntou Lin.

–A Neela não precisa de nós. Já que ela é tão boa assim, pode se virar sozinha! - Respondeu Earl, num tom irritado e puxando Reiko para longe.

Quando os dois saíram, Lin voltou o olhar para Neela e o garoto misterioso. Eles conversavam como se já se conhecessem. Lin estranhou, pois como Neela podia estar dando trela pra outro garoto se ela já tinha namorado? Se DK visse aquilo, não iria gostar.

E Lin acertou, pois DK também estava olhando para Neela naquele momento e não estava gostando nem um pouco daquilo. DK andou até Neela, sendo seguido por Han. Twinkie saiu correndo de perto do seu carro para dar tempo de chegar lá antes de DK. Lin viu Han mais afastado e se aproximou dele, ficando ao seu lado.

–Quem é esse garoto? - Perguntou Lin.

–O DK me fez essa mesma pergunta não tem nem dois minutos. - Disse Han.

–Por que será, né? - Ironizou Lin, voltando o olhar para DK, Neela e o garoto novo.

Twinkie pôs o braço na frente do garoto e DK puxava Neela pela cintura, abraçando-a.

–Ele já está de saída. - Disse Twinkie, voltando o olhar para o garoto. - Não é?

DK disse algo em japonês, insultando o garoto. No fundo, Lin esperava que o garoto enfrentasse DK como ela o enfrentou.

–Me desculpe, eu não falo japonês. - Respondeu o garoto.

DK beijou Neela no rosto, como se estivesse desafiando-o.

–Entende isso? - Perguntou DK. - Gaijin.

–Takashi! - Neela o repreendeu rapidamente.

–A gente está conversando. - Explicou o garoto.

–Você não entende... - Disse Neela.

–Isso aí que você me chamou... gaijin, o que significa exatamente? - O garoto perguntou.

Significava "estrangeiro", "não-japonês" ou em casos mais ofensivos, significava "alien". DK estava ofendendo aquele menino. Lin queria ajudá-lo. Assim que ela fez menção de dizer algo, Han pôs o braço ao redor dela, pedindo para que não se mexesse. Provavelmente para evitar um certo desentendimento com DK.

–Quer dizer "se manda", "fora". - DK disse, desafiando-o ainda mais.

O garoto não gostou nada daquilo, pois seu olhar era de raiva. Porém, daquele tipo de raiva do qual você não pode fazer nada para revidar. Ou será que pode?

–Aí! - O garoto chamou novamente a atenção de DK. - Isso é engraçado. Eu achei que esse país fosse livre! E que uma moça pudesse conversar com quem quisesse.

Lin sentiu uma pequena chama vinda daquele menino. Após ela, ele foi o único com coragem suficiente para enfrentar DK. E ela adorou aquilo.

–Sabe quem eu sou, garoto? - Perguntou DK.

–Sei... - O garoto respondeu. - Você é o Justin Timberlake do Japão.

Lin se segurou para não cair na risada, chegando a morder as bochechas. Ela nem sabia o nome daquele garoto, mas já havia gostado dele. Neela segurou DK e disse algo em japonês. Lin olhou para o lado e viu Han comendo seus chips, provavelmente disfarçando uma risada também.

–Saia. - Disse Neela.

–Droga, cara, conhece a Yakuza? A Máfia! - Disse Twinkie, afastando o garoto de DK.

O menino tinha a mesma coragem, ou a mesma loucura de Lin. Ambos não estavam nem aí se DK fosse da Yakuza. Só queriam quebrar a cara dele.

–Aí, desculpe, DK-san. O macaco não ganhou banana hoje. - Disse Twinkie, se desculpando.

–Vai lá, D. Está na hora da corrida. - Disse Han, se levantando e levando Lin com ele. DK e seus subordinados vão logo atrás.

–Esse garoto não tem medo de morrer. - Sussurrou Lin, brincando.

–Igualzinho a você. - Sussurrou Han, fazendo-a corar um pouquinho.

–Boa sorte, Timberlake! - O garoto gritou, fazendo Lin conter outra gargalhada.

DK se irritou e voltou a encarar o garoto. Os outros voltaram para assistir ao resto do confronto.

–Você é que vai precisar. - Respondeu DK. - Porque eu vou correr.

–Então vamos correr. - Retrucou o garoto.

Agora ele está cometendo um erro, Lin pensou. Ela mesma já havia corrido com DK e perdido. E ela era boa no Drift. Aquele menino teria que ser realmente muito bom para derrotar DK.

–Com o quê? - Perguntou DK. - Com seu skate? É fácil parecer confiante sem um carro.

