Minha visão estava começando a escurecer, eu ainda conseguia ver o olhar de Péris enquanto ela me sufocava. Era isso. Esse era o meu fim. Eu precisava de ajuda. Quando eu estava próxima do meu ultimo suspiro, alguma coisa jogou Péris para longe de mim, eu não conseguia me mexer, tentei olhar mas tudo estava tão embaçado...

Quando acordei estava ainda deitada na floresta, era noite, eu logicamente não aguentava mais desmaiar de dia e acordar em outro lugar sem ter nem noção do tempo, isso me fazia sentir uma idiota. Assim que abri os olhos percebi estar deitada na costela de Baby, seu focinho estava exatamente do meu lado, fiquei preocupada quando vi que estava com arranhados por todo seu corpo, me levantei rápido, preocupada.

– Baby! - eu disse, em choque, até que ele abriu os olhos azuis. Ele estava fraco, nem se quer levantou e eu precisava mais que tudo, salvá-lo.

– Não sai daí, eu vou dar um jeito em você.

Corri tão rápido para o chalé que pensei que poderia voar, escalei entrando pela janela rapidamente, derrubando tudo que estava no meu caminho, peguei a garrafa com isabro que o Sr.Ray me deu e em menos de cinco minutos eu já estava no meio da floresta ao lado de Baby, que ainda estava acordado.

– Tudo bem, tudo bem...- eu disse me aproximando e quando toquei em um de seus machucados ele se contorceu e rosnou, eu tirei a mão rápido.

– Baby, eu sei que deve estar doendo muito, mas eu vou fazer a dor passar.– Vai ficar tudo bem.- eu disse me aproximando de Baby e pingando cuidadosamente isabro em suas feridas, isso fez com que ele se recuperasse rapidamente, se levantando e pulando ao meu redor

– Graças a deus...- mas então ele parou e ficou em estado de alerta, baixou as orelhas e começou a rosnar, eu me pus em sua frente até que Mari surgiu dentre as árvores.

– Eu n-não acredito no que eu estou vendo.-ela disse baixinho, Baby rosnou mais alto e franziu mais o focinho, eu segurei em seu pescoço para acalma-lo

– Oi.- eu respondi, meio sem reação.

– Você tá com um tigre albino e ele não está te devorando?- ela parecia perplexa.- E ele... Ele é fiel a você?!

–É...- Baby tentou atacar Mari mas eu fiz com que ele parasse.- Baby, não!-ele recuou quando gritei e se sentou logo atrás de mim, Mari parecia estar em choque.

– Ele é meio bravo com que não conhece...

– Não,Rachel, você não está entendendo. Isso não é normal.- ela disse séria

– Como assim, ''não é normal''? - eu disse imitando ela

– Tigres albinos são inimigos mortais de dimous, são animais cruéis.- Baby rosnou atrás de mim quando ela disse isso, eu acariciei sua orelha fazendo-o parar.

– Não são não.- eu disse

– São sim, Rachel, eu não sei como...

– Se ele é bonzinho comigo, que diferença faz?

– Isso tá errado.- me estressei quando ela disse isso

– Mari, isso não tá errado, não tem nada de errado nisso, você me seguiu até aqui, eu não te chamei aqui, agora você vem me dizendo que o que eu estou fazendo é errado? Você não sabe metade das coisas que eu estou fazendo, então eu acho, só acho, que tá na hora de você parar de se meter onde não foi chamada ou eu vou ter que...- eu ia falar sobre apagar a memória dela de novo, mas me lembrei que não seria uma boa ideia lembrar disso.

– Vai ter que fazer o que?- ela disse se aproximando de mim como se me desafiasse, eu ri.

– Nada, só para de se meter na minha vida, tá bom?- depois que eu disse isso ela tentou ler minha mente e eu lancei ela contra uma árvore.- E para de tentar ler minha mente também. Vamos Baby.- eu saí de lá deixando Mari no chão me olhando como se estivesse assustada, mas não me importei, eu estava cansada de querer ser boa para as pessoas toda hora, eu sabia que conseguia me controlar melhor desde a última aula com o Sr.Ray, sabia que podia melhorar sozinha, e eu ia falar com ele sobre isso hoje.

Deixei Baby na floresta e segui para a sala do Sr.Ray, ele estava sentado com as pernas cruzadas em cima da mesa, lendo um livro.

– Oi, Rachel.- ele disse quando entrei.- Eu precisava falar com você.

– Eu também.

– Tenho certeza que o meu é mais importante.- ele disse sem me dar chances de algum tipo de contra argumento.- A Srta.Heather está desaparecida, faz uma semana. Nós não sabemos onde ela está, precisamos que você se conecte com ela, assim ela pode dizer onde está.- Foi então que eu percebi o que tinha feito, naquela noite quando falei para que a Srta.Heather desaparecesse, ela realmente desapareceu, e a responsabilidade era minha eu sabia que tinha que achá-la.

– Vou fazer isso.

– Faça isso sozinha.- ele disse.- No seu quarto, onde ninguém vá interferir em nada.

– Pode deixar, quando?

– Agora.- ele respondeu rápido e áspero.

– Tudo bem.

Quando cheguei no meu quarto me sentei na cama e fechei os olhos, tive que me concentrar, o que demorou um pouco, mas quando consegui era como se eu estivesse em outro plano, tudo era branco e minha voz parecia ter um eco.

–Srta.Heather?- eu chamei.

– Não.- uma voz masculina respondeu.

– Quem é você? - perguntei

– Meu nome é Kyle.- ele disse.- Não tenho muito tempo, Rachel.

– Me desculpe, deve ser algum engano, me falaram que se eu me concentrasse conseguiria me conectar com a minha...

– Preste atenção, não sei se ainda estarei vivo da próxima vez. Os ingredientes pra acalmar são: folha de papúla, semente de tomate e orvalho de uma samambaia, misture todos com isabro, não importa a quantidade desde que os três estejam juntos.

– Espera, para acalmar? O que?

– Não tenho mais tempo, acho que não serei eu quem te falará a verdade. Adeus, Rachel.

– Espera!- eu tentei gritar mas já era tarde demais, eu já estava de volta no meu quarto, sentada na cama sem entender absolutamente nada. Isso não era suposto a me levar para a Srta.Heather? E eu não fazia ideia como esse Kyle parecia, seria o mesmo Kyle da sala de espelhos? Também fiquei confusa sobre esses tais ingredientes para acalmar... Acalmar o que? Fiquei estressada por ter tantas dúvidas assim, e também por não achar a Srta.Heather, por não conseguir conversar mais com Kyle, por não estar entendendo nada que acontecia ao meu redor, odiava ter que assumir a responsabilidade por tudo o que aconteceu, e eu precisava achar a Srta.Heather.

Na hora do jantar as meninas estavam quietas, nem Maggie falou comigo direito, e eu sabia que foi por causa da Mari, eu queria me desculpar, mas estava de saco cheio então só comi em silêncio, como se estivesse sozinha. Depois do jantar fui para a floresta, no ponto de encontro do Sr.Ray, pensei em Péris por um segundo, Baby teria a matado? Acho que não, ela era bem esperta a ponto de fugir antes.

– Boa noite, querida.- era a voz do Sr.Ray, logo atrás de mim.

– Boa noite.- eu respondi.- Sr.Ray, eu preciso falar com você.

– Pode falar.- ele respondeu olhando diretamente para mim, como se deixasse claro que se eu mentisse sobre algo ele saberia.

– Foi culpa minha.

– O que?

– A Srta.Heather sumiu porque eu falei para que ela sumisse.- ele não pareceu surpreso.

– Eu imaginei. Só acho que você deveria ter me avisado antes, Rachel.

– Tem outra coisa, quando eu tentei me comunicar com ela hoje eu não consegui. Entrei em uma espécie de limbo e conversei com um tal de Kyle.

– Kyle?- ele arregalou os olhos quando eu disse, como se estivesse em choque.- O que... O que ele disse?- foi então que eu lembrei de tudo que ele disse, mas quando tentei dizer tudo que saiu foi:

– Não me lembro.- o que fez com que Sr.Ray respirasse fundo, um pouco decepcionado, mas voltou ao seu normal logo em seguida, como se tivesse entendido o que aconteceu.

– Que pena...

– Ainda não terminei... Eu tomei uma decisão, eu sei que não deveria deixar ninguém saber,mas vou te contar, e é melhor você não entrar no meu caminho.- eu disse sabendo do que eu era capaz de fazer.

– Tudo bem, Rachel.- ele pareceu confuso.

– Eu vou fugir.

– Não! Você, você não pode!- ele parecia desesperado

– Eu preciso, Sr.Ray, preciso entender a minha vida, preciso entender o significado das coisas.-

– Não Rachel!-eu podia sentir a angústia em sua voz.- Por favor, não!- eu estranhei

– Por que você está agindo desse jeito? Você sabe que é o que precisa ser feito.

– Você não está entendendo.

– Então me explica!- eu disse irritada.

– Eu estou apaixonado por você, Rachel.