Something Wrong - Pernico escrita por Lyra


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Heeey!
To TÃO feliz pelos reviews que fiz um capítulo bem ispeciaul pra vcs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/482486/chapter/6

POV NICO

Não podia ser.

Eu devia estar sonhando.

Aquilo era um pesadelo.

Ele me viu. Ele... sorriu. Aquele maldito sorriso cafajeste.

Eu achei que estava livre dele para sempre. Que jamais o veria novamente. Que minha mente, em algum momento, o apagaria de minhas memórias. Que se, algum dia, alguém me perguntasse sobre ele eu diria: quem? Desculpe, mas nem me lembro.

E então... isso acontece.

Eu jamais deveria ter pedido para os médicos me liberarem.

Eu jamais deveria ter fingido que eu estava com uma ótima sanidade mental.

Eu jamais deveria ter entrado para aquela escola.

Eu jamais deveria ter desmaiado (mesmo que contra minha vontade).

Eu jamais deveria ter sido levado para esse maldito acampamento.

Eu jamais deveria ter nascido, para início de conversa.

As lembranças vinham como em uma fonte – jorravam em minha mente; poluíam meus pensamentos; afogavam-me. Eu estava mergulhado nelas até a cabeça.

“Eu sabia. EU SABIA! Eu não devia ter vindo, Perseus. Seu filho da puta, por que me fez vir?!” – falei.

“Calma, Nico.” – ele respondeu.

Isso não podia estar acontecendo de novo. Não, não, não.

“Por favor... desculpe-me. Eu não devia ter dito isso, não devia, não devia” – eu falei.

“Mas disse.” – ele respondeu. “Agora, por favor, acalme-se. Calma, Nico.”

Não podia estar acontecendo – mas estava. Ah, meus deuses. Eu estava fodido.

As antigas lembranças misturavam-se com as novas. Eu não podia conter a terrível sensação de djavu. Aquilo estava me corroendo, me matando. E eu não podia fazer nada, sequer lutar. Estava acontecendo de novo... tudo novamente.

Ergui a cabeça, desvencilhando-a de minhas próprias mãos. Esperava encontrar Perseus ali, à minha frente, parado. Mas o que vi foi completamente diferente: eu estava sentado em um banco, daqueles de praça, nos Campos de Morangos. Exatamente onde eu estava mais cedo, quando Perseus veio convidar-me para a festa.

Levantei-me, lentamente. Estava confuso. Olhei ao redor, desesperado por alguém que pudesse me explicar o que havia acontecido ali, mas eu estava sozinho. A festa parecia ocorrer no lado oposto extremo dali.

Lágrimas escorriam por meu rosto. Apertei minhas mãos contra meus olhos, mas elas não pararam de cair. Eu era fraco demais. Estava sendo traído por meu próprio corpo – e o pior: por minhas próprias emoções. Eu precisava controla-las... mas parecia impossível.

Eu não podia, mas eu queria muito. Eu queria muito finalmente parar de bancar o cara inabalável. Aquele que nunca chorava. O irônico. O que jamais deixava-se perder.

Ajoelhei-me na grama, deixando as lágrimas salgadas verterem livremente. Sem ao menos perceber, em um segundo eu estava deitado, olhando para as estrelas.

Então, eu comecei a me acalmar. Eu estava tão abalado que nem havia percebido que a festa, na verdade, não ocorria muito longe dali.

A música que tocava agora era Wonderwall, do Oasis.

Bianca riu.

“Você canta mal!” – riu novamente. Eu também estava rindo; me divertia tanto que lágrimas começaram a correr de meus olhos, por causa das risadas. Minha barriga doía, mas eu não me importava.

“Acredite se quiser” – falei. “Mas você também não canta tããão bem assim.”

Ela fingiu espanto.

“Como assim? Não, não, não! Eu sou a maior cantora do séc... ai meu Deus, Nico! Cala a boca, chegou o refrão.”

Então, começamos a cantar, apesar de não conseguirmos parar de rir.

Quando, finalmente, a música chegou ao fim, Bianca me abraçou.

“Não acredito que o meu irmão possa ser um cara tão idiota” ela disse, “Mas, ao mesmo tempo, o melhor cara que eu podia ter conhecido.”

Sorri.

“Não acredito que a minha irmã possa ser tão retardada” – eu respondi. Ela olhou para mim, e eu disse: “Está olhando o quê? Você é só retardada mesmo.”

Ela riu.

“Também te amo, idiota.” – falou.

#

– Oi – disse Perseus, ofegante, antes de deitar-se ao meu lado. Imaginei que ele faria alguma pergunta, mas agradeci aos céus por ele não ter feito nenhuma.

Ele olhou para mim, e viu que minhas bochechas estavam molhadas. Não sei se ele pretendia fazer algum comentário, mas mesmo assim eu respondi:

– A música... Wonderwall. Ela amava o Oasis.

– Ela... sua namorada? – ele pediu, curioso.

Não pude evitar um sorriso.

– Minha irmã. Já fazem dois anos.

Perseus mordeu o lábio inferior.

– Meus pêsames.

Ele voltou seus olhos ao céu.

– Tudo bem. Sabe, para mim é como se ela continuasse aqui, viva. Do meu lado... sempre. Sei que parece bobagem, mas não é. Às vezes penso que a vejo em uma multidão, por exemplo. – suspirei. – Ela era a única que me entendia. A única que me apoiava. E então... aconteceu.

Ele fechou os olhos, como se assimilasse o que eu havia dito, ou como se fizesse uma prece silenciosa, para mim.

– Não se iluda, Perseus. Você pode me ver, pode sentir minha pele. Mas eu não estou aqui de verdade. Já morri há muito tempo... junto com Bianca.

Então ficamos em silêncio. Ouvimos diferentes músicas. Algumas eletrônicas, outras mais calmas. Até algumas bandas de rock tocaram.

– Que música é essa? – perguntou para mim.

– Ahn, não sei. Não curto muito música eletrô...

– Não, não essa. Não na festa. A que você cantava.

Demorei a entender sobre o que ele falava. Sorri, pois não havia percebido que cantarolava aquela música.

Asleep? Ah. Minha mãe a cantava para eu dormir. Depois, quando ela se foi, a tarefa foi passada para Bianca, e eu acabei decorando a música.

– É uma música bonita.

– É.

Ele assentiu, com a cabeça. Agora, ao longe, a música que tocava era Born to Die. Eu conseguia imaginar os casais dançando/se beijando/se pegando.

Ah, meus deuses. Casais.

– Percy – usei o apelido dele, sem querer. Me arrependi na hora. – Ahn... onde está Annabeth?

Ele sorriu.

– Se Patrick não conseguiu, finalmente, convencer ela a ficar com ele, ela deve estar dormindo. Por quê?

– Então eu estou atrapalhando. Me desculpe. Não precisa continuar aqui...

– Tudo bem, cara. Ela não liga. Na verdade, ela nunca foi muito fã de festas, mesmo.

– Não era o que parecia. Ela estava animada, o dia todo. E pare de fingir que está tudo bem, porque não está. – virei minha cabeça e olhei para ele. Ele já estava olhando para mim. Corei, mas não consegui desviar o olhar de suas íris verdes. Ele estava tão próximo de mim que pude sentir o cheiro de álcool de seu hálito.

Ele passou uma mão ao redor do meu ombro, e acariciou meus cabelos.

– Na verdade – ele disse – está tudo ótimo.

Foi aproximando-se, ao mesmo tempo que empurrava, levemente, minha cabeça na direção da sua.

Pressionou seus lábios contra os meus. Fechei meus olhos, sem saber ao certo o que fazer. Ele foi abrindo sua boca, ao passo que eu fui fazendo o mesmo. Nossas línguas encontraram-se, descobrindo a boca uma da outra.

O beijo tinha o gosto amargo do álcool e o salgado da água do mar, e eu pretendia nunca mais acabar com aquilo. Poderia ficar minha vida toda ali, beijando-o, mas Perseus tinha mais pressa. Lentamente, foi afastando sua boca da minha. Quando já estávamos longe o suficiente para tal, ele olhou em meus olhos e sorriu.

De repente, ele estava afastando também sua mão de meus cabelos. Foi se levantando. Despediu-se com mais um sorriso, antes de por as mãos nos bolsos e ir em direção à festa.

Eu devia esquecer aquilo, mas sabia que não conseguiria.

Ouvi o som familiar de Going Wrong tocando ao fundo, e não puxe deixar de – novamente – sorrir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Links das músicas, pra quem quiser ouvir:
Wonderwall - http://letras.mus.br/oasis/28995/
Asleep - http://letras.mus.br/the-smiths/37082/
Going Wrong - http://letras.mus.br/armin-van-buuren/1222526/