–Pegue o meu. - Han retirou as chaves do carro do bolso e as jogou para o garoto.

–Você tem certeza? - Perguntou Lin, com os olhos arregalados. Han apenas assentiu, abraçando-a mais forte.

–Vamos correr. - Disse DK, se virando e olhando feio para Han.

–O que foi? Quero ver se o garoto é bom. - Respondeu Han.

–Essa até eu quero ver. - Sussurrou Lin. - Se esse garoto derrotar o DK ele vai ser o meu novo herói.

–Ah, é? E como eu fico nessa situação? - Perguntou Han, com uma pontada de ciúmes.

–Não se preocupe. Você ainda será o número 1. - Respondeu Lin, com um sorriso.

Enquanto isso, os dois se preparavam para a corrida. Twinkie levou o garoto até o carro de Han, que era conhecido como a Monalisa do Drift. Neela acompanhou DK até o carro dele, segurando seu casaco e dando um beijo de boa sorte.

Quando os dois já estavam na linha de partida, um garoto japonês se posicionou entre os dois carros e apontou para uma garota de cabelos castanhos que gritou "Atenção!". Depois, ele apontou para uma japonesa do outro lado, que gritou "Preparar!". E por último, ele mesmo gritou "Vão!"

Os dois carros saíram em disparada, com o garoto na frente. Ele estava trocando a marcha muito rápido, e tinha uma curva ali. O resultado saiu bem como todos imaginavam, na hora do Drift, ele acabou batendo na parede enquanto DK realizou o Drift perfeitamente. Pelo menos nessa corrida ele não vai precisar trapacear... Lin pensou.

Quando os dois carros avançaram mais, uma multidão correu em direção ao elevador para esperar o vencedor subir até o telhado.

–Eu te disse! - Disse Earl, ao passar por Han.

–Vamos agora? - Perguntou Lin.

–Não, vamos esperar mais um pouco. - Respondeu Han.

A corrida continuava. O garoto batia o carro em cada curva, mas não porque DK o estava empurrando, como fez com Lin. Mas porque o menino parecia nunca ter feito Drift na vida. E as pessoas continuavam subindo no elevador. Uma turminha de amigos de DK foram primeiro, junto com Neela. Depois, mais algumas pessoas que estavam ali. Twinkie foi o próximo, com o elevador cheio de garotas e um sorriso bobo no rosto. Os últimos a subirem foram Han e Lin, quando só sobraram apenas algumas pessoas ali.

O resultado da corrida foi óbvio. DK subiu primeiro. Assim que saiu do carro, foi cercado pelos subordinados, dando um "high five" em alguns deles. Em seguida, ele foi ao encontro de Neela e a beijou, como de costume. Algum tempo depois, o garoto subiu com o carro totalmente destruído. Talvez mais destruído do que o de Lin. Earl, Reiko e Lin olharam para aquilo com os olhos arregalados. Twinkie e Han olharam com uma mistura de raiva e aceitação.

Twinkie se aproximou do carro e apenas conseguiu olhar o garoto com pena. Lin se soltou do abraço de Han e foi até o garoto.

–Não se preocupe, você não foi o único. - Disse Lin, tentando confortá-lo.

Depois que ela saiu, Han se aproximou do carro.

–Não saia da cidade. - Disse Han, saindo de perto.

Naquela noite, Han voltou para a garagem no banco de carona do carro que emprestou para Lin, mesmo com ela insistindo para que ele dirigisse. Não houve festa naquela noite.

–Aquele garoto me despertou um interesse... - Disse Lin. - Fora eu, ele foi o único que enfrentou o DK, e mais do que isso. Ele parece ter algo a mais.

–Parece sim. Também fiquei curioso a respeito dele. - Respondeu Han.

–Você vai fazer alguma coisa? - Perguntou Lin.

–Vou sim. Vou descobrir se esse garoto é de confiança. Amanhã eu vou tentar achá-lo e dizer que ele me deve um carro. Assim, ele vai ficar por perto e eu vejo se ele vale a pena ou não. - Respondeu Han.

Eles chegaram na garagem e Lin foi direto para o quarto. Han resolveu ficar acordado mais um pouco e pensar no que diria para o tal garoto no outro dia.

Uma das coisas que ele não contou para Lin foi que ele é sócio de DK, contrabandeando produtos para a Yakuza. Han iria dar alguns trabalhos para o garoto fazer, do tipo, cobrar dinheiro, entregar e receber carregamentos, coisas assim. Ele só não sabia como iria contar sobre esse lado de sua vida para Lin.


Continua.