Todas as meninas olhavam para mim sem falar nada, boquiabertas.
–Rachel, o que você...? -A Lily estava em choque
–Eu não... Eu não sei, -minha voz falhava- não foi minha culpa...- me senti fraca, Jenny e Dina sairam correndo do vestiário gritando e chamando a professora, Lily foi até Marie e se ajoelhou ao seu lado, minha cabeça começou a girar e minha visão ficou turva
–Foi ela! Nós vimos tudo! -era a voz de Jenny consegui ver a silhueta da professora e ouvi ela dizer algo, mas desmaiei.

. . .

–Bom dia, meu bem. - era uma voz doce e sonora, tentei abrir os olhos, minha cabeça rodava.

–Oi. -respondi com a voz fraca, a imagem da moça foi se formando lentamente, era a Srta.Heather, que sorria para mim

–Foi um arremesso e tanto. -ela riu.

–Onde está a Lily? - tentei me levantar, mas não consegui

–Calma, tudo será esclarecido, mas agora você precisa descansar um poco. - ela virou-se e pegou um copo, com um líquido rosa, florescente e me deu

–O que é isso?

–Beba, Rachel, você vai se sentir melhor.- Dei um gole e a bebida formigou na minha língua e desceu minha garganta com gosto de marshmellow, a dor de cabeça e o mal estar passou em questão de segundos, eu já estava bem de novo.

–Uau.- eu disse, quando fui dar o segundo gole a Srta.Heather tirou o copo da minha mão

–Um gole é o suficiente, meu bem.

–O que é isso?

–Digamos que é nossa ''cura-fácil'' para dimous. - ela olhou para mim e piscou.

–Para o que?

–Uma coisa de cada vez, criança.

–Olha, eu queria saber sobre a Marie, curaram ela com isso aí também? E desde quando temos essa tal ''cura-fácil'' aqui em Marion? E quando foi que reformaram a enfermaria? Ai meu deus, por quanto tempo eu dormi? - a Srta. Heather deu uma risadinha e sentou na beirada da minha cama

–Rachel, há algumas coisas que precisam ser explicada para você. - eu realmente não estava gostando nada nesse assunto.- Por que você não tenta dormir, ou come alguma coisa? Qualquer coisa, eu trago para você.

–Não. eu estou bem, onde está a Lily ? E o Andrew ?- ela não me respondeu- Você não vai me falar?- uma onda de raiva subiu pelo meu corpo

–Ei, calma, relaxa Rachel. - ela sorriu, tentei ficar calma. - coloque essa roupa e venha comigo.- ela me deu uma camiseta e um shorts, que não era o uniforme de Marion, eu estranhei, mas assim que me vesti segui a Srta.Heather, ela abriu a porta do quarto onde estávamos e nisso, saímos dentro de um salão enorme com pessoas indo para lá e para cá, algumas acompanhadas com meninos e meninas que aparentavam ter a minha idade em media.

–Ah, a propósito, feliz aniversário Rachel.

–Ahm, obrigada. - nós seguimos até o centro do salão onde estava uma moça loira sentada numa cadeira no meio de um balcão circular, ela atendia vários telefones ao mesmo tempo e digitava no seu computador

–Ok, certo.- dizia ela enquanto dava um formulário para a Srta.Heather, ela começou a preencher e em dois minutos devolveu para a recepcionista que olhou para o papel e disse para mim:

–Bom vinda.- logo desviou o olhar, eu voltei a seguir a Srta.Heather, que atravessou o salão e saiu por uma porta de vidro.
Entramos num lugar imenso, que talvez fosse 5 vezes maior que Marion, havia jovens por todos os lados, prédios enormes, e um lago que parecia não ter mais fim.

–Onde estamos?

–Paciência criança, - fomos em direção a um carrinho de golf que estava parado numa estrada de asfalto com um homem no volante

–Bom dia.

–Bom dia. - respondeu a Srta. Heather.- vamos, entre querida.- eu me sentei e ela se sentou no banco da frente, ao lado do homem do volante. -Chris, você pode levar-nos até o edifício principal?

–É pra já. - disse ele ligando o carrinho.
A estrada seguia dentre as arvores que ficavam perto do lago, que ainda parecia infinito para mim, Enquanto passávamos pelo bosque eu vi alguns coelhos, veados e algumas meninas que me olhavam por trás das arvores, com flores em seus cabelos, vestidos verdes e uma coloração de pele muito estranha.

–Chegamos, obrigada Chris, vamos Rachel.- ela desceu do carrinho

–Não por isso,- ele olhou para mim - bem vinda, Rachel.

–É... Obrigada, eu acho. - quando desci do carrinho olhei para trás enquanto Chris acenou, olhei para suas pernas, que na verdade não eram pernas, parecia um corpo de cobra, mas da cintura para baixo, arregalei os olhos, e ele foi embora com seu carrinho.

–Aquilo... Aquilo era...?

–Era, vamos Rachel. -ela me puxou pelo braço e nós entramos em uma construção parecida com a casa branca, só que tinha uma pintura diferente, havia um jardim, com flores roxas, azuis, douradas e algumas florescentes, comecei a achar que a bebida rosa, a tal da cura-fácil não era tão boa quanto pareceu ser, ou que talvez estivesse me fazendo mal.

–Srta. Heather, como vocês fazem para que as flores fiquem dessa cor?- não obtive nenhuma resposta, ela continuou andando até chegarmos na porta, ela abriu a porta e nós entramos. Lá dentro a decoração era toda moderna, como se fosse um escritório de arquitetura, ou design, segui a Srta.Heather até uma porta grande.

–Aqui eu já não posso entrar com você, meu bem.- ela virou-se para mim e sorriu.- Agora todas as suas dúvidas serão esclarecidas. - ela me abraçou e beijou minha testa

–Mas...

–Entre. - ela abriu a porta e eu entrei.
Quando a porta fechou eu estava de volta em Marion no vestiário com Marie desacordada na minha frente e as meninas lá, exatamente como no momento em que eu desmaiei, a Srta.Heather entrou no vestiário e congelou o tempo, fechou os olhos e começou a falar palavras em outra língua, assim que ela parou as coisas começaram a voltar no tempo, o espelho e a pia quebrados já estavam no lugar e Marie estava bem novamente, então a Srta.Heather encostou o dedo indicador na minha testa e eu desapareci, até que ela estalou os dedos e o tempo descongelou, as meninas olharam para ela, até que a Lily perguntou aonde eu estava

–Quem é Rachel?- Srta. Heather sorriu

–A minha melhor... Ra-Rachel? Não sei, quem é essa? - Lily parecia hipnotizada.

–Meninas, vocês conhecem alguma Rachel?

–Não. - toas as meninas responderam juntas, então a cena mudou, era hora do almoço, Lily estava comendo quando Andrew sentou na frente dela

–Lily, você viu a Rachel? Procurei ela o dia todo

–Quem é Rachel?

–Como assim quem é... Rachel? Quem é essa Lily?

–O que? Essa quem?

–Nada, nem sei do que eu estava falando - os dois riram e começaram a comer, então a cena mudou novamente, Andy estava com a Lily na cobertura, abraçado com ela vendo o sol se por

–Você foi a melhor coisa que já aconteceu comigo. - ele disse enquanto mexia no cabelo dela, ela sorriu e eles se beijaram

–Não! - eu gritei. - Por favor, não!- senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto, então a imagem sumiu e eu estava sozinha em uma sala forrada de espelhos, me virei para procurar a porta, mas não havia saída

–Ei! Me deixe sair!- Olhei ao meu redor e tudo que achei foi um papel, no chão, escrito ''pergunte''. - O que eu devo perguntar?- então uma palavra foi projetada no espelho ''dimous''

–Dimos? O que é dimous?- minha imagem no espelho sorriu de forma sombria, o que me assustou um pouco, então a cena mudou. Era uma época antiga, havia um garoto moreno de olhos azuis que tinha aproximadamente uns dezoito anos, ele tinha sangue nas mãos e chorava

–O que há de errado comigo mãe?

–Eu não sei, Kyle, a mesma mulher agora, discutia com um homem

–Em lugar nenhum, Madalena! Você achou esse menino na floresta! -gritou ele

–Ele é meu filho! -ela chorava

–Não é não!- ele sacudia ela pelos braços- Aquilo não é humano! - a cena mudou. Kyle estava em uma floresta, e uma menina com flores no cabelo, vestido verde (como uma daquelas que olhavam para mim no caminho do bosque), estava ao seu lado

–Vamos, tente novamente, você já conseguiu uma vez.

–Não é tão simples assim Náira.

–Eu sei, mas tente, foque em algum sentimento, deixe fluir para fora do seu corpo. - ele fechou os olhos e ela se afastou, ele respirou fundo, esticou as duas mãos, quando abriu os olhos levantou as duas mãos rápido e então a água do laguinho que estava em sua frente levitou, ele olhou para a menina e sorriu, começou a rir e comemorar

–Uhu! -ele abaixou os braços e começou a pular, o que fez com que todas as arvores sacudirem

–Shh! Vão ouvir a gente, Kyle.- os dois ficaram em silêncio, logo depois ela sorriu e eles se abraçaram.
Agora a sala estava preta e escura

–Você é uma aberração! - gritou a voz de uma mulher

–Você não tem família. - zombou um garoto

–Pessoas normais não fazem isso. -vocês me xingavam ao mesmo tempo e muito alto, comecei a chorar, a sala ficou em silêncio, eu só ouvia meu próprio choro, uma luz acendeu iluminando um espelho na minha frente e uma mulher que brilhava estava de pé ao meu lado, mas sua imagem só estava somente no espelho, e não ao meu lado realmente. Estremeci.

–Não chore.Você tem um dom, foi presenteada pela natureza, está aqui para aprender sobre si, aprender a se controlar.- a boca dela não se mexia enquanto ela falava

–Mas...

–Seus amigos não podem conviver com você, pequena. Você é especial Rachel.- pude sentir a mão dela encostar na minha cabeça

–Feche os olhos. - obedeci, senti uma brisa no meu rosto e ouvi um sussurro ''você é especial''. Então a porta se abriu e eu saí, a Srta.Heather estava sentada num sofá, ela sorriu para mim, mas não sorri de volta.

–Venha comigo, Rachel.

–Onde vamos?

–Para o seu chalé, lá estão algumas roupas que eu comprei para você.
Andamos um quilometro mais ou menos até chegar no chalé. Haviam vários chalés, pareciam pequenas casinhas feitas de tijolinho e um mini jardim na frente, todos os chalés eram idênticos. A Srta.Heather me explicou como chegar lá e me acompanhou, eram dois andares, quatro quartos individuais e dois banheiros por andar. Meu chalé era o de numa 63, quarto 3(segundo andar), ela abriu a porta e me entregou as chaves

–Bom, então é isso. - disse ela, eu me virei.- Olha Rachel, eu não queria...

–Eu sei.- entrei e fechei a porta.
O quarto era lindo, exatamente como eu sonhava, as paredes eram pintada de lilás claro, a minha cama era de casal, e tinha um lindo e macio edredom branco, atras dela estava um papel de parede e em cima, havia um lustre feito de cristais que formava um arco-iris quando estava aceso, e quando a luz se apagava havia pequenas luzinhas que ficavam por trás do teto que brilhavam lentamente, no meu armário havia várias roupas, todas elas com o meu tamanho, e ainda com etiqueta escrito '' Forever 21'', que era minha loja preferida, uma diversidade muito grande de sapatos e em frente a minha cama tinha uma mesa com uma cadeira giratória em frente, em cima da mesa tinha uma caixa grande embrulhada com um papel de presente azul, do lado da mesa havia um espelho, mas não quis olhar para ele por muito tempo. Peguei a caixa e sentei na cama com ela, havia um bilhete colado que dizia ''Rachel, aqui está tudo que você precisa para as aulas, o resto do material você pega amanhã, comprei alguns presentes também, espero que goste. Srta.Heather'' , dentro da caixa havia um livro grosso com uma capa roxa, ele tinha uma trava, tentei abrir, mas não consegui. Logo em baixo tinha um notebook branco e um Iphone, eu confesso que fiquei muito feliz, coloquei os dois para carregar, fechei a cortina da janela e saí para dar uma volta.
Na frente dos chalés havia um bosque, ainda era cedo, o sol estava nascendo, nesse momento me perguntei quanto tempo eu havia ficado dentro daquela sala. Entrei no bosque e comecei a andar, sem rumo, até que cheguei numa queda d'agua pequena que chegava num riacho, sentei na beirada e fiquei passando a mão na água e então a cena da Lily e do Andrew se beijando veio na minha mente, uma onda de raiva subiu pelo meu corpo, então chorei

–Ei! Como você faz isso? - quando notei várias gotinhas de água e pedacinhos de terra flutuavam ao meu redor

–Mas que porr....

–Isso é demais. - todas as pedrinhas caíram e a água escorreu de volta para o riacho, uma menina com cabelo rosa claro, cacheado e um vestido feito de flores sorria com os olhos arregalados.- Como foi que você fez isso?

– Não sei...

–Quem é você? Eu nunca te vi por aqui

– Bom, pelo que dizem eu sou um dimou...

– Não babaca,- ela riu- metade das pessoas daqui são dimous... Ah já sei, você é nova aqui. - assenti com a cabeça- Mas olha, faz tempo que não vejo dimous com esses dons, a maioria não controla elementos naturais além de fogo, ainda mais com essa facilidade.

–Mas eu não fiz nada.

– Por isso mesmo... Poxa, a imortalidade caiu bem em você.- ela sorriu e estendeu a mão- Eu sou Péris, qual o seu nome?- apertei a mão dela

–Eu sou Rachel. Que história é essa de imortalidade?

– Ah, me desculpe, esqueci que você não sabe nada ainda.

–Eu sou imortal?

–Sim, tipo o Edward sabe?