– Oi, Péris.

– O que você está fazendo aqui?- ela me perguntou com um olhar sombrio

– Ah, Nada. Eu...

– Você está aqui porque aquele idiota vai te treinar não é?- ela disse se aproximando de mim com os olhos vermelhos, eu me afastei.

– É, mas eu posso...

– Cala a boca!- ela disse quando me jogou em uma árvore tão rápido que só tive tempo de perceber o que tinha acontecido quando caí. Eu havia batido a minha cabeça, que agora latejava.Eu fiquei no chão.

– O que foi isso?

– Olha aqui, eu odeio quando as pessoas me trocam Rachel. Não tem nada pior do que isso.- ela disse ficando de pé na minha frente.

– Olha aqui você.- desafiei.- Eu te conheci faz quatro dias, fofinha. Você não manda em mim.- assim que eu disse isso ela levantou o braço como se fosse bater no meu rosto, mas então ouvimos passos se aproximando.

– É o Sr.Ray.- ela se abaixou e segurou com força na minha mandíbula, fazendo com que eu olhasse para ela.- Eu não queria que as coisas ficassem assim, mocinha. Não tão rápido.- então ela deu um meio sorriso e desapareceu como fumaça na minha frente.
Quando o Sr.Ray se aproximou eu ainda estava sentada, encostada na árvore, um pouco em choque, para falar a verdade.

– Nossa, desculpa o atraso.- ele disse se aproximando.- Eu tive que resolver umas coisas lá na sala, um dos dimous estava com problemas para... Está tudo bem, Rachel?- ele disse me analisando com os olhos.

– Sim, claro.- menti.

– Tá bom...- ele me olhou desconfiado mas não quis fazer mais perguntas, eu me levantei.

– E então? - perguntei.

– Ah, sim.- ele sorriu.- Logicamente, você não está aqui para aprender o dom do fogo, porque isso você vai aprender no restante das aulas, com os outros professores e com os seus colegas.- ele acendeu uma lanterna que tinha um brilho relativamente forte, como uma lâmpada de led. - Você já teve essa aula?

– Não.

– Imaginei. Pois bem, a maioria das vezes em que você não consegue se controlar, você foca em um sentimento ruim, como ódio ou tristeza, por exemplo. Mas na verdade, você tem que focar em um sentimento bom, ou talvez uma lembrança, qualquer coisa que te faça feliz.

– Mas, Sr.Ray, eu não tenho nenhuma lembrança boa que não me leve para uma ruim.

– E é por isso que eu estou aqui.- ele sorriu.- Para te ajudar a conseguir pensar somente nessas lembranças boas, e esquecer as partes ruins.Mas você precisa se concentrar primeiro. Feche os olhos, e pense em alguma coisa que te fez realmente feliz algum dia. Qualquer coisa.- obedeci.

Flashback on.

Eu estava sentada no telhado de Marion, chorando muito, suja de raspadinha azul que Marie tinha jogado no meu cabelo, até que ouvi uma voz fina falar comigo

– Olha, eu sempre gostei de azul, mas essa combinação não foi uma das melhores. - uma menina loira se sentou ao meu lado, eu não respondi, continuei chorando fingindo que estava sozinha.- Sabe, todas as vezes em que alguma coisa ruim acontece comigo eu imagino todos esses idiotas pulando pelados na brasa.- ela falou tudo com uma tranquilidade tão grande que me fez rir. Eu olhei para ela que estendeu a mão e disse:

– Meu nome é Lily.

– Rachel.- eu apertei sua mão

– Olha, até que você não está tão ruim, mesmo com essa raspadinha no seu cabelo.- eu consegui rir, e ela riu também.

Flashback off.

Meu corpo se encheu de tranquilidade, eu eu não sentia raiva de nada mais, e tive vontade de chorar, mas não por tristeza. Eu estava feliz. Quando abri os olhos o Sr.Ray disse:

– Perfeito, Rachel!- minhas pupilas estavam dilatadas- Agora visualize o que você quer fazer.- o que não foi nem um pouco difícil, assim que eu olhei para todas as folhas que estavam no chão fiz com que elas levitassem indo em minha direção e girando ao meu redor, logo depois pude colocá-las de volta no chão, minhas pupilas voltaram ao normal e eu nunca tinha me sentido tão bem em toda a minha vida.

– Eu consegui!- disse sorrindo para o Sr.Ray

– Essa foi a coisa mais linda que eu já presenciei.- ele me olhava com um olhar diferente e com um sorriso um pouco bobo no rosto.- Você é a pessoa mais incrível que eu conheço.

– Ah, obrigada.- eu corei, então ele sacudiu a cabeça

– Uau. Ok. Ra-Rachel, agora você precisa voltar para o seu chalé, amanhã temos que acordar cedo...

– Tudo bem.- eu respondi e então um silêncio um pouco constrangedor me deixou sem graça.- É... Obrigada mesmo, Sr.Ray.

– De nada.- ele sorriu

– Boa noite.

– Boa noite, Rachel.

Depois de tomar banho eu dormi rapidamente, mas comecei a sonhar na mesma velocidade. Eu estava sendo apunhalada no rosto, mas não conseguia me mover, era o mesmo menino daquele sonho esquisito que eu tive na floresta quando desmaiei, ele não parava de me socar ''pare, por favor'' eu pedi sem forças, então ele parou e eu pude ver seus olhos, suas pupilas estavam dilatadas e quando ele ia falar alguma coisa eu acordei com alguém batendo na minha porta.

– Bom dia, amiga!- era a voz da Mari.- Levanta, hoje já é sexta, amanhã a gente pode fazer o que quiser.

– Tudo bem, já estou indo.- eu respondi. Quando me apoiei no colchão senti uma pontada no meu pulso direito como se alguém tivesse enfiado uma faca murmurei um ''ai'' e quando olhei para o meu pulso a pulseira que a Péris havia me dado tinha virado uma espécie de espinho que agora estava apertando cada vez mais